segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ser ou não ser eis a questão do talude que ainda não foi feito na Mouta Redonda

Desde sempre o privilégio de ter alguma flor à minha espera na casa rural no Fôjo! 
Desta feita malmequeres amarelos em final de floração.

Tenho em meu poder ofício camarário de Ansião S/1302/2013 assinado pelo Presidente dando conhecimento que os serviços irão proceder à limpeza das terras e à colocação de pedra grossa no talude para evitar novas derrocadas, no meu quintal da Cabreira, na frente da casa rural.
Para cúmulo do espanto e consternação, dei-me conta que apenas se limitaram a retirar as terras que impediam metade da via, já o talude ...NÃO O FIZERAM!
Nestes dias de fevereiro de 2015 idealizei uma paliçada na barreira com paus espetados no barro mole, por estar vento inapropriado para fazer queimadas, o mato, giestas capim cortado em agosto e ainda os cavacos da poda da figueira com a forquilha aqui tudo deixei e ainda limpezas de flores e catos de um jardim, para sobre este amontoado que é leve crescer erva que uma vez enraizada assim espero protela a barreira de novas derrocadas(?)...
Tinha agendado dia para a apanha da azeitona com a minha mãe. Aprontado farnel na cesta -, bifes de cebolada com a ideia de na casa fazer um esparguete. 
A minha irmã o ano passado fartou-se de podar as oliveiras com a moto serra, o mesmo que afirmar, este ano azeitona nem vista! 
Mal estacionei dei-me conta que não tinha comigo a bolsa com as chaves...outra coisa não podia fazer senão voltar à estrada à casa da minha mãe "de coração nas mãos"...julgava que a tinha deixado no palanque das fogaças no adro da capela de Santo António em Ansião -, afinal estava numa cadeira junto da porta da cozinha-, grande alívio!
Com esta perda inusitada de tempo urgia aventurar-me ao trabalho. Depois de uma olhadela no correr do quintal só uma oliveira junto do ribeiro outrora encanado, agora a descoberto pelas enxurradas, e falta de limpeza dos ribeiros, na extrema com o vizinho a norte, estava embelezada de azeitona onde estendi a manta em redor do pé. 
Não usei escada, debalde ainda me vi enrolada de braços presa aos ramos, com as pernas tropeças pelas botas de borracha -, vi jeito de queda eminente, felizmente salva pelo último fôlego, puxei pelos músculos presos, no querer mayor de arribar, desistir do aparato de acidente! 
Pesadelo e tormenta -, o abaixo e acima para apanhar o varejão e o serrote, o mais difícil foi ter de cortar os "pulões" a caminho do céu. Teimar em deixar a oliveira redonda, airosa, uma princesa. O que eu me fartei de ripar azeitona! 
A minha Dina no fim de semana ao final da tarde tinha-me pedido as chaves para matar saudades deste espaço idílico, solitário, sereno, único...na volta disse-me " no quintal está uma linda árvore de folhas escarlate cor de fogo"-, o diospireiro! 
No imediato fez-me despoletar na lembrança dum episódio passado com ela no 5º ano -, a Profª pediu à turma para elaborarem uma ementa saudável. Seria outono, e por isso a sua escolha recaiu num Fertungado e a fruta uns dióspiros -, espanto foi aperceber-se que nem alunos, tão pouco a Profª, sabiam nada de nada...salvou-se o inusitado pelo pedido da receita da bisavó Maria da Luz da Mouta Redonda.
    Aferventado sem feijão
Nestas terras do Maciço de Sicó os antigos comiam o que a terra produzia em tempos e antanho. Era gente pobre. No tempo dos nabos fazia-se um panelão de ferro com o aferventado. Miga-se a rama com as cabeças cortadas às rodelas, há quem junte também uma batatinha feijão frade e ovos. 
O aferventado era servido numa bacia de faiança cujo fundo era coberto com broa cortada miúda que o caldo ensopava. 
Bom azeite para o regar.
O conduto; postita de bacalhau assado, sardinha frita , entrecosto ou febras. 
Como se fazia em grande quantidade, as sobras no dia seguinte, eram requentadas em tacho de barro ou frigideira eom azeite fervente com dentes de alho e louro, a que a minha avó materna Maria da Luz da Moita Redonda chamava Fertungado. 
Fácil é perceber que adoro continuar as tradições e ainda hoje fazer estes pratos! 
Regressei de Ansião no sábado com um carrego de nabos que os meus compadres me ofertaram, ontem fiz aferventado com feijão frade, que acompanhei com carapau pequenino frito, a minha Dina veio almoçar, quis levar sobras para fazer na sua casa o fertungado, que o meu faço amanhã. 
Deixei a minha mãe a limpar a casa com as janelas abertas para entrar o sol casa dentro.
Ainda antes do almoço parti quintal fora de balde na mão para ripar uns ramos numa oliveira na extrema da vinha da cadela. 
Sorte que levei o queimbo de oliveira do avô do Luís -, Ti António Veríssimo, sem o qual seria impossível puxar os ramos, ripar as azeitonas. 
Apeteceu-me subir o terreno para ver outras oliveiras entretanto cortadas para plantio de carvalho americano.
 
No último inverno as intempéries deitaram abaixo dois pinheiros junto da estrada, os carvalhos de grandes folhas amarelas e escarlates, aqui e ali sobrevivem como podem no meio de mato com silvas, para espanto meu, as oliveiras que entretanto rebentaram para gálio com azeitona grossa da boa. Uma atrás de outra e mais outra, enchi o balde de 20 litros.Claro que me demorei! 
Pior foi chegar a casa ... sentir a raiva da minha mãe que entretanto me procurou e chamou por tudo o que é sítio sem saber de mim-, aflita, julgava que tinha caído algures. Podia ter acontecido! 
De regresso de balde cheio pelas mãos ainda fotografei a casa em ruínas do meu vizinho .
                  
Aldeia quase desertificada-, um gato ao sol!
                   
Ao chegar ao jardim cansada deparei-me com o arbusto "rapaziada" que plantei o ano passado, aberto em flores pequenas e cheirosas em cor cerise tal como o botão de rosa da poda da roseira da frente da casa que avassalei à meses.
                  
Dei corda no tirar as botas para calçar os chinelos já passava da hora do almoço.
Aberta a janela da cozinha de par em par -, o carvalhal avizinhava-se verde ervilha sob o sol radioso, a minha mãe sentou-se logo defronte, para saborear tal paisagem.
Posta a mesa, fui ao bar buscar uma garrafa de vinho alentejano produção de 2007, bem encorpado. Para entrada desfiei um peito de frango assado que sobrara de véspera.
A minha mãe resingona com o esparguete acabou por lamber o prato...o molho dos bifes estava no ponto! 
Os pêros bravo de esmolfe estavam deliciosos, e o cafezinho quente com um pixel de aguardente de medronho rematou o repasto.Arrumei a cozinha, e de novo para a azeitona desta vez para a Cabreira-, o quintal na beira da frente da casa. 
O ano passado uma parte da barreira em terra cedeu com as águas que descem da Nexebra e ao chegar à estrada de maquedame encontram as regateiras entupidas pelos desperdícios de madeira deixada pelos madeireiros nos cortes. Há muito que deveria haver fiscalização, sobretudo com a colocação de placas com indicação de coimas. 
Na altura alertei a Câmara de Ansião para o problema. Não demoraram tempo a retirar a terra da estrada repondo as lajes de pedra alva que servem de escada ao quintal.
Pior, foi o espanto ao receber carta oficiosa a dizer que tinham efetuado a remoção de terras e sustentado o talude com pedra grossa para evitar novas derrocadas...debalde só consta a obra no oficio! 
Apesar dos e-mails endereçados -, e até uma "cunha" que em abono da verdade abomino fazer -, mas no caso considero como sendo pagamento a um funcionário a quem dei este ano a palha para alimento dos póneis das filhas -, ao me questionar quando vinha para o almoço, viu-me no meu Salgueiro, o olival onde andei na véspera -, perguntando quanto me devia. 
A verdade é que no passado para se alargar o caminho em estrada, o quintal foi cortado, na altura deveria ter sido feita uma parede de sustentação de terras como o fizeram mais abaixo no Vale, até porque na frente existe a casa, nada mais óbvio-, mas não tendo sido feita o deveria ser agora, porque as terras já cederam por 3 vezes , atrás delas tem ido oliveiras, outras 4 estão eminentes, nem tão pouco me atrevi a subir a elas e varejar, pelo perigo! 
Fechada a casa e o carro com saca e meia de produção de azeitona, partimos a pé na direção do Vale, à courela do olival da minha mãe ripar uns ramos da sua oliveira do talho do jardim...naquele sentir nostálgico de matar saudades ao final da tarde.
O sítio onde nasceu, que gosta de recordar, e eu também...
Na entrada da quelha do Vale na ribanceira do ribeiro da Nexebra sempre vistoso o velho arbusto perene que não sei o nome -, florido de bolinhas vermelhas, julgo venenosas, na frente da casa da Maria e do Silvério.
Ao subir a quelha do Vale depois do alcatrão acabar rés vez a adega da irmã do meu marido, encontrei cogumelos na fresquidão dos loireiros e da quietude do ribeiro ainda sem águas...com passarinhos a esvoaçar nas ramagens do sabugueiro.
                 
Desânimo é constatar o sítio da casa dos meus avós maternos Maria da Luz Ferreira e José Lucas Afonso, depois de uma lagarta camarária ter derrubado o que restava das paredes, apresenta-se hoje num amontoado de silvado, a crescer sem receio para as alturas...nem uma pedra se deslumbra naquele imenso emaranhado!

Ainda resiste na frontaria do muro do pátio um pé de jarros...
Euzinha na frente do sítio da casa dos meus avós na quelha do Vale sempre irreconhecível quando ando vestida de saloia agrícola...
A minha mãe a subir a serventia para o seu olival. Atrás dela a palmeira que plantei há anos, hoje pertença da irmã do meu marido. 
Não resisti fotografar o faustoso cato de flores cor d'oiro que já ninguém apanha para usar na feitura do queijo - o cardo. Só lhe resta a chegada dos ventos para levarem as sementes para outras paragens.
A parca azeitona "ardida" da oliveira do talho do jardim da minha mãe 
    Lágrimas, o arbusto perene plantado pela minha avó Maria da Luz na ribanceira da eira de xisto
      Muro da eira em rectangular da minha mãe
      Eira retangular vista pela frente, a quina marca a extrema
        Arbusto de espinhos e bolinhas vermelhas a lembrar o Natal



        Flores campestres no meio de silvas...de beleza incomum!
        Tristeza sentida no meu rosto a lembrar tempos idos que jamais voltam...por ali vividos nos leirões outrora amanhados, cheios de vida e muita água que descia em queda livre das minas dos costados da Nexebra sempre a correr por regateiras de terra a lembrar as levadas na Madeira .
        A minha mãe em debanda desolada com o matagal, e a pouca safra da colheita -, teimosamente não quisemos deixar para os tordos, que até precisam de comer, já antes na Cabreira deixei azeitona galega nas oliveiras, para não se engasgarem!
        O pipo da casa do Silvério e da Maria jaz no talho minúsculo defronte da casa.
        O talho com a oliveira e o poçito -, por causa deles, os donos, especialmente da Maria, a estrada não foi alargada com deveria -, discórdia sem razão-, diz a lei que dos lados das linhas d'água há que respeitar 3 metros...bem, ela depois disso já se finou... 
        Há pessoas que não enxergam que a vida é apenas uma passagem! 
        O pipo vai morrer de pé como as árvores. Se tivesse serventia há muito que o teriam furtado!
        O lavadouro e a fonte hoje seca, que o meu tio Alberto Lucas enquanto presidente da Junta de Freguesia de Pousaflores mandou fazer no largo onde corre o ribeiro que desce da Nexebra. 
        Quero muito acreditar que os serviços competentes camarários irão concluir a obra que se propuseram no ofício que me enviaram! 
        Pago impostos no concelho de Ansião como outro qualquer cidadão que respeita a lei -, no caso até mais do que a maioria no concelho, pelas avaliações terem corrido após 2004, com isso correspondem ao padrão em vigor, enquanto que os demais apesar de algum aumento, ainda não pagam o que deviam atendendo ao património.
        Se a autarquia tivesse a ousadia em corrigir a metragem das casas, barracões e anexos de cada cidadão....seria de fugir sentir o aumento ...ou não -, fácil seria entender que mais vale baixar o índice que é dos mais altos do País-, assim a população não se sentiria ludibriada, a bitola seria igual para todos, cada um pagaria pelo que tem na realidade com justiça para os demais. 
        Importante seria penalizar também aqueles que não cuidam do seu património. 
        Claro como a água "quem tem casas tem de pagar o que a lei determina" 
        Pior é constatar que a maioria dos cidadãos tem andado anos e anos a pagar uma miséria de contribuição 20/90 € sendo que eu pago nesta casa rural com 100 anos 58,33€ e da casa de Ansião "cega", sem anexos com 90 mts2 pago 274,33 € ... 
        Assunto para pensar!

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