quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A tradição da gastronomia e doçaria de Ansião

As minhas recordações ... a que junto o meu dia a dia!
O meu bisavô Elias da Cruz, quando se casou foi morar para uma antiga estalagem no Alto da Vinha, ao Vale Mosteiro. Onde teve a norte, uma padaria. O negócio familiar tinha nascido no Largo do Bairro de Santo António, com os pais e por fim a sua irmã Ti Maria Zé da Angelina.
A prima  Clementina Cruz Ruivo disse-me que também era cozinheiro. Na ceifa ao Alentejo era o coca como no Ribatejo pelas vindimas e apanha da azeitona. 
Aperfeiçoou a arte de cozinhar na tropa, no tempo do rei Carlos. Disse-me que ele tinha um livro de receitas. Em Ansião fazia bodas de casamento e os bolos.

Carlos Bandeira de Melo, general do exercito assinou um manual de cozinha - Tratado da Cozinha e da Copa - com o pseudónimo de Carlos Bento da Maia em 1904. A primeira obra que apresentou a receita dos bolinhos de bacalhau.

Vista de uma cozinha... o cabeçalho de madeira na parede com chaves foi o da sua cama
O meu bisavô enfeirava no arraial da safra da papas de milho simples, em azeite, ou banha servido em covilhetes, ao rancho de "Ratinhos" havia dias que alternava com grelos se os houvesse nas hortas da lezíria. Ainda recordo de ver em espera na beira da estrada, ranchos, nos meus tempos de miúda , com a arca de madeira ou sacões, de  homens e mulheres, humildes camponeses, na esperança do sustento num tempo de extrema pobreza, apesar da árdua labuta de sol a sol. 

Arca " de levar à vindima " da minha sogra usada
durante anos a safras ao Ribatejo

O povo perdia os dentes cedo, as papas eram propícias a ser comidas simples, com mel ou como  sopas de pão na quentura da cevada com queijo curado amolecido. Gosto que aprendi com a minha avô materna Maria da Luz.

Quadro do Mestre Malhoa ,as papas de milho, pintado em 1898 com gentes da região de Sicó

As gentes que se deslocavam para as safras no Ribatejo e Alentejo em época sazonal para a  apanha da azeitona e ceifas, tinham nomes consoante as regiões de onde vinham. Gaibéus do litoral, os barrões e ratinhos das Beiras. Reza na história que a alcunha "ratinho" fosse dada também à faiança de Coimbra nesse tempo produzida para levarem para as safras,  de textura grosseira, cores fortes , muito barata. 
Os "ratinhos" levavam esta loiça nos seus haveres na arca de madeira de dois compartimentos, como a que mostrei acima: na parte maior iam batatas, farinha de milho, massa meada, chouriça, morcela, toucinho, ossos em salmoura e feijão d'velha para a "sopa de carnes, com couves ou comer à moda da terra"  haveria de ficar na região ribatejana celebrizada por "sopa da pedra" e,  na outra divisão, levavam parca roupa.
No final das ceifas pelo Alentejo, ou pelas vindimas, monda ou apanha da azeitona no Ribatejo, fazia-se a festa das Adiafas...com filhoses, arroz doce ou pão doce, dependia da terra e do hábito dos senhores da casa. Não faltava o bailarico de roda na praça pública à luz do candeeiro a petróleo, gasómetro, candeia de azeite ou da fogueira ditada pela época:  Santos Populares onde rapazes e raparigas solteiras davam azo à sua alegria, estrebuchavam entusiasmo , se divertiam a rir e a seduzir, o seu único modo de diversão naqueles tempos de forte tradição e conservadorismo, dando também azo ao nascimento de  namoricos. Na hora de fazer contas havia quem trocasse a sua bacia de faiança por roupa usada com os donos da herdade, por haver muita falta de loiça no Alentejo naquele tempo. Outros simplesmente a abandonavam por ser barata.  

Faiança ratinha minha coleção
Hoje graças a bons colecionadores a "loiça Ratinha" está conservada em bons Museus e na casa de particulares, que adoram ter o seu próprio espaço museológico... 
Segundo alguns manuais sobre faiança, a primeira pessoa a reparar e valorizar esta loiça na década de 80 no século XIX foi o historiador Joaquim de Vasconcelos. Contudo, o primeiro colecionador deste tipo de faiança será o poeta e escritor José Régio (1901-1969) que andou com um criado a cavalo num burro pelos montes na região de Portalegre comprando a faiança a preço quase dado, além de Cristos pregados na Cruz e relógios - espólio patente no Museu de Portalegre com o seu nome a merecer visita para apreciarem a diversidade quer dos vários tamanhos da faiança quer da palete de cores extraordinária... Será secundado por António Capucho nascido em 1918. Em resumo devemos a todos estes senhores a valorização desta loiça que ainda há poucos anos era usada com fins menos dignos… Houve contudo mais tardiamente quem "copiasse" esta loiça- Reprodução de louça ratinho
de Coimbra aconteceu em Alcobaça com a OAL em 1930, a fábrica Viúva A. Oliveira em Coimbra, a encerrou portas na cidade no Terreiro da Erva na década de 60. 
Louça ratinho desde covilhetes, pratos covos, galinheiros, frangueiros, lebreiros e,...no dizer popular tanto serviram para acabar em  servidão  velhos e esbeiçados  para as couves migadas com farelo para as galinhas ou  aparar beiras  como um amigo encontrou um para os lados de Abrantes. 

Covilhetes da minha coleção


O Ti Bernardino, tio em 2º grau do meu marido, na  Mouta Redonda , na frente da porta da cozinha no terreiro do chão tinha um lindo prato de Coimbra do século XIX motivo casario, raro, imundo com uma racha de alto a baixo do negro dos escolhidos para as galinhas que nele picavam, cheguei a ver um igual num antiquário da Sé em Lisboa - a preço do outro mundo… também de uma bacia no quintal da tia Zézita no Pereiro, no mesmo jeito de comedouro de frangos, pintos e galinhas… 
A loiça "ratinho" começou a ser fabricada a partir do início de 1800 de aspeto grosseira, pesada, em massa malagueira com um tardoz imperfeito, apresenta muitos buraquinhos e arrepiados no vidrado, cuja decoração se classifica: Zoomórficos (pintura com animais) e Vegetalistas (pinturas com plantas e flores, muitas de linho) 

                               
Geométricos, são os mais antigos e Figuras populares, masculinas e femininas
Figuras fantásticas; Caricatura e Retratos. E falantes-, com palavras alusivas ao AMOR, versos, dedicatória, brindes, etc

Num passado não muito remoto nas famílias mais humildes das aldeias não havia o hábito de se comer em pratos individuais. Fosse no almoço, janta ou ceia, usava-se um grande prato, geralmente oferenda de casamento com queijos, chouriças, espigas de milho e, … de onde todos os de casa pais e filhos comiam . Na  Etiópia, comem com as mãos da mesma bacia. Enfim quem chegou até nós do Oriente nas várias  Diásporas foi evoluindo, no tempo dos meus avós já comiam com garfos de ferro.
No dizer do povo "picavam do prato" este, o prato mudava de nome consoante a região: "Barranhão (Portalegre e Avis); Fonte (Bragança); Palangana, peças de diâmetro superior a 35 cm, nome muito usado em Espanha e nalgumas regiões fronteiriças como os Barros de Beja); Prato Covo de grande diâmetro também chamado do "Cozido" (norte); Lebreiras de uma dimensão impressionante coisa de 65x16 cm , de covo fundo para a vinha-d’alhos onde depois era servida a lebre com grão-de-bico; Ladeiro, Sopeiro ou covilhete, pequena taça de aba baixa, termo usado na Beira Litoral em Abiul, concelho de Pombal, supostamente o termo se difundiu na região, quiçá pelos Duques de Aveiro, então senhores da vila, comiam em covilhetes da Companhia das Índias, e o povo que trabalhava no palácio se habituou ao nome. A família Távora, foi em grande parte excomungada pela sentença de morte ditada pelo ansianense jurisconsulto, Pascoal José de Mello Freire dos Reis, a mando do Marquês de Pombal . Óbvio que os bens foram saqueados, ainda há pouco tempo se vendeu uma cómoda em pau santo, em Abiul , a terra renasceu das cinzas com passadores que levavam gente " a salto" para França . 
O povo de regresso das safras às suas casas onde só havia loiça "ratinho" fácil foi dar-lhe o mesmo nome. Contou-me uma senhora, cuja avó assim chamada ao prato onde comia; os de maior tamanho, e de fundo afunilado eram chamados  Alguidares . 
Bacia -  termo usado na Beira Litoral, em Ansião celebrizada no quadro de Malhoa, a Sesta, pintado na região numa aldeia de Figueiró dos Vinhos em 1909). Em detrimento do termo de origem árabe aljofaina para designar pequena bacia de lavatório e almofia, vaso largo e baixo servia principalmente para lavar as mãos.

Citar excerto de (Aquilino Ribeiro, Os ladrões das almas)
" Tijela baixa e larga, de barro vidrado: "Num ápice vasculhava caçoilas e tachos, arranjando um bazulaque com que atestava uma almofia em que os pequenos se atufavam até às orelhas."

Pintura de Malhoa

O termo bacia nunca o achei apropriado!
Usual no lavatório onde o homem fazia a barba. Um povo criativo poderia muito bem ter inventado outro nome mais castiço para dar a esta peça de faiança de diâmetro inferior a 30 cm. 
Segundo informação do meu amigo Jorge Saraiva da Oficina da Formiga de Ílhavo 
«Também na região de Aveiro onde muita faiança se fabricou, pais e filhos quase sempre todos comiam da bacia que se colocava no centro da mesa, de onde cada um com o seu garfo se alimentava, era comum existir nas cozinhas da região pelo menos um prato com o galo e outro com um peixe (carne e peixe), pois como só havia dinheiro para o escoado (batatas e hortaliça cozidas na panela de ferro de 3 pés), as mulheres colocavam esse escoado ora num prato peixe ora num de galo (depois de temperado com azeite e o alho) - o galo ou o peixe estampilhado no fundo da bacia de onde todos começavam a "picar" (comer) . 
Os cachopos perguntavam " inh'mãe onde está a carne?
- respondia ela - "cala-te e come que a carne está no fundo…" verdade, verdadinha, a carne ou o peixe estavam sempre no fundo, mas do prato e não do escoado… »

Mais peças da minha coleção


                               
Nos dias de hoje este tipo de faiança ganhou foros de nobreza em Lisboa, antiquário ou leilão de antiguidades onde atinge preços altíssimos o que mostra que pelo menos há uma classe social em Portugal que já não tem vergonha do seu passado camponês, e que até se orgulha dele e faz lindamente, pois por vezes a miséria produz obras de arte sublimes de grande simplicidade. As gentes, os "ratinhos" levavam na arca sem o saber a maior riqueza das suas terras: os modos, saberes, e até haveres da sua parca gastronomia e doçaria - quem se atrever a indagar dará conta que muitas das especialidades atribuídas ao Ribatejo tem origem beirã da região de Ansião e zonas limítrofes. 
Coexistem muitos pratos e doces com a mesma raiz do nome e sabor que foram levados por viandantes, migrações internas a trabalho e casamentos. Papas de Milho, Sopa de Pedra, Requentado ( a minha avó materna chamava a este último Fertungado - nada mais que aferventado de couves ou nabos migados com batata e feijão frade ou chícharo, que depois de cozido era posto numa bacia com broa esfarelada. Comia-se o aferventado regado com azeite, o que sobrava na cama de migas de broa que ficavam repassadas pelo caldo, no dia seguinte era requentado em azeite no tacho de barro com alhos e louro. Muitos dão o nome de migas . 
No concelho de Ansião, nas famílias mais pobres o uso da malga grande, taça ou bacia ratinha funda de boca larga servia todos os dias o AFERVENTADO de nabos ou couve-galega migadas enriquecido com chícharo, feijão-frade ou d'velha e migas de broa ensopadas no caldo e ovos, que poucos punham porque os vendiam para a despesa da semana na mercearia. Em minha casa sempre se cozeram ovos e havia o  costume que aprendi com o meu pai - esmago o ovo com as migas da broa ,  rego com azeite, e acompanho o aferventado. Adoro!
De um modo geral havia casas em que o "home" comia num prato covo individual, até tinha um furinho na aba para o pendurar na cantareira, enquanto a mulher e os filhos sentados na beira do lume em tripés em redor da tripeça a fazer de mesa nela assente a bacia do comer de onde todos picarem com o garfo de ferro, ou à mão. Quem fosse lento a comer ou não gostasse do aferventado, que muitos chamavam couves com feijão ou feijão com couves, certo ficar com fome, porque o conduto era uma sardinha para três, postita de bacalhau, ou tira estreita de entrecosto... 

Prato Meninos gordos 
No contraste de muita casa onde havia fome
À laia da labuta da formiga também em terras de Ansião se arrecadava sustento no verão para o inverno. No meu tempo de miúda na loja da nossa casa, nome dado à cave, no início do verão acomodavam-se mantimentos para surtir o inverno em arcas, pias e talhas de barro. Os queijos do Rabaçal eram guardados em azeite comprados às mulheres de Albarrol e da Portela entre março a maio, os melhores naquele tempo, à exceção dos que se faziam no Escampado Belchior pelas mão da mulher do primo da minha mãe os fazia perfeitos, lisos de casca fina sem poros, redondos de bom tamanho e amanteigados feitos com o melhor leite, o de abril. Ao fundo da loja de encosto à parede havia um caixote de compartimentação onde se guardavam as leguminosas: favas, feijão da velha, grão-de-bico, feijão catarino e feijão branco. A arca do milho em agosto era cheia para as galinhas. Na arca velha da avó com dobradiças de ferro feitas por alguém que tinha jeito guardavam-se as nozes apanhadas em setembro, na altura não se usavam luvas, a casca grossa e verde deixava marcas pretas na pele por muito tempo, depois de descascadas eram lavadas no carro de mão de ferro em frente da loja para secar em cima da manta no patim. Também era tempo do trator carregado de lenha para o inverno que o Ti Alfredo cortava no "burro" feito pelas suas mãos com toros de pinho e me ensinou a empilhar as cavacas, azáfama de fazer pilhas direitas em cruz para não caírem no alpendre. Ao entardecer ia-se pelos pinhais fora de portas aos melhores terreiros limpos de mato com o ancinho juntava-se a caruma, aqui chamada de "munha" trazida numa manta de serapilheira atada as quatro pontas com o ancinho entalado e punha-se à cabeça e na mão uma saca de pinhas para acender o lume. Não faltava em finais de setembro a adega com os pipos de vinho, a cuba da água pé, o garrafão de aguardente e o do vinagre. A apanha da azeitona acontecia em finais de novembro antes era escolhida da galega de pele enxuta para retalhar na talha vidrada por dentro em tons esverdeados e  amarelos onde não faltavam os temperos de tomilho, a erva de Santa Maria, louro, dentes de alho e água da fonte do Ribeiro da Vide, ao fim de um mês era mudada seguida de outras mudas até ficarem bem curtidas sem sabor amargo, havia anos que se punham orégãos apanhados na serra da Senhora de Estrela do Alvorge. As pias de pedra enchiam-se em dezembro com azeite novo e fazia-se a marcação do dia para a matança do porco. Na tradição o "massacre" do animal  morto a seco com punhal certeiro ao coração. Ao tempo o porco alimentava-se com abóboras, figos, beterrabas, couves migadas, bolotas, sêmeas e restos dos escolhidos da cozinha. A carne era muito saborosa e os enchidos únicos. Desespero sentia ver a caparem os bácoros com a chegada do capador ao curral, do bolso tirava uma navalha larga de lâmina, apanhava o leitão, prendia-o entre as pernas e, puxava-lhe os colhões do pobrezito - zás e os cortava – e os deixava a chiar, em dor coitadinhos..., eu sem poder fazer nada, questionava a minha mãe que dizia “ tem de ser capados para quando fossem crescidos a carne não saber a barrascum” demorei para perceber!

Ritual da matança do porco 
Na minha casa só aconteceu uma única vez tudo por culpas ao meu pai, amigo de dar tudo o que tinha aos amigos “um mãos largas" esquecia-se do trabalho de o engordar, da distância do curral ao cimo do quintal, do trabalho de andar acima e abaixo pelo carreiro com baldes pela mão de lavagem, fizesse frio, chuva ou calor . Desesperada a minha mãe fez uma promessa de nunca mais fazer a matança, preferia vende-lo na feira dos quinze no largo do Ribeiro da Vide, e assim foi nos anos seguintes. Recordo de ver o animal de patas amarradas em cima da banca de madeira num chiar ensurdecer, sem dó nem piedade quando lhe foi desferido uma estucada a frio no coração de onde saiam golfadas de sangue ao endireito do alguidar onde era posto vinagre e se mexia com uma grande colher de pau para não coagular e se fazer as morcelas. Nos anos seguintes a minha mãe passou a comprar o lombo para fazer as chouriças  que se aguentavam no inverno guardadas na talha com azeite, recordo no outono mal a noite se fazia na cozinha em cima do banco de espaldar em frente ao lume onde cortava o lombo em pedacinhos muito pequenos para o alguidar enquanto eu barafustava com a minha irmã para depenicar as folhas de louro e esfarelar com o dedo o colorau doce do cartuchito de papel aviado na mercearia em vinha-d’alhos com alhos e sal ficar a marinar. Era uma festa o dia de fazer as chouriças armadas de funil em punho de um lado eu e a minha irmã a encher a tripa seca, já demolhada comprada na mercearia da tia Carma e com a ajuda do dedo empurrava-se a carne e de guita na mão a nossa mãe ia-as atando, dando-lhes a forma de ferradura... Já as morcelas as via fazer com a mistura do sangue do porco, farinha, carne entremeada, salsa fresquinha apanhada no rebordo do poço, sal e cominhos… As farinheiras levavam gorduras frescas do porco misturado com farinha, alho, pimenta e sal. Depois os enchidos eram enfiados nas varas de loureiro para as colocar em estendal debaixo da chaminé da lareira onde se curavam com o fumo das cavacas de carvalho ou oliveira, havia dias que choravam e nos sujavam de pingos gordos…
Ritual do matar do porco na casa da tia Maria, acontecia todos os anos ao cimo do quintal junto à eira. Chamuscado e raspado exalava um cheiro a carne queimada. No barracão o via pendurado enfiado no chambaril pelos tendões das patas dianteiras ,depois de escorrido era aberto de alto a baixo para desmanche de carnes. As vísceras eram postas no tabuleiro de madeira, com elas se cozinhavam pratos típicos no dia da matança: Papas de sarrabulho, Cachola, Iscas com elas , Fressura assada na brasa, que nós chamávamos "passarinha".  As tripas eram lavadas na ribeira do Nabão junto ao canil municipal, ficavam branquinhas viradas com a ajuda de um vime, depois de volta a casa, nelas se enchiam em morcelas, chouriças, farinheiras e paios. O entrecosto, cabeça, chispes, pernil, toucinho da barriga ia tudo para a salgadeira a fiel guardadora das carnes em sal grosso para se aguentarem para o sustento do inverno.
Comia-se o bom do cozido à portuguesa aos domingos no inverno. Depois do meu avô  "Zé do Bairro" enviuvar era convidado para almoçar em nossa casa, o seu prato favorito com a vaca cozida com hortelã. Atarefada na cozinha a minha mãe mandou-me ir comprar arroz à mercearia do Ti Piloto. Entrei pela taberna, a Fernanda a lavar copos de três na pia de pedra de lioz cor de tijolo, na mercearia a Bina aviou-me um cartucho de papel pardo com arroz carolino. Vinha eu a saltar e a brincar depois de passar a fonte do Ribeiro da Vide, rez vez o alcatrão acabar quando tropeço no macadame e o cartucho se estatelou à minha frente no chão, ligeira apressei-me a apanhá-lo conforme pude e fui para casa, sem contar nada do sucedido. Durante o almoço o avô dizia, "raios parta a merd..do arroz, está cheio de pedras"…eu de boca caladita "não falasse o "cú" que a boca também não…"
Outros comeres de antanho:  
Peixe
Arroz de bacalhau com colorau e  vinagre
Massa de cotovelinhos com o fiel amigo
Receita à Gomes de Sá no tabuleiro no forno
Bacalhau cozido com batatas e feijão-verde ou com raia
Bacalhau, sardinha e petinga albardada em cama d'ovo 
Tibornada de bacalhau assado 
Roupa velha com os restos do bacalhau cozido
Calatroia ,a caldeirada de bacalhau com arroz
Peixe frito do rio, chícharo, faneca
Sardinha assada com batata cozida com a pele e pimentos
Atum com feijão-frade, batatinha e cenoura e cebola picada com gomos de tomate e azeitonas
Escabeche de carapau, sardinha, chicharro ou perdiz
Carapau frito e petinga

 Carne
Cozido à Portuguesa
Leitão
Pato assado
Arroz de pato
Frango assado no forno
Frango na púcara
Arroz de cabidela
Galinha estufada à Moda de Ansião com couve branca
Jardineira de frango 
Guisado de  vaca
Chanfana
Ensopado de borrego
Borrego assado no forno
Caldeirada de cabrito
Cabrito assado com grelos de nabo ou couve nabo
Batatas assadas no forno a lenha com sabor a leitão da tia Maria
Galo corado
Arroz de coelho 
Coelho à caçador
Coelho no forno com a barriga cozida de batatas
Iscas de porco de cebolada
Favas com entrecosto com chouriça e morcela
Ervilhas com ovos escalfados e chouriça.
Peixinhos da horta
Chispalhada com grão, couve e cominhos
Mão de vaca com grão 
Rancho com grão
Dobrada com feijão branco e arroz
Feijoada com carne de porco e couve
Arroz de feijão de grelos e  pimentos
Bochechas de porco
Pernil

Doces

Todas as semanas a minha mãe fazia um tabuleiro de massa de pão de ló que depois cortava em palitos que se guardam numa lata para a semana
Pudim d'ovos
Pudim de miolo de noz
Bolo de noz
Velozes
Sonhos
Arroz doce
Leite Creme com farófias

Nos casamentos comeres mais antigos da nossa terra
Cachola
Papas de Sarrabulho
Regelo (borrego) 
Verde, com sangue coalhado que se mistura variantes das miudezas do porco ou do carneiro.
Bucho com arroz, que a minha tia Maria no Bairro tão bem fazia com sabor a hortelã e,…

As sopas no meu tempo tinham a função de "tranca da barriga" Grão-de-bico, feijão-verde, feijão da velha com repolho, caldo verde, e sopa à lavrador ou de entulho à moda da terra ou da panela, tantos nomes para a sopa da pedra com feijão, hortaliça, ossos, enchidos e barriga de porco.  Nesse tempo em minha casa só se comiam produtos da estação da agricultura de subsistência que os meus pais mantinham no quintal e fazendas no mesmo hábito se comia a fruta e legumes da época e as leguminosas demolhadas de um dia para o outro em água. No tempo das favas e ervilhas comiam-se todos os dias, igual no tempo do feijão-verde, dos grelos e da couve nabo que se chamam  " grelos couveros". E claro a couve galega era rainha em paralelo com os nabos.
Aferventados
De nabos com feijão frade
Nabos com cabeça, ou de couve nabo, também lhe chamam "nabos couveiros" como a minha avó lhe chamava, muito saborosos. 

Com couves e feijão frade 
Acompanha  entrecosto , bacalhau assado, entremeada, entrecosto, pataniscas, filetes, peixe frito e,...

Requentado ou Fertungado
Feito com a sobra do aferventado com migas de broa ensopadas com o caldo, "feijão da velha", debulhar, frade ou chícharo a refeição seguinte requentada com já atrás mencionei no tacho de barro com azeite a fervilhar, alhos e louro, a que se junta o aferventado escorrido, as Migas, que a minha avó Maria da Luz da Mouta Redonda chamava Fertungado e nessa continuidade a família o chama. 
Fertungado ou Migas 

Cachola 
A carne de porco com os miúdos e fígado entalado na brasa ( na chapa ao lado do tacho) que se junta no fim na cachola, come-se "picada" pelo garfo do tacho de barro há quem junte batata no guisado. 

Tiborna ou punheta de bacalhau
No olival improvisei a fogueira com umas pedras de lado para assentar a grelha, no brasido assei o bacalhau e as batatas com a pele enfiadas num arame, salpicadas de sal como via no meu tempo de criança fazer no alambique. Num prato grande desfiado o bacalhau e na roda as batatas esmurradas, tudo bem regado com abundância de azeite quente num púcaro com alhos. Prato que faço no Natal aproveitando a lareira acesa, rápido e toda a gente adora. Antes se fazia muito nas lagaradas.

Ensopado de cabrito 
No tacho de barro feito ao lume arremedar chanfana

A nossa Sopa da Pedra
Por Ansião era chamava Sopa de Carnes, tradição gastronómica levada pelos "ratinhos" nas suas safras sazonais para as vindimas e apanha da azeitona ao Ribatejo em Almeirim e Golegã . Na arca levavam leguminosas (feijão ou chícharo), carne salgada e enchidos, a comida ancestral de substância herdada dos antepassados que a comiam praticamente todos os dias para ditar nos Ribatejanos a sapiência de a saber revitalizar e celebrizar com o nome Sopa de Pedra!

Como fazer sopa de carnes 
Feijão da velha que crescia no milheiral  demolhado e no verão feijão  grado debulhado. A minha mãe há muitos anos introduziu um naco de vaca ao espinhaço de porco, entremeada, bacon e enchidos. Depois de cozidas as carnes são retirados para se juntar quadradinhos de batata, nabo, cenoura, couve galega esfarrapada e repolho crespo, e uma mão de massa grossa. Antigamente por serem pobres só usavam carne gorda e enchidos, não havia cenoura , usavam  abóbora.

Gente em êxodo das aldeias nos meados do século XX para as grandes cidades à procura de melhor vida quando faziam esta sopa de carnes diziam aos filhos que era - Comer à moda da terra

Os meus netos mais novos adoram e limpam o prato

Leitão à moda da Nexebra 
Assado no Pereiro no BIGODES
 Os temperos  Banha, sal, alhos , louro e pimenta 
Descuidei-me um bocadinho com o forno quente, mas a pele um espetáculo ...

Bacalhau  com Todos
Couves, grão e ovos
Cozido à Portuguesa
Com a carne de vaca cozida com hortelã 
Com feijão branco

 Couves com sabor a cominhos, uma tradição nesta terra herança dos mouros ainda em Pousaflores 
 
Chanfana 
A carne de cabra coze no tacho preto não vidrado "acarbada" em vinho tinto, uma cabeça de alhos, louro, azeite, banha, cravinho, colorau, salsa e sal sendo deixada temperada de véspera, no dia seguinte na falta de forno a lenha o tacho vai ao lume brando na lareira  e assim fica na "mornalha" o resto da noite , serve-se no dia seguinte. Em Ansião come-se acompanhada de batata e couve cozida.
Arroz de cabidela
A minha mãe tão bem sabe confecionar
 Galo assado no forno

 Arroz de pato

Frango do campo na púcara
( à moda da perdiz de Coimbra) com grelos
Frango assado no forno 
Com couve branca 
Ensopado de borrego 
Com batata doce, herança que a minha mãe trouxe da Madeira de se comer batata doce.
 Caldeirada de cabrito da região de Sicó
~
Empadão com os restos do cozido e sementes
A tradição de Trouxas de carne
Com a sobra de  carnes e enchidos, faz-se um picadinho, junta-se a olho miolo de pão e gemas de ovos cozidos, cebola picada, salsa, pimenta e retifica-se de sal. Escaldam-se folhas de uma pequena couve lombarda inteira . Em cada folha poe-se o recheio atado em forma de paio.Prepara-se um refogado com cebola e tomate onde se colocam as trouxas , cobertas de caldo até cozer e retificar os temperos, para apurar mais o caldo juntar um pouco de farinha.
Acompanha com arroz arabe. ou batatas fritas.

Pernil
Sempre houve peixe à venda por terras de Ansião

Por isso a Caldeirada de sardinha , raia ou peixe variado
A peixeira Ti Zulmira vinha à minha porta com o carrinho de mão de madeira vender o peixe que encomendava ao telefone do correio ao filho que vivia nos Riachos. As vezes que me cheguei a ela para a ver escamar e atirar as guelras para os gatos para no prato da balança não faltar o contrapeso da cabeça. Comi bom goraz assado no forno, pargo frito ou cozido, sardinha assada ao sábado, bacalhau e raia.
Caldeirada 
Com raia, safio, pata roxa, cação e ameijoas e coentros

Caldeirada de bacalhau 
Apenas com batata e juntando arroz  o jantar do pessoal de fora na jorna a comer que se fazia na Moita Redonda e no Bairro Santo António em Ansião.
Pataniscas 
Ou bolinhos de bacalhau com café de cevada 
 Sarda 
Grelhada com salada, também se comia cozida ensalada com batatas e feijão verde.


 Pescada cozida com couves de Ansião
Polvo cozido e depois assado à lagareiro
Polvo frito em cama d'ovo

Polvo grelhado com batatas a murro
Bacalhau à Crato
Petisco de berbigão, no meu 
 tempo, hoje ainda, mas, mais de ameijoas
Mexilhóes para entrar no forno
Azeitonas retalhadas
Sopas
À lavrador com feijão da velha (demolhado) com couve e ossos
Feijão debulhar com couve
Grão com massa meada
Favas
Feijão verde
Caldo de nabiças e,...

Canja de galinha 
Caldo Verde com couve galega
Enchidos  com  picante
A chouriça com colorau, e a morcela com cominhos e salsa e farinheiras.
O Livro Pantagruel
A minha mãe comprou-o em Coimbra era tão grande com outro igual em casao Dicionário
Por não ter poucas figuras acabou destruído por mim e pela minha irmã... 
 
 Puré com pescada cozida e cebolada
Robalo do mar assado 
Aprendemos a saborear nas férias na Figueira da Foz e na Nazaré que o compadre da minha irmã era pescador lúdico em Ílhavo e nos obsequiava
Pargo assado
                           
Bife da vazia
Em minha casa é refeição desde o início da década de 60. Hoje com molho de cogumelos e natas, servido com legumes cozidos. Que só o voltei a saborear na Portugália e em Coimbra.
Lombinho de porco assado com arroz e salteado de legumes
 Bochechas de porco
Lombinho de porco com legumes salteados e batatinhas assadas
Carne de porco assada com batatinhas e couve
Outras comidas depois do 25 de abril de 1974
Frango de Churrasco
Caril com frango 
Herança trazida pelos retornados, sobretudo de Moçambique, aprendemos a comer caril
com maça e pinhões
Depois que vim para a cidade 

O hábito de comer peixe espada , besugos

Paelha

Após o 25 de abril em 75 a 1º vez a Badajoz ganhou-se o hábito de comer paelha 
e tortilha com feijão verde.
 Suflê de abóbora
Com molho bechamel e queijo ralado do Rabaçal curado, receita de uma criada.

Cataplana de caras de maruca com gambas
Peixe galo grelhado
Lombo de porco 
Com legumes estufados
Salgados e doces

Bola de frango 
Uso fazer pelo Carnaval, Páscoa e Natal
A que a minha avó Piedade  fazia era de  presunto e toucinho ligeiramente cozido, e chouriça
1 chávena de ovos ou 4 ovos
1 chávena de azeite e uma de leite
3 chávenas de farinha
Fermento de padeiro ou 2 colheres rasas de sopa de pó "Royal"

Mistura-se o azeite com os ovos, bate-se bem e alternadamente o leite com a farinha, e o fermento, batendo sempre.
Unta-se a forma e põe-se metade da massa e por cima o que se pretende:  rodelas de chouriço , paio, fiambre ou frango de churrasco. Cobre-se com o resto da massa e vai ao forno pincelada  com ovo.
Bola de fiambre e paio
Páscoa quer Bola salgada e Bola doce com avelãs
 
MASSA SOVADA
A minha primeira vez feita por altura do meu aniversário de 52 primaveras .Herança açoriana levada por gente do centro de cozinhar a chanfana.
Depois da massa levedar, foi ao forno cozer. Foi aberta e retirado o miolo, uma invenção minha a pensar como se faz com o bacalhau no pão  para levar a alcatra.
                               
Alcatra à Moda da Ilha Terceira
  Merendeiras doces e salgadas
A tia Maria do Bairro quando acendia o forno fazia para os netos as Merendeiras com sardinha, bacalhau , chouriça ou açúcar. E eu também as comia.
A minha querida e linda mãe é uma cozinheira e doceira de mão cheia!
Saudades da sua marmelada vermelha por cortar os marmelos com faca de ferro. Agora só se usam facas brancas e a marmelada perdeu aquele encanto. E fazia geleia com as cascas e sementes. Enchia taças de vidro cobertas com papel vegetal comprado na papelaria da D. Arminda e as punha a secar na pedra da janela da sala...a minha irmã adora marmelada, sorrateira levantava o papel e a comia toda...
Hoje a pus em taça de plástico...
Marmelada
Quando a minha mãe a comprava em Coimbra na Briosa, vinha nesta taça de faiança de Sacavém
Há pouca doçaria na vila de Ansião 
Pão-de-ló tradicional
O da minha querida mãe é digno de confeitaria igual o da D Helena da Lagoa da Ameixieira.
                                
                 
Variantes de Pão de ló em formatos diferentes e coberturas
O glacê branco aromatizado com laranja ou limão que a minha mãe fazia para cobrir os bolos de noz ou de laranja quando se queimavam ou ficavam menos bonitos. Este decorei com caramelo.
Cobertura em glacé
Pão de Ló de Ovar
Na minha experiência a demasia de tempo a cozer, ainda assim húmido ...
Pão de ló cozido em tabuleiro 
Moda das Fatias de Resende

Chiffon de chocolate 
 Bolo de chocolate húmido
 Bolo de chocolate com  cobertura glacê branco 
Bolo de chocolate com morangos
Cobertura com fios d'ovos que gosto de fazer por altura do natal
Bolo de ananás  tradicional
O fiz  durante anos para os anos da minha filha
Tigelada cozida em forno de lenha
Herança das gentes beirãs. Todas feitas em forno a lenha, o calor a mais deixa um aspeto de pelicula queimada, mas saboroso ao paladar.
Cavacas
Ingredientes: 5 ovos, um quarto de azeite, 9 colheres de sopa de farinha trigo, sal , um cálice de aguardente, e pouca canela. 

Ferve o azeite e deixa-se arrefecer. Juntam-se os ovos , a farinha, aguardente, o sal, o fermento e a canela.  Mexer com as mãos até a massa começar a enfolar.
Untar as formas e verter apenas uma colher em cada uma e vão a cozer no forno.

Cobertura: 1 clara batida em castelo e deita-se-lhe 1 chávena de açúcar e uma colher de chá de vinagre tudo bem batido até ficar duro. Cobrem-se bem  e em seguida põem-se a secar.
Ao género das famosas da prima a Ti Matilde do Cimo da Rua
 De cova seca servem de copo e as de Pão de Ló, macias são normais
Abóbora gila 

Roscas crocantes e folhados de gila
Tartes
Feijão branco e de gila 

Tarte de gila e amêndoa  húmido
Tarte de amêndoa com cobertura a natas e ao lado com caramelo
                 
Tarte de chicharo
Massa : Farinha de trigo, 180  gramas, juntar  duas gemas, uma clara e uma colher de manteiga.  Amassar  muito bem. Fica a repousar  10 minutos. Tender a massa com o rolo muito fina e forrar  a tarteira.
Ou um pacote de bolacha Maria com uma colher de sopa de manteiga e um pouco de leite.

Recheio: 

Os chicharos tem de ser cozidos e reduzidos a puré.
Para 250 gr de açucar, 200 ml de natas , 4 gemas e uma colher de manteiga derretida.
Envolver todos os ingredientes na batedeira.  

Ou

Poe-se 250 gr de açucar ao lume com 100 ml de água até fazer ponto espadana . 
Junta-se 200 gr de miolo do chicharo e vai ao lume até fazer ponto estrada. 
Deixa-se arrefecer e misturam-se as gemas.
Pincelar a tarte com as claras pouco batidas , polvilhar com açúcar e vai a cozer em forno médio.
Forno 180 à volta  de 20 mn.

Esta receita é uma invenção da Encharcada. 
Desfazem-se 125 gr de bolachas torradas .
Junta-se a calda de 250 gr de açucar que vai ao lume com 2 dl de água quente até fazer ponto espadana . Deixa-se arrefecer e juntam-se 3 gemas batidas e volta ao lume . 
Pincelar com as claras batidas em castelo
Vai ao forno para alourar.

Pavlova 

Por sempre adorar suspiros há mais de 30 anos que a faço com mascapone e frutos vermelhos
Pavlova de canela com doce d'ovos

Pavlova Chocolate 
 
Pavlova simples coberta com mousse de chocolate e nozes
 
Formigos  
Também conhecidos por mexidos de natal com pinhões, passas, nozes e resto de bolo de noiva 

Bolo Pudim
Bolo Rei 
Na casa dos meus pais já o comia em 62 que vinha na carreira de Coimbra por encomenda.
Feito por mim em 2002 
 
 Arroz doce 
Em muita casa abastada no final da desfolhada, ceifa vindimas ou na apanha da azeitona presenteavam o rancho com um grande prato de arroz doce.
Ingredientes: 1 chávena de  arroz carolino
1/2 chávena  de leite e outra igual de água
1/2 chávena  de açúcar
2 gemas
Coze-se o arroz com o leite em lume brando mexendo sempre.
Quando o arroz estiver quase cozido, junta-se o açúcar, 1 casca de limão e as gemas desmanchadas.
Decora-se a gosto com canela. 
Amarelinho com ovos caseiros, a minha mãe ornava a canela a imitar a faiança falante : 
Parabéns Bela; Parabéns Mena ...decorado a flores, corações ou pintinhas. 
 
 Natal os Sonhos com leite
Leite creme com farófias e chocolate
Em Ansião a minha mãe fazia um tabuleiro de leite creme e o cobria de farófias  levava ao forno apenas para crestar. Hoje faço tanta derivação...
Leite creme com farófias queimadas no forno e canela 
Rabanadas
Fatiar o pão. Com leite a ferver, açúcar e canela, a solução para passar as fatias, uma a uma, e ficam abafadas para amolecerem. A fritura em azeite bem quente e passam-se depois numa calda de açúcar em ponto de pasta. Polvilham-se, no fim, de canela.

Queijadinhas de abobora 
Mede-se a quantidade de abobora numa chávena, por cada uma, juntar 1/2 de açúcar. 
Faz-se um ponto perola com o açúcar, juntar um pouco de água e casca de laranja. 
Junta-se a abobora cozida com pau de canela e sal . 
Pode-se adicionar amendoim, nozes etc, vão a cozer

Biscoitos de Natal
Escaldar 750 gr. de farinha de trigo  com azeite a ferver, mexendo bem.
A que se junta  pouca água quente, um nadita de fermento, canela e 250 gr. de açúcar. 
Amassa-se tudo bem até a massa empolar, fazer foles.. Vai levedar.
Na tábua trabalha-se a massa no formato que se quer fazer os  biscoitos e vão ao forno.

Espera Maridos
Receita da Titi, irmã mais velha da minha mãe, que foi mais avó que tia
Poe-se 250 gr de açucar ao lume com um pouco de água ou limão até fazer ponto espadana. 
Retira-se do lume até arrefecer.
Numa bacia batem-se 6 gemas que se incorporam no açucar já frio, para não as cozer.
Serve-se quente ou frio com canela.
E laranjas...
No meu tempo de miúda na minha casa de inverno se comiam assim finamente cortadas com uma pitada de açúcar amarelo regadas com água quente.
Tarte de laranja  e cobertura
Torta de laranja
Bolo de laranja com casca 
Com pinhões
 Em forma redonda e de buraco
Pão
Inicialmente no tempo da guerra o pão em Ansião era de Rolão...No meu tempo era de trigo e mais tarde comecei a comer de centeio. O que nunca deixei de comer foi a  BROA de mistura .Quem se lembra da bacia do crescente?
O meu pai mandou abrir um poço e com o barro que saiu do buraco fez-nos um forno, como não lhe fez telheiro acabou mais tarde por se desmoronar, mas ainda cozemos nele. Afinal era filho e neto de padeiros.
Pao,  bolo de noivos e tigelada coberta para não queimar
Pão e bolo de noivos
                            
Pão com chouriço
Passas de figos pingo mel 
Uma tradição na região de ver secar ao sol tabuleiros de madeira que também serviam para ir ao rio lavar as tripas da matança do porco. Cobriam o fundo do tabuleiro com munha, a caruma dos pinheiros e por cima o estandarte dos figos a secar.Os meus figos de Ansião a secar na varanda.
Nozes
Havia nogueiras. Os meus pais tinham uma no quintal que era tão grande que por fim teve de ser cortada porque não havia homem que a verdejasse. As comíamos ainda quase de leite e em bolos de Noz e em pudins feito com miolo de noz e nos bolinhos dos Santos.
 
Queijo denominado Rabaçal  
Queijo de mistura de leite de ovelha e cabra com cardo.
Gosto dele fresco, de meia cura e curado.
Meia cura e amanteigado
                       
Curado de pasta mais dura
Ginja 
A minha primeira produção

BOLOS DE NOIVA 
Começou por ser chamado Pão doce, porque era feito com massa de pão, ovos, azeite, açúcar, e canela, em Ansião, foi uma herança avoenga trazida de Arrancada do Vouga, à laia da fogaça de Santa Maria da Feira, com a coroa cortada em cruz, coberto a folha de couve crespa para não crestar.
Tradição iniciada na Largo do Bairro de Santo António com a Ti Maria Zé da Adelina, seguida da sua filha São, com boa mão para os bolos, como do tio, o meu  bisavô Elias da Cruz . Além de padeiro foi cozinheiro nas ceifas, com festa no adeus. Talvez por isso nasceu no Alentejo com o nome de Bolo Finto, por fintar, isto é levedar a noite toda. 
A receita foi levada pelos trabalhadores para as suas terras, na Beira Baixa e Litoral, onde ainda presiste a tradição deste bolos eco, mas fino de sabor requintado. 
Recordo a  minha avó Piedade da Cruz, padeira de mão cheia, cozia  à sexta feira  Bolos de Noiva e o pão Coroa, de trigo fino.

O meu bisavô Elias da Cruz , em Ansião,  fazia bodas de casamentos. Cozia o pão e os bolos, que sendo pão doce, eram o convite que os noivos entregavam aos convidados e no tempo ganhou o nome de Bolo de Noivos. No meu tempo, em 1978, cumpri o ritual, hoje perdido, oferta-se na hora do adeus à boda. 

Das restantes padeiras e doceiras na família fala-se na da Maria do Carmo Lopes, da minha avó Piedade Cruz e da prima Piedade Lopes.

Naqule tempo retirava uma porção de massa do pão  para um alguidar, juntava açucar, azeite e ovos e raspa de limão. 
 De sabor a limão

Bolinhos dos Santos
Noz, passa de uva e erva doce com um golinho de boa aguardente em copo da Vista Alegre com mais de cem anos...
 
 No meu tempo de cachopa as faziam assim
                   
Bolinhos de erva doce 
Ferraduras

Ingredientes: Farinha 250 gr, 2 ovos, 150 gr de açúcar, uma colher de sopa de azeite, 1 de banha,  manteiga, pedrinhas de sal, erva doce e canela a gosto, uma colher de  chá de fermento, e água tépida, se for necessário . Para ficar mais rica juntar 100 de miolo de amêndoa .Amassar bem, até ficar a massa tipo bola, a despegar das mãos. Trabalha-se a massa fazendo rolos que se cortam em pequenas porções e fazem-se as ferraduras. Pincelar com gema de ovo. Forno 180 entre 15/20. Atenção quando começa a cheirar, desligar. Para não ficarem secas.

SSS
Ingredientes: 4 ovos inteiros, 250 de açúcar, raspa de limão, 1 colher (de chá) de fermento, 1 colher (de chá) de canela, 100 gr. de margarina, farinha  à volta de 300 gr, para tender os Sss

Lesmas 
Por não gostar de animais viscosos e no meu tempo a tradição eram bolinhos rijos que nem cornos com sabor a erva doce...mas hoje as fazem macias...
A receita da minha avo Piedade: azeite, água, açúcar, farinha de trigo, de milho, canela e erva doce com nozes.
Bolachas 
Aprendizado com os netos Vicente e Laura

Criatividade
Doçaria conventual (?)
Não sei se ainda alguém as faz, a D Maria Amélia as sabia fazer. As queijadas uma herança dos mouros que ficaram nesta região  e deles muitos ainda hoje tem ascendênciao mesmo do almerce, os frangalhos do leite coalhado sobrante da feitura do queijo mais tarde reaproveitadas pelas freiras de Pereira em Montemor o Velho a ditar as famosas queijadas da vila de Vila de Pereira.

Tem aparecido novas recitas de doces de chícharo 
Queijadas 
Queijo fresco com massa fina a imitar a massa dos pasteis de Tentúgal
Queijadas de Ancião  
Com aguardente e azeite que a minha avô Piedade  fazia, as minhas porém ficaram de cor insípida...
Fatias douradas à moda poveira
Pão duro depois de demolhado é exprimido em forma de bola e vai a fritar à laia de bolas de berlim para serem recheadas com doce d'ovos.
 Sericaia  
O meu avô José Lucas, da Mouta Redonda, nas suas idas como paneiro ao Alentejo, trouxe a receita com o nome de Sericá, doce proveniente da Índia que na zona de Avis e Crato, onde existe o rio da Seda não souberam valorizar para os de Elvas, aproveitar chamando-lhe Sericaia, porque lhe juntaram sabiamente a ameixa em calda do Caia.
Jesuítas
Em ênfase aos frades do Mosteiro de Santo Tirso, onde são hoje famosos , mas antes tiveram a quinta de Cima em Chão de Couce, que a trocaram por duas vezes, a última  por terras de Coimbra .

 Natal é Lampreia...
A primeira que fiz à minha moda sem salamecos de confeiteira foi na casa da minha mãe na Figueira da Foz, num Natal dos muitos que naquela casa passámos, fantásticos, levantei-me pelas 4 das manhã e sozinha na cozinha armada de pasteleira, quando se levantaramestavam os doces todos feitos...
Tarte de queijo fresco com doce de morango e broas castelar
Esqueci- me de levar a massa da tarte ao forno para tostar...
Do NATAL à PÁSCOA comem-se velozes de abóbora menina
Tarte de abóbora menina com miolo de amêndoa
Velozes de cenoura
Velhoses de abóbora da minha mãe
Ingredientes 300 gramas  de abóbora cozida com sal,  e casca de laranja. Depois de fria, expremer e fazer pure com a casca. 
Juntar 2 ovos,  duas colheres de sopa de açúcar amarelo, sumo de uma laranja, ou duas, pixel de aguardente, 250 gramas de  farinha e uma colher de fermento. Mexer bem, fica  pasta mole. 
Leveda umas 4 horas. Fritam-se colheradas em óleo quente. Cobrem-se com açúcar amarelo e canela.


Pudim de abóbora com coco, uma delícia

Sonhos
Coscorões 
O hábito de as darem ao pessoal de fora depois da apanha da azeitona e do milho.
1 kg de farinha e pitada de sal
125 gr de banha + 125 de azeite + 100 ml de aguardente + sumo de 3 laranjas + 2 0vos + água 

Peneirar a farinha, juntar pitada de sal a banha e azeite derertidos, aguardente, sumo das laranjas, e ovos.Mexer bem e juntar água se for necessario até a massa descolar. 
Bater bem na batedeira ou na bancada - à moda antiga a massa era batida até as pernas da mesa transprirarem...
Depois a masas é bem esticada ou estendida na bancada ou mesa e vai-se cortando com a corretilha e  fritando em oleo bem quente. Polvilhar
Obvio que deixei a massa grossa...
Filhoses ou filhós da Beira
1 colher de chá de sal
0,5 kg de farinha de trigo
1/2 cálice de aguardente
125 ml de azeite
5 ovos grandes
15 gr de fermento de padeiro 
leite morno q,b

Desfaz-se o fermento em leite morno num pouco de farinha e fica a levedar.
Aquecer as gorduras e juntar à restante farinha, para a escaldar bem. Não deixar fiocar grumos. Juntar o fermento e os ovos, um a um. Amassar bem. Juntar a aguradente até a massa ficar macia. 
Enfarinhar as mãos para a massa não colar, a massa fica pronta quando começa a fazer bolhas, a enfolar. Volta a leverdar 4/5 horas, quando a masas duplicar de volume está pronta.  Depois é estendida fina com o rolo numa grande mesa,  e cortada  com a carretilha . Fritar e polvilhar com acucar e canela.
A minha avó Piedade tendia-as no joelho sentada na lareira.

Pêras cozidas polvilhadas com chocolate
Pêras cozidas com chocolate
Pêras assadas
 
Presépio feito com cogumelos e plantas de Sicó
Iguarias de natal 
A riqueza do pormenor da cesta branca de verga e pano de linho com o pão confecionado por nós no forno a lenha, tradição de família,  de  avoengo  no Bairro, o local da primeira padaria de Ansião. 

 
 Frutas- lichias, uvas, quivi, laranja, romã, pera e mamão para o fondue de chocolate
Bolo de natal com calda dos fios d'ovos
Figueira da Foz em noite de muita doçaria no reaproveitamento da calda onde fiz os fios d'ovos.
 
Um Natal
Tarte de limão; Tarte de amêndoa; Rabanadas à poveira com doce de ovos; Pavlova de chocolate com creme pasteleiro ; Entrada ; pastéis de carne, à moda da criada a D. Conceição da Portela de S. Lourenço de Pousaflores.
DELICIEM-SE...
PIOR SEJA DEIXAR MORRER A TRADIÇÃO DA NOSSA TERRA!
AVENTEM , RECRIEM E PARTILHEM
Incrível é a região ser abençoada por salpico de pinheiras, cujo fruto o pinhão não teve no tempo apreciação para com ele se  fazer algum tipo de doçaria.
Um dia destes vou inventar "Beijos de Pinhão", já comecei a idealizar a receita!

Se desse ouvidos à minha mãe há muito que tinha aberto um restaurante...bondade de mãe...entretanto vão-me "roubando as ideias e as receitas novas"...Sei gostaria muito de ter uma tasca no centro da vila...de Ansião ou um Kafé vintage...o mais provável!

Termino com o principio, mas dantes não havia Entradas...
 
Apenas se faziam Pastéis, empadas, almofadas. O recheio?
Vitela ou frango. Hoje junto beringela e cenoura. E claro rissóis de berbigão ou pescada.
Desde miúda despertava em mim outras vontades que não os estudos de saber fazer e questionar coisas ligadas à terra. A meu pedido o meu pai disponibilizou um canteiro de terreno atrás da casa para eu fazer as minhas sementeiras. O que restava do triciclo vermelho da minha irmã servia de trator. Orgulho sentia das minhas batatas, as primeiras a serem consumidas em casa, o meu feijão-verde fazia questão no dia da festa de Santo António em junho fazer a primeira colheita para oferecer na fogaça. Que danação sentia a tia Maria de o dela ainda nem florir, esquecia-se, que eu o semeava mais cedo, de volta dele andava por causa do piolho, quantas vezes o voltava a semear, tanta insistência e carinho, só assim possível, também porque estava abrigado o raças do canteiro!
Nostalgia sinto de não mais voltar a ver as noras a trabalhar com mulas ou burros andar à roda do poço a fazer rodar o sem-fins no louco vaivém dos alcatruzes graciosos a despejar água na pia de pedra para os ver de novo no voltar a descer ao poço a encher, voltar a subir e despejar. 
Magia da água a correr de mansinho pelo rego, tirada nos balanços dos poços, e de andar descalça a regar milho.

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