segunda-feira, 9 de julho de 2012

Conversa solta na feira de velharias de Setúbal a 1º de julho 2012

Chegou-se mais um fim de semana com agenda de mais uma feira desta vez, em Setúbal. 
A minha amiga homónima quis repetir o certame. Ao chegar no chão pus a colcha escarlate a marcar o seu  lugar, onde dispus algumas peças que tinha trazido para a feira de Alcochete e não vendi ...A sua mercandoria:Santa Ana; Sacavém; Caldas da Rainha;Vista Alegre; vidros de laboratório, copos termais, garrafa VA; chaves; ferrolhos, quadros e,... No seu dizer confidenciou no seu sorriso alegre sem marotice, sincero e gentil... "tens muito jeito para armar a banca"...
Sorri a pensar - ,só pode ser cortesia!
Apesar de ser a 1ªfeira do mês - faltou muita gente - nesta altura de verão os colegas apostam noutras feiras: Moita estreava-se,havia Belém e,...
A minha amiga apostou em trazer boas peças,mas onde estava a clientela?
Sente-se que o mercado baixou e muito, dizia um colega que no imediato reconheceu a minha amiga de outras feiras...Já lá vão 6 anos quem diria que o bom homem a reconheceria ...Dizia-nos " percorro o país todo, nas feiras da Guarda, Castelo Branco e Coimbra, fico numa casa que tenho na Beira Baixa (Oleiros) ,tenho clientes certos, ando nisto há 10 anos,  a Setúbal só venho uma vez por mês -, o cliente certo hoje já veio, deixou 80€, mas tem-me deixado aos 1.000€...Reforça aqui há muito dinheiro, gente que tem Montes por esse Alentejo, gostam de roupas, atoalhados antigos; a minha mulher é que negoceia, também compra,olhe agora um deixou aquele saco cheio para ela apreçar..."
Chegou-me a fome, petisquei uma das minhas sandes saudáveis entupida de alface roxa...
Passava gente com sacos e coisas pelas mãos a tentar vender que interpelavam colegas habituais que lhes compram a mercadoria, um trazia uma caixa aberta cheia de traquitana no selim da bicicleta, uma mulher bem madura fazia-se acompanhar de uma mão cheia de amigos e, nas mãos trazia um grande relógio, sem tampa no tardoz, mas pequeno era o relógio, e grande em demasia a moldura rendilhada  em gesso? Quase de metro,julgava ela que o vendia e, bem, azar todos o rejeitaram . Ainda vi o Rogério pegar nele e  de afogadiço mostra-o a colegas para o vender, mas ninguém lhe pegou apesar da pechincha, quem o queria ? Visivelmente mal vista perante a plateia, a mulher tira-lho das mãos, e desanda, por entre dentes diz " prefiro dá-lo a uma pessoa amiga"..-
Deixei-me no meu pensar a balbuciar, mas quem quer uma monstruosidade daquelas em casa  a rondar o desprezível, num calhar, nem a máquina se aguenta a dar horas certas, melhor será comprar um relógio nos chineses...O dizer de outra tal como eu a remoer o que se ouvia...
Continuei a  sorrir com o alarido no arraial da feira, dei corda aos sapatos, fui cumprimentar outro colega profissional de artesanato, mostrava-se na conversa satisfeito para ir para a feira do Estoril onde costuma vender bem. A minha amiga viu na minha banca uma aneleira da Fábrica Viúva A. Oliveira de Coimbra e disse-me logo "gosto muito desta fábrica " , claro que lhe a ofereci, as pessoas não conhecem nem mostram interesse, só reconhecem na maioria - Sacavém, sobre esta fábrica apenas querem saber o preço para avaliar as peças que tem em casa recebidas de herança, sem delongas confessam, quando se explica a diferença  do preçário entre - Real fábrica e  Estátua - dizem  à boca cheia sobre este último " é imitação"...Respondo apressadamente,imitação é nos chineses,estou farta de encontrar letradice à brava!
O Paulo Filipe com pena dum magricela esfomeado a rondar o seu estaminé na mira dele lhe comprar um quadro oval de flores e moldura dourada, deu-lhe uma moeda, quando  me levantei para esticar as pernas, para mais "dois dedos de conversa" disse-lhe" então sempre ficaste com o quadro?" -, inesperadamente ofereceu-mo por 5€ que rejeitei , no final da feira por não lhe caber no carro imaginem, ofertou-mo, este colega é assim,dá-me sempre muitas coisas,ainda me deu uma garrafa de cristal que lhe caiu ao chão e bostelou o gargalo ( valeu o empréstimo do meu caixote para fazer de mesa e não voltar a fazer estragos)...E a garrafa  com a rolha não se nota, serve para levar para a casa rural, o enfeite na cristaleira, em caso de novo roubo,levam "novo por estragado", tem de ser assim ,não corro mais riscos de perder peças que adoro, ainda me obrigou a trazer os cálices, pela manhã deu-me um prato de Sacavém...Porque lhe pus num post uma foto do estaminé  que lhe valeu vender algumas boas peças em Alcochete. Ainda me deu uma boa caixa azul com tampa, também não cabia no carro, no caixote do lixo deixou um quadro pequeno com gazelas, e uma pasta que em tempos de antanho foi de boa pele de cobra? Um ótimo homem e a esposa Clara não lhe fica atrás, gente muito boa. A minha amiga começou por ver a sua banca assediada de gente, trazia umas peças de outra amiga, um prato pequeno com uma cobra em verde e amarelo do discípulo de Bordalo Pinheiro, Cunha que acabou por ser vendido por mim, enquanto ela se estreou na venda de duas mostardeiras: VA e outra Sacavém, esta mais pequena oval, graciosa à D. Ana que a vi pela 1ª vez nesta feira, confidenciou-nos que nas últimas duas feiras da ladra fez zero...
Não ficou com os bules de caldo apesar do preço especial porque tem o batizado do neto por sua conta , 4 anos , neste agora vive a ralação de não estar abençoado pela casa de Deus, coitada  além de ter de pagar a sala, os comes e bebes e lembranças, o orçamento previsto acaba por ser muito mais, e o dinheiro não chega para tudo!
Arrependi-me de não comprar a preços dados umas peças de latão com uma alavanca que me transportaram voltar à infância; eu e a minha irmã ajudávamos o nosso pai a encher os cartuchos de caça, com uma peça igual, fechávamos hermeticamente os mesmos com uma tampinha de cartão...E uma infusa de faiança com pintura floral em azul do norte, uma mostardeira Sacavém tipo caneca com tampa, tenho outra muito parecida mas em laranja, peças boas e bonitas aparecem, o problema é pensar em prioridades, e a cada dia penso mais!
O colega do selos e afins arrumou na hora do almoço - nada o vi vender, o sol forte que se fazia sentir inesperado depois do tempo encoberto, o inimigo para o produto da banca.
Dei aula grátis sobre faiança... Perguntava-me um forasteiro jovem acompanhado pela mãe..."os pratos tortos, são 2ª escolha da fábrica, por isso não os marcavam"...Mostrei vários tipos de pratos em faiança, expliquei a textura e grossura da massa, falei dos esmaltes,da pintura manual e estampa, e até das várias fábricas, absolutamente a zeros nesta matéria, agradeceu gentilmente a aula prática!
Arrumava a banca, chega-se um freguês com um saco , dentro dele pratos com decoração chinesa,aquela gostei francamente...Dizia-me "comprei-os baratos, quero esta sua chávena mas acho que está cara" que lhe a dei quase dada...Na verdade estava farta dela ,não aprecio alguns motivos em verde de Macau , no caso o bom homem rematou , é para usar!
Dei "dois dedos de conversa" com a brasileira que vive com o Rogério, coitada da pobre mulher, umas pagam por outras. Compatriotas novas enfeitiçam alguns portugas - "esminfram-nos até ao tutano", outras com mais idade passam "as passas do Algarve" com homens calculistas que só pensam na aposta de ter mulher para tomar conta das lides da casa, deles, e ainda no caso de serventia na feira, só paga se fatura, mas fatura sempre, e gorjeta baixa, coisa de 15, 20€ de vez em quando,a pobre mulher, sensível, humana, e nada limitada, tem de se aguentar a viver na casa dele, no dizer dele: "não pagas renda, nem água nem luz e comes da minha comida"...Desabafos sofridos, ainda falou dum filho que "maldita a hora que o chamou"...Horas de interromper para atender a um cliente...Ainda disse " estou farta, em dezembro vou-me embora para a minha terra"!
Euzinha vestida de laranja - gira apesar do cabelo para pintar - desta semana não passa!

Quem apareceu na feira ? O meu amigo LJ, em dia de trabalho atravessou a  feira para  tomar o pequeno almoço, acompanhado com um colega...Boa surpresa, há que tempos não lhe punha os olhos em cima, continua bonito, gentilmen,de boca carnuda, talhada por Deus, um amigo de verdade que conheci com 50 anos, tinha ele 39, nas Novas Oportunidades. Outros bons amigos conhecidos nesse tempo que ainda hoje recebi e-mail de outro não menos querido, Arnaldo de Moncorvo, dizia " Estamos à sua espera, do mesmo modo que se espera o familiar que foi para o Brasil... e não conhecemos. Só sei que chega dia 13, normalmente a partida é sem pressa. Vai gostar e além de autocarro para o Porto, temos o comboio todos os dias no Pocinho, não tenha pressa."
E não vou ter, de volta quero vir de comboio, sei que vou adorar voltar a Trás os Montes e atravessar o Tua!
Na TV vejo no momento desta compilação a festa em Santo Tirso, fiquei de água na boca a ver os Jesuítas; doce típico que provêm de Bilbau (?), o pasteleiro que  passou a receita, há mais de 50 anos falava espanhol...Eu a julgar que seria receita antiga dos  mosteiros que a terra se orgulha de ter ou, do tempo em que a Quinta de Cima em Chão de Couce em Ansião ( a minha terra adotiva)  foi pertença por duas vezes desta terra  do Ave -, puro engano, já comi os famosos da Pastelaria Moura, a dona  senhora simpática e de conversa afável, uma confreira. Acredito vou comer um, ou mais daqui a dias, acredito ou não...A massa folhada é do melhor, estaladiça a desfazer, o creme divinal, e o glace de açúcar na cobertura não há igual, como se deve comer para não se perder nada? Separa-se ao meio, vira-se a parte do glace para dentro,depois é só trincar e, saborear...Quem me ensinou? Outro grande amigo da terra JM.
Bom proveito para os que hoje os provam, e saúde!
De volta tinha o e-mail de outra minha homónima feirante..."obrigada pelas simpáticas palavras. Não é por acaso que houve empatia entre nós logo de início.Adoro o teu sentido de humor e a tua maneira de estar e de ver o mundo...Acredita pois digo com a maior sinceridade.
É nestas ocasiões que confirmo a minha opinião acerca dos nossas feiras de velharias pois antes de mais podem ser verdadeiros encontros de amizade e de partilha de conhecimentos e experiências.
Então não sei!

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