segunda-feira, 28 de março de 2011

Um olhar sobre Alhandra, o rio, os vieiros, a serra...

Viagem no dia 1 de Abril de 2006 .Segui a rota da A1 em direcção à Vialonga pela antiga estrada N1 percorrendo as várias localidades: Sta Iria Azóia e Póvoa e parei em Alverca, para visitar a nova igreja dos Pastorinhos. Ouvimos o som do carrilhão.Já dentro da igreja reparei que os padres confessavam crianças que se acotovelavam na sua vez, imagem arredada de mim há muito tempo e que de repente me fez lembrar a época que se aproxima - a Páscoa ! Também eu enquanto criança , na quaresma tinha de ir à confissão para comungar no dia de Páscoa.Gostei de sentir tanta veneração em crianças de tão tenra idade, eram muitas, pareciam tão inocentes. Percorremos muitas ruas, vários centros comerciais, muito comércio tradicional ,recantos de lazer ,alguns a lembrar a forte tradição partidária esquerdista tão enraizada naquelas gentes pela  mostra desenfreada de esculturas de ferro, tão ao gosto imperial da grande e pesada indústria representativa de trabalho árduo e mal remunerado.
Seguimos para Alhandra. A minha primeira vez.
Guarda ainda alguns vestígios da vida de antigamente dos vieiros,das paliçadas rio dentro, paus enfiados na lama ,barcaças e telheiros improvisados com mesa em madeira e bancos corridos, o último ainda de pé.
Um vieiro em dia de domingo de visita ao telheiro, depois de ter olhado o rio e o mouchão.
O monte de areias estragou a margem primitiva ribeirinha
Saímos borda fora...novamente até ao rio ver barcaças e passadiços em ripas de madeira quando a maré está alta servem de transbordo para a margem dos pescadores.Na margem do Tejo, paliçadas de paus e passadiço de ripas para os vieiros atracarem as barcaças.
A frente ribeirinha ajardinada, aprazível para caminhadas.Estão a nascer nos grandes armazéns, espaços de restauração e de lazer, num repente fez-me lembrar Matosinhos...muito devagarinho, aqui mais lenta. Desfruta-se um bom dia nesta terra, ainda a sub serra, verdejante, o campo ali tão perto dispara em tantas direcções.
Degustar o sável com açorda, uma iguaria que não dispenso.
A vila enquadra-se num cenário de engaixamento entre o rio, caminho de ferro e a auto estrada.Optámos por deixar o carro logo na entrada, para a descobrir a pé, a vila, de traça ribatejana, pitoresca, repleta de ferro forjado, azulejaria variada com a zona ribeirinha quase totalmente requalificada.
Falta aproveitar os antigos armazéns e criar infra-estruturas de sucesso como restaurantes, discotecas à semelhança do que Matosinhos fez ao reaproveitar as enormes fachadas dos velhos armazéns para seduzir o turista com lonas gigantes a anunciar, ementas e eventos...
Muito agradável aqui os passeios pedonais e de bicicleta. Muitos bancos cobertos por lonas de cor crua para dias de muito calor. Paisagem deslumbrante sobre o mouchão de Alhandra, a que eu teimo chamar de sapal, mas não o sendo ,pois é uma ilha, o que difere do sapal com meandros de água envolta de terra...era chegada a hora do almoço.Passámos defronte da casa onde viveu o escritor Soeiro Pereira Gomes, onde escreveu o livro " Esteiros" , a quinta da Escusa, das janelas vêem-se laranjeiras, o rio e a lezíria.
Adorava ter uma casa igual a esta, forrada a verde...linda de beirais alternados.
Fachada de uma pequena casa com azulejos arte nova.
Já tínhamos escolhido o restaurante mesmo no canto da Praça 7 de Março, dia de nascimento do Dr. Souza Martins, cujo busto está patente com o pedestal cheio de flores oferecidas pelos agraciados nas suas preces. Entrámos, e já era a última mesa. O repasto como não podia deixar de ser foi Sável frito com açorda e ovas raladas , houve quem quis provar as enguias fritas com arroz de grelos, de sobremesa uma soberba fatia de bolo de bolacha rematada com um bom brandy, o preço foi uma pechincha. Voltámos a caminhar mais um pouco para degustar o repasto.
Praça Dr Sousa Martins
Tirei mais umas fotos  e visitámos o Museu implantado na casa onde nasceu o Dr Souza Martins de carisma pessoal. O espólio algo pobre, com aproveitamento para relembrar outros filhos da terra que também foram grandes no desporto e tauromaquia, no r/c pode-se observar vários tipos de cerâmica outrora fabricados em Alhandra, como os tijolos de 2 e 4 buracos, as telhas de canudo que na beira se chamam de mouriscas e as telhas Merselha, a arte de carpintaria, miniaturas de barcos típicos do Tejo e por fim a emblemática fábrica do cimento ainda em laboração.
Lindo painel em azulejos na frontaria de uma casa com varandins em ferro forjado século XVII na praça com o busto do Dr. Sousa Martins, sempre enfeitado com flores.
Placa em mármore identificativa da casa onde viveu o escritor Soeiro Gomes, aqui escreveu o livro " Esteiros", em frente do Tejo,e de lado, a quinta Escusa.
Pormenor do painel da frontaria da casa onde viveu o escritor.
O que resta da fábrica da descasca do arroz...somente a fachada. De lamentar falta de simbologia da antiga fábrica de descasque de arroz inaugurada em 1932 .
Gosto de mercados, lugares de cores garridas, apaixonantes pelo buliço das pessoas e dos pregões.
Um pormenor da fachada da farmácia com a placa em pedra publicitária com o nome à antiga.
Seguimos para o sub-serra em direcção a S. João dos Montes.
Paisagem magnífica muito verdejante toda emoldurada por flores amarelas e brancas das árvores de fruto, subimos o morro onde está a Junta de freguesia, ali mesmo o cemitério, uma igreja rematada com uma cruz em pedra do tempo dos Templários, e uma grande casa de quinta do outro lado, em avançada fase de construção um conjunto de grandes vivendas cuja arquitectura agradável e muito bonita com remates de tijoleira antiga , lindas ...Apanhámos logo a CREL e viemos em trânsito sossegado até casa.
Valeu a pena!
Rico passeio, rio, serra, arte tradicional e bom almoço!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Passeio por Alfama a pé!

Alfama. A minha princesa.Linda. Mora aqui numa mansarda com vista para o Tejo com 3 frentes...Pena as escadas...Um subir e descer de escadas e escadinhas, tendo o Tejo sempre ao fundo e as torres das igrejas a sobressair no céu.
Panorâmica sobre o Tejo. Grande terraço, esplanada para deleite dos visitantes a contemplar as vistas.Descansar, passar horas a conversar, ler, meditar!
Museus: Fundação Espírito Santo, Castelo S. Jorge, Ruínas do teatro romano. Quando requalificam o museu do brinquedo?Julgo que há 30 anos que o vejo entaipado, esqueceram-se dele?
Antiquários. A Sé, a igreja de Santo António.
Bares, lindos com mobiliário antigo.E o cheiro das laranjeiras em flor!
Um lugar romântico para se percorrer e saborear a dois!
Um cantor cabo cabo-verdiano cantava uma morna...Lá ia dizendo para o público "eu sou um cantor mui sensível"...Mote de o olhar, tirei-lhe as medidas, calça curta, rabiosque atrevido, não enganava!
Painel de azulejos encastrado numa das paredes da igreja do Miradouro de Santa Luzia
O miradouro é revestido a lindos painéis de azulejaria.Pena é constatar a sua brutal degradação a olhos vistos e pouco ou nada se vê fazer para os proteger.
Sou mais amante dos azuis...Embora os de cor vinoso me encantem.
Painel em azulejos em melhor estado, virado para o jardim.
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Pormenor do painel de azulejos a degradarem-se a olhos vistos.Há tempos comprei iguais na feira de Azeitão muito em conta.
Museu romano da cidade
Talhas em cerâmica encontradas nas escavações. Possivelmente de vários ceramistas, todas diferentes.
Talha em cerâmica.
Adorei a gravação no barro,cruz de oito pontas...Desconheço o significado!
Miradouro da antiga casa solarenga sobre o Tejo. Banquinhos em pedra com azulejos.
Interessante a criatividade em encher o vão da porta com os cacos de tijolos e outros fragmentos ceramicos aqui encontrados.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Nazaré as memórias com a minha irmã e o Turco

Em 1973 na Nazaré a minha mãe veio trabalhar no verão no Correio, alugou uma casita integrada num pátio com anexos. 
  • Não houve Santo dia que não deixasse de manhã em cima da mesa uma nota de 100$00 para nós aviarmos com mantimentos para o almoço e jantar. Saiamos de cesta na mão direitas ao mercado.Preços e contas de cabeça porque o dinheiro era contado na carteira, trazíamos fruta carne e peixe. A nossa primeira vez que fizemos um assado.
  • O pargo reluzente na banca a bom preço olhava para nós, a peixeira bem disposta apregoou o pregão "não se esqueçam de o regar bem com azeite, bastante cebola e tomate"
De tarde na hora da sesta em cima da cama bordámos uma toalha quadrada comprada na retrosaria riscada de flores e galões a ponto cruz enquanto dava na telefonia o folhetim Simplesmente Maria...a minha mãe fez-lhe o picot no rebordo, durou anos foi a lixívia que acabou por dar cabo dela e a finou em farrapos...acabado o folhetim, e a hora da sesta que foi de bordar, faziam-se horas de sair de casa com o nosso companheiro de sempre o Turco -, cão preto de patas brancas que um dia em bebé o nosso pai nos trouxe ,tirou do bolso do casaco...pequenino.
Percorríamos a falésia ao longo dos carreiros todos palmilhados a três, ao fundo no precipício a imensidão do mar a bater nos rochedos -, nós na encosta sem medos saltando armadilhas na vegetação que escondia buracos...outras vezes andávamos de elevador até ao Sítio para ver a patada do cavalo no promontório da falésia de D. Fuas Roupinho em 1182. Ea ermida e a igreja são interessantes.
Dias que nos aventurávamos no mar a banhos. Segura na corda que havia presa mar dentro, a minha irmã mais esperta e  afoita aprendeu a nadar sozinha, eu nunca o consegui.Não se safou de apanhar um eczema na pele que demorou anos a tratar. 
Pela tardinha uma volta pela lota na praia viam-se estandartes com peixe aberto a secar ao sol de cheiro forte a maresia, moscas e muito lixo. 
As mulheres vaidosas de lenço atado atrás da cabeça, vestidas a sete saias, briosos aventais de cetim bordados a ponto castelo branco, de ar regateiro com chinelo no pé na dança do andar de abanico de traseiro para abrir o laço do avental...
O Turco doido com as cadelas...as chatices que nos deu quando andava com o cio nesta terra chamada Nazaré!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Passeio em segunda feira gorda pela serra da Gardunha

Pelas serras a caminho do Fundão na zona das Minas da Panasqueira, ao longe a neve na serra de Estrela. Foto tirada do carro, não atenderam os meus pedidos para parar...
Saímos no IC 8 em direcção a Pedrogão Pequeno. Paisagem de serranias, eólicas e o rio êzere a correr ao fundo do vale - avista-se  cenário bucólico e sereno...
Paragem em Oleiros  burgo em ascensão, moderna, prédios com andares...
No Orvalho a minha irmã comprou um cesto azado para a lenha da lareira, ainda nos deram indicação para o almoço na Barroca, corta-se para Dornelas do Zêzere - mão fui, deve ser lindíssimo à beira do rio, fica para outra vez.
Na Barroca logo na entrada uma linda moradia em redondo com cúpula ao meio a imitar um pombal tradicional do planalto transmontano -, da terra quente e das amendoeiras em flor, quem os conhece como eu, logo identifica o estilo. Adorei. Pena estar implantada num baixio meia encoberta por outras. Merecia local de destaque.
O almoço bom e barato -, enfarta brutos, bom vinho a granel, pão, queijo da serra à fartazana, carne, arroz, esparguete, batata frita, esparregado de nabos, bolo de chocolate com natas, maçã assada, café e bagacinho forte!
Na entrada do restaurante a secar ao sol estava uma escultura em madeira de salgueiro que ao crescer um ramo se entrelaçou numa pernada maior e no tempo colou, mais acima outra pequenina começava a colar, não tivesse sido o corte antecipado se tornaria grossa como a de baixo.
  • Fez-me lembrar o enforcado...não,quero pensar no "amor de mãe"...dar colinho, agarrar, prender, não deixar fugir...
 
De bucho refastelado-,na estrada a minha irmã fazia a mortalha que deu a experimentar à minha mãe, sem modas esfumaçou " duas "passas" fugi delas, tabaco é coisa que não gosto.



Retomado o passeio no horizonte vislumbramos montes de britagem em amarelo e cinza a imitar uma barragem, só percebemos quando vimos a placa toponímica Minas da Panasqueira a caminho de Silvares relembramos a professora Laura Calado que a viu nascer e se enraizou na nossa terra - Ansião.
Espanto...todos rimos com o nome da aldeia -, Lavacolhos...serviu de mote a lava co.., lava toma...,lava pint...,lava tudo...
Serras roteadas às carreirinhas como no Douro, nelas cerejeiras, o que eu gostaria de as ter visto floridas de branco. Haviam algumas a dar a sua graça aqui e ali de flor cor de rosa.
Finalmente o Fundão -,mesmo no fundão da serra, tantas curvas, curva contra curva, tal a indisposição deparei com o seminário-, em frente Donas, a terra do Guterres com uma bela igreja em granito. Alcongosta -,a fazer jus à descendência árabe, tal como Alpedrinha, o túnel da Gardunha, ainda por aqui passei não existia, paragem obrigatória em Castelo Novo -, aldeia recuperada em granito, linda com banquinhos de pedra a cada porta.
A minha irmã azucrinava venham cá passar um fim de semana no turismo rural, vão gostar...a fazer jus à oferta "Refúgios" no Natal e ainda por gozar.
  • A minha mãe disse logo que não, " isto parece um cemitério"!

  • Não se via vivalma. 

Do alto da torre do castelo enxerguei gataria numa de fazer sesta a amornar ao sol no alto de uma parede nua...espertos, os quatro!
Na entrada no grande fontanário de 17 e qualquer coisa uma fila com garrafões de plástico, mala do carro aberta, água do Alardo à borla...toca de encher...

A aldeia ao que percebi foi recuperada num projecto centrado no Líder...pois claro. Casinhas de traça antiga com balcões, varandins, tudo muito bem arranjandinho.
A calçada do katano -, de saltos altos, fiquei sem pinga de sangue...
Uma vista do promontório do castelo


Interessante como os antigos aqui se instalaram numa vereda de granito da serra da Gardunha -, tanta pedra arredondada por tofo o lado, sem uma couve, numa vereda abundância de água, protegidos da alta Estrela e dos ventos que de lá sopram, vista deslumbrante sobre o planalto da Cova da Beira.
De partida paramos na Soalheira -,terra muito antiga da era de 14 e picos conforme data uma igreja. Fama de bom pão e do queijo, chouriça e farinheira, as compras que fizeram para mim.Terra de gente de linhagem. Aqui nasceram os Ferreiras -, a Fátima Ferreira do Prós e Contras e o pai do Zé Ferreira seu primo meu gerente no Sotto Mayor na Rua do Ouro e,...
  • Travei conversa com um anónimo, velhote de mão presa pela trombose e olho vivo em verde -, que ruínas eram as que estavam ali com grades nas janelas abertas nas paredes nuas cobertas de vegetação, respondeu "olhe nessa casa viveu uma senhora que morreu em 1935...houve mudanças no cemitério,os restos mortais estavam num jazigo que ela mandou fazer, chamados os herdeiros para opinarem, disseram, enterrem-nos!"
Coisas que me deixaram a pensar, e muito!
 

Adorei a passeata pela Gardunha!

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