quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Se estás triste vai à Moita!

Domingo acordou cinzento com pouca vontade de fazer a feira de Azeitão. Na verdade na mente bailava a festa na Moita, onde voltar é sempre mote agradável . A última vez, pelo menos que me recordo vivamente aconteceu em dia radiante com vontade desmedida em caminhar ao longo do esteiro até ao Gaio. Senti de perto a ruína de um moinho de maré, outrora pelo porte foi grandioso, dei comigo extasiada pela paisagem natural de cariz idílico, inserida em ambiente sereno a irradiar paz e sossego-, imensamente doce onde se sentiam cheiros a sal e de arbustos vivazes a refletir brilhos que se esbatiam nas águas de ondinhas minúsculas, a imitar prata, e em bando aves a esvoaçar na calmaria da maré, atrevi-me a entrar pela porta aberta, descobri as janelas sem portadas, Mós sem valia em abandono, semeadas pelos cantos e sem saber num ato inusitado dei comigo prostrada numa laje furada de onde avistava a caldeira, sonhadora me deixei naquele estar a contemplar sem limites Lisboa e Alhos Vedros, afinal ali tão perto...na hora do adeus silencioso a este recanto que me tocou imensamente, os meus olhos bateram em caquinhos de faiança e porcelana na terra remexida da ciclovia recente, alguns da Companhia das Índias, Sacavém, Massarelos e,...
Pelas ruas que partem da Praça de Toiros só se veem tabuados para as largadas de toiros
Selfie de contentamento
O mais pequeno elemento da banda de Amarante, fiel guardador dos instrumentos , enquanto os artistas foram beber uma cerveja no bar, se revelou garoto muito simpático e no sorriso nos incita a fingir tocar para a foto, dando os martelos ?...
O casal de cabeçudos de Amarante abrilhantavam as ruas em danças oscilantes enchendo a vila de alegria e muita zoada dos bombos.
O título da cronica foi inspiração de um dito popular de um barreirense de gema.Um bom amigo -, o Francisco Moura, artista de varias artes: pintura, escultura, artesanato, tocador de viola, entre outras vertentes das artes.Feliz reencontro pela saudade e partilha de forma gratuita, este saber das gentes do Barreiro, se mostrou nosso anfitrião .
Deslumbre é contemplar na vastidão o esteiro do Tejo que banha a Moita, por se mostrar grandioso, de beleza ímpar, que se avista em perdas infinitas de recantos e baías sempre com Lisboa em pano de fundo e barcos em correria!
Podia ser o Castelo (?)-, nesta terra empiricamente é o Cais!
Pela mão do Francisco Moura ganhamos a oportunidade única de conhecer pessoas que nos encheram de extasiada alegria -, no Cais nos apresentou o seu bom amigo, o Mestre João Gregório -, logo me ordena para me posicionar num degrau para sentir a diferença em relação a uma escada normal. 
Nem de propósito vesti-me a condizer com os enfeites dos barcos, coisa de telepatia!
" aqui sempre foi lugar de subida e descida das embarcações, em maré alta ou baixa, batendo a água ao limite do degrau para não se encharcarem, por isso são muito largos -, os antigos tinham muita sapiência, o mesmo do saber da meteorologia, se o vento está norte ou sul, sabiam que ao deixar de soprar ia chover!". Interessante constatar que o Cais foi construído em 1722 em lajes de pedra, sobre estacas e troncos de pinho, que em maré baixa se distinguem, sobretudo a norte, da cor do lodo-, consegui visualizar um tronco. Prática ancestral que me deixa a pensar ao tempo que foi inventada e posta em prática! 
O terramoto ocorrido em 1755 destruiu a cidade de Lisboa , tendo sido reconstruída sobre estacas de pinho verde-, ora supostamente não foi ideia do Marquês de Pombal, nem dos seus arquitetos, como se alvitra (?) -, aqui na Moita do Ribatejo esta arte já existia desde 1722, por isso o Cais não se desmoronou com o terramoto por terem usado a técnica de alicerces com estacas de madeira.
Após 33 anos usada como ideia primária em Lisboa, o que deixa transparecer?

Que a técnica da Moita foi plagiada (?).
Ao tempo cais importante de atracagem no vaivém de fragatas e outras embarcações com cargas e descargas  para Lisboa, após o terramoto com o correr das notícias que o Cais da Moita, não se tinha desmoronado, ditou que  alguém se apressou em explicar a técnica milagrosa e logo se apressaram copiar(?).
Em maré baixa consegue-se identificar o tronco de pinho que faz parte do alicerce do escadatório.
Fatalmente ficaram os homens inventores da estacaria do Cais da Moita de glória ofuscada e plagiada, quiçá por serem da outra banda... no meu opinar!
Da boca do Mestre João Gregório ouvi rasgadas estórias, carregadas de muita história, sempre regadas de franco entusiasmo, e muita paixão e dedicação pelo seu trabalho, em passar a mensagem destas gentes que sempre viveram da vida árdua de fragateiro. Atrás dele já votava o José Louro de S. Martinho do Porto de barrete na cabeça.
Encontro de dois lobos das águas deste Tejo-, ora em calmaria ora em sobressalto,com partidas e chegadas, fosse em catraios, varinos ou canoas com muitas histórias. O Francisco Moura com o Mestre João Gregório, mal o instinto das lembranças veio à tona, os seus olhos se humedeceram de emoção pelas recordações!
Mestre João Gregório
As palavras saltavam-lhe da boca a uma velocidade sonante carregadas de paixão. Homem abençoado de olhos verdes, lânguidos, que elogiei por duas vezes -, mistura explosiva e escaldante, semeada a sabedoria angariada de boca em boca pelos antepassados, e neste agora na riqueza maior da partilhar com gente anónima , dizia-nos "não temos Castelo, mas temos o Cais"..."Estamos num espaço nobre, aqui nasceu a vila e daqui ao longo de séculos se partia de e para Lisboa à vela, na carga se levava tudo o que fosse carregável -, mercadorias, animais ou passageiros. Aqui chegavam carroças e carros de bois com produtos para embarque:melões, batatas, madeira e outros haveres levados em embarcações grandes e pequenas, a cruzar as estradas do Tejo, para descarregar no Poço do Bispo, Pedrouços, Cais de Santarém e em tantos outros Cais na margem norte."
Gente que viveu uma vida de pé descalço e barrete de fragateiro enterrado até ás orelhas, para não fugir com o vento -, sendo em preto, por ser a cor mais barata.
Naquele tempo o passadiço do Cais para as embarcações era uma frágil prancha de madeira que baloiçava, sem corrimões... Imaginar o equilíbrio brutal que seria necessário...e a gritaria, acudam homem ao mar!

Exposição de varinos e catraios em desfile para serem apreciadas e votadas.
Em baixo as canoas
 
Chegada ao Cais de um forasteiro de S. Martinho do Porto-, José Louro na sua primeira vez na Moita do Ribatejo
O Mestre João Gregório fez o transbordo do José Louro da canoa num bote para o Cais
O José Louro quando lhe pedi autorização para registar a foto, pediu-me que lhe a enviasse via email, o que fiz -, excerto " Encontro no domingo na Moita. Vou escrever uma cronica no meu Blog sobre a festa, onde o vou incluir, por isso a foto, como amigo dos Barcos em jeito de Círio, se deslocou de S. Martinho do Porto para as festas.Assim, nesse pressuposto gostaria que me ajudasse e explicasse algumas coisas para enriquecer a cronica:
  1. Se foi a 1ª vez que veio à Moita, e se gostou
  2. Como soube do evento e o motivo de se deslocar vestido de barrete
  3. Quanto tempo demorou na viagem
  4. Como adquiriu o seu barco, disse-me que o rei D. Carlos o conheceu -, há quanto tempo o tem e como o reabilitou, e se em S. Martinho há esta tradição de barcos, ou se houve no passado.
  5. Desculpe, mas se puder responder ficaria imensamente grata, depois envio-lhe o link para visualizar a cronica.
O José Louro amavelmente me respondeu com muito empenho e garra que me deixou deslaçada em tanta emoção. Prefaciando o seu email 
"Muito obrigado por responder ao meu pedido no envio de fotos e respondendo às perguntas que me coloca passo a explicar:
- Sim, foi a primeira vez que eu e a minha tripulação fomos concorrer na Moita, e sentimos-nos honrados do 1º lugar na regata, e 1º lugar na decoração.
Soube da regata pela Associação Marinha do Tejo -, da qual faz parte o meu barco, tendo sido este ano classificado como o 13º barco mais antigo, ano de 1933 com 80% de conformidade, no entanto, pensa-se que foi construído por volta de 1910. Pretendo com este barco que seja um itinerante de barcos tradicionais, e para tal tenho meios próprios para o deslocar para os diversos eventos, onde possa estar presente. Este ano já esteve em V.F.Xira no colete encarnado, no Cais das Colunas, e no encontro de embarcações tradicionais. Espero participar no próximo 5 de Outubro na regata Real organizada pela Marinha do Tejo. No futuro quero leva-lo ao Douro, fazer de Barca de Alva ao Porto, Vigo, Algarve e se houver força logo se verá.
Sobre o barrete é a forma que pretendo homenagear os gloriosos e valentes arrais destas embarcações.
Por só ter categoria 5 -, este barco estava na Marina do Parque das Nações, levamos 50 minutos entre Marina e Montijo.Com estes 100 anos, a história é longa mas vou resumir: No finais do século XIX e princípios do século XX, com o inicio dos barcos a vapor, estes barcos começaram a ficar desatualizados para o trabalho, e começaram a ser utilizados para fins lúdicos. S. Martinho do Porto na altura, era frequentada pela corte do Rei D.Carlos, e por agricultores abastados do Ribatejo e Alentejo. Pela informação que tenho, o 1º barco foi levado do Seixal para lazer, e depois passou a ser utilizado na pesca da lagosta.Na altura havia Caíques que faziam transporte de mercadorias entre o Algarve e S.Martinho do Porto, traziam sal e levavam madeiras e fruta. Nas tripulações havia um marinheiro que se apaixonou pela terra a quem chamavam “Má Cara”, e que ficou aqui a residir, tendo mandado construir este barco num estaleiro do tal Roque, no qual pretendia que fosse rápido como o do Rei D. Carlos.
Nas diversas regatas este barco competia com os banhistas, ganhava a grande maioria mas encontravam sempre maneira de o desclassificar.Arreliado com tudo isto, o dono vendeu-o ao comodoro Trindade de Sousa a que deu o nome de DENEB. Porquê Deneb!
DENEB é uma estrela da constelação Cisne a 17ª mais brilhante, a 2000 anos luz da terra, como era um homem muito católico, acreditou que a luz que brilhou a quando do nascimento do Jesus Cristo, chegou à terra, e coincidiu com o lançamento deste barco à água.
Por morte do pai meu amigo proprietário do barco, uma doença das que limita tudo, obrigou-o a desfazer-se dele.Tentou por duas vezes deitar-lhe o fogo, não o conseguiu, e em reunião de família decidiram oferecer-mo porque acreditavam que eu iria dar-lhe as glorias do passado e juventude no futuro.Foi por mim todo restaurado, e apresenta a beleza que pode presenciar. Parte da sua tripulação faz parte da história da Moita.
A título de curiosidade era composta pela juventude: João Alvim 11 anos, gémeos Duarte e Salvador Alvim 16 anos (O seu trisavô, D João de Saldanha Oliveira e Sousa, Marquês de Rio Maior, grande benemérito da Moita que cedeu terrenos para praça de touros e bairro social), Clara Lamas 16 anos e Tomás Lamas 18 anos.Por ultimo estes barcos em S. Martinho do Porto são classificados de BOTES, e atualmente há:
Deneb; Santo António; Ratão; S.Domingos; Sol 1; e provavelmente no próximo ano o Josemélia.
Em fibra com a mesma Vela Latina, o Forte e Feio, o S.Martinho, e uma baleeira em madeira, o Audaz.
Durante o verão e em particular Agosto o Club Náutico organiza quatro regatas, sendo a ultima a remos.Fico disponível para mais algum esclarecimento.


Imagens do passado gentilmente enviadas pelo José Louro
















Sem palavras, extasiada, completamente rendida, pela bondade da partilha, do entusiasmo , da boa vontade gratuita. Bem haja José Louro, e que continue a somar prémios. Pois ainda nos voltaremos a encontrar nem que seja na sua vila/praia da concha, na feira de velharias.
Aqui de joelhos sujos de lodo ao subir para os Cais...Bela pose de marinheiro!
Lemas destas gentes da Moita
Gosto-Amizade-Paixão
Boa Viagem um dos varinos propriedade da Câmara. Ainda há homens aqui na Moita e terras limítrofes que na idade tem mais de 50 anos de fragateiro.  Amantes fervorosos dos barcos, do rio, das tradições, em não as deixar morrer, deixando a sua marca indelével nestas terras ribeirinhas pela grande importância dum passado aqui vivido e tão presente, valores que gostam de transmitir aos vindouros. Apreciei navios engalanados na frente com a cabeleira e a gravata, símbolos de cavalheirismo, na mesma atitude que um homem cavalheiro se deve apresentar em locais especiais. No mastro hasteada a bandeira da Marinha do Tejo em prol de terem roteado as estradas do oceano, sem saber que havia muitos mares a descobrir.
"A bandeira que sinaliza as canoas e catraios que são da Marinha do Tejo é a bandeira “Atlântico 
Azul – Portugueses somos do ocidente”. A bandeira foi concebida e registada pelo Comodoro do 
Centro Náutico Moitense, a Senhora Doutora Raquel Sabino Pereira e representa a Descoberta 
dos Portugueses.Quem a fez, foram no dizer de Camões,: “Portugueses somos do Ocidente; imos buscando terras do Oriente”. Nesta busca fizeram descobrimentos e a Descoberta. A Descoberta que será lembrada mesmo quando já não existir esta nossa civilização e se souber, tanto dela, como hoje sabemos da Egípcia. (Excerto :http://www.anmpn.pt/eventos/2010/)
Bandeira da Marinha do Tejo
No convés da proa encontra-se o guincho que tem a serventia nas manobras de encostar o barco, levantar ferro, carregar animais e mercadoria pesada.Agarrei-me na corda que iça pesos pesados!
A vela ESTAI que se amarra na Boneca ( uma peça forte em madeira) e o Poço -, corpo do navio onde iam animais, pessoas, mercadorias, e hoje nela há mesas para se degustar uma boa caldeirada a bordo, com turistas, alunos , gentes -, tendo como cicerone o Mestre João Gregório que faz as honras da Moita aos visitantes com muita classe, dignidade e profissionalismo!
As pinturas  dos barcos em cores exuberantes são únicas no mundo.
Heranças dum tempo de extrema pobreza, de trabalho pesado, de sol a sol em que se o salário era pouco dinheiro. Gente que acredito seria alegre, se gostaria de vestir em padrões de cores vivas e estamparia, sendo mais caras que em preto, por isso o seu uso em demasia -, em detrimento desta contestação se vingavam no poder criativo e ingenuo na pintura da loiça "ratinho de Coimbra" de pinceladas alongadas e esponjados a cores fortes a verde cobre, ocre, manganês e azul-cobalto, porque diz o povo-, os olhos também comem...Loiça tosca, grosseira, que há muito tempo ganhou foros de nobreza pela beleza das suas cores, o mesmo no artesanato ainda vivo em Vila Verde no Minho, com os famosos Lenços dos Namorados bordados a cores fortes, e por aqui na proa dos barcos, ainda hoje se mantêm a tradição colorida, sinonimo de alegria!
Impacto ao admirar tanto colorido, diria abismal, numa demonstração espontânea deste povo ferrenho. Gente que ama a vida e os valores dos sentimentos, gente sem medos!
 Mestre Diogo
Homem de olhar verde, fragateiro com mais de 50 anos de rio, um autodidata -, no ofício de pintor das embarcações -, de outro artista assim na pincelada não há rival neste Portugal, quiçá no Mundo, as suas flores são únicas, nenhum outro assim as pinta, até nos cursos mestrados ensina os truques, no uso do óleo de rícino. O seu porta chaves-, que segurei na mão, miniatura de uma roldana das embarcações em madeira feita por si.A origem das pinturas nas embarcações não nasceu aqui -, sim nas gentes da Ria de Aveiro, os seus moliceiros chegavam a Lisboa carregados de madeira de pinho -, um escarcéu, se deixou por cá ficar encantado com alguma mulher (?) que trouxe de herança a tradição das cores garridas pintadas na proa dos moliceiros, que nesta terra da Moita teimou igualar, e o fez muito bem !
Selfie com o Mestre Diogo
O mestre Diogo deu-me a receita da sua caldeirada à Fragateiro da Moita
O segredo é escolher bom peixe e ensalar para tomar gosto.No tacho, põe-se cebola às rodelas e alhos esmagados com bom azeite a estalar, a que se junta tomate e pimento, e se levanta o lume forte, depois juntam-se as batatas cortadas ás rodelas e o peixe por cima . Outro segredo juntar um caldo de peixe knorr e coentros.
Conheci o carpinteiro de navios-, Jaime, com estaleiro em Sarilhos Pequenos. O vi levou em ombros o andor da Santa da sua terra.Outro homem que me foi apresentado, gracioso no estar e no falar, abençoado de boas mãos, que de geração em geração, continua veleiro, a fazer velas-, Lázaro de seu nome!
O Mestre João Gregório fez manobrar o leme em madeira para eu sentir o ruído que se fazia ouvir, no seu dizer -, mantem-se do tempo das naus dos descobrimentos...soou-me qual cavalo a relinchar...de mansinho!
Após a visita ao varino Boa Viagem -, gentilmente lança convite para o ajudarmos na votação nas embarcações mais engalanadas.
Sem frescura, acordei com a Fernanda em atribuir a pontuação máxima de 5 pontos à Catraia de Lisboa, por ostentar lonas, muito bem pintadas com a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem e alusiva ao Fado, temas das gentes da Moita, sem saber que o pintor tinha sido o Francisco Moura, o nosso amigo.
Debalde a vencedora foi outra embarcação -, Princesa do Tejo
Mas os 4 pontos foram para a canoa de S. Martinho do Porto-, e esta ganhou na sua classe!
O tempo ameaçador de chuva desviou vontades das gentes dos barcos saborearem a caldeirada a bordo, apenas dois ou três donos das embarcações, arriscaram. Degustamos boa sardinhada no restaurante do Clube, fresca e deliciosa, o mesmo do bom azeite e do pão saloio -, no melhor a companhia dos nossos amigos, Francisco Moura e Fernanda. 
Incrível como o mundo se revela tremendamente pequeno -, ele conhece Carviçais como as palmas das mãos, se mostrou admirado com as minhas andanças pelas escavações arqueológicas, Adeganha , Foz do Sabor e,...Impressionado, chegámos à conclusão que também conhece o meu amigo Arnaldo de Torre de Moncorvo, e a Fernanda conhece a Deolinda, uma colega feirante...Tomado o cafezinho, satisfeitos e risonhos, o Moura faz da colher pincel e desata a pintar na toalha a proa de uma fragata ao lado de um varino...Um homem de saberes e do gosto da partilha.Um bom anfitrião, tudo o que vivemos e foi imensurável belo deve-se a ele!
Esboços da fragata e do varino explicando as diferenças substanciais no rebordo e no calado.
De volta ao palco da festa paragem na escultura de Nossa Senhora da Boa Viagem em mármore feita em Estremoz, assente na proa do varino Boa Viagem, material oferecido pelo Jaime do estaleiro de Sarilhos Pequenos .
Oratório dedicado a Nossa Senhora da Piedade, que o Mestre João Gregório fez questão que conhecêssemos, feito pelo povo num tempo que a Ermida de S. Sebastião junto do cemitério ficava longe para o povo orar.
Painel de azulejos feito pela Fábrica de Santana, assinado.Claro que é este homem o guardador da chave da portada pois habita quase de paredes meias.
Uma viela como nos bairros típicos de Lisboa, à noite iluminada deve ser muito romântica
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Boa Viagem foi classificada como Monumento de Interesse Público em 2012. Remonta ao século XVII.Cheguei ao adro quando já se arrumavam cadeiras da missa campal .
Nos degraus da escadaria a data de 1872
A igreja de uma só nave apresenta-se deslumbrante, de riqueza tamanha pelos painéis de azulejos do início do século VIII que a revestem na totalidade, em estado impecável. Outrora agregada a um Convento, disso percebi pelo arco forrado a azulejos de acesso à Pia Batismal que outro semelhante assim vi no Seminário de Almada, também no passado, Convento.
Os mosaicos hidráulicos muito decorativos, aqui e na passagem da sacristia para uma capela
Já nem sei o propósito da conversa tabelada com o Moura sobre a Patoleia-, revolta do povo, contra as medidas fiscais encetadas pelos Cabrais, alcunha que reza a história do 1º Conde Cabral
Adoro a imagem de Nossa Senhora do Carmo com os escapulários a lembrar o tempo passado num Colégio Religioso no Monte Estoril.
Jamais tinha visto tantas imagens de Santos, numa só igreja, e ainda em andores-, uma surpresa enriquecedora, pela qualidade, e pela estética decorativa.Bem hajam as pessoas que os decoraram e preservaram a todo o instante a frescura das flores.Lindos arranjos arrebatadores, lindíssimos.
São Pedro - São José - São João Batista - Nossa Senhora da Conceição - Nossa Senhora da Atalaia - Nossa Senhora dos Prazeres - Santa Luzia - São Sebastião - São Lourenço - São Marçal - Santo Amaro - Santo António - Santa Rita de Cássia -São Luís Gonzaga -Menino Jesus de Praga - Nossa Senhora do Rosário - Nossa Senhora da Boa Viagem
Há imagens vindas de outras igrejas que aqui vêem em romaria e círio na procissão, como a Senhora da Atalaia entre outras.
Imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem num andor muito bonito.Lembrou-me a semana Santa em Espanha
Sacristia com a pia de lava mãos
No recinto do tardoz da igreja as oliveiras já de azeitona a pintar em meados de setembro!
O João Gregório deu-nos a conhecer histórias com história desta terra -, a sua Moita!
O nome da travessa "Dos Ministros" deve-se segundo ele a pessoas que tomavam conta das coisas da igreja, a quem o povo chamava ministros e supostamente aqui deveriam morar. Algum casario apresenta resquícios muito antigos, de séculos, seja pela estrutura de pedra com uma ombreira estilo Manuelino, seja pelas pedras com a marcação de números das casas do que seria um Bairro, pela alusão da palavra inscrita na pedra "B"
O contraste da numeração antiga com a de agora
As pedras não deviam ser  pintados-, é património!

Na Moita existem outras tradições
Além da tradição da vida de Fragateiro mantêm-se também viva o Fado e os Toiros
Pintores autodidatas F Dias e o filho A. Dias
Fomos beber uma cerveja neste espaço emblemático da Moita...
De saída a contornar a viela mais pinturas em mural
Mural na parede dum antigo armazém
Casario emblemático forrado a belos azulejos com terminus a balaustres de faiança do norte
Prédio ostenta dois belos vasos em azul e branco-, Santo António do Vale da Piedade?
Subi a um banco da praça para registar a foto
Casa de belo painel azulejar


Defronte do Cais em venda este prédio que em tempos de antanho foi armazém de batatas 
Chão lajeado -, dizia um homem sentado num banco "isto deve ter mais de cem anos"-, a que prontamente lhe respondi, olhe as pedras do chão tem seguramente 400 e muitos...Deixaram-me amavelmente descobrir o espaço que me pareceu extraordinário pelo formato alongado, daria um excelente Museu, ou salão de exposições, o chão e as paredes em bom estado, pensem nisso!
Tabuado em jeito de sobrado ocupa um terço do espaço
Teto do sobrado, as paredes engalanadas com motivos aos toiros
As ruas festivas enfeitadas com arcos
A procissão-, símbolo maior das festividades
Nas janelas belos estandartes em seda, bordados a ouro com a data de 1850
Ao meio uma bela colcha bordada a ponto Castelo Branco
Casa com poço na loja, servia de abastecimento num tempo que não havia água canalizada
Varanda  que retrata este povo
Prédio em degradação, pintado e decorado ao gosto bairrista onde não faltam os figurantes vestidos a rigor a manta ribatejana e as flores.
Em pompa e circunstancia na frente da procissão, a fanfarra da GNR
Gente dos toiros levava o andor do Santo Protetor S. Pedro Regalado
Motares carregavam o andor da sua devoção-, S. Rafael, invocado como protetor dos que viajam e correm perigos. O único andor que não pertence aqui, o trazem todos os anos para participar na cerimonia, como nos informaram na igreja.
Andor de Nossa Senhora da Conceição

Oferendas em notas pregadas nas fitas...
O andor da padroeira mal chegado ao Cais da Moita, no imediato estoira um barulho ensurdecedor de fogo, foguetes e morteiros-, a alegria do povo na bênção da Senhora da Boa Viagem que depois em retirada os homens o fazem em passo recuado, como respeito e devoção, para depois virarem e continuarem na procissão.Momento solene carregado em simbolismo magnânimo de homens em sublime dedicação !
O meu marido surpreso com o brutal fogo...
Constância também esteve presente com a sua embarcação, que ficou em terra engalanada, na entrada do Cais, confidenciou na despedida iria para a água dentro de dias.O homem que a trouxe é o vereador da cultura , um jovem que me foi apresentado, simpático, que o vi trocar galhardetes com o vereador do mesmo pelouro da Moita, também apresentado, igualmente jovem e simpático. Gente jovem com iniciativas e dinamismo. Ainda conheci o antigo presidente da edilidade camarária. 
Na foto junto da sua embarcação, em frente do Cais. O seu barco estava engalanado com bandeirolas ocre, a cor que simboliza a tradição das barras nas casas da sua terra, esqueci de registar em foto, só me lembrei depois da procissão, debalde ao chegar para me despedir e já o barco se mostrava nua delas ...
Ainda assim lancei o repto para ler a cronica dando-lhe o título-, Se estás triste vai à Moita.
Que me perdoe o fato de não ter votado nela, foi por estar em terra!

O nome de outro amante da Moita que me falha, e foi apresentado, que me desculpe, fazia o controle da votação , com ele nos encaminhamos para o Clube náutico onde ia com os amigos degustar a caldeirada!

A derradeira despedida no Cais...
Em rota de adeus ainda vontade para comer um pão com chouriço.
Há bons encontros! Feliz registo de um deles na selfie com a Fátima Alemão da Póvoa de Santa Iria, acompanhada do filho David, meus colegas feirantes que fizeram também gazeta a Azeitão...
No pavilhão ainda tempo para uma ronda pelas velharias no 1º andar onde reencontrei gente conhecida, na banca do Fábio comprei uma bengala para a minha coleção. Surpresa com o Ilídio Pina de Azeitão( um caramelo, alcunha de antanho dada ao povo que se deslocava a trabalhos vindos das terras limítrofes " gente vai e vem") que aqui também nos encontrou -, não é que fez a feira de Azeitão, por serem poucos feirantes, safou-se!
O fato de ter encontrado o Francisco Moura que não conhecia pessoalmente, só do meu marido dele falar frequentemente, nos anos que além de colegas foram e são amigos , senti nele grande admiração-, pois de mim só sabia que tinha sido senhora bancária...ao conhecer-me ficou surpreso pela minha imprevisibilidade e alegria, se deixou ficar confortado pela positiva, que me o confidenciou.
Ora senti-me uma rainha nesta terra como se fosse uma individualidade a quem deram honras e destaque-, amei viver o que vivi na Moita! 
Regressei em debanda já de noite quando se ouviam os toiros pelas ruas...a pensar nos dois infelizes que padeceram na véspera...
Para Francisco Moura, pintar é também um ato de cultura, o mesmo para mim a escrita!
Aguarelas neste agosto passado por Carviçais que me enviou.
Ora surpreendia-me se fosse ao sótão buscar quadros arrumados, atrevida ainda lhe lancei o repto, as podia ter trazido, que as vendia na Moita aos forasteiros!
Ainda em jeito de rodapé quero enaltecer este gosto bairrista pelas Festas da Moita que desde 80, ouvia falar com tanto empenho e fervor, sem entender o porquê!
Ao tempo tive uma colega no Sotto Mayor na Rua do Ouro natural da Moita -, a Maria do Carmo Martinho. Mulher de alto porte, bonita, de candura graciosa, se não me falha a memória é uma taurina como eu de signo, apaixonada pela sua terra e pelos toiros. Não havia nenhum ano que não pedisse férias pela altura das festas-, e disso não entendia.Entendi, finalmente neste domingo, e não fui ver as largadas, já vi doutras vezes, porque também gosto de toiros, e da festa brava, que o meu pai me levou a várias praças de toiros quando era miúda.
Também não reencontrei a Paula e tantas outros colegas do Sotto, obcecada com o esplendor festivo da Moita, e da atenção aos meus amigos bem merecida -, mal reparei nas pessoas e devia!
Qual quê? Enchentes de povo!
Que me perdoem a falta de nomes, pois conheci imensa gente, e sem caderno...a memória mostra-se curta para abarcar tanta informação, ainda assim me surpreende!

Montras engalanadas, o reflexo não foi possível melhor...
Outros ditos das gentes da Moita: Gentilmente enviados pelo Luís Miguel
"Quem vem à Moita a muito se afoita"
"Na Moita até os cavalos são vaidosos". 
Moitense amante das embarcações do Tejo.
Acredite-se o dia, 14, data nostálgica de dor errante que nem me lembrei dela-, o que denota a grande satisfação, por isso se estás triste vai à Moita!

Não deixem de ver o seu blog ; www.salvaram-me.blogspot.com

2 comentários:

  1. Um relato sobre a minha Moita simplesmente fenomenal. Muito obrigado pelas suas emocionantes palavras.
    Também quero referir que acertou em cheio nos amigos, no Moura e no cicerone. O Arrais João é um poço sem fundo de bondade e coração podre. Único!

    Vou partilhar com os meus conterrâneos.
    Para finalizar mais uns ditos. "Quem vem à Moita a muito se afoita", "Na Moita até os cavalos são vaidosos".
    Fica o sítio da minha Canoa. www.salvaram-me.blogspot.com.com.


    Mais uma vez muito obrigado!!! :-) :-) :-) :-)

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  2. Caríssimo Luís Miguel, bem-haja pela cortesia da visita, sobretudo pela ousadia em deixar o seu comentário -, inegável sentir, quem se chama por Luís, é boa gente, o meu marido também. Sente-se que é um homem de afetos, e isso é bom. Endereçou bonitas palavras e elogios, apesar do carinho, as sinto imerecidas-, apenas sou aspirante na escrita descritiva, e gosto de ser generosa para quem me acolhe bem, e foi o caso da Moita, onde fui muito feliz. Seja esse o meu talento, que me incentiva para continuar a narrar neste jeito peculiar de olhar pessoas, terras e suas tradições, com histórias de muita estória. Já espreitei o seu blog e o seu barco, gostei do nome. Adoro o rio, os esteiros e a vela com embarcações do passado, neste presente pintadas a cores fortes, mas sobretudo em ver gente nova que teima não deixar morrer estas artes, que as ama de paixão, como tem de ser. Por isso também lhe endereço felicitações. Vou incluir os ditos que partilhou gratuitamente, que só enriquece o relato.
    Mais uma vez o meu bem-haja pela transmissão da crónica.
    Permita-me que lhe endereça um abraço
    Isabel

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