terça-feira, 6 de março de 2018

Escampado dos Calados em Ansião

O Lugar também foi conhecido por  Belchior ou Lugar de Calados. Aldeia desertificada que conheci pela mão da minha irmã há uns anos, debalde não levava máquina onde me deixei ficar extasiada pela ancestralidade , sobretudo pela aldeia se mostrar de casario concentrado, com um caminho ao meio de ligação a ponte ao Escampado de Belchior e de Santa Marta e para nascente pelo quelho da encosta onde detectei pedras a travar a descida ao jus de degraus, o fosse para não se escorregar até ao Vale Cerejeira contornava a lagoa cársica, assoreada nos últimos anos na ligação ao entroncamento para a Costa,  Fonte da Costa, Albarrol e  Bairro de Santo António, onde passava a estrada real.
Havia de voltar com a minha querida mãe a 21 de abril de 2015 a recordar boas pessoas no repto nesta vida tudo um dia acaba! Tinha falecido na véspera o seu primo António Lucas, conhecido por "António do Vale" nascido no Vale, na Mouta Redonda, freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião. Da sua  linhagem de apelido "Lucas" só resta a minha mãe com 80 anos que não foi contemplada com o apelido, apenas Afonso.Em tempo de Pascoela, em fim de tarde, caminhada a redescobrir outra vez o Lugar de Calados a noroeste do Escampado de Belchior, em Ansião. Sitio altaneiro rodeado de carvalhos centenários com exemplares a rondar milenio onde ao alto fraguedo em sítio altaneiro se encontra a ruína de casario concentrado a ladear o caminho vestido de grandes lajes,  infelizmente alguém deixou lixo de obras que o tempo se encarregou em desvirtuar. Do complexo ruinal  resta uma coluna redonda de pedra miúda,  assim outra havia nuns barracões do meu bisavô ao Alto a metros do Vale Mosteiro junto da estrada real, uma janela de avental ladeada por bancos namoradeiros, um poço de chafurdo muito interessante por ser típico da região de Sicó, lamentavelmente em parte atulhado com telhas que o dono ali depositou quando mudou o telhado de sua casa, havia um forno isolado, seria comunitário, actualmente já nem se deslinda pela vegetação e a norte um  pequeno poço, do engaço? O tardoz de todo o casario quer a norte quer a sul se mantém cercado por correnteza mural apenas com uma porta de acesso. Rodeado de olival onde se cultivava o trigo e centeio para o pão e frondosos carvalhos para alimento dos porcos em local soalheiro, abrigado de bons ares, o senti mítico!
Na esperança que a minha querida mãe viva com saúde ainda  mais uns anos a fazer fé no primo que faleceu a um mês de festejar 100 anos, a quem rezámos em voz alta e deixo flores da sua e minha Mouta Redonda. Descanse em paz.
A minha mui amiga Elvira André deu-me parabéns por falar das Coisas que também Gosta ligadas à sua família. Esta aldeia foi do seu avô José Marques André , herdada pela sua tia Elvira que vendeu ao primo Chico Serra.
O nome da aldeia - Calados 
Pode advir por ter sido povoada por judeus aqui aportados na centúria de 500 expulsos de Espanha com estigma calado para não correrem riscos de ser denunciados à Inquisição, cuja alcunha  ditou o apelido em Ansião. No costado norte da aldeia a caminho da Fonte da Costa existe ainda uma grande quinta do Dr Calado. O ano passado voltei sozinha porque a D. Elvira falou-me do poço de chafurdo e das últimas moradoras duas irmãs de apelido "Varzes" muito pobrezinhas, se recorda da sua avó aqui vir trazer-lhes comida. Ainda me disse que na família corria a história que aqui se tinham refugido fugidos de guerras de Espanha. Em finais de fevereiro depois de um bom arroz de cabidela que a minha querida mãe nos presenteou fomos até à Costa, na volta pedi à minha irmã para me deixar apeada ao cruzamento para passar pela aldeia mais uma vez onde me questiona se vou sozinha para logo o meu marido se apear comigo  para a conhecer pela primeira vez, eu já pela 4ª . A  crónica retrata a aldeia desertificada com fotos das 4 visitas.
Bifurcação do caminho do Escampado dos Calados na esquerda e na direita para a Ferranha 
Caminhos debruados a muros de pedra seca onde as juntas de bois do primo Lucas nascido em Lisboinha e do vizinho Chico Serra, há muito os deixaram de percorrer, por isso se mostram em alguns sítios invadidos por arbustos e silvedos... vimos-nos aflitas para passar a caminho da Ferranha, onde à extrema da fazenda da minha irmã  a minha mãe me diz " será a última vez que por aqui passo..."
Quelho para Escampado de Calados cercado de muros de pedra seca das courelas de olival...
 
  Aqui e ali grandes lajes naturais a revestir o chão
 Alguém sem escrúpulos aqui deixou entulhos de obras...
Na 1ª vez que aqui vim na frente do casario o grande lajeado havia também entulhos que felizmente o tempo se encarregou em dissipar...
Avista- se o complexo ruinal do que foi uma aldeia de casario concentrado onde apenas havia um forno que seria comunitário, e agora já não o distingui, pela vegetação. O dono tem o hábito de proceder a limpeza antes da Páscoa.Se tiver tempo voltarei para ver as flores...
Nesta aldeia  viveu uma pequena comunidade judaica onde hoje é uma imensa ruína .

Poçito do engaço?

Esta casa da família de João Marques André, com porta e uma janela de avental, fiquei com a impressão que o lintel da porta tem algo esculpido, porém com os líquenes não distingui nada...
               
                  
Sentei-me num banco namoradeiro, quem antes aqui se teria sentado? Um ascendente meu de apelido "Rodrigues", certo aqui viveu a família "Varzes"e "Bicho", talvez "Mendes" , "Silveiro" , "Assumpção" e...
 E ainda fui espreitar pelo caixilho da janela como seria a vida aqui noutros tempos...
 Defronte outro casario onde já lhe foi retirado pedras da janela
Uma coluna em redondo, grossa feita de pedra miúda.Muito antiga, só conheci outras assim num barracão do meu bisavô Elias Cruz ao Alto da vinha, que antes pertenceu à herdade do mosteiro.
           
 Envolta em  frondosa vegetação...
              
 Janelas e portas abertas...e entaipadas de pedras
              
              
              
              
 Absides de concavidade, vulgo prateleiras em pedra nas paredes
                           
O lado sul verdejante
Reentrância estreita acima do lintel, uma caracteristica da arquitectura ancestral que desconheço a função.
Entrada de ar?
Poço de chafurdo a sul do casario. De formato redondo com escadaria de pedra sobre pedra seca que se encontra pouco visível por estarem cobertas por musgo e outra vegetação.
Lamentavelmente o dono pensando que fazia bem o entupiu mais de metade com a mudança de um telhado...
                                     
A escassos 2 metros encontra-se outro poço de diminuta dimensão em formato de fole revestido a cerâmica, pode ser a mina do poço principal.
Pedaços cerâmicos grossos em aventar herança romana?
 Vista panorâmica dos dois poços apesar de pouco nítida pela vegetação
Vista de sul o mural de casario cerrado de poucas aberturas tal como o era a norte.Interessante a parede com aberturas minúsculas em quadrado, típicas da arquitectura ancestral, serviam pra na necessidade de lhe colocar um sobrado enfiavam os barrotes nos buracos, deviam permanecer (fechadas) em novas reconstruções para se entender como viviam as gentes que aqui se fixaram.
Deixei a aldeia desertificada pelo quelho que faz a ligação ao Bairro de Santo António
         
 Céu vestido de ramagens nuas de carvalhos
 O quelho apresenta também lajeado e traves em pedra para não se escorregar, tudo foi feito a preceito
 Um carvalho secular cortado há dois anos
  Outros degraus de pedra
 A minha pegada ecológica num quelho ancestral
Deixei o quelho pela descida da encosta já afogueada pelo passo apressado saciada a admirar muros de pedra solta bordados com musgo e hera na sombra de muito carvalho secular com o chão bordado a salpico de orquídeas e  jacintos silvestres até que vejo a marcação do trilho catalogado para caminhadas onde me interrogo se o pelouro da cultura tem conhecimento da ruína desta aldeia de passado importante na comunidade judaica que viveu em Ansião e dela a história nada reza ?
Quelho de ligação ao Vale Cerejeira a nascente

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