quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Lugar da Arrábida as fábricas de sabão e de cerâmica em Almada

Descemos o talvegue da Arrábida ou Valdeão a caminho do Tejo onde foi o Lugar da Arrábida no dia 27 de setembro em que a nossa neta Laura fez 10 meses e o irmão Vicente caiu da cadeira e bateu de frente com o nariz...felizmente só foi mossa e susto...
Vista de Lisboa tomada de Palença em 1830
Imagem: Mundo do Livro

Lugar da Arrábida em Palença
A  praia contorna a encosta e avista-se Palença de Baixo
No Lugar da Arrábida laborou a fábrica de  sabão, cujas ruínas ainda persistem e as chaminés e na frente para poente, para Palença de Baixo a fábrica de cerâmica Palença fundada em 1884, explorava barreiros locais. Para além da cerâmica comum, produzia também materiais de construção, como tijolo e telha tipo Marselha.Ocupando mais de uma centena de operários, a fábrica manteve a sua actividade até aos anos setenta do século XX. 
A água do ribeiro que no final na zona das fábricas foi encanado era fundamental para as  fábricas na produção de materiais cerâmicos e do sabão .
A unidade fabril que se distingue na foto só pode ser da fábrica de cerâmica de Palença, a telha que encontrei no local.
Imagem Portimagem
A foto mostra o cais com operários que carregam o barco com cestas - agora serão tijolos ou barras de sabão?Em Palença de Baixo onde hoje é a Sopol ou na Arrábida onde foi a fábrica de sabão?

Grande aventura de quem se atreve a descer em caminhada o que fiz com o meu marido pela estrada larga, não marcada, ladeada pelos campos das antigas Quintas do Pragal expropriadas, a paisagem se mostra vestida de canaviais a perder de vista induzindo a falsa paisagem "Bocage" , pois aqui foram introduzidas no século XVI, trazidas da Índia. Resistem uma maioria de residentes afro e outros vizinhos que sobrevivem no amanho de hortas que proliferam onde há poços, a cada dia mais extensas por todo o lado, apesar da terra argilosa e de parca água, é triste ver o milho que não medra...ficando a espiga mirrada!
Esta foto mostra o que resta dos pilaretes do cais que se veem na foto acima
Veja-se a proximidade  das duas fábricas as chaminés da fábrica  de sabão e óleos, e para poente onde foi a fábrica de cerâmica Palença. Onde se avistam os barcos hoje Sopol, em Palença de Baixo.

Fábrica de sabão em Palença no lugar da Arrábida, em Almada
Laborou do tempo do Marquês de Pombal no Porto da Arrábida, uma fábrica de sabão e óleos que ditou a Sopol a sua continuidade.
No reinado de D. Sebastião, o seu proprietário tinha o monopólio nacional do fabrico de sabão branco. Entre as matérias primas utilizadas a cinza de carvão resultante da queima da lenha da charneca da Caparica, borra de azeite, sebos de origem animal e guano de peixe, que provocava odores e maus cheiro nas redondezas.No inicio do século XX ainda se encontrava em laboração explorada pela Firma Macedo e Coelho que se dedicava também ao fabrico de óleos.Destruída por um incêndio foi deixada em ruínas até hoje.

Citando Duarte Joaquim Vieira Júnior "onde está a fábrica de tijolo — hoje é fábrica de guano — existiu em tempos um fortim que foi construído no reinado de D. João III, e do qual ainda hoje há vestígios, existindo os paióis de pólvora, que foram feitos sob a rocha, para o lado de leste, e que ainda no tempo de D. Miguel foi este artilhado e guarnecido até 1833 pelas tropas do usurpador".

«A melhor notícia de que dispomos desta fortaleza [fortim da Banática] é devida ao conde dos Arcos [D. José Manuel de Noronha e Menezes e de Alarcão] que atribui a construção ao mandado de D. João III [que reinou de 1521 a 1577] e a localiza não na actual Banática mas sim em Palença de Baixo...»

O excerto dita que o Fortim foi sediado em Palença de Baixo,  onde  hoje é a empresa Sopol. 
A informação é confusa quanto ao local... 
Pereira de Sousa, R. H., Fortalezas de Almada e seu termo, Almada, Arquivo Histórico da Câmara Municipal, 1981, 192 págs.
Na minha visão o sitio de Palença no lugar da Arrábida onde foi a fábrica de sabão e óleos, tendo pela frente onde se encontram inúmeros vestígios cerâmicos;  piso, colunas e mural a reverter para a fábrica de cerâmica Palença (?).
Porque na gravura distinguem-se vestígios que apontam para ter sido o palco da fábrica de cerâmica(?)
Mural em cerâmica sobranceiro à  praia, seria da Fábrica de cerâmica de Palença ?
Praia da Arrábida em Palença, o que resta da Fábrica de sabão de Macedo e Coelho
Hoje restam ainda de pé duas chaminés, uma a ruir no cimo e umas ruínas que estão fechadas e servem de abrigo a pescadores lúdicos(?), na frontaria só resta metade do muro e o chão lajeado seria doutra unidade fabril? Hoje serve de espaço privado a casebres de sortudos pescadores...
A praia com muito desperdício cerâmico da fábrica e fóssil
Descendo a azinhaga do Pragal ao Porto da Arrábida em Palença
Mais de metade da azinhaga percorrida para as vistas se mostrarem deslumbrantes com a rocha predominante o calcário fossilizado 
 Miradouro do Rangel 
Também conhecido por Pinhal do Penajoía, o nome da quinta onde plantaram pinheiro alepo, da Síria para sustentação da arriba, onde já estive em outra aventura e pêras!
Avista-se a quinta do Pinheiro
Onde está a Pousada da Juventude, inaugurada em 1997.O edifício integra a Casa de Fresco da antiga quinta de planta octogonal com portas e janelas alternadas em cada uma das paredes, de onde se podia desfrutar as vistas surpreendentes para o Tejo, Lisboa, Palença e Almada
Começam-se a avistar as chaminés da fábrica de sabão
Descobri no tardoz da fábrica de sabão do Porto da Arrábida  uma ponte rudimentar sobre o riacho de madeira de acesso a uma casita de pedra . Afros cultivam hortas no costado do Miradouro do Rangel, onde se avistam culturas tropicais - bananeiras e cana do açúcar.



Daqui as vistas das chaminés mostram-se encantadoras
A paisagem é indiscutivelmente aprazível quando se começa a vislumbrar a ponte e o Tejo, verdadeiramente soberbas, por isso valeu imenso a pena.


 A azinhaga larga acaba aqui sendo continuada a descida por carreiro estreito e íngreme
Resmas de canos de plástico usados na década de 50 quando o plástico apareceu
Os conheci na minha região a fazer ligação de minas de água para as casas e aqui faria o mesmo serviço do poço que se avista na arriba de cima da azinhaga.
O poço que abastecia a fábrica de sabão

Deparei-me com um brutal cedro derrubado com as intempéries no caminho, será do tempo da fábrica(?)


Casebres de madeira e lataria ...
Com  reaproveitamento das ruínas da fábrica onde não falta uma antena parabólica nos prédios que hoje existem em Palença de Baixo, no seu melhor e desplante quase todos com varandins de chão cerâmico antigo do suposto Fortim com vista privilegiada para Lisboa, para a praia, arriba fóssil e seus miradouros, local privilegiado para pesca lúdica em cenário literalmente interrompido pelo sussurro da ponte com os carros e comboio, porque o movimento do Tejo esse nem se dá conta, paraíso de sossego só quebrado pelas ondinhas a bater de mansinho na areia atulhada de desperdícios a tropeçar e  acordar os sonhadores...local decrépito e outrora rico em fausto movimento militar e fabril em gerar riqueza ainda assim de luxo banhado pelo Tejo onde não se paga renda de casa, prestações ao Banco muito menos IMI , mas só de meia dúzia, e isso não é democracia!
Riacho do Valdeão
Forma-se no costado em regateira com as chuvas e agora com os resíduos do tratamento de águas do Hospital, dei conta que  levava águas escuras, bem as ouvi na descida e depois na foz. No passado foi encanado com tijolo cerâmico passava pela fábrica de sabão e devia servir a fábrica de cerâmica par amassar os barros , hoje se mostra abalroado num monte de escombros juntamente com os suportes do cais do Porto da Arrábida.
Pilaretes do cais da antiga fábrica de sabão e óleos e de cerâmica, o que teorizo, ali se situaram as duas

Deixámos Palença e a Arrábida

Ao deixar a praia saiam de uns casebres cobertos a lataria dois homens relativamente novos, na casa dos 30 anos, traziam uma cana de pesca e um balde com apetrechos e uma garrafa de refrigerante.Trocámos cumprimentos quando já íamos a deixar o local  para tomar o carreiro a caminho da azinhaga quando me dei conta de um cheiro a fumo, para me deixar a  pensar e assustar se acaso ali deflagrasse fogo, como haveria de sair dali, até que acalmei quando o meu marido me disse que tinha visto um deles a queimar plástico na praia. Em caso de fogo o mais certo seria voltar atrás e ficar junto do Tejo na praia...
Já em plena azinhaga ao alto nas traseiras da fábrica enxerguei semi enterrado um fragmento de azulejo século XVII/I resulto de entulhos, ou não, bem pode ter sido da quinta de S. Lourenço no vale imediatamente a seguir onde existem belos silhares azulejares no tempo em abandono até ser considerado imóvel de interesse público e o Estado concedeu uma utilização não sei por quantos anos para ali funcionar um centro de desintoxicação de estupefacientes e alcoolismo em que supostamente não foi discutido a possibilidade do imóvel poder ser visitado em dias estipulados uma vez que foi considerado de interesse público, estive à porta e não deixam entrar...e assim fica o público privado de conhecer património público que devia ser de todos e não de meia dúzia, mas pior para mim foi terem alterado a toponímia ancestral de Vale de S. Lourenço para lhe chamarem um nome da Judeia Vale de Acór, que se confunde com açor...
Pese a obra do padre Quintela julgo de Murfacém que aqui se mostra mui meritória pela requalificação do imóvel e pela obra de recuperação de gente perdida.


A memória de um povo está na preservação do seu património histórico e cultural.
Houvesse valentia, querer e talento para reunir todas as entidades que estão diretamente envolvidas na expropriação das quintas da Caparica em se sentarem à mesa na vontade maior de fazer da Margem Sul um paraíso para chamar o TURISMO, paraíso gerador de riqueza apostando na limpeza da paisagem, tornando-a aprazível, vestida de verde na primavera e de amarelo e vermelho pelas vindimas com cearas loiras no verão, mas para isso é necessário reabilitar hectares a perder de vista, literalmente em abandono onde floresce sem rei nem roque forte canavial. O mais difícil seja começar. Fácil é tomar como projeto pioneiro da quinta de Penajoía onde se julgou durante anos habitou o cronista Fernão Mendes Pinto, debalde por uma escritura encontrada pelo Engº Rui Mesquita, as suas filhas deixaram de testamento ao Seminário de Almada a sua quinta que hoje se chama de Montalvão, no talvegue ao miradouro de Alfanzina. O ribeiro do Valdeão devia ser encanado porque recebe o esgoto da ETAR e sobre ele construir uma farta estrada de ligação a Palença,  ao Porto da Arrábida, surribar o costado a poente de rizomas de canas, o projecto deve contemplar a continuidade de estradas largas da envolvente, criar estacionamento e planear alguns lotes para serem usados no futuro, sendo delimitado o fraguedo e o vale. Privilegiar o plantio de vinha ordenada, mecanizada e com rega, noutras olival, outra riqueza. No que resta da fábrica de sabão ficava bem um lagar moderno vinícola e outro de azeite com moderno cais para embarque e desembarque de gentes para visitas e para escoar os produtos.Depois desta primeira etapa seguia-se outra, e assim sucessivamente no  plantio de vinha nos terrenos onde ainda existem poços para deles se aproveitar a água para rega e nos outros a cultura de sequeiro com trigais. Restaurar moinhos de vento para o turismo e a requalificação de antigas quintas em hotéis rurais e outras de luxo.Porque mão de obra na região há que sobra. E pomares, afinal as riquezas de antanho não descuidando a floresta ordenada com limpeza e  venda dos resíduos para as lareiras.


FONTES
https://almada-virtual-museum.blogspot.pt/2014/04/palenca-de-baixo.html
http://historiadealmada.blogspot.pt/ 
Livro Pragal História e Cultura de 2008 com apoio da Junta de Freguesia e do Centro de Arqueologia de Almada.

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