quarta-feira, 21 de março de 2018

O Ensaio no associativismo do teatro e da música de Ansião

O primeiro conhecimento de associativismo amador na vila de Ansião
Excerto do livro Estremadura de  Alberto Pimentel na sua estadia em Ansião  (...) Não há Teatro. Em 1903 fez-se a tentativa de fundar  um Club - tentativa que não sei ao certo se chegou a vingar.Até essa época, e talvez ainda  hoje, o ponto de reunião à noite era a Farmácia Lima.
O Ensaio
Foi construída no quintal da residência paroquial,  expropriada após a Republica,com janelas a poente, fato que estranhava em criança quando ao beco entrava no portão para o correio velho. 
Conheci o Ensaio como sala de teatro amador e sede da Filarmónica Santa Cecília.
A minha mãe contava-me que aqui assistiu a teatro com gente de Ansião, actores amadores, Artur Paz, "Júlio do 29" com a irmã Fernanda , César Nogueira e,...A crónica  pretende realçar esta gente e o seu talento abençoados de genes com ascendência judaica em várias facetas e artes; escrever, declamar poesia, veia musical, actores e ainda o associativismo, amigos para a vida, que hoje deixa inveja aos demais, essa alegria que sentiam e viveram na sua amada terra de Ansião. Recordo de ouvir falar que a mãe da Anabela Paz, tinha um baú com as roupas e acessórios para o teatro. Julgo nesta arte apenas a família Valente, ao Fundo da Rua, deu continuidade ao teatro amador, com rábulas ocasionais por altura de festas em família ou com amigos, tive o privilégio de assistir no cinquentenário da minha irmã, no seu salão, a uma rábula para crianças e adultos com a Anabela Paz, vestida a preceito,  no final de rosa vermelha na boca, com a minha irmã a fechar a cena, e havia de me deixar a mim e ao público de boca aberta, atrevimento maior de improviso desliza  no corrimão de inox desde a mezanine, envolta em grande pano de cetim azul clarinho trazido pela tia Amélia do Brasil  em voo esvoaçante, mágico, sobrenatural, autentica princesa!
Num dos últimos espectáculos que aqui assisti, o ilusionista solicitou um voluntário, apressou-se um rapaz da Sarzedela-, sentado no palco, num instante o vi a comer uma batata crua com pele..
Imóvel deixado em total abandono foi vendido. Em agosto de 2014 começaram as obras de requalificação do edifício para a restauração. 
 Citar excerto de http://www.bmfigueirodosvinhos.com.pt
Jornal A Regeneração nº 0909 de 15 de outubro de 1956
«Grupo de amadores do teatro ansianense Artur Paz actor e ensaiador . 
Fernando de Araújo Miranda, Armindo Simões Rodrigues, João Monteiro, Fernando Silva, Álvaro Rodrigues Carvalho, Armando da Veiga Cardoso, Germano Simões Pires, e ainda os componentes da orquestra do mesmo Jaime Freire da Paz. 
Abílio Duarte da Silva , António Duarte da Silva, e António Maria Coutinho, que está chegada a época propicia para dar inicio aos ensaios daquele Grupo cénico, afim de poderem este ano mais umas récitas que continuem o brilhante prestigio naquelas que levaram a efeito no ano transacto e já no principio deste.Daqui se pede a todo os elementos do Grupo que não desanimem , pois que , da união , boa vontade e espírito amador de todos , se fará mais e melhor pelo Grupo de Amadores do Teatro ansianense»

Récita ao Comércio de Ansião
Do início década de 40, pelo verso ao campo de futebol, doação do cunhado do Dr. Adriano Rego.Incompleta, graças à Sra D. Piedade Lopes, minha vizinha em Ansião, com mais de 90 anos que a cantou para eu escrever. Versos da lavra dos irmãos poetas João e Virgílio Valente (pai) do Fundo da Rua.
 
Virgílio és cantador
Cantas bem ao coração, canta-me lá por favor
O Comércio de Ansião, o Comércio de Ansião

E o Comércio de Ansião, cantas tu, cantas eu
Cantas lá óh Fernanda, não digas que te esqueceu
Fernando José da Silva, Fernando José da Silva
O comerciante afamado, no armazém tudo é bom

E na loja tudo é  do Melado
Ourives de profissão lá dos lados da Tojeira
É um grande calmeirão, o Diamantino Ferreira

José Maria dos Santos é da cor da chaminé
Barrigudo e come tanto, vende solas e caxinés
Comerciante afinado  lá de cima da Beira
Também tem o seu pecado, também tem o seu pecado
O prudente do Oliveira, tem dinheirinho de sobra

Anastácio Gomes Monteiro
É direito, direitinho, que nem um fuso
Quando conserta um relógio, quando conserta um relógio
Sobra sempre um parafuso

O Sr. Dr. António Amado de todos és estimado
Alegre sempre na sua chocolateira
Sr. Dr. Adriano irá o Dr. Botelho
Fazer em cima de um telho o campo de futebol?
..........................................................
                                                 
Prédio com mansarda  que foi do Sr. Alfredo Rodrigues e da esposa "Sra D. Augusta do 29"
A alcunha retrata o número da lanchonete no Brasil, segundo nota do seu neto Alfredo Lopes. Agora varreu-se a memoria se foi este avô ou o bisavô. Logo que descubra venho emendar. Mas, de quem teria sido esta casa no passado, a quem a compraram, pois não sabemos...Aqui nasceram os irmãos actores " Júlio e Fernanda 29" e trabalharam no estabelecimento do pai.
A casa comercial de miudezas e tasco da família com alcunha "do 29" viria a ser alugada  e mais tarde vendida, ao Alexandre e Helena, que a exploraram no meu tempo de cachopa; taberna e mais tarde acrescentaram um Café, onde fui amiúde, tinha um reservado com vidros fosco e na ligação do café para a taberna tinha  um frigorífico Bosch. O prédio anos mais tarde voltou a ser dos antigos proprietários, onde se mantém.
O "Sr Júlio 29" 
Falei com ele algumas vezes, foi  meu colega bancário. Muito amigo do Dr. Travassos que visitava amiúde.Julgo que deixou alguns escritos, que deveriam ser reeditados igualmente como os livros de César Nogueira, com estórias de um passado de geração anterior à minha, lacuna que falta reviver de novo sobre Ansião.

Maria Fernanda Rodrigues Lopes nascida em Ansião no mês de julho de 1928 podia ter sido uma grande atriz, pela carateristica "fogo" do seu signo, e pelos papéis desempenhados com brio, no palco do Ensaio.
Foto retirada do álbum do Grupo Ansião
Onde ainda fiquei a saber que era poetisa pela partilha de Rui Valente "Esta Senhora, por ocasião duma excursão ao Santoinho, fez uma quadra para cada excursionista. 
A minha era assim:
E o Ruizito do Valente,
Coitadito a vomitar,
Na fanfarra vai à frente
E nunca o vi enjoar
Livro da irmã "Sra D Fernanda 29"editado pelo filho Alfredo Lopes
A D. Piedade Lopes, sua cunhada, emprestou-me o livro e  foi uma delicia a leitura com relatos do dia a dia que aconteciam sobretudo com os filhos. 

Família Freire da Paz
Músicos, a tocar violino e viola
Praça do fontanário de ferro
Os irmãos Freire da Paz da Praça do Município: Artur, Ilídio, António, Adolfo e Jaime . O Ilídio tocava violino acompanhado pelos irmãos à viola, davam concertos no sobrado da casa de gaveto, não se identifica na foto é a seguir para sul,  no passado em 600, do séc. XX, deslindei foi da família Freire
 
Ilídio Paz a tocar violino
Quase perdida no meu tempo a tradição em Ansião de envolver os cidadãos no teatro amador. Recordo vierem atores de Lisboa fazer umas rábulas nas Festas de Agosto,  com o palco em cima das casas de banho do recreio dos rapazes e também na Placa da Praça. Deixei Ansião em 1978. Existe há anos desde julgo 1997, o Grupo amador de Teatro Olimpo, que não tem sede, ocupa o Centro cultural.
Mas, quando tudo começou nada faltava; desde o ensaiador, a orquestra e os actores e ainda o desfrutar de uma sala acolhedora no Ensaio de varandim suportado em ferro forjado ...
Mantendo-se o prazer da música vivo na orquestra ligeira e filarmónica de Ansião.
Mas julgo violino não se toca (?).Quantos bons actores e actrizes se perderam depois deste grupo amador? Recordo a minha filha na pré  adolescência fazer teatros no colégio , no papel de encenadora, actriz e ainda do guarda roupa, pois levava sacos de casa cheios de roupas para as colegas vestirem.Quando a instigava a razão de levar a roupa dizia-me que as colegas não tinham a mesma responsabilidade que ela, sempre se esqueciam...No fim de semana passado assisti a uma cena teatral com os meus netos Vicente e Laura  com apenas 3 e 2 anos  em palco o sofá, onde tudo foi demais perfeito, bem sei que os pais os levam ao teatro, seriam resquícios do que viram da última vez e os estimulou, com tanto àvontade e graça me envolveu na sua cumplicidade teatral para me deixar francamente emocionada!
Mas, eu nunca fui mulher de Teatro, a veia vem de outro lado!
Nem poetisa, esses foram o meu pai e a minha mãe igual "leão" de signo, poetisa com facilidade.

FONTES
http://www.bmfigueirodosvinhos.com.pt  
Testemunho de D.Piedade Lopes

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