sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sobras de tesouros em solar transmontano

A opulência da ruína ainda exala beleza... decadência ...
Inusitado o almoço só podia ser Bacalhau à Conde! 
Sobras de tesoiros de casa abastada  na voz de  um amigo. Perdido o fausto dos solares de outrora onde condes, duques, barões e viscondes foram gente fidalga, até ao dia o último tostão, se perdeu a continuidade em revalidar títulos…Ao percorrer o nosso país de norte a sul sempre me instigou o abandono de solares e casas apalaçadas por tudo o que é canto ao Deus dará semeado!
Resignados à penúria da ruína a pior sina para uma maioria deles. As causas foram diversas. Flagrante a falta da continuidade na fonte de rendimentos na agricultura, floresta, indústrias, sobretudo, por não terem ensinado aos descendentes a quem chamavam " meninos " que o dinheiro não cai do céu, deve ser gasto com peso e medida, sendo preciso sapiência no comando dos negócios de família, sobretudo jamais descuidar de supervisionar o património no dever da sua vigilância constante. Sabendo-se que uma maioria foi descuidada, o viria a perder para arrendatários, por via de pagamentos de rendas sempre adiantadas, além de outros confiscados por dívidas ao Estado, no gáudio egoísta, a esbanjar fortunas "sem rey nem roque até caírem pelintras "...
Problemático a partilha da herança. Muitas vezes a melhor das hipóteses, a única solução que se mostra facilitada é a venda, por falta de dinheiro dos herdeiros para comprar as sortes dos outros, por quezílias, e outros interesses. Melhor sorte, tem tido outros solares e palacetes com os mesmos problemas -, sem medo se tem aventurado em pedir subsídios ao Feder, e outros organismos estatais, para a sua preservação e manutenção. Na teimosia de os transformar em espaços lúdicos de turismo de habitação, classe histórico -, na preservação de não perderem o fausto, ao abrir portas à fonte de rendimento, também despertar a curiosidade ao visitante, que em delírio uma vez chegado, adora sentir pedras com passado, e recheios de esplendor nestes ambientes de elixir, sendo um mundo de descobertas, que os transporta em viagens com estórias, e contos de Reis, príncipes e fidalguia em pleno século XXI. A mais-valia ? Ganhos para os proprietários, que resolvem a continuidade do património na família, e na sua manutenção, que se revela de gastos muito dispendiosa .
Depreendo a angústia de gente de linhagem sobre o triste fim do solar que foi pertença dos seus antepassados por não ter havido ninguém com visão de os preservar, e neste agora se mostram na paisagem em ruína quase total, outros a caminho, um desalento!
Ricas bibliotecas desde sempre vendidas, o mesmo de mobiliário trazido nas naus das Índias, Europa e África com arcas carregadas de porcelanas, baixelas de prata, arte sacra, carpetes, quadros e roupas de linho bordadas a oiro, prata e cravo, em passamanaria...
Desde sempre neste País os antiquários sobreviveram ao bater de porta em porta-, claro está sempre em portas ricas, ou de pobres(?) pelo desvio de bens a ricos, no objetivo de encontrarem bons objetos, angariados com sabedoria, a baixo custo...Havia um nos arrabaldes de Lisboa que corria o norte de comboio, vinha carregado de relógios, pratas, arte sacra, faiança, assim nesta vida de olheiro farejador uma vida inteira!
Na decadência uma vez perdida a opulência apenas resta o anel, único símbolo da riqueza perdida e memórias, para quem as tem!
Trabalhei com colegas descendentes de viscondes que ostentavam o anel, já de outros se ouvia falar que gostavam de saber que deles se falava, terem "sangue azul...
Lembro o deslumbre na hora do almoço a mirar montras de ourivesarias há 30 anos nos artigos em 2ª mão - anéis em oiro brasonados e sinetes. Até me passou na ideia um dia comprar um em ouro reluzente, apreçado por 100 contos, na deixa de me querer perder com as Armas dos Valentes...
Debalde julgo nem há!
Acredito ainda existam descendentes desligados das suas origens, de nada ou pouco quererem saber de pais ainda vivos que no tempo se foram comprometendo de esquecer a sua história, recheada de estórias de família na fatal perda da sua identidade, que deveria ser sagrada, sendo que perdidos supostamente sempre estiveram -, na decisão do afatamento, para viver nas grandes cidades onde formaram novas famílias, modernas,na continuidade o privilégio real do trato por você, jamais se questiona o passado, que geralmente é ignorado pelos elementos mais novos, vivência de aparências de vidas de fachada, com total pavor das raízes, sem denotar valor pelos familiares, nem pelo espólio de família herdado de herança em herança, guardado vidas, em sótãos e armazéns, pese o seu valor emocional e monetário. Para pensar!
Antiquários as gentes que desde sempre se tem governado com riquezas perdidas em lugares recônditos. Já os colecionadores conhecem os canais de escoamento e leilões.
A continuada lapidação de recheios valiosos de solares e afins, traduz-se no imediato, na falta de liquidez dos donos, geralmente em idade avançada, solitários resistentes sem o fausto de antanho, nem serviçais, sendo criados de si mesmos muitos deles. Alguns de aspeto se assemelham a mendigos, sendo gente ainda rica,mal vestida de cabelos e de roupa, desplanta afastamento dos filhos por vergonha desta família (?) desprezível muito conservadora. Mas a culpa não morre solteira -, progenitores votados ao abandono pelo mau feitio, arrogância e petulância, esquecem que o amor para se receber também tem de ser dar, outros ao tempo tendo sido castradores, recebem no resulto o contínuo abandono pelo Natal, Páscoa ou aniversário. Raras as vezes, ou até nunca, na caixa do correio onde só caiem despesas há chegada de notícias, ou telefonema que peca por tardio com desculpas -, invocando a falta de tempo, muito ocupados com afazeres, não podendo se deslocar para os visitar porque a casa não reúne condições, por serem imensamente grandes, se tornam frias, sem conforto, mausoléus de opulência ofuscada, uma mixórdia! 
Perdido o luxo no tempo de riqueza é frequente ver-se nestes solares pelo chão bacias "ratinho" a ser usadas para comedouro de couves com sêmea para galinhas, e outras para os cães, ou a servir de vaso da caleira a suster águas do beirado, o mesmo de pratas com utilidades estranhas e outros objetos.
Vida triste longe de tudo e de todos, ainda assim alguns amparados por alguém que vive a seu lado ou perto, que vai por companhia e sobrevive das suas migalhas . Neste estar, só lhes resta a espera da morte anunciada. Sendo legítimos donos, se desfazem do seu património, a seu belo prazer, para se suprir, e quiçá no desejo de pouco ou nada deixar a herdeiros -, na vingança de uma vida votados ao desleixo pela lacuna enorme da falta de carinho e de atenção. A maioria consegue, já outros, os filhos de olho gordo em tempo fazem chegar à justiça certidão dando o pais como imputável...
Neste fim de vida de rico maldita, se torna bendita para uns, e fel para outros !
O desleixo, o desamor, a ambição, desde sempre forte desejo de deserdar descendentes e destitui-los do poleiro de cabeça de casal.
A propósito há dias estive a almoçar num arraial junto a mim uma família de três gerações. A idosa mostrava-se visivelmente arreliada pela demora do almoço, mal chega o copo alto de vinho, o saboreia em delícia no vaivém da língua nos beiços. A filha de pêlo na venta, falava alto, mostrava-se zangada com a vida, me pareceu revoltada a precisar de tratamento, impulsiva e rebelde, já a neta coitada aguentava as pontas...
Comeram, na hora de pagar a conta a idosa puxa pela carteira, aproveita para dar uma gorjeta à neta, que mal a recebeu se levanta e sai do recinto, situação que indispõe a progenitora aflorando no confronto em tom de raiva a mãe -, você devia era dar-me dinheiro a mim e não a ela, eu é que preciso, não tem nenhuma pena de mim...
Responde a idosa de silhueta pequenina, marreca de coluna, ainda assim de cara engraçada e firme de ideias " porque haveria eu de ter pena de ti se moras na minha casa ?"...
Até espuma lhe saia das bentas...
Sabes onde guardei o tesouro? Claro que sim, não podia ser de outra forma!
Só notícias boas que quis partilhar contigo minha amiga. 
Bem hajas tu meu bom amigo pela confiança, pelo prestígio, pela dedicação, pelo carinho que desde sempre me dedicaste, sobretudo, gostares de me ver feliz, a viajar nas coisas, que eu gosto!
Clímax no auge da manhã fresca, a falar de tesoiros de casa abastada em decadência!Lisonjeio por ter sido mais uma vez agraciada com o louvor da partilha deliciosa de um bom amigo de peito ...
Na segunda-feira fui ao encontro de um rico, pobre velho, que vive num solar apalaçado, numa aldeia perdida no costado de serranias, pedras e campos em planura, debruada a arbustos da paisagem "Bocage", a lembrar arrabaldes minhotos na raia espanhola da Galiza com lameiros serpenteados por riachos e gado bovino a pastar, de cajado na mão a linda pastora loira, de belos cabelos ao vento, olhos lânguidos verdes a lembrar lago de nenúfares -, a pensar na linda Inês de Castro, ou na bela Ribeirinha, a amante favorita de D.Sancho I...
Sozinho naquele lugar no meio de tudo e de nenhures, ainda assim perdido!
Levava na ideia perguntar se tinha para vender loiças antigas , rendas, linhos, livros, e ainda me lembrei de perguntar sobre chapas de vidro dos finais de 1800 na voga ao tempo no registo da fotografia.
Encontrei-o ao meio da manhã em casa acompanhado.
Informa-me que em tempos já vendeu loiças e os Santos, sobre as chapas de vidro, tem umas poucas, porque outras, as levou há uma "catrefada" de anos para o Porto, para uma casa forrada a belos azulejos em relevo da Fábrica de Santo António do Vale da Piedade, e de beirado em faiança azul e branco -, o fausto que todo o senhor rico gostava noutros tempos de ostentar na cidade do Douro a contemplar a Ribeira …
Ouvi-o atentamente a falar na porta entreaberta, perdi-me por segundos a sonhar em percorrer a casa, a subir e descer degraus, sei que apressado olhei tudo, nada retive, ou quase nada, ou antes vi demais, com isso nem durmo…
Ali senti que tinha que te falar ...Como terias adorado conhecer! 
Vou-te confidenciar é uma casa de rico. Descendência de gente letrada, instruída no seio da medicina, igreja, justiça, ensino, e outras artes!
Pobre homem de idade avançada, no caricato neste agora sem ofício de qualquer arte (?) vive dos rendimentos, sem descendência direta, aparentemente se revela pensativo ao que venho... Astuto mas sem delongas, filtra a minha postura de homem de bem, e mandou-me entrar. Fecha a porta, e dá-me ordem de o seguir no seu passo vagaroso na frente dos guias-, os cães. De passada curta e olhos pregados no chão a desviar de "cagalhões para não sujar sapatos"...Senhor, se revela sem jamais abordar a imundice!
Subimos escadas que outrora foram cobertas a carpetes persas, neste agora cobertas de porcaria de cão de todos os tamanhos, cores e maturação!
Passei por uma capela despida de imagens santas e lajes encardidas "conspurcadas de merda por todos os cantos" e paredes desmaiadas de laivos marmoreados, onde distingui o sítio da pia da água benta, de onde sem pejo foi arrancada, imagem de arrepiar pelo constrangimento… 
Abriu-se uma sacada grande cheia de sol que trazia no vento o cheiro nauseabundo das fezes ao léu -, poiso eleito para os cães de rico andarem à vontade no seu reino a "ajavardar" de rabo no ar sendo donos do espaço há anos a estercar boas madeiras!
O sótão que me pareceu ser falso, por ser aparte da casa. Mal abriu a porta fiquei arregalado de olhos espantado, aflito em conter a respiração, por segundos senti-me a viajar perdido nesta aventura real por entre lixos, caca e quilos de poeira, numa multiplicidade de teias de aranha pendidas como se fossem rendas copiosas suspensas das telhas na descida abrupta mostrando-se presas de pontas nas tachas das arcas, que logo as imaginei abarrotar de tesoiros, como se fosse um filme nos tempo dos piratas, embora naquele estar de mãos vazias sem mapa, senti estar no seio do esconderijo!
Tanto mobiliário solto de baús cobertos a couros, cadeiras altas, malas e centenas de livros antigos por todo o lado perdidas pelo chão em palco favorito de ratazanas, alguns mordidos, outros salvos pela bicheza que lhes comeu a traça nos anos aqui estacionados pelo ambiente arejado, e ainda loiças partidas com "gatos" no motivo casario e, …
No teu bom dizer senti um orgasmo intelectual!
A extinção das Ordens Religiosas em 1834 pelo António Augusto de Aguiar que ficou conhecido por "Mata frades" dizia o diploma "sendo declarados extintos todos os Conventos, Mosteiros, Colégios, Hospícios, e quaisquer outras casas das Ordens Religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados à Fazenda Nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos que seriam entregues aos ordinários das dioceses ". 
Assim depreende-se que na linhagem haver antepassados nobres no ensino, medicina e sacerdócio -, a grande possibilidade da proveniência de mais de dois mil livros do século XVII/I e ainda outros mais antigos, foi a compra da biblioteca de um convento ou mosteiro que encerrou portas, já as alfaias eclesiásticas adquirida em herança por familiar sacerdote.
Fiquei perplexo a imaginar coisas, disse-lhe que lhe comprava o espólio...
Ofereci uma quantia. Descemos e foi falar com a familiar que viria a acrescentar mais dinheiro à minha proposta...
Aceitei apesar de ter ficado na penúria neste negócio legal de papel assinado, o certo!
O que transparece nesta descoberta digna de espólio de Museu -, que alguém com dois dedos de testa se saiba mexer para angariar fundos e a adquirir para que fique neste País. No pior é sentir que todos os dias estrangeiros se deslocam ao Algarve, holandeses e ingleses, para comprar antiguidades que levam para os seus países, e claro em Lisboa, e no Porto, e até nos sites da especialidade internacionais para quem domine o inglês.Sabes que mais ainda não estou em mim...Olha para mim igualzinha a ti...
Mereces esta sorte inusitada, por seres um homem especial, com uma Família de excelência, pela mulher extraordinária, e filhos maravilhosos, nesta vida de esforço e trabalho, tens vindo a mostrar-te um nato visionário, de obra grandiosa feita, que só engrandece as gentes que contigo convivem, acredito que tanta LUZ te seja endereçada e velada pelos teus queridos pais ... E que luz imensa te alumia, meu Deus!
Mas cuidado nem tudo o que luz é oiro. Acalma e reflete. Os livros mesmo antigos sobre religião ninguém os quer, o que quer dizer tem pouca valia, apesar da antiguidade.Os paramentos apesar dos oiros e pratas bordadas no mesmo, só mesmo Museus e pagam mal. As revistas e jornais esses vendem-se bem, porque tem qualidade. 
Supostamente os oiros, faianças, porcelanas, pratas, linhos, e pedras trabalhadas já partiram há muito...Ficou o resto que ninguém praticamente quer, ainda assim tem a valia que tem e deve continuar em Museus da especialidade.PARABÉNS A TODOS DE CORAÇÃO ! 
Aleatoriamente ao calhas, a opulência da ruína ainda exala beleza, apesar da decadência nestas fotos retiradas da net ... 
Casa do Professor ou Quinta do Parreira – Oliveira de Azeméis 
http://palavraeamusica.blogspot.pt/2014/03/dez-lugares-espectaculares-ao-abandono.html


 http://umbigopudico.pt/2013/10/17/palacios-ao-abandono/

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