segunda-feira, 14 de maio de 2012

Campo Pequeno à quinta feira com feira de velharias

Passam os anos e neles vamos memorizando dias que são especialmente azarados...falo dos meus : 4; 7;12;13 e,...quem me conhece diz que sou uma mulher de sorte, eu sei que sou azarada. Sempre cresci  por trilhos difíceis, parca ajuda, sempre com muito querer, à força do trabalho que se paltou pela diferença e essa criou invejas de que maneira e, me viriam a prejudicar nesta vida, embora reconheça que tive a minha quota parte de culpa!
A semana passada senti na pele outro grande contratempo que me afetou pela 2ª vez, neste caso por 31 dias  - perdi a chance que sonhei e planeei anos.Aguentei firme, nem a voz se alterou, apenas o constrangimento do inusitado.Gélida de pasta na mão, minha fiel amiga dos tempos que com ela vadiava na odisseia de escrituras aqui e ali com cheques chorudos...Horas de comer, apeteceu-me um mil folhas - há tempos que não me saboreava com tal bolo por nos últimos tempos sentir que é contrafeito com massas que nem os cães conseguem tragar cheias de gordura ao invés daquele - fresco, de massa folhada leve parecia um pastel de Tentugal. Delicioso. Consolei-me. Do outro lado da rua vi letreiros num 1º andar - Cabeleireiro - Low Cost - nem pensei duas vezes, era o dia e o momento de ir e fui. Atendimento personalizado, simpatiquíssimo e charmoso do dono um cabeleireiro na casa dos setenta igualmente do filho  quarentão de cabelos grisalhos, ligeiro me pareceu no computador. As meninas igual, nada maçadoras, trataram de mim com muito carinho. Pedi para ir à casa de banho, fiquei espantada pelo requinte da higiene, da luminosidade. Saí fresca de cabelos esvoaçantes na brisa do tórrido calor que se fazia sentir por Entrecampos. Enderecei convite a uma amiga virtual que se mostrou interessada em me conhecer, debalde por razões que desconheço não recebi resposta - em cima da hora  no acaso de um telefonema lancei o convite para um cafezinho e uma visita à feira de velharias no Campo Pequeno a um antigo colega mais velho do que eu 10 anos que reencontrei o ano passado nestas andanças.
Sou pontual, não gostei que se tivesse atrasado meia hora. No entretanto fui visitar a feira sozinha, encontrei alguns feirantes, no momento não me conheceram, fintavam-me  - "está diferente, estava a mira-la para ver se era "  - pois assim era o meu visual à senhora quando no geral me conhecem numa vestimenta mais básica - o "Igrejinha" levantou-se do seu banco para me cumprimentar, confidenciou-me - também tenho alturas que gosto de me vestir assim...conversei aqui e ali.Ainda enfeirei numa garrafa de vidro da Marinha Grande no tempo usada para a Ginja de Óbidos, de gargalo largo e marcada 1,5 L - tenho uma pequena coleção delas com 3 tamanhos: 2,5  e meio litro. Uma particularidade é que sendo  o vidro feito com areia e restos de conchas - conferem às garrafas várias tonalidades: verde; branco e rosa como esta última , da qual já tive outra menos rosa e ofereci à minha irmã.Vi um "ratinho" - palangana pelo diâmetro mais de 35 cm que o Sr Ferreira me fazia  90€...Vacilei com uma malga grande  na mão -  tenho uma pequena igual debruada a faixa azul por dentro em meias luas e por fora com flores por entre esponjado, era barata, contudo deixei-a ficar, a vendedora era a sua 1ª vez. De olho fiquei numa terrina quadrada branco sujo pelo tempo quase dois séculos de Massarelos com a marca - ancora a verde e  pega repenicada - soberba, a um preço extraordinário para mim que o Sr João me fazia por 40 €. Definitivamente o dia não era para enfeirar!
Dirigia-me a caminho do metro eis que o vejo chegar vestido à executivo de pastinha de cabedal igual à minha, até parecíamos "manos de alguma congregação". Juro que não volto a convidá-lo para tal evento. Já lhe  conhecia um jeito sem jeito de apregoar, fazer negócio que não tolero - só quis tirar a prova dos nove.Conta que  estudou medicina, não acabou, aplica-se no conhecimento de psicologia - variante de Freud...tem o hábito de julgar os porquês das atitudes dos demais, platónico no julgar,contestatário, refila a quem de direito, julga-se um sabichão na percepção do intelecto, dá-lhe prazer descobrir enigmas de carisma emocional, mostra-se facilitador, depressa esquece a ajuda, diria um sedutor nato de muita lábia, sendo um homem do signo Gémeos revela gostar de dualidade e isso é visível e marcante. Sinto que se revela na escrita de forma soberba, afetuosa,  inteligente, com um conhecimento cultural abrangente, muito culto, lê, passeia pelo mundo frequenta locais públicos de finesse...no entanto na presença real é a antítese! Sinto dificuldade em falar dele,mas a revolta de tal perfil dá-me cabo dos nervos. Tudo porque revela ter uma fobia incrível por comprar palermices sem valor algum, o que eu diria na maioria lixo. Um ajuntador de tralhas em casa, armazéns, garagens e,... apreça tudo, mostra-se interessado, oferece, naquilo gera até confusão, imagine-se se tivesse tal comportamento nas feiras no norte de África e no Sul de Espanha, ainda se habilitava a levar "porrada"...apreçou travessas da VA com a decoração chinesa, quanto a mim a pior escolha da fábrica para um serviço de jantar,  doido, mexeu e remexeu como se fosse uma criança, a seguir apreçou um globo descomunal em madeira - um bar, até fugi da banca e do negócio, não gosto da peça nem das vendedoras - "falam por cima da burra, sempre de mal com a vida". Em frente da avenida viu uma banca cheia de medalhas, queria no momento que a menina em jeito de ajuda ao pai tomava conta do estaminé lhe fizesse um preço por atacado, ora ela só sabia o valor unitário,  ainda letras e livranças, nem viu ou leu o conteúdo, o que poderia ser apaixonante (?) na sua cabeça só pensava comprar, regatear...baralha os vendedores, aparece bem vestido parecendo intelectual, vulgo doutor, alguns assim o alvitram - ele cala-se, parece gostar, por outro lado desnorteado perde com esta personalidade aérea, que confere a alguns vendedores o facilitismo do trato por "tu" o que no caso é muito mau. Nunca se deve baralhar alhos com bugalhos!
Tudo parecia encher as suas medidas...Furiosa estava eu de viver aquele clima!
Confidenciou-me que na sua quinta no norte a quer encher de velharias - no terreno quer alfaias agrícolas e, por cima do portão gostava de uns pináculos em pedra do século XVI...( ao instigá-lo o porquê deste século e não de outro responde-me " estive agora na feira de Ponte de Lima, disseram-me que os ciganos roubam coisas antigas, como não sou fiscal das finanças não me importo de comprar" claro que gastei o meu latim a falar de loiças e de pedras e até do que os ciganos e outros vendem. Alvitrei os canteiros que à beira da antiga estrada a caminho de Caminha ainda executam Santos, pináculos e outros em granito...naquilo interrompe-me e diz " mas quero pedras antigas, negras do tempo "...ainda acrescentou que adquiriu através de um amigo em França  um sino da minha altura"...estupfacta, sem delongas perguntei onde o iria pôr, se acaso a quinta tem alguma capela ...confirmou que não, se for preciso manda fazer uma torre...
Achei-o um lunático que não admite ser contrariado, só o que pensa, faz e, diz está certo, diria - um Pavão!
Não sou mulher de aguentar tanta insensatez, nestas coisas de velharias sou mais pragmática, admiro e respeito o gosto ecléctico de cada um. Tento. No caso não consigo porque ele aprecia demasiado lixo! Estaríamos agora a dissecar o que é lixo para uns é precioso para outros...debate exaustivo, não vale a pena, sou conscienciosa, já vi uma casa dele repleta de moveis e de entulho ( loiças e loiças por todo o lado misturadas com Alcobaça berrante em azul que ali até fere o olhar, noutro contexto acredito terem interesse, quase tive de pedir licença para entrar e ir até à varanda tomar ar para me segurar nas palavras.Insisti na palestra de convencimento - deveria apostar em peças boas -  mostrei -lhe um "Ratinho"...não conhecia, de nada sabe, julgo para me contrariar o gosto respondeu..."não gosto". Tem esse direito, não tem é de ser inculto de nada saber sobre eles - lá fui desenrolando o rol da minha sabedoria, até que me interrompe e lança o desafio - comprar os meus serviços para lhe catalogar toda a tralha que tem comprado ultimamente, até recheios - neste último dois Santos altos, anda doido porque não sabe a quem se referem...
Euzinha, frontal, sem papas na língua nunca me vendi, não é agora que o vou fazer, não tenho jeito muito menos vontade, porque querer, isso sei que me daria satisfação em deitar para o lixo quase tudo...mas ai caia o Carmo e a Trindade, e a amizade terminava para sempre!
Ele parece não entender que tem de escolher alguém que o possa de facto ajudar. No meu entender deve ser - surdo e mudo - ou então mulher que não se aflige resignar à sua  fortuna (?) ouvindo, calando e comendo, porque ele sei pode proporcionar uma vida de luxo como algumas que se conhecem da alta sociallity...veio-me à ideia a  Jô Caneças...
Senti-me tão incomodada. Convidou-me para um lanche na Versalhes onde o deixei a meio do seu chá de limão, apressada despedi-me, até me esqueci de agradecer, não queria perder o horário do autocarro! 
Além de seguir a sua própria sabedoria interior,não se mostrou flexível ao ponto de saber ouvir o que eu lhe quis transmitir - mesmo que não concorde com  as minhas opiniões - tão pouco se interessou pelo tema- drama que acabara de sentir na pele.Insensível, com foros de arrogância foi o que fatalmente  senti.Como é possível a mesma pessoa apresentar duas facetas de personalidade tão distintas?
Será que fui desplendecente?
Sei que precisava trancar a sete chaves episódios nefastos desta última quinta feira insólita!

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