terça-feira, 27 de março de 2018

O farmacêutico Francisco Teixeira Botelho em Ansião

Falar do farmacêutico do meu tempo de criança na vila de Ansião no intuito de não se esfumarem as memórias de gente que aportou a esta vila no dever de as aflorar. Personagem distinta julgo jamais foi destacada na visão que bem merece em lhe acrescentar informação, debalde, pouco, quase nada, encontrei escrito sobre a vida e estada em Ansião. O título de ilustre apenas privilégio de alguns, assim considerados.Sem rigor desconheço o que a palavra ilustre retrata, melhor, não sei a bitola que foi usada para distinguir outros concidadãos para os vir a considerar neste reconhecimento pessoas  nascidas ou aportadas a Ansião. Para mim o conceito de ilustre é todo aquele que deixou obra feita ou prestação de serviço de interajuda ao povo, num tempo passado beatizado e de incultura, sem receber gorjetas nem afins.
O Dr Teixeira Botelho aqui aportado como farmacêutico mostrava-se homem de extraordinária figura, e boa personalidade, pacato, tanta vez o vi passar de casa para a farmácia ou vice versa. Vestido de perfil e carater selecto, a soberba alta silhueta, homem mui distinto no estar e no falar, um doutor, como se dizia naquele tempo pela distinção dada no elegante cumprimento e no trato no atendimento,  casado, a esposa de nome Domitilia , o povo dizia que só saia de casa para atravessar a rua para o quintal do Sr Quintela onde o marido estacionava o carro, seriam naturais do norte, teria aqui aportado para exercer a profissão, tendo vivido provavelmente desde o inicio da década dos finais de 30 (?) até se reformar.Não teve filhos.
Excerto de http://pesquisa.adb.uminho.pt . Inquirição de genere de Francisco Teixeira Botelho
«Código de referência PT/UM-ADB/DIO/MAB/006/09112 Datas de produção 1731-11-20 ? a 1731-11-20 ? Âmbito e conteúdo. Filiação: João Correia Mesquita e Joana Botelho. Natural e/ou residente em CARVA, São Sebastião, actual concelho de MURÇA e distrito Vila Real. Outra informação: Árvore Genealógica.» Alvitra este excerto apesar de não descrever a árvore genealógica desta família, detentora dos mesmos apelidos, a sua provável origem atribuída a norte em Carva, Murça. Em abono da verdade já assim pensava que tinha raízes nortenhas para agora ficar com mais certezas. Desconheço se foi muito ou pouco participativo na vida social na vila de Ansião, no seu tempo nem sei se ainda haviam as palestras do Partido Republicano na casa do grande impulsionador - Adolfo Figueiredo sita defronte do fontanário de ferro, na casa de grande letreiro aonde aos domingos muitos ansianenses se reuniam, e disso é prova esta fotografia atendendo aos trajes compridos anos 20(?).

No mesmo falar desconheço se foi frequentador assíduo do teatro amador no Ensaio, se era apreciador da Filarmónica, apenas encontrei uma notícia retirada do  jornal de Figueiró dos Vinhos Excerto do Jornal o Figueirense  de 15 de setembro de 1952 «(...) os sócios do Clube dos Caçadores em Ansião acorreram em grande número, acompanhados de suas famílias, lembrando-nos ter visto, entre muitos, os Ex.mos Srs. Drs. Adriano Rego, António Amado, Teixeira Botelho (...)» Dita o excerto que foi sócio do Clube dos Caçadores fundado em 1950 pelo colega médico Dr Fernando Travassos entre outros de Ansião, inicialmente o Clube se veio a instalar em regime de aluguer na casa mandada construir pelo Dr Pascoal José Freire de Mello dos Reis, que não a viu acabada, para um sobrinho de Almofala a ter vendido nos finais do século XIX ao  pai do jurista de Ansião Júlio de Lemos Macedo.
Acredito teria sido frequentador dos cafés do Calado e do Valente e ainda amante das tertúlias de poesia e de cariz politico que então se viviam em ascensão.Não foi professor no Externato António Soares Barbosa, pela actividade que se ocupava , mas podia ter sido. Em idade da reforma vendeu o alvará da farmácia, a minha mãe então viúva, ainda ponderou a sua aquisição, a pensar que alguma filha se licenciasse na especialidade...Expectativas goradas, recordo o valor sendo alto se mostrava simpático, mas que não tínhamos. Antes de deixar em definitivo Ansião em meados da década de 70 doou um lindo armário em nogueira ao seu grande amigo o Dr Fernando Travassos, que a sua governanta, a Srª D Lurdes veio a oferecer para o Espaço Museológico, debalde não o enxerguei...
Quando deixou Ansião  corria na  voz do povo" foi-se embora com uma mão atrás e outra à frente (?), valendo-lhe para se suprir uma irmã que tinha em Coimbra..." O que se estranha, sem estranhar ouvido da boca de quem o conheceu melhor do que eu, sem papas na língua sobre as alegadas e substanciais razões de um negócio sem rival na vila que se revelou fracasso para o seu dono...Alegadamente perpetuado pelas artimanhas de alguém que soube aproveitar a vantagem de um homem integro, bom, abnegado para lhe passar a perna nas contas...
Persistem ainda hoje genes dos vários clãs dos povoadores da comunidade judaica que se estabeleceu em Ansião. O clã de linhagem dada pela fisionomia de alta silhueta e caracter do Dr Teixeira Botelho serão os mesmos genes que também carrego por parte paterna natural de Ansião, mas  sendo o Dr homem oriundo do norte se explica no passado de Ansião migrantes do norte para esta região, de Murça, Macedo de Cavaleiros e outras terras, ainda hoje há gente igualzinha nestas terras com outros em Ansião. Todos os clãs se distinguem pela personalidade e aspecto físico, porque cariz inteligente todos aparentam ter  talentos, a distinção está em ser caracter bom e menos bom, em que os primeiros em nada se assemelham à linhagem do clã a que supostamente pertence o Dr Teixeira Botelho.
Em verdade reconheço que me  falta a lábia para enganar seja quem for, por isso não tenho nenhum jeito para ser dona de negócios, dou mais do que recebo, uma eterna fiel aos ascendentes judaicos do clã do Dr Botelho, cujo perfil ainda se existe em alguma descendência, disso não me suscita qualquer réstia de dúvida. 

Excerto http://www.cdf.pt «Em maio de 1928 aparece o nome de Francisco Teixeira Botelho, na lista de farmacêuticos convidados para a associação de farmacêuticos do centro de Portugal.»
« em  1939 aparece no maço de carteiras profissionais Francisco Teixeira Botelho
Com a Carteira n.º 539, do Sócio N.º 1160
Além da inscrição e no maço além dele aparecem também:
Antero Mendes Namora do Alvorge
José Augusto Lopes do Rego em Chão de Couce »
Os nomes do colegas de Cabaços e Maças de D Maria não os consigo na totalidade decifrar.

A Farmácia do Dr. Teixeira Botelho em Ansião sita em plena Praça do Município
Agora ornada a porta com flores da nova loja...
Prédio que foi herança da D. Clarisse Veiga, casada com o Dr Alberto Lima. A casa onde morava a D Angelina Franco, era a cocheira da casa.
A minha querida mãe sentada em banco de madeira
A Farmácia Botelho funcionava no r/c da casa sita ao meio da foto, que agora se mostra de porta enfeitada. No átrio da entrada haviam dois grandes bancos corridos fazendo-se a divisão do atendimento ao público por platibanda de balaustres em madeira com portinhola, como havia igual na Matriz para depois ao ser introduzido outro altar na capela mor foi retirada, sitio de poisar as mãos na espera de vez no atendimento, as vezes que aqui entrei para aviar algodão hidrófilo, palavra que repetia sistematicamente até ser atendida para não me esquecer mas na hora atrapalhada a pronunciava sempre mal-, o algodão vinha numa latinha, que depois de vazia se enchia com grilos apanhados com um junco de nó na ponta ao adro da capela de Santo António, para caçar passaritos em piscussanhas armadas com a minha irmã nos valados de figueiras e silvados. Também comprava comprimidos Melhoral e Saridom para a D. Maria Augusta Abreu, a chefe dos Correios, senhora natural da aldeia de S.Simão. Recordo as vezes que me perdia a contemplar os belos armários de madeira com as caixinhas arrumadas, ao meio a grande secretária com pedra mármore branca de laivos negros, antevia-se pelo tardoz uma porta de ombreira redonda de vidro fumado e espelhado em preto de letras douradas e brancas com o letreiro da farmácia, através dela quando estava aberta se descobria o laboratório, onde havia outra secretária e armários repletos de frascos de tampa grossa, potes e mangas de faiança e ainda uma balança. Um dia numa receita depois de tirar uma embalagem do armário foi ao laboratório misturar água no frasco e ficou uma espécie de xarope...

Foto da Praça do Município de Ansião
Provavelmente esta foto será da década do inicio de 20 do séc XX , porque a casa do Sr Franco foi construída depois de 1913.Apesar de espelhar mais o lado direito, mostra o lado esquerdo onde se veio a instalar a farmácia, nota-se por cima das portas do r/c uma cimalha de friso relevada sobre o comprido. 
O Dr. Botelho morou em regime de aluguer ao início do Cimo da Rua no 1º andar de uma casa de uma irmã  ou filha de Abel Falcão dos lados do Espinhal, na altura um outro seu irmão licenciado foi presidente da câmara em Ansião e  veio a ser Governador Civil em Leiria, casado no Avelar.
Esta casa reporta pela arquitectura aos tempos áureos do enriquecimento da emigração, não sei se foi feita por ele ou já a comprou. Na verdade sempre achei a casa enigmática, de r/c e 1º andar com escadaria de pedra, lindíssima de gradeamento em ferro ornado de trepadeiras, e a sul para a rua que desce ao Ribeiro da Vide tinha um redondo que nunca entendi a sua funcionalidade, o enigma era esse, depois de vendida sofreu remodelações, julgo com garagens e um terraço...Os pais da Maria Bandeira viviam no R/c com a filha até esta se casar.Disse-me que a dona se chamava Conceição, ao que parece teve problemas financeiros por isso arrendou a casa, segundo a Maria , a mãe ia pagar a renda à casa do Bastiorra, ao Moinho das Moutas onde ela vivia num quarto alugado.
Casa onde viveu em regime de aluguer
Depois foi vendida. Em junho de 2017 sofreu nova remodelação do telhado

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