quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Pelo Rabaçal e Sicó à procura da Villa de Pedra em Cotas

Sexta feira dia 9 de dezembro o almoço em família em celebração do aniversário da minha irmã aconteceu na cercania poente de Penela. Refastelados de bom repasto saímos sob um sol luminoso esbatido na paisagem a tons escarlate, amarelos pálidos, ocre e castanho em mote de ensejo lançado à laia de convite, grande passeio. A sinalética Podentes ditou-me a fatal lembrança do Carlos Relvas na Golegã -  pioneiro da Fotografia em Portugal, casado com a ilustre senhora D. Margarida Vasconcelos, filha dos Condes de Podentes, que ao tempo viviam no seu solar em Condeixa.
Ao Rabaçal vila que conheço desde sempre me deixei de boca aberta por ver pela primeira vez placards em ardósia com anúncios de venda de queijo, artesanato e ainda ementa de um restaurante.Progressos a pensar no turismo, claro que ao olhar para a esquerda me lembrei da queijeira abençoada com um belo par de olhos azuis que foi do Alvorge, morava na casa solarenga adoçada à Igreja, exibia uma bela coleção de fósseis que foi encontrando pelos campos quando andava com o rebanho...
Seguimos a direção do Pombalinho, no passado pertenceu aos Beneditinos de Lorvăo do Convento de Ceissa da Figueira da Foz, jaz em abandono, depois foi Senhorio dos Almadas, com título de Vila, chegou a ter o processo organizado para atribuição do Foral Manuelino,embora a sua publicação jamais se concretizasse. A passagem dos invasores franceses em 1811 foi devastadora com muitos mortos e roubos.
Pombalinho 
Vista sobre os outeiros do Rabaçal, Trás de Figueiró, Casas Novas e,...
Vista aérea
Vale Centeio


Paisagem típica de medas ou do medeiro, a forma de guardar a palha no inverno. O centeio é malhado na eira, a palha é junta e colocada por camadas em pilha, ao jeito de cone, em geral nas últimas camadas enfardam cuanhos, no resulto da espiga desfeita partida com o ancinho de pau com alguma palha, aqui posta, por ser mais consistente no resguardo da chuva que assim não se infiltra, escorre, cai para o chão e não apodrece a palha  no cimo, às vezes, é posta uma Cruz de palha ou de madeira.
Citar excerto https://groups.google.com/forum/
"É muito violento o serviço da malha, mas nunca os trabalhadores são tão bem alimentados. Comem, antes do almoço, pão e queijo, almoçam às oito horas, jantam perto do meio-dia e ceiam pouco depois do sol posto e, nos intervalos destas refeições usam o que chamam a côdea (fatiga) e o convite, que consiste em pão trigo caseiro e queijo, tendo sempre vinho à discrição cada vez que comem. Depois do convite, deitam-se à sombra das medas e descansam mais de meia hora, até que algum deles grita:
Oh! da minha banda,
Que o da outra já cá anda...
No dia em que termina a malha costumam gritar, com todo o entusiasmo, que o vinho por vezes aumenta: “Filhoses, filhoses!»
É que, se a colheita foi boa, o lavrador oferece filhoses à ceia, ou leite com açúcar. Os vizinhos, no tempo das malhas, costumam oferecer todo o leite das suas cabras e vacas aos que andam de malha, oferta que estes à sua vez retribuem. Esse leite é para beberem à noite os malhadores ou para fazerem papas de milho, como atrás se disse também. São mui vulgares os casos de desordens e pancada nessa época, quase sempre por causa do vinho".
Citar excerto http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
"Noutros tempos era bem verdade que um pobre, quando era mesmo pobre, nem do que era seu seria dono: num dia de malha caíam sobre a colheita todos os cobradores como corvos sobre a carniça: ele era a avença do barbeiro, ele era a côngrua do padre, ele era a renda da lameireca das Almas, ele era o diabo a quatro…e, sobretudo, para desonra da Serra, os juros do empréstimo à onzena: para se acudir à fome, quando o ano era mais comprido que a colheita, havia que pedir pão para a boca. Aí, por cada dez alqueires tinham que se pagar onze (daí o negregado nome de onzena). E lá se ia em maquias a grande parte da colheita.O dia findava. O sol despencara já para trás da Serra e o pessoal ia dispersando. O tio Chancas, que não era homem para desmoralizar e alegrete das pingas bebidas à custa do Ti Manuel Frade, olhava para o pouco que lhe sobrava e agitando uma ciranda acima da cabeça como sevilhana bailando o seu bolero, cantarolava:
Depois da malha acabada,
Aqui está o que me calha:
Uma bebedeira nos cornos
E uma gabela de palha."
A  Igreja matriz  de Pombalinho é possuidora de uma bela Imagem da Virgem com o Menino, julga-se ser a escultura mais antiga no concelho de Soure, datada de meados do séc. XV e, embora muito repintada, notam-se-lhe as feições idealizadas e o olhar doce e distante caraterístico do seu estilo, que pode ser da Escola Coimbrã, de João de Ruão (?).
A Freguesia do Pombalinho é rica em vestígios arqueológicos da Pré-história recente a época romana. De fato mal se alcança o cimo e se avista a vila qual foi a impressão que senti ao olhar para a direita ? Distingui um caminho ladeado por muros de pedra seca vinda de norte, no imediato me desafiou a pensar se tratar da antiga via romana  vinda de Conímbriga, Fonte Coberta, atravessava a Serra de Janeanes...
Serra de Sicó
Ainda avistei os cumes dos outeiros em forma de cone ao Rabaçal no forte contraste com a Serra de Sicó que se mostra de costado cravado e bordejado a pedra, ainda assim o povo a delimitou a muros de pedra seca, brutal imagem, naquele instante me volta a desafiar o pensar- mais parecia muita cabeça de africano com um penteado de tranças...mas a minha irmã não parou, dificilmente pára, nem me atrevi a falar...as fotos em andamento não espelham a beleza que aqui se bebe, ainda assim deixou o meu pobre coração emocionado repleto do belo, por se mostrar ímpar, idílico, impressionante, inigualável, incandescente... na primeira vogal de tanto sinónimo-, o "i" a mesma do meu nome - Isabel, por isso me deleitou em tanto extravasar...podia aqui morrer, seria morte Santa!
Toda a região do ponto de vista paisagístico revela-se exuberante pela diversidade cársica quase desértica esquartejada por courelas ornadas por todo o lado a muros de pedra que por si só exalam beleza imensurável por se manterem no tempo ainda de pé cujas ligeiras aberturas apetece espreitar e ainda a beleza dos líquenes, sem licença as pintam e redesenham a cada ano em tonalidades a preto e séptia, pasmo sempre a contemplar as dolinas cársicas ou ajeitadas pela mão do homem com a função de reter águas para os animais saciarem a sede quando andam no pasto, também não sou alheia à brutal mancha de carvalhal - carvalho cerquinho que nesta região se mostra de elevada biodiversidade e grande riqueza para os estratos inferiores, no outono a folhagem caída forma no chão uma manta morta que atua como esponja fofa no inverno que apodrece pelo efeito da chuva evitando a erosão dos solos, nada mais que estrume leve, desde sempre me ensinaram ser o melhor para os vasos e canteiros das flores, e ainda as esculturas feitas pela erosão na pedra calcária, por ser maleável, e outras de origem fóssil, que se encontram nas regiões mais argilosas, pedras com buraquinhos que já foram do fundo do mar, muito usadas no contorno de jardins.
Serra de Janeanes 
 Courelas fechadas de muros de pedra seca com eucaliptos ...

Desafiando esta bela moldura florestal do carvalho cerquinho, quiçá a maior na Europa pelo que merece ser preservada a qualquer preço, sem atentados, infelizmente no século XX alguns proprietários a pensar no lucro fácil introduziriam o eucalipto e o cedro do Buçaco. Persiste ainda nesta paisagem muita cancela artesanal de aspeto trivial dado pelo cruzamento aberto de tábuas de madeira a fechar as courelas, dependendo da estação do ano por todo o lado exalam aromas a erva de Santa Maria, tomilho que confere o travo ao famoso queijo do Rabaçal, em convívio salutar com a milenar oliveira, medronheiro, sobreiro, pinheiro, oregãos, alecrim, esteva, rosmaninho, carqueja, tojos, giestas num misto de árvores e flora em franca harmonia com as pedras!
Cancela
Cotas - Paisagem de olival
 Ao chegar a Cotas onde a produção de queijo denominado Rabaçal se mostra rei, na estrada principal antes da entrada para a Villa de Pedra está a nascer uma nova obra...mais abaixo entrámos por uma rua estreita , deveria ser de sentido único por se mostrar entalada entre muros altos, logo à frente dei conta do portão da Villa de Pedra de trinco fechado. Supostamente só clientes terão aceso à sua visita (?), apesar do estacionamento de três lugares estar livre, a minha irmã nem se dignou parar, nem perguntou nada, fez inversão de marcha e saímos por onde entrámos, ainda assim apreciei o contexto emblemático que encerra o local que me deixou a sonhar...aqui renasceu há pouco tempo pela mão de estrangeiros em lugarejo altaneiro no tempo de antanho foi chamado Aldeia de Cima, desabitado durante anos convertido em turismo, mantendo a traça e a cultura do povo serrano - Villa de Pedra Natural Houses onde os amantes da natureza, das pedras, utensílios, latões, cerâmica, faiança, e,...com o acordar dos clientes acontece com o cheiro do pão quente emanado do taleigo pendurado na aldraba da porta ...por aqui há tanto para redescobrir numa rota de poucos quilómetros na interligação de 4 concelhos: Penela, Soure, Ansião e Pombal com aromas a Figueiró dos Vinhos, Condeixa, e à cidade romana de Conímbriga, no centro de Portugal.
Tinha em mente celebrar o meu 60º aniversário que vai ocorrer para o ano no Porto, cidade que adoro sem explicação onde teimo sempre voltar e ficar, mas agora estou dividida. Certezas? Um dos locais será, porque também mereço!
Villa de Pedra
Aqui foi respeitado criteriosamente o espírito da região onde foram recuperadas técnicas de construção nas paredes em blocos de pedra calcária cobertas de cal ocre e preservada uma base ecológica e estética, garantindo absoluto conforto ao longo de todas as estações.Com 13 casas recuperadas de diferentes tipologias entre elas, e mais recentemente duas antigas Escolas Primárias, e o espaço "A Cozinha" onde, sob marcação, se pode desfrutar de uma bela refeição caseira, o conceito assenta nos pilares do bem-estar, da tranquilidade, da qualidade e da autenticidade, onde se encontra serenidade e tempo para reflexão e o privilégio de poder não fazer nada e descobrir Sicó e as suas gentes.
Vista aérea

Interiores repletos de objetos do passado voltaram a ter vida...fotos retiradas do google


Exteriores onde a pedra faz de cada recanto um espaço novo e acolhedor

Ainda não refeita a olhar prados inseridos em leirões num relance de escassos minutos senti entrar no concelho de Ansião - a minha irmã se lembrar de nos presentear com passagem pela aldeia da Serra, onde nos mostrou vivendas pintadas em amarelinho pertença a uma colónia de ingleses, convencida que íamos até ao Vale Florido, a aldeia de uma das avós do escritor Fernando Namora, eis que entronca na nova variante  para o Alvorge que para a fazerem retiraram as "Alminhas" de pedra na frente do Lar do Alvorge, e disso francamente não apreciei, a deviam ter trasladado pedra por pedra para outro local, porque a nova que foi feita na quina nascente do jardim do Lar não é a mesma coisa!O património ancestral é para preservar!
Tomámos a rota na direção a Santiago da Guarda, de novo senhora da estrada com passagem à aldeia turística do Outeiro, local que senti adorar percorrer a pé, porque ao miradouro dos Moinhos já fui várias vezes, é belo sobretudo no tempo das cucas floridas...atrevida lancei isca para parar mais à frente, pedido acedido ficando eu convencida que tal só foi possível porque gostou da prenda que lhe ofereci, e dos trabalhos efetuados durante dois dias no seu quintal e ainda na cozinha, debalde ao sair do carro ouvi larascas ao jeito de vómito aos demais à laia do que se conta do episódio com o advogado Dr Prates Miguel, por ser também um grande amante do passado que um belo dia aportou à Ateanha com um amigo, questionando o primeiro transeunte que lhe apareceu onde poderia encontrar testemunhos deixados pelos romanos - ao que o bom homem lhe responde-, bem, sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura... 
Santiago da Guarda
Moita Santa
Marco da feira da Moita Santa da centúria de 400
Moita Santa
Em mim sempre premente uma vontade desenfreada em procurar vestígios do passado, património de todos nós que jamais deve ser descuidado, e antes enaltecido. Desta feita apresento o que pode parecer uma simples pedra prostrada ao alto com inscrição  medieval lavrada já minha conhecida de a distinguir ao longe, nas poucas vezes que por ali passo de carro, mas nunca tinha parado para a observar. O Padre José Eduardo Coutinho aborda na sua Monografia de Ansião a existência de pedras nesta região, marcos de quintas e coutos de antanho. A lápide é referente à Feira da Moita Santa em 1476. Em virtude de não ser licenciada em nada, apenas abençoada de clarividência sobre coisas do passado me interrogo como na Freguesia de Santiago da Guarda, no concelho de Ansião, esta pedra com inscrição merecia melhor sorte inserida em redondel florido com placard e tradução no tempo não mereceu essa fulcral importância em enaltecer o valor da sua antiguidade, por dela não falarem nos autos da Freguesia (?) .Sendo menção de honrar a herança do passado em a terem ali deixado permanecer até aos dias d'hoje, que por si só já é um grande feito das suas gentes.


FONTES
http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
http://www.sitexplo.com/terras/index.php?action=rub_aff&rub_id=156&page_id=500

https://www.google.pt/search?q=soure+villa+de+pedra++em+cotas+%2B+fotos

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