terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Boas festas a todos os meus amigos e amigas

Praça do Município em Lisboa , 13 de dezembro, em ambiente de Natal
 
Quando aqui passei, o Pai Natal se mostrava sem miúdos, de cara feia...no regresso no barco, vinha um homem de forte estatura, barba farta, totalmente branca, igual ao cabelo comprido e sobrancelhas, a contrastar com o blusão em tom escarlate, só no desembarque quando ele me fintou, lhe reconheci o olhar debaixo da roupa de Pai Natal...
Por aqui a árvore de Natal veste-se de várias cores...para todos os gostos!
 
 
 Existem vários motivos para o registo de fotos, trenó, casas, renas e,...
 Na Rua do Arsenal  já pouco cheira ao tradicional aroma do bacalhau...
Mas venderam bem naquele dia, a avaliar os caixotes deixados no passeio
 
A minha consoada deste ano, vou ter algum tarbalho, vou cozer o pão de mistura.
Sopa de peixe com coentros do lavrado da minha mãe com cotovelo da Milaneza minúsculo.
Bacalhau confitado em azeite com sabor a alho e louro, servido em cama de grelos, batata salteada no azeite de confitar, coberto com molho do restante azeite depois de bem abanado com a escumadeira que ao ser agitado solta a gelatina do bacalhau que se concentra no fundo até ficar o molho de azeite, esbranquiçado e grosso.
Folhado de pato com bróculos e cenoura salteados
Fondue de chocolate com frutas variadas.
Rabanadas poveiras em formato de bola de Berlim, servida com doce de ovos.
Filhoses beirãs de sabor a laranja
Velhoses de abóbora
Creme de macãs rainetas em massa filo

Já o Natal clama por assado no forno a lenha em casa da minha irmã, onde se tira todo o aproveitamento para fazer tigelada, pão, bola de presunto para o lanche, e o arroz pingado.

Em vaidade acrescento, há muitos anos não recebia tantas prendas que me enchessem de alegria .
Num estaminé de chão comprei a deusa chinesa do Amor e Misericórdia, em porcelana branca, de esmerado requinte a  sua finura , que se lhe tira a mão...
Aguço o apetite com este bule de caldo, impecável, pintado com o tradicional casario, a pega da asa, a primeira peça que tenho com este formato...comprado ao Engº Maia, homem de belo olhar em azul, seleto, um cavalheiro no alto dos seus setenta anos, põe-me o braço no ombro em jeito de convite a mostrar a peça...despedi-me endereçando boas festas, mais à frente veio até mim sorrateiro com novo preço...
A coleção
Formulo votos de Boas Festas, a todos os meus leitores, com muita saúde. Em especial a todos cuja assiduidade se mostra perene no tempo, que me deixa envaidecida.
Podia dizer muita coisa, digo apenas que por ser época festiva apelo à Paz, que falta em tanto sítio, ao combate do flagelo da fome e das más condições dos muitos que vivem na rua, sendo certo que todos merecem um teto. Ninguém se esqueça que mais importante do que receber, é todos os que possam devam dar, eu gosto imenso de dar, ao jus do ditado popular - quanto mais dou mais tenho!
Feliz Natal e Próspero Ano Novo, são os meus votos a todos os visitantes , amigos e amigas, seja no mesmo ensejo o desejo para mim e família.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Ganhei a minha bicicleta francesa em 1969

Em miúda sentia uma vontade férrea de aprender a andar de bicicleta, o tempo dos triciclos de três rodas ficara-se para trás, contudo no mesmo condão, o prazer de desfrutar da liberdade, em sentir a aragem no rosto e conhecer caminhos. Aprendi com sete anos no Fundo da Rua, na estrada em frente à casa do médico Dr. Amado -, era vermelha, pequena, da Anabela Paz. 
Ao cimo do meu quintal o vizinho "Pregueira" e o cunhado Roberto, no início dos anos sessenta foram "a salto" para França -, não esqueço a primeira vez que comemos chocolate preto, trazida em jeito de souvenir pelo Roberto de "Vacanses ", num tempo que o chocolate não abundava, soube a pouco, apesar do sabor amargo, acredito que nem ele sabia destrinçar se havia outras qualidades, comprou o mais barato da prateleira, que nos soube a guloseima e da boa. Numa tarde ao cimo do quintal sentados no banco de pedra corrido defronte da casa da Ti Olímpia em tarde soalheira, o meu pai  com o "Pregueira” a mulher Zulmira, e o pai desta , já  velhote que se entretinha a fazer moinhos de cana para dar aos cachopos. Apareci com a minha irmã na sua bicicleta e logo aproveitei o ensejo para mudar para o selim, que  sem modos me destitui do poiso...barafustei alto, queria também uma bicicleta, que o bom do " Pregueira" não se fez rogado, de à-vontade que lhe era particular ali se oferece para no ano seguinte me trazer uma em segunda mão -, negócio acordado com o meu pai. No ano seguinte via-a chegar no seu lindo "Boca de Sapo em tom vinoso, parou junto à capela, no adro do Santo António, mandou-me entrar no carro com a minha irmã, sentadas em bancos de cabedal, macios, que logo afundaram, só me lembro do carro começar a subir e descer, parecia um carrossel... extraordinário luxo jamais assim desfrutado. Contas feitas a bicicleta custou uma nota de 200$00, tinha sido da sua filha Tina, a Robertina. A minha bicicleta era moderna, com lâmpada e carretos para meter mudanças, de cor prateada, martelada, a lembrar escamas, uma sereia. Loucamente vaidosa adorava-a. A da minha irmã tinha sido ganha depois da reprovação do exame da 4ª classe, nova, comprada em Sangalhos, com rede na roda de trás e flores em plástico, para as saias não se entalarem nos raios, e eu que também reprovei no mesmo exame, não ganhei nada...
A bicicleta francesa, minha amiga predileta para tudo o que era sítio-,  diariamente para o Externato, com o jarro buscar água à fonte do Ribeiro da Vide, à Fonte da Costa, à mercearia da tia Carma, do Ti Piloto, do Sr Domingos, ou do Carlos Antunes, levava a cestinha de verga entalada no guiador... 
Pior quando o vento me levantava a saia -, aflita para a baixar quase perdia o controlo do guiador, uma vez bati de frente num plátano, ao Ribeiro da Vide, na quina da estrada para o Hospital, esfolei os joelhos, mãos, cara, um mar de sangue -, aquela curva à casa do Ti Zé André era do katano, havia sempre areia, e fácil era resvalar-, certo e sabido, não seria a última vez de ali me voltar a estatelar...
Naquele tempo os caminhos em terra batida se mostram esventrados pelas chuvas, com pedras, buracos, e barrentos, um dia na descida do Largo do Bairro a caminho de casa, em frente do portão da loja, a falar com o Chico, o meu vizinho sentado ao rebordo da eira coisa inédita, rapaz muito tímido,  mas queria ver a bicicleta e as substanciais diferenças com a tradicional "pasteleira" e claro vaidosa a mostrar  os carretos das mudanças, para no descuido e com lama caí prostrada no chão...e ele se ficou a rir e a bom rir de gozo e eu envergonhada! 
O muro da eira ainda lá está, só que o chão agora é empedrado
Não sei dos cachopos do Bairro quem ficou pelo caminho na aprendizagem em andar de bicicleta, fosse na minha, fosse na da minha irmã, apesar de serem modelos para meninas, alguns cachopos andavam de pé por serem novitos -, um dia a "Deolinda do Pego" que mal chegava aos pedais, sai do adro a caminho da ladeira do Hospital,  teve azar ao resvalar na areia batendo no muro de pedra da Cerca, onde ficou de estar estático hirta em pé -, aflitos ficámos, sem pinga de sangue, nem nos mexemos por segundos, a julgar que estaria morta (?) até que ela acorda , dá de si , algum se urinou... 
As nossas brincadeiras tinham momentos assim de aflição, malvada tortura que nos abanava!
Vezes sem conta quando a minha mãe não tinha um carteiro à mão para entregar um telegrama me telefonava para lhe fazer o serviço -, que fazia de bom agrado, fosse pelo passeio, fosse pelo dinheiro. Conheci caminhos e lugarejos recônditos, mensageira de boas e más notícias-, aviso de chegada de parentes para o Ti Ventura da Lagoa da Ameixeira… parabéns ao Ti Samarra, a seguir à igreja do S. João de Brito, ainda de um falecimento nos Anacos. Algum ainda tinha de o ler, ou não sabiam, ou não encontravam os óculos que deviam estar na gaveta... não me lembro de receber gorjetas…
Bons os mecânicos das duas rodas os irmãos -, David e Artur das bandas do Pião à Lagarteira, com oficina montada no r/c do prédio onde também estava instalada a GNR, homens altos, sempre de calças azuis, de mãos sujas de volta de correntes, travões, óleos queimados com montes de desperdício às cores. Anos a fio a dar cartas em concertos nos veículos de duas rodas, de tal ordem que muito depois de encerraram portas nas obras na estrada se encontrou muito óleo queimado, os primeiros que se deram conta –, ignorantes, logo julgaram que havia petróleo em Ansião…
Ao tempo havia um movimento de agrado pelas corridas de bicicletas, os irmãos Murtinhos Manuel, Emídio, Albertino e Zé Carlos, sob o olhar do irmão Fernando, alcunha "Matateu" - encolhido pela marreca, só se ria, tal entusiasmo nato por entre trabalhos de calçadas só os ouvia falar de bicicletas, de Sangalhos e,… como a falar de mulheres, grande a paixão que sentia nutriam por elas, as bicicletas!
Lamentavelmente não tenho nenhuma foto da minha bicicleta, e disso sinto tristeza, com ela percorri quilómetros, senti emoções, vivi amores e desamores, conheci cantos e recantos, a minha princesa. 
A minha mãe que sempre gostou de vender "ferro velho" acabou por lhe dar sumiço!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

José Lopes, eternizado " Zé carates" , filho de Ansião

O Carlos Moreira, meu distinto colega no Banco, irmão do meu compadre Fernando quando lhe ia para oferecer queijo fresco que tinha comprado na Fábrica de Santiago da Guarda e o deixei ficar de noite com pedrinhas de sal para lhe domar o paladar, interpela-me pedindo atenção para ler uns versos feitos por uma senhora do Mogadouro, não me soube dizer o seu nome, é familiar de alguém que mora em Ansião, quem o souber que o diga que acrescentarei com gosto. Em abono da verdade, bem antes da leitura final descobri o visado das quadras...
Vai da alta para a baixa
Dentro do seu guarda pó
Com suas grandes sandálias
Nunca despe o abrenó

Só pensa na sua vida
Não se mete com ninguém
Trabalha de noite e de dia
É escravo do que tem

É casado, não tem filhos
Nunca foi a uma festa
Tem uma vida pior
Do que um lobo na floresta

Não tem dias de descanso
Passa as horas ao balcão
Não faz descontos nenhuns
Manda mais que o patrão

Arranjou umas achegas
Lá na cobrança da luz
Onde mete ele o dinheiro
Ninguém sabe meu Jesus
Ai se ele fosse o meu tio
Eu contava-te um segredo
Que o chamasse depressa
Para junto do São Pedro

Do distrito de Leiria
É natural de Ansião
Apalpa o cu às galinhas
Sua única distração.

Quando o patrão o chama
Ele vai logo sem demora
Montado na sua bicicleta
Não passa dos  dez à hora 

Cansado de andar a dez
Passou a andar a mil
Embarcou num avião
Foi viver para o Brasil.

Pus meus defeitos à vista
Mas não te digo quem sou
"Carates" minha senhora
Ainda não adivinhou?

Conheci desde sempre o Zé Lopes, eternizado com a alcunha " Zé Carates" desconhecendo a autoria de quem lhe a pôs, e o que na realidade a mesma significa. A sua mãe irmã da minha trisavó Adelina Augusta nascida no Bairro de Santo António. A tia do Alto, mulher de alta estatura cheguei a ir a sua casa sita precisamente no ponto mais alto depois do Ribeiro da Vide antes do entroncamento para os Escampados na frontaria com o caminho o muro tinha um portelinho de madeira, a casa de pedra de sobrado em formato de "L" tinha pela frente um terreiro de terra batida onde havia um grande poço e uma frondosa figueira, o quintal fazia extrema com a fazenda dos meus pais também com o nome de "Vinha" onde quase na extrema havia grandes pereiros de peros macios raiados de vermelho, sorrateiramente os roubávamos... o local escolhido para a sepultura do "Franjinhas", o caniche na década meados de 60 recebido como prenda de Natal que o meu pai foi de propósito de táxi com o Germano a Coimbra para o comprar , infelizmente ficou doente com o banho que eu e a minha irmã lhe demos, ou já viria doente (?) foi chamado o veterinário o Dr. Mateus dizendo para o meu pai que não havia nada a fazer tinha de ser abatido porque tinha pneumonia...à sua campa vínhamos assiduamente pôr flores como tínhamos visto no Jardim Zoológico em Lisboa... até ao dia de frio depois da visita à campa do "Franjinhas" levámos uns cavaquitos espalhados pela clareira para atear a lareira quando chegássemos a casa, azar, não nos livrámos de levar uma forte tareia, porque o nosso pai sabia que pereiro, era árvore que não tínhamos... o roubo para ele era coisa abominável!
O pai do "Zé Carates" conhecido por "Francisco da vinha", alcunha ganha depois de casar  e viver no que foi a "Vinha" da antiga quinta do Vale do Mosteiro de Cima. O pai oriundo do Marquinho morou no Canto, a casa ainda existe e tinha uma taberna na vila.
A casa inserida na quinta que foi do Vale Mosteiro de Baixo ao limite da vila a sul , corre-lhe na frente entrada franca para seguir quelha mais estreita do concelho, apenas a entrada a nascente e a poente, se mostram francas. A nascente a casa onde nasceu e a poente entesta com a minha casa, em tempos um barracão herança dos meus avós paternos, que são familiares.

Foto retirada da Pagina Facebook do Grupo Ansião cedida por João Ferreira na frente da casa da Sr D Piedade Lopes. Cortesia de Francisco Lopes, emigrado no Brasil em honra da festa de Nossa Senhora da Conceição ( julgo que seja outra festividade, porque os cachopos e a D Virgínia estão vestidas para outra estação do ano).
Os bombeiros de Ansião, encostado á porta o Albertino Carteiro e junto à casa o Hingá e o Trinta do Bairro seguido do comandante Artur Paz. Albertina casas com Francisco Lopes, o casal D Piedade e Sr Diamantino , na frente a mãe dela, a padeira Maria do Carmo  e o marido  "Xico da vinha", Lopes,  seguido para a direita do filho  "Zé carates"e da esposa Virgínia, ao lado, a tia "Maria José da vinha", segue-se julgo a irmã da D Piedade, Fernanda - mãe da D. Helena do Suimo, casada com o Sr Alexandre, será ele ou o sogro, na frente um dos meninos ruçito, filho da D. Helena,  veio a falecer criança e o Ruben Lopes, brasileiro. O Sr Júlio José da Silva junto a outro irmão dos Lopes, será o António? E o Necas, o filho da D Piedade e do Sr Diamantino, ou não,  é o cachopo de laço e, este é primo do Brasil?.
Foto retirada da Pagina Facebook do Grupo Ansião
Foi enviada do outro lado do Atlântico por Rubens Lopes tirada em Ansião em 1964.
Procissão de NSConceição
Os fatos eram alugados na minha tia Carma, casada com António Caseira, conhecido por "António ruço". Recordo de ela criar patos cujas penas depois de lavadas eram usadas para fazer as asas dos anjos. Fui vestida nas procissões com todos os exemplares da casa, no último ano de Sagrado Coração de Jesus , na cabeça aro dourado com estrela que tilintava e um coração em miniatura na mão cheio de serradura, mas tinha um buraquinho, deliciei-me no trajeto a despejar...Se a foto é de 1964, e julgo o Alfredo, ou é da minha idade ou mais novo um ano , eu teria 7 anos, e sim posso ser a menina vestida de Rainha Santa, entre dois primos parentes do meu pai.Mas não me recordo especialmente desta, a que muito favorece a procissão ser a NSConceição, que vai no andor, de quem o meu pai era estremoso devoto, dava-nos a mim e à minha irmã uma nota de 20$00 para depositar na caixa de esmolas. Eu deixei sempre a minha, a minha irmã não sei, já que do troco das compras quando a minha mãe lhe perguntava ela respondia - está na barriga.. Não tenho fotos nesta idade para mais apurar as feições.mas a postura, o cabelo e o olhar, induzem que sim, mas posso não ser.
A Dra Teresa Fernandes questionou se não é a prima Lila, neta da tia Carma. Em 64 ainda estariam na Venezuela. Eu era mais velha quando regressaram. A foto para estar na posse de um dos filhos Lopes no Brasil, retrata o pagamento de uma promessa, por isso o filho Rubens está na frente com o primo Alfredo, e ao meio a escolha da ferverosa devoção à Rainha Santa Isabel que em Ansião ainda é grande - a ser eu, a escolha por o meu pai ser primo dos brasileiros e o pai do Alfredo o seu padrinho de batismo. Bem recordo a afável acolhimento da mãe dos brasileiros, a tia Maria Zé do Alto, onde eu entrei muita vez com a minha irmã. E a tia Carma, irmã da minha avo Piedade, onde igualmente percorri cantos, quem se lembrou de lhes indicar o meu nome para encarnar o anjinho na promessa, o que me oferece especular.Porque a Celinha, irmã do Alfredo era mais velha como a Tininha, irmã do Necas e outra prima, que agora não recordo o nome, tem a vivenda adoçada à casa do Zé Júlio viúva do irmão do Sá.
O rasgo da Rua Dr Domingos Botelho de Queiroz 
Dividiu a quinta da Maria Francisca (hoje quinta do Dr Faria) o seu marido Fonseca  e Lopes ficaram com esta fasquia de terreno a nascente e sul , onde moraram até ao inicio do Cimo da Rua, entre os demais a padeira, a mãe da D. Piedade Lopes e a mãe da D. Helena.
Em finais de oitocentos o rasgo da nova Rua Dr. Domingos Botelho de Queiroz para o Ribeiro da Vide permitiu que a mãe da D. Piedade construísse a sua casa, hoje o sitio a Pastelaria Ansianense conhecida por ser a primeira em Ansião do Sr.Adolfo, para anos mais tarde também o sobrinho o "Zé Carates"quando se casou veio adoçar a sua casa na  parte  da herança do pai.Na frente da estrada era da mãe da D. Helena onde veio a construir a sua casa, adoçada aos meus avós e na frente, a minha casa.
Na Rua Políbio Gomes dos Santos na casa onde nasceu uma minha bisavó o CANTO é hoje o estabelecimento do Sr.Zé Júlio seguido para poente de uma casa que foi de uma irmã da D. Piedade Lopes, hoje da sobrinha. Portanto todos família.
O meu avô Zé do Bairro recebeu de herança um quinhão da casa do Canto onde o pai dele nasceu- Francisco Rodrigues Valente, ainda a conheci em ruínas onde se veio a construir o estabelecimento .
A quelha, viela ou Rua do Canto  sem placa na toponímia!
Entronca a nascente na Rua Polibio Gomes dos Santos

 A casa onde viveu Ludovina de Jesus (1885-1963) casada com Adelino Lopes (1884-1968) ela de Ansião ele do Marquinho,  Santiago da Guarda
Aqui nasceu o "Ti Francisco da Vinha" pai do "Zé Carates"
.Acima do lintel a meia lua em cerâmica, uma tradição na arquitectura ancestral.
 
A rua encurta no cotovelo e que maneira seguindo em caminho de pé direiro. Nesta casa viveu a Ti Ricardina, que já não conheci.
 
  O quelho a poente passava defronte da casa da "Albertina pau preta" e há alguns anos o Sr Diamantino abriu no seu chão a serventia atual a entroncar a Rua Dr.Botelho de Queiroz
Na vila o lote onde foi a casa  que tinha no r/c uma taberna do "Francisco da vinha"
Após  a casa ruir virou parque de estacionamento e poleiro de caixotes do lixo, será que o espaço  não é urbanizado, não paga IMI?
 
Falar do "Zé Carates" primo do meu pai Fernando Rodrigues Valente ambos puxaram genes à alta silhueta a rondar 1,90 num homem de cariz reservado, cortês e meigo, foi casado com a Ti Virgínia, mulher de muito bom trato, sem maldade, nem mal de inveja. Tanto brinquei com a minha irmã e a sobrinha Elvira do Escampado de S. Miguel na sua varanda de janelas corridas  repleta de quadros e flores e no terraço telhado, abrigado a sul. Sem filhos, mulher sofrida por sentir a falta deles, passava horas a conversar comigo à beira do muro, na altura da fruta, num tempo que dela não havia fartura, os abrunhos azuis raiados de amarelo, nem os deixávamos amadurecer, se comiam ainda amargos, sendo tão doces quando maduros...As vezes que nos emprestou o burro e a carroça na quinta feira de Ascenção para a cachopada do Bairro, onde eu com a minha irmã íamos arrumados entre os taipais, os mais atrevidos de pé com as mãos nos fueiros, acomodados com a manta e as cestas do farnel para o piquenique sem esquecer de apanhar a espiga. Não havia outra mulher igual amiga dos cachopos, uma paz d’alma, jamais conheci aquela pobre mulher zangada…já doente sem falar, a recordo debruçada no varandim da sacada vestida com o seu belo fio em oiro em malha batida e a sua medalha com a Nossa Senhora de Fátima, mas já não me conhecia...O seu marido as vezes que nos encontrou em casa nunca dele ouvi sermão, nem voz alta, no último tempo de vida falávamos mais quando o via a caminhar de muletas, disse-me que começou a trabalhar na Polícia de Segurança Pública em Lisboa, passou pela Brigada de Trânsito em Moimenta da Beira, até que o Sr. Francisco Silva do Fundo da Rua o foi buscar para trabalhar na sua loja no Fundo da Rua, onde o conheci durante anos naquele balcão corrido onde afavelmente atendia a clientela vestido de bata cinzenta, ainda tinha o suplementar serviço da contagem da eletricidade, em que todos os meses o via chegar e parar ao adro da capela onde encostava a sua companheira, a velha pasteleira. Havia um colega, julgo o Sr Pinheiro, da EDP que depois de reformados os via muito juntos. O "Zé Carates" era um homem alto e na mesma amplitude um ser simples, trabalhador, recatado, honesto, educado e diziam avarento, pois amealhou e não esbanjava sem razão, sendo claro que o dinheiro é de quem o ganha e sabe poupar. Julgo outro assim não conheci, o mesmo dos irmãos empresários a viver décadas no Brasil na cidade de Santos, o António e o Francisco, os três com o mesmo carinho pela sua terra, pelas raízes e pela família, herdeiros da casa dos pais foi deitada abaixo para a construção de chalé de arquitetura modernista onde habitualmente se deslocam anualmente para passar férias, porque tem piscina e ainda pinhal a extremar a poente com o quintal da minha irmã. A sua simpatia irradia todos que com eles convivem.Recordo o dióspireiro que havia abrigado com a parede da escadaria da casa do "Zé Carates", nos últimos anos me dava autorização para os apanhar, até que secou. Para ultimar, quando me despedi do "Zé Carates" na  última vez que foi para Santos, no Brasil, a quem aconselhei vivamente nesse sentido em não perder mais oportunidades de poder viver uma vida em melhores condições e na companhia dos seus irmãos e demais família, confidenciou-me que iam contratar uma empregada para tomar conta dele, mote que despoletou forte riso entre nós, fiquei com essa imagem retida daquele seu olhar esverdeado de alegria e malandreca disse-lhe,  " oh Sr Zé, você vai adorar, vai pensar  que doido não ter aceite ter vindo logo assim que me convidaram, as brasileiras são dóceis e  meigas com a benesse da linguagem que ajuda ao contato e a desinibir..."
No cemitério o jazigo de Francisco Lopes
Ainda me disse que tinha formado acordo com os manos, no caso de vir a falecer no Brasil a exigência de voltar a Portugal para o jazigo de família no cemitério de Ansião, onde está a esposa, a Ti Virgínia. E assim os irmãos cumpriram o seu último desejo.Deixou saudades. Todas as vezes que passo à sua porta e são muitas, saltam as lembranças destas pessoas que aqui moraram e onde vivi bons momentos  e a emoção salta em flecha... 

FONTES
Versos facultados pelo Carlos Moreira de autora dos lados do Mogadouro

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Aragão, apelido nobre em conversa solta na feira de velharias em Azeitão


Há muito que deixei de fazer a feira de velharias de Azeitão, voltei o mês passado em rota de passeio para me estimular para acontecer o regresso este mês. As novas obras de embelezamento na frente do jardim onde decorre o certame de velharias causa contratempo aos autocarros de excursões para estacionarem (?). Local turístico, que trás negócio à vila, deixou-me perplexa ao dar conta da chegada de um autocarro que ao entrar ao entroncamento virou à direita , para depois se ver obrigado a fazer marcha atrás para a estrada de onde tinha entrado, e assim virar à esquerda...no meu opinar havia espaço para terem feito um estacionamento para um autocarro que em nada colidia com o embelezamento efetuado, também mais à frente na antiga saída para a estrada nº 10, agora desativada, se transplantassem os plátanos para outro local depois de bem podados, que se mostram a caminho do céu, seria sítio ideal para se fazer novo estacionamento, aposta mais certeira (?). Renovada imagem de Azeitão, olhando à estética e aos seus valores (vinha, morango, faltarão as tortas(?) a vincar os marcos da vila, em destaque no mapa turístico que francamente gostei, sem deixar de olhar à impressão negativa que se retém dum tempo em que o povo foi adoçando casario a tudo o que era património, sem lhe dar a dignidade e valor que merecem no espaço-, flagrante a igreja a nascente adoçada a duas casas bem antigas, o cemitério enjaulado com o Museu e um Clube, na sua frente com a estrada distingui um muro sobre outro que não lhe achei serventia (?) bem poderia o espaço ser reaproveitado para usufruto da população com um banco de jardim (?), e o próprio lavadouro, embora renascido, não deixa de se mostrar incorporado em casario, o mesmo da Misericórdia em que apenas e só se distingue a fachada e,...erro crasso dum passado recente não deveriam continuar a ser perpetuados no presente, para em remate afirmar que as mudanças devem ser além do objeto de estudo fulcral contemplando sempre a opinião pública, no equilíbrio o bom senso, seja a discussão de prós e contras, para almejar o melhor para todos no presente, não descuidando a visão futurista.

Não sei se foi por ter havido o feriado na quinta feira que ditou um fim de semana prolongado, o Algarve diziam estar cheio, e o mesmo dos Fórum na azáfama das prendas de Natal, pelo que a afluência se mostrou escassa, a comandita de uma excursão de bolsos sem dinheiro, e outros à procura de coisa boa mas a baixo preço...reencontrei o Sr António "cigano de Portalegre", homem que no tempo sempre me defere cumprimento de respeito, a quem retribui ao elogiar o seu arado a pontas de sílex entaladas em tábuas de madeira, utensílio que veio do Alentejo, bem lhe disse que era peça para Museu, e ainda que em Setúbal ao meio da escadaria existe um igual... quando voltei para registar uma foto já não o vi, diz-me ele - a senhora quando elogia alguma coisa vende-se logo...
Ao meio da tarde mostrava-se a vendedora de estaminé na minha frente inquieta por pouco faturar, apesar de se ter estriado comigo, chega-se a mim  de porta moedas aberto a fazer balanço com a despesa do pequeno almoço, do lugar e do almoço com o filho, que nos interrompe a sussurrar ao ouvido "tenho as costelas pegadas às costas"... a mãe olha para ele e diz-lhe  " tens é uma grande barriga" - deixei-me muda a olhar sendo esbelto e seco de barriga...senti que demorou para lhe dar  5 € , mal os sente na mão num ápice desarvora, rematando ela  à laia de caiar que aquele dinheiro era referente a um disco que lhe vendera, sem lhe ter dado o dinheiro...na verdade viria a entender na continuada conversa solta que me dirigiu, apesar do meu estar impaciente, sem vontade de a ouvir (?), o que não é em mim nada normal, teria sido pelo seu falar apressado de muita palavra inteligível, e do sol àquela hora baixo, tinha de lhe bater pala continuada, para lhe poder dar atenção...notória necessidade em relatar desgraças da sua vida...dos negócios do marido que dão sempre para o torto, da carrinha vendida que o dono não averbou a pensar em a vender a terceiro pelo triplo,  que o soube pelo acaso de um dia a ter encontrado e ao afrontar o condutor a quem indigitou no dia seguinte a obrigação de irem mudar a documentação, sem antes a retórica a título de aviso - se não fosse, mandava aprender a carrinha...falou da pouca sorte do filho azarento nos empregos-, aquele rosto não me era alheio, seria de um tempo que o vi pelas feiras ... afinal foi um ano ao estrangeiro trabalhar nas obras, debalde as condições praticadas em muito País da Europa hoje em dia são de elevada  precariedade, além de pagar mal, não tem as melhores condições para acolhimento, o responsável juntou a família e o cão com outros trabalhadores, sem seguro de acidentes pessoais. Impôs novas condições ao patrão, que não aceitou, pelo que voltou a casa, atualmente na faixa dos 40 anos, a tirar equivalência no Centro de Emprego ao 12º ano com formação na Restauração e Bares. Veste-se de negro, de semblante místico, já leu o Livro de S. Cipriano... fatalmente o senti de bolsos rotos de notas e mal sentia o buliço das parcas moedas nas mãos, resulto da venda de algo seu, pela mão da mãe, apressado o via a caminho do café, sempre de cigarro na mão... 
A simples mulher desabafou dos azares com empréstimos no Banco estrangeiro, do engodo nas vendas e nas percas, afirmando aliviada que dorme descansada, sem dívidas. Falou da  sogra, entretanto falecida, afirmando que era de sangue nobre, assim o pronunciou-, uma Aragão dos lados de Vilar Formoso, cujos anéis brasonados deu à sobrinha... julgo pela doença da sogra (?) surgiu a razão da mudança de casa da margem norte para a sul, sem favor viram mais de 75 vivendas, até se decidirem,debalde a sogra achava  o nome da terra escolhida - Quinta do Conde, desprestigiante, no mesmo outros assim o pensam, reforçava-, ora só pode ser gente de mente curta, a pensar no tempo dos grandes senhores donos de quintas cujos trabalhadores viviam em pátios em redor dos seus solares ...afinal como tantos nesta região, depois de terem gasto a fortuna dos pais no estrangeiro e em Lisboa, e sem vontade de continuar a investir na agricultura, viram na venda das suas quintas a saída para realizar capital fácil. O que me transpareceu pela conversa é que a dita senhora Aragão, foi uma brasonada e seria quase falida (?), que em vida supostamente nunca se dignou vistoriar o património herdado, para agora os descendentes, pela mesma razia de dinheiro(?), se quiserem terão de se disponibilizar para o procurar, mas não sei se o acharão... seria a dita Aragão uma descendente da família da Rainha Santa Isabel de Aragão(?), que em pleno século XXI se mostrou de pêlo na venta a desprestigiar a toponímia da Quinta do Conde, seja tal determinado pela falta de cultura e conhecimento, porque a tê-la saberia a história da Quinta do Conde da Atouguia, e ainda, que na margem sul e também norte, há muita quinta que foi urbanizada em que algumas o seu nome permanece na toponímia, o certo, e outras não, perdendo-se assim a história do seu passado para os presentes e gente vindoura, porque os valores do passado deveriam ser respeitados.
Remato em poucas palavras, ao longo da vida fui tendo conhecimento de muito brasonado falido, sem eira nem beira, nesta feira já bis, embora aqui não tenha falado com a primeira pessoa, antes por afinidade, mulher simples de cariz pacato, na verdade em todos os nobres sem condado que fui conhecendo por Lisboa, o primeiro no BPSM, só lhe restava o anel no dedo a que se seguiram outros, na maioria sinto um semblante altivo, vaidoso e cheio de presunção, uns frudicas, mas este abençoado de olho azul, cabelo negro, pacato, pobre rapaz!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Pelo Rabaçal e Sicó à procura da Villa de Pedra em Cotas

Sexta feira dia 9 de dezembro o almoço em família em celebração do aniversário da minha irmã aconteceu na cercania poente de Penela. Refastelados de bom repasto saímos sob um sol luminoso esbatido na paisagem a tons escarlate, amarelos pálidos, ocre e castanho em mote de ensejo lançado à laia de convite, grande passeio. A sinalética Podentes ditou-me a fatal lembrança do Carlos Relvas na Golegã -  pioneiro da Fotografia em Portugal, casado com a ilustre senhora D. Margarida Vasconcelos, filha dos Condes de Podentes, que ao tempo viviam no seu solar em Condeixa.
Ao Rabaçal vila que conheço desde sempre me deixei de boca aberta por ver pela primeira vez placards em ardósia com anúncios de venda de queijo, artesanato e ainda ementa de um restaurante.Progressos a pensar no turismo, claro que ao olhar para a esquerda me lembrei da queijeira abençoada com um belo par de olhos azuis que foi do Alvorge, morava na casa solarenga adoçada à Igreja, exibia uma bela coleção de fósseis que foi encontrando pelos campos quando andava com o rebanho...
Seguimos a direção do Pombalinho, no passado pertenceu aos Beneditinos de Lorvăo do Convento de Ceissa da Figueira da Foz, jaz em abandono, depois foi Senhorio dos Almadas, com título de Vila, chegou a ter o processo organizado para atribuição do Foral Manuelino,embora a sua publicação jamais se concretizasse. A passagem dos invasores franceses em 1811 foi devastadora com muitos mortos e roubos.
Pombalinho 
Vista sobre os outeiros do Rabaçal, Trás de Figueiró, Casas Novas e,...
Vista aérea
Vale Centeio


Paisagem típica de medas ou do medeiro, a forma de guardar a palha no inverno. O centeio é malhado na eira, a palha é junta e colocada por camadas em pilha, ao jeito de cone, em geral nas últimas camadas enfardam cuanhos, no resulto da espiga desfeita partida com o ancinho de pau com alguma palha, aqui posta, por ser mais consistente no resguardo da chuva que assim não se infiltra, escorre, cai para o chão e não apodrece a palha  no cimo, às vezes, é posta uma Cruz de palha ou de madeira.
Citar excerto https://groups.google.com/forum/
"É muito violento o serviço da malha, mas nunca os trabalhadores são tão bem alimentados. Comem, antes do almoço, pão e queijo, almoçam às oito horas, jantam perto do meio-dia e ceiam pouco depois do sol posto e, nos intervalos destas refeições usam o que chamam a côdea (fatiga) e o convite, que consiste em pão trigo caseiro e queijo, tendo sempre vinho à discrição cada vez que comem. Depois do convite, deitam-se à sombra das medas e descansam mais de meia hora, até que algum deles grita:
Oh! da minha banda,
Que o da outra já cá anda...
No dia em que termina a malha costumam gritar, com todo o entusiasmo, que o vinho por vezes aumenta: “Filhoses, filhoses!»
É que, se a colheita foi boa, o lavrador oferece filhoses à ceia, ou leite com açúcar. Os vizinhos, no tempo das malhas, costumam oferecer todo o leite das suas cabras e vacas aos que andam de malha, oferta que estes à sua vez retribuem. Esse leite é para beberem à noite os malhadores ou para fazerem papas de milho, como atrás se disse também. São mui vulgares os casos de desordens e pancada nessa época, quase sempre por causa do vinho".
Citar excerto http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
"Noutros tempos era bem verdade que um pobre, quando era mesmo pobre, nem do que era seu seria dono: num dia de malha caíam sobre a colheita todos os cobradores como corvos sobre a carniça: ele era a avença do barbeiro, ele era a côngrua do padre, ele era a renda da lameireca das Almas, ele era o diabo a quatro…e, sobretudo, para desonra da Serra, os juros do empréstimo à onzena: para se acudir à fome, quando o ano era mais comprido que a colheita, havia que pedir pão para a boca. Aí, por cada dez alqueires tinham que se pagar onze (daí o negregado nome de onzena). E lá se ia em maquias a grande parte da colheita.O dia findava. O sol despencara já para trás da Serra e o pessoal ia dispersando. O tio Chancas, que não era homem para desmoralizar e alegrete das pingas bebidas à custa do Ti Manuel Frade, olhava para o pouco que lhe sobrava e agitando uma ciranda acima da cabeça como sevilhana bailando o seu bolero, cantarolava:
Depois da malha acabada,
Aqui está o que me calha:
Uma bebedeira nos cornos
E uma gabela de palha."
A  Igreja matriz  de Pombalinho é possuidora de uma bela Imagem da Virgem com o Menino, julga-se ser a escultura mais antiga no concelho de Soure, datada de meados do séc. XV e, embora muito repintada, notam-se-lhe as feições idealizadas e o olhar doce e distante caraterístico do seu estilo, que pode ser da Escola Coimbrã, de João de Ruão (?).
A Freguesia do Pombalinho é rica em vestígios arqueológicos da Pré-história recente a época romana. De fato mal se alcança o cimo e se avista a vila qual foi a impressão que senti ao olhar para a direita ? Distingui um caminho ladeado por muros de pedra seca vinda de norte, no imediato me desafiou a pensar se tratar da antiga via romana  vinda de Conímbriga, Fonte Coberta, atravessava a Serra de Janeanes...
Serra de Sicó
Ainda avistei os cumes dos outeiros em forma de cone ao Rabaçal no forte contraste com a Serra de Sicó que se mostra de costado cravado e bordejado a pedra, ainda assim o povo a delimitou a muros de pedra seca, brutal imagem, naquele instante me volta a desafiar o pensar- mais parecia muita cabeça de africano com um penteado de tranças...mas a minha irmã não parou, dificilmente pára, nem me atrevi a falar...as fotos em andamento não espelham a beleza que aqui se bebe, ainda assim deixou o meu pobre coração emocionado repleto do belo, por se mostrar ímpar, idílico, impressionante, inigualável, incandescente... na primeira vogal de tanto sinónimo-, o "i" a mesma do meu nome - Isabel, por isso me deleitou em tanto extravasar...podia aqui morrer, seria morte Santa!
Toda a região do ponto de vista paisagístico revela-se exuberante pela diversidade cársica quase desértica esquartejada por courelas ornadas por todo o lado a muros de pedra que por si só exalam beleza imensurável por se manterem no tempo ainda de pé cujas ligeiras aberturas apetece espreitar e ainda a beleza dos líquenes, sem licença as pintam e redesenham a cada ano em tonalidades a preto e séptia, pasmo sempre a contemplar as dolinas cársicas ou ajeitadas pela mão do homem com a função de reter águas para os animais saciarem a sede quando andam no pasto, também não sou alheia à brutal mancha de carvalhal - carvalho cerquinho que nesta região se mostra de elevada biodiversidade e grande riqueza para os estratos inferiores, no outono a folhagem caída forma no chão uma manta morta que atua como esponja fofa no inverno que apodrece pelo efeito da chuva evitando a erosão dos solos, nada mais que estrume leve, desde sempre me ensinaram ser o melhor para os vasos e canteiros das flores, e ainda as esculturas feitas pela erosão na pedra calcária, por ser maleável, e outras de origem fóssil, que se encontram nas regiões mais argilosas, pedras com buraquinhos que já foram do fundo do mar, muito usadas no contorno de jardins.
Serra de Janeanes 
 Courelas fechadas de muros de pedra seca com eucaliptos ...

Desafiando esta bela moldura florestal do carvalho cerquinho, quiçá a maior na Europa pelo que merece ser preservada a qualquer preço, sem atentados, infelizmente no século XX alguns proprietários a pensar no lucro fácil introduziriam o eucalipto e o cedro do Buçaco. Persiste ainda nesta paisagem muita cancela artesanal de aspeto trivial dado pelo cruzamento aberto de tábuas de madeira a fechar as courelas, dependendo da estação do ano por todo o lado exalam aromas a erva de Santa Maria, tomilho que confere o travo ao famoso queijo do Rabaçal, em convívio salutar com a milenar oliveira, medronheiro, sobreiro, pinheiro, oregãos, alecrim, esteva, rosmaninho, carqueja, tojos, giestas num misto de árvores e flora em franca harmonia com as pedras!
Cancela
Cotas - Paisagem de olival
 Ao chegar a Cotas onde a produção de queijo denominado Rabaçal se mostra rei, na estrada principal antes da entrada para a Villa de Pedra está a nascer uma nova obra...mais abaixo entrámos por uma rua estreita , deveria ser de sentido único por se mostrar entalada entre muros altos, logo à frente dei conta do portão da Villa de Pedra de trinco fechado. Supostamente só clientes terão aceso à sua visita (?), apesar do estacionamento de três lugares estar livre, a minha irmã nem se dignou parar, nem perguntou nada, fez inversão de marcha e saímos por onde entrámos, ainda assim apreciei o contexto emblemático que encerra o local que me deixou a sonhar...aqui renasceu há pouco tempo pela mão de estrangeiros em lugarejo altaneiro no tempo de antanho foi chamado Aldeia de Cima, desabitado durante anos convertido em turismo, mantendo a traça e a cultura do povo serrano - Villa de Pedra Natural Houses onde os amantes da natureza, das pedras, utensílios, latões, cerâmica, faiança, e,...com o acordar dos clientes acontece com o cheiro do pão quente emanado do taleigo pendurado na aldraba da porta ...por aqui há tanto para redescobrir numa rota de poucos quilómetros na interligação de 4 concelhos: Penela, Soure, Ansião e Pombal com aromas a Figueiró dos Vinhos, Condeixa, e à cidade romana de Conímbriga, no centro de Portugal.
Tinha em mente celebrar o meu 60º aniversário que vai ocorrer para o ano no Porto, cidade que adoro sem explicação onde teimo sempre voltar e ficar, mas agora estou dividida. Certezas? Um dos locais será, porque também mereço!
Villa de Pedra
Aqui foi respeitado criteriosamente o espírito da região onde foram recuperadas técnicas de construção nas paredes em blocos de pedra calcária cobertas de cal ocre e preservada uma base ecológica e estética, garantindo absoluto conforto ao longo de todas as estações.Com 13 casas recuperadas de diferentes tipologias entre elas, e mais recentemente duas antigas Escolas Primárias, e o espaço "A Cozinha" onde, sob marcação, se pode desfrutar de uma bela refeição caseira, o conceito assenta nos pilares do bem-estar, da tranquilidade, da qualidade e da autenticidade, onde se encontra serenidade e tempo para reflexão e o privilégio de poder não fazer nada e descobrir Sicó e as suas gentes.
Vista aérea

Interiores repletos de objetos do passado voltaram a ter vida...fotos retiradas do google


Exteriores onde a pedra faz de cada recanto um espaço novo e acolhedor

Ainda não refeita a olhar prados inseridos em leirões num relance de escassos minutos senti entrar no concelho de Ansião - a minha irmã se lembrar de nos presentear com passagem pela aldeia da Serra, onde nos mostrou vivendas pintadas em amarelinho pertença a uma colónia de ingleses, convencida que íamos até ao Vale Florido, a aldeia de uma das avós do escritor Fernando Namora, eis que entronca na nova variante  para o Alvorge que para a fazerem retiraram as "Alminhas" de pedra na frente do Lar do Alvorge, e disso francamente não apreciei, a deviam ter trasladado pedra por pedra para outro local, porque a nova que foi feita na quina nascente do jardim do Lar não é a mesma coisa!O património ancestral é para preservar!
Tomámos a rota na direção a Santiago da Guarda, de novo senhora da estrada com passagem à aldeia turística do Outeiro, local que senti adorar percorrer a pé, porque ao miradouro dos Moinhos já fui várias vezes, é belo sobretudo no tempo das cucas floridas...atrevida lancei isca para parar mais à frente, pedido acedido ficando eu convencida que tal só foi possível porque gostou da prenda que lhe ofereci, e dos trabalhos efetuados durante dois dias no seu quintal e ainda na cozinha, debalde ao sair do carro ouvi larascas ao jeito de vómito aos demais à laia do que se conta do episódio com o advogado Dr Prates Miguel, por ser também um grande amante do passado que um belo dia aportou à Ateanha com um amigo, questionando o primeiro transeunte que lhe apareceu onde poderia encontrar testemunhos deixados pelos romanos - ao que o bom homem lhe responde-, bem, sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura... 
Santiago da Guarda
Moita Santa
Marco da feira da Moita Santa da centúria de 400
Moita Santa
Em mim sempre premente uma vontade desenfreada em procurar vestígios do passado, património de todos nós que jamais deve ser descuidado, e antes enaltecido. Desta feita apresento o que pode parecer uma simples pedra prostrada ao alto com inscrição  medieval lavrada já minha conhecida de a distinguir ao longe, nas poucas vezes que por ali passo de carro, mas nunca tinha parado para a observar. O Padre José Eduardo Coutinho aborda na sua Monografia de Ansião a existência de pedras nesta região, marcos de quintas e coutos de antanho. A lápide é referente à Feira da Moita Santa em 1476. Em virtude de não ser licenciada em nada, apenas abençoada de clarividência sobre coisas do passado me interrogo como na Freguesia de Santiago da Guarda, no concelho de Ansião, esta pedra com inscrição merecia melhor sorte inserida em redondel florido com placard e tradução no tempo não mereceu essa fulcral importância em enaltecer o valor da sua antiguidade, por dela não falarem nos autos da Freguesia (?) .Sendo menção de honrar a herança do passado em a terem ali deixado permanecer até aos dias d'hoje, que por si só já é um grande feito das suas gentes.


FONTES
http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
http://www.sitexplo.com/terras/index.php?action=rub_aff&rub_id=156&page_id=500

https://www.google.pt/search?q=soure+villa+de+pedra++em+cotas+%2B+fotos

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