sábado, 26 de maio de 2018

Arte de respigar o rebusco do desperdicio dos outros!

Há filmes que nos deixam a pensar como o de ontem na TV2 de Agnès  Varda - Os respigadores e a respigadora de 2000.
A grosso modo respigar é a apanha dos restos após efectuada a colheita de legumes, fruta ou cereais cujos donos deixam ficar nos campos,  árvores e nas estufas, pela falta de calibre, defeito ou excedentário para as cotas de mercado porque baixa o preço.
A palavra rebusco surge no mesmo âmbito que o respigo, mas opõe-se-lhe num sentido, pois refere-se ao que vem do arbusto ou da árvore e não ao que vem directamente da terra ;cereais, batatas, e das estufas; tomate, pepinos, pimentos, morangos.
Rabiscar é o respigar e rebuscar de gente pobre para se alimentar do desperdício bom que outros deixam. Em França são sobretudo comunidades de minorias entre as quais ciganas e desempregados que vivem em auto caravanas.

Agnès Varda, a autora do filme
Pode a  imitar uma respigadora
A autora partiu de um célebre quadro do pintor francês Jean-François Millet.
As respigadoras na apanha da espiga para  fazerem pão . 

Quadro de Silva Porto - Ceifeiras
Rodado em França dando uma visão dos respigadores de campos, de todas as idades, homens velhos, e mulheres jovens em que alguns cantam e outros em silêncio solitário apanham desperdícios, rebuscam nas sobras dos mercados, procuram os restos nos caixotes do lixo para se alimentarem (são deitados para o lixo produtos embalados com datas fora de validade mas que na realidade tem mais uma semana para se consumirem), tudo isto acontece no meio rural e urbano e o fazem por variadas razões: necessidade, prazer, hábito cultural transmitido de geração em geração e,..Respigadores contemporâneos indignados perante o desperdício dos excedentes da superprodução, em abono da verdade muito se poderia reaproveitar, como baixar preços em +produtos com pouca validade e baixar na fruta quando está a ficar passada e o mesmo noutros artigos e nos campos é um atentado deixar na terra toneladas de batatas, melões, tomates etc quando o Mundo com milhões de pessoas a morrer de fome. Que aflição!
Fatal despertar para esta realidade moderna em respigar breves momentos de lembranças da minha meninice com a  da  "velha da Pereira"  mulher que conheci a caminhar ao longo da estrada, descalça, vestida de avental com o laço a baloiçar pelo andar forte, lenço na cabeça e taleigo no braço, ar sisudo, dela falava o povo  que fazia rebusco " depois das vindimas apanhava os bagos e fazia uma pipa de vinho" ...Por altura das vindimas dos meus pais os mais velhos transmitiam  ensinamentos como o dever em me baixar e apanhar todos os bagos, apenas deixar os galhos, há quem lhe chame cadetes, se os pássaros não tiverem fome ainda se comem no tempo da apanha da azeitona ... Ritual bem aprendido, ainda hoje tenho dificuldade em desperdiçar  seja o que for, ao jus do ditado popular da minha avó materna Maria da Luz da Moita Redonda, Pousaflores " aproveita o que não presta, saberás o que te é preciso" já me aconteceu deixar de ser tão guardadora de coisas para em rotina de limpezas depois de tanto tempo comigo chegar o dia de as deitar para lixo, para repensar melhor e voltar a guardar, e outras vezes concretizar para dias depois sentir o que tinha deitado fora o que me fazia falta!
Na minha infância e adolescencia havia muita pobreza numa região de minifúndio, onde tudo era aproveitado, porque todos tinham animais domésticos, nada se deixava de fruta por colher nas árvores nem na terra. Ainda assim existia o rebusco sobretudo nas vindimas e na azeitona.E se pudessem apanhar nozes não as deixavam ficar no chão. Óbvio que esta tradição de respigar em grandes campos em França mostra-se outra realidade bem diferente pelas cotas de mercado em que nos vinhos os produtores só podem produzir uma cota estabelecida em anos de grande produção optam por deixar os cachos nas vinhas... que depois outros respigam.
Sinto-me indubitalmente uma respigadora ao não resistir em reaproveitar sobras de comida e praticamente tudo em casa e parte-me o coração ver constantemente na rua que os demais não sejam assim...Apanho de quando em vez  alguma coisa a que de todo não consiga resistir debalde sempre com grande pena em deixar outras valiosissimas, na verdade o meu marido assusta-se com este meu ímpeto, já eu acho que é sinonimo de liberdade, saber reconhecer valor ao que outros desprezaram, seja por não terem espaço ou cansados, no ganho de novo brilho e estima que o meu olhar agraciou.
Desde sempre objectos guardados em sótãos até ao dia que foram parar a feiras da ladra onde alguém com olho clínico lhes distinguiu o valor merecido ...«Um  Renoir comprado a cinco euros por uma Professora que gostou da moldura da pequena pintura que comprou juntamente com bonecos de plástico numa feira da ladra. Descobriu depois que tinha sido roubada do Museu de Arte de Baltimore e que valia cerca de 70 mil euros, foi devolvido ao museu.»
O quadro trazido por um emigrante de França vendido na feira da ladra em Lisboa por uma bagatela, veio-se a descobrir que tinha sido pintado sobre outro valioso de metal...
E  lembrar o tempo da pobreza das crónicas medievais da feira dos cereais  na Praça do Comércio  em que o cronista relatava " os pobres esgravatavam o chão para apanhar grãos... "

Respigar batatas
Toneladas de batatas de calibre inferior, grande ou pequeno deixadas para apodrecer, amontoam-se por entre rastos de  tratores e de arrastadeiras  em terreno macio onde resvalam deixando muita batata na terra, que os respigadores apanham para a sua subsistência. A autora encontrou batatas gémeas que chamou "coração" na ligação aos afectos!
A autora a filmar o desperdício de toneladas de batata.Num hiato de 18 anos para começarem a aparecer no mercado  baratas de calibre muito grande,a preço convidativo, ainda assim o devia ser mais barato porque as pequenas já há anos que aparecem para os assados e são bem caras.
Se alguns produtores se manifestam receosos face ao rebusco nas suas propriedades, um advogado elucida que o Código Penal Francês autoriza o respigo nos campos e nas estufas após colheita, do por ao nascer do sol, a todos os que o façam por necessidade, incluindo os que o fazem por prazer, pois este será sempre considerado uma necessidade.   
Os catadores de lixo 
Respigadores contemporâneos, os catadores que se dedicam a recuperar e a reciclar sobras e detritos nos caixotes do lixo e monos deixados na rua onde todo o abandono é considerado sem dono, logo quem se quiser dele apossar está no direito de o fazer.  Não gosto de ver gente que vasculha os monos apenas para partir em plena rua televisores e outros objectos com o fim de lhes retirar o cobre deixando ficar no chão todo o despautério de cacos e vidros...
Artista plástico russo a viver em França com objectos que apanha no lixo, sobretudo bonecas, fez estas esculturas de arte reciclada surgindo assim associada à recuperação de objectos com criatividade na escultura,  pintura (técnica mista) mas também na bricolage  na recuperação e reciclagem, integrando o domínio da descoberta e prazer do respigo, do rebusco, do consumo ou o processo criativo por todos fazerem parte da experiência nova em reinventar ocupando uma forma de preencher o vazio causado pela reforma, ou a falta dela, na sua espera por exemplo-
Respigadores da sociedade, tão distintos e tão semelhantes aos que aparecem nos quadros expostos nos museus. 
 Um relógio sem ponteiros que rebuscou numa lixeira
«Decide trazer do lixo para sua própria casa duas cadeiras e um relógio sem ponteiros o mote das mais belas metáforas do filme: as cadeiras remetem para a quietude e espera, ao contrário do relógio sem ponteiros que evoca o desejo de parar o correr do tempo, reter a memória e o envelhecimento, despistar a morte que ronda seus passos e ameaça retirá-la de cena – tanto do cinema quanto da própria vida.»
Varda brinca cria ilusão óptica ao apanhar camiões com a sua mão enquanto conduz na autoestrada...
Encanta-nos a autora Agnès Varda com um gesto tão simples e divertido através de suas mãos enrugadas como se elas próprias fossem uma lente de câmara, ao captar os camiões que passam na estrada,como se fosse um gesto de uma criança...
Por último o filme dá a noção de rebusco também aplicado em sentido figurado às coisas do espírito e da alma ao rebuscar factos, gestos, e memórias. Agnès Varda também se rebusca a si, num exercício de auto-retrato. O seu projecto tal como ela nos dá a conhecer consiste em “com uma mão filmar a outra” As memórias de uma mulher que, aos 72 anos, lê nas suas mãos enrugadas as marcas implacáveis da passagem do tempo e o anúncio inconfundível do fim, mas sem fim, em que a idade não a limita em se sentir eternamente jovem, apesar dos efeitos da velhice estes não colidem na sua necessidade de criar.

Julgo que as palavras Respigar e Rebusco tenham dado origem ao Refugo- nome que se dá nos Correios a correspondência com nome e moradas insuficientes , em espera de ser reclamada. E à palavra Restolho - nome dado ao que sobra depois de cortado o milho, os canoilos,e outros caules secos para os animais.

Reconheci-me extraordinariamente nas atitudes e no elixir da juventude em idade madura da autora !

Fontes
Filme
https://pordentrodemim.wordpress.com/2015/03/19/les-glaneurs-et-la-glaneuse/ 

quarta-feira, 23 de maio de 2018

A lenda do Moinho das Moutas ainda está por escrever na boca de Américo Antunes!

Para não se perderem as Memórias do rico passado de Ansião.
O seu nome na toponímia é  Moinho das Moutas e se fidelizou em Moitas como outras palavras na mesma terminação "ou em oi" que se usam na actualidade. Antigamente a palavra ancestral - Mouta como outras na região, consta  em assentos  antigos. O que realmente vale a pena manter vivo para as gerações vindouras, além da preservação dos nomes toponímicos são as tradições.
A crónica tem o mérito de prestar uma sentida Homenagem ao que foi um bom amigo virtual da Página do Facebook, igualmente apaixonado por esta terra e suas gentes - o Saudoso Américo Antunes que nasceu no Moinho das Moutas. Já falecido a quem dediquei a minha última mensagem - Sentidos pêsames à família e amigos. Fiquei chocada com o inusitado do desfecho, pois à dias acabado de fazer tratamentos estava animado e cheio de garra na luta deste maldito mal .Um homem que faz falta aos Amigos de Ansião no teimar das tradições, dos valores e das suas gentes. Paz à sua alma. Fiquei mais pobre no meu leque de bons amigos.Mais uma estrelinha a brilhar no céu. Um dia encontramo-nos para me contar a lenda do Moinho das Moitas que na sua boca ficou ainda está por contar...
Recordar as suas memórias ao som de Daniela de Santos Ave Maria live...
A casa onde nasceu a 19 de Abril de 1946  ao Moinho das Moutas em Ansião
Onde antes viveu um juiz. Os pais seus casaram em 1945
Resultado de imagem para ansião moinhos das moitas o casario
Excertos retirados da sua Página Facebook https://www.facebook.com/americo.antunes2
Pela singularidade de ambos comungarmos a mesma cumplicidade por Ansião, tenha sido esta teimosia em partilhar os seus riquíssimos testemunhos, da sua querida irmã Odete Antunes  e de amigos das suas belas históricas,  que em vida nos presenteou a todos, e ainda das suas fotografias, tão grandioso legado que nos deixou que não se devem perder, antes valorizar, sem jamais pretensão de outra coisa que não seja reviver a saudade de pessoas e tradições  de tempos idos, sem  leveza de causar qualquer constrangimento a alguém!
Bela foto de um pavão  retirada da sua página
O primeiro pavão que conheci foi no Avelar em frente dos Correios que me desafiava a correr, tanto que os gostaria de novo voltar a passear pela vila...
Filarmónica Ansianense de Santa Cecília
Em dia de aniversário de 110 anos nas festas de Agosto de 2004 em Ansião com Elsa Rodrigues, Raquel Meireles, Dina Paz, Agostino Fazenda e Jorge Cancelinha .
Nesta foto ; Elsa Rodrigues, Joel Costa, Flávia Valente, Jorge Grunho, Marco Gaspar, Cândida Cancelinha e Marlene Évora.
Cantorias ao desafio em Ansião
Apesar de não me serem desconhecidos, apenas reconheço o homem do colete preto da família Fernandes, alcunha Saguim.
Testemunho da sua querida irmã  Odete Antunes 
Os seus queridos pais e mano na foto tirada na Casa de fotografia de Adriano Freire da Paz
«O meu pequeno " paizinho" que, enquanto o pai grande e a mãe grande se esfalfavam na luta da vida, para dar o melhor aos seus meninos, me mimava, inventava brincadeiras, ensinava a falar, amparava nos primeiros passos, ajudava nas primeiras letras... , sempre lado a lado, com tanto amor!...
 Hoje era teu dia de anos PARABÉNS MANITO! 
Eu sei que deves estar num lugar melhor...... 
Estejas onde estiveres contínuas com o mesmo lugar no meu coração!!!!!!»
O pai do Américo e da Odete Antunes em 1979
Onde teria sido captada esta foto tendo no tardoz uma casa alta de sobrado?

Maria Lucinda da Piedade a mãe  do Américo e da Odete Antunes
Testemunho de Mário Freire« A ti Lucinda, onde eu comprava as pastilhas Gorila antes de chegar a casa, e onde muitas vezes lhe pedia um copo de água...»


 O AMIGO DO POVO

«Ainda existe, tal e qual como era antigamente, e na pagina 4 lá está a adivinha e a charada combinada á sombra do castanheiro. 
Então o Ti Ambrósio lá vamos ter umas eleições autárquicas?
Pois é Carlos, é a conversa do costume: "Por uns alhos vedros melhor", " Mais progresso e bem estar para Beirais"." Estamos ao lado do povo de Albergaria" Etc
 De convencidos não têm nada...!Carlos, mas lata...! Têm tanta que dava para montar uma indústria de latoaria...!
"Até para a semana na taberna do Ti Godinho...»

 O jornal que eu via ler ao domingo debaixo da sombra da laranjeira o tio do meu pai o Manuel Silva no Bairro de Santo António.

O Sr Arcipreste Carlos Barata
«Esta foto, já bastante deteriorada, foi-me facultada pela minha amiga Lurdes Oliveira (café pastelaria Nabão - Moinho das Moitas - as melhores "lesmas" de Portugal). Aliás a Lurdes está lá ainda pequenina.
Nela, alem dos noivos, vemos o padre Carlos Barata (O Senhor Acipreste) figura incontornável do Ansião dos anos 50/60. Lembro-me da grande inauguração do relógio da torre, com 4 mostradores iluminados e que tocava cada quarto de hora. Uma grande festa com presença de figuras gradas da igreja e do regime.
Nós os miúdos, estávamos sempre à espera do sagrado "ite missa est", mas a prática a meio da missa também era interessante. O padre Carlos fazia sempre uma alusão ao calendário religioso (2.º domingo depois do Pentecostes, 1.ª domingo da Quaresma, etc.).
Depois vinha o anúncio dos casamentos, que terminava sempre com a advertência: "se souberdes de algum impedimento que torne nulos ou ilícitos estes matrimónios, deveis descobri-lo, sob pena de pecado mortal, a quem fizer denúncia falsa".
Vinha ainda o anúncio das intenções das missa da semana: "na próxima semana celebrarei pelas seguintes intenções: 2.ª Feira por alma de João Gaspar que foi do
Escampado de São Miguel; 3:º Feira por alma de Alfredo Godinho que foi da Lagoa, etc".
Antes de terminar, o bom do Padre Carlos, fazia ainda referência aos perdidos e achados que se encontravam na sacristia: "encontram-se na sacristia uma enxada rasa e um chapéu de homem que serão entregues a quem provar pertencer-lhe"
Ás vezes também havia comentários a alguma diretiva emanada do "Senhor Arcebispo Bispo de Coimbra"
Na minha fase do Externato Soares Barbosa, encontrávamo-nos muitas vezes, na secção de papelaria da loja do Ti Adriano Rodrigues, onde ambos íamos ver as novidades dos jornais e alguns livros que iam aparecendo. Havia sempre uma interessante cavaqueira, pois o S. Acipreste era um homem muito culto e conversador.
De notar que o Ti. Adriano Rodrigues, veterano da I Guerra Mundial, participante da batalha de La Liz, foi, ainda nos finais do Séc. XIX, um dos primeiros agentes nacionais da Livraria Bertrand. Quando estava na Guerra, escreveu uma carta ao meu avô Manuel Silva, onde dizia que havia de voltar, e para ele lhe guardar uma das cachopas do Casal.
»
Recordo-me dele já velhinho e do belo chalet ao Fundo da Rua onde morava .Está sepultado em Ansião. 

Casal das Sousas e os seus avós
Alguém sabe o rasto desta família que deu o nome ao Lugar?
«A foto recua no tempo, até aos anos 40, quando o Casal das Sousas era um lugar cheio de gente e de vida. Aqui temos, do lado esquerdo os meus avós Nastácia Marques (ou Anastácia, não se sabe bem) e João Antunes, os pais do meu pai, do meu tio Carlos Antunes e da minha tia Mariazé. Havia ainda o meu Ti Manel e a Ti Carmita que partiram para África e Brasil.
O casal do lado direito lembro-me vagamente  a Ti Clementina e o Ti Zé Saldanha... Viviam logo no início do casal, numa casa mais tarde habitada pelo Ti Carlos Saguim (Fernandes) em frente à casa da família Rato (Mendes). Eles morreram era eu ainda muito miúdo, teria uns 2 anos quando morreu o meu avô e uns 5 quando faleceu a minha avó Nastácia. Lembro-me que a casa tinha um relógio de sol por onde a minha avó se orientava no tempo e um varandim muito bonito.
No Casal das Sousas havia um senhor, de quem se falava muito em casa dos meus avós, que se chamava "Anastácio Serralheiro" . Era sobrinho do avô da Filomena Tomé, ( "Ti Francisco Serralheiro" ).»
Testemunho de Mário Freire « A Ti Lucinda da 'taberna' e a Ti Maria, do Casal, onde eu ia ao final da tarde buscar leite de vaca. Muitas vezes ainda assistia e tentava ajudar na ordenha.»
Odete Antunes a caminho do Externato na Rua Conselheiro António José da Silva.
O prédio que se vê já não existe era adoçado ao prédio onde funcionava o quartel da GNR, vidto pelo tardoz.
Segundo o testemunho da Dra Teresa Fernandes «Vivi nesta casa (onde funcionava o quartel) toda a minha infância e parte da juventude. Casa muito velha e sem condições mas com muito boas recordações. Aqui a traseira do antigo posto da GNR e as ruínas de uma pequena casa muito velha faziam parte da morada do Sr Armando Caseiro (latoeiro). A porta que se vê era da nossa cozinha. Confrontava com o grémio e ficava em frente da atual residência paroquial.»
Gentes do Moinho das Moitas nos anos 30
Rancho dos 14 magníficos amigos,vivos e actuantes continuadores da historia e "memorias de Ansião" ! 
Armando, era filho do Ti António Coutinho, alcunha "Marnifas" .
Agachadas na frente a São Duarte e a irmã do Ti Estevão Tojo e a Lurdes Bastiorra. Reconheço da esquerda para a direita julgo que a primeira seja uma das filhas do Sr Melado (?) seguida da Clara do Marnifas, a Prof Claudemira  , a Odete Antunes e o irmão Américo e o Armando Marnifas. Os outros não conheço...
Este Moinho das Moutas tem muito que se lhe diga !
Ti Eduardo Dias
Ainda o conheci na andança pela vila na sua carroça  a fazer entrega dos taleigos enfarinhados às freguesas.
«Pessoa muito interessante, o Mestre do Moinho das Moitas Eduardo Dias, filho do Ti Zé Dias do Marquinho era irmão da Prof. D. Laura esposa do Prof. Albino Simões bastante conhecido nas redondezas como o Moleiro.  Teve 3 filhas - Celeste, a Fernanda e a Teresa e um filho que agora não me lembro o seu nome. Era um filosofo, derreteu a fortuna até se ficar pelo moinho que funcionava a água e electricidade.O problema é que ele faleceu antes de eu começar a tirar umas fotos. Não tenho nada dele, infelizmente. Mas foi bem lembrado. Quando for a Ansião, e já lá não vou há 6 anos, vou ver se a neta, a Clarinha, irmã do Armando, ou a Ti Fernanda, a filha que foi contínua na Escola Primária, se me arranjam umas fotos.
No final dos anos 60, tinha um empregado que cantarolava umas coisas. Ouvi-o algumas vezes na taberna do Manuel Calado , no Casal S. Brás. 
Testemunho de Isidro Freire Leal «O Sr. Eduardo Dias «devia ser das pessoas mais inteligentes de Ansião!Não aguentou a pedalada da Vila que era muito exigente. Os petiscos e a mal dizer a falta de Amizade desinteressada, Solidariedade era coisa muito distante... »

A Lenda do Moinho das Moutas
O enigma do local? Segundo reza a lenda terá sido aqui que tudo aconteceu?

Havia uma Carpintaria pertencente ao Sr Fernando Serralheiro, e logo à frente a  sua Oficina, era filho do Sr António Serralheiro, que morava nesta casa.
O Ti António Serralheiro, além desta profissão, também era homem que matava os porcos nas redondezas.
Ansião anos  30
«A Vila tinha personalidade e uma beleza muito própria, às vezes as coisas simples são as mais belas.
Esta foto é fantástica, dá-nos conta que o terreiro defronto dos Paços do Concelho, já era calcetado a calhaus rolados, ainda não tinha sofrido o incêndio de 1937 que lhe retirou o varandim da frente»
«Certo dia do ano de 1970, resolvi subir à torre da igreja de Ansião para fotografar o extenso casario visto lá de cima. Mas tive uma pequena deceção. O casario havia algum, mas acabava logo ali. De um lado estava a avenida Dr Vitor Faveiro só com duas casas e pouco mais havia lá para o Pinheiral. Do outro lado lá estava o belo e saudoso edifício do Externato António Soares Barbosa, sacrificado em nome do Progresso (?) e mais uma dúzia de casas em Além da Ponte»
 Actual perspectiva  por altura da Feira dos Pinhões do adro...Se fosse da torre seria outra coisa...
João Ferreiro, pintor
 «Não conheço o suficiente de arte para poder classificar o tipo de pintura do meu cunhado João Silva (João Ferreiro). Só sei que as telas que me mostrou sobre Ansião, estão muito bonitas, e esta é uma das que gosto muito.»

A festa dos sábados- o Mercado ao ar livre na vila
Interessante ter registado a vendedora de barros dos Ramalhais, era verão por isso não trazia pelas costas a saia  em jaez de casaco e que pena não se notarem os ouros que tanto me encantavam... 
Nos anos 70, os sábados em Ansião eram uma festa
«O Mercado enchia de vida e bulicio, a Praça do Município e as Ruas confinantes. O cheirinho a sardinha assada e a peixe do rio, as tendas, a exposição de pipas, arcas salgadeiras, mosqueiros com rede, loiça , os barros vidrados, as couves para transplantar etc, etc e o movimento nas lojas, os negócios nas tabernas, toda uma alegria saudável num ambiente mágico.»
«Esta foto cuja autoria se perde no tempo foca a parte da vila com o seu chafariz de ferro alimentado por água da mina do Carrascoso à  Garriaza  elevada ao castelinho do Cimo da Rua.
Também mostra no seu tardoz o predio onde na esquerda era o famoso café do Ti Alfredo Calado, composto de duas partes,um salão com bilhar, e mais para trás com outra entrada em frente à loja de solas e cabedais do António Gaspar onde era uma especie de bar/taberna com um pequeno reservado. Foi sitio de tertulias e negócios, principalmente aos sábados, dia da feira. O Ti Alfredo Calado era uma excelente pessoa, comversador e com grande sentido de humor, que, com paciência, aturava as bebedeiras que se iam desenvolvendo nas intermináveis tardes de verão.
O meu pai  António Antunes todos os sábados fazia exposição e venda de borracha e pneus usados para servirem de solas nas botas arranjadas no sapateiro ali ao lado - Manuel Ventura na Sapataria do Sr Gaspar»
Contraste do antes e do depois...
Um belo prédio de traça antiga requalificado em dois diferentes, mostrando-se o da esquerda de tamanha arbitrariedade arquitectónica que o outro já equilibrou com o moderno e cantarias antigas das portas...

Ansião anos 20
«Que fará este magote de gente no Largo da Fonte.Não é difícil adivinhar. Este largo chama-se hoje Largo Adolfo de Figueiredo, um grande republicano ansianense de finais do Séc. XIX e início do Séc. XX, por acaso grande amigo do meu avô Manel Silva, o pratelheiro da filarmónica, à época um homem bastante culto e informado. Foi do meu avô que eu bebi muita informação desses tempos que mais tarde fui entrosando com outros conhecimentos que fui adquirindo.
Reparem que o grande cartaz que se encontra por cima do que mais tarde foi a loja do Sr. Adriano Rodrigues, do lado direito da foto tem escrito "Figueiredo".  Ali era a sede do Partido Republicano e do seu chefe ansianense Adolfo de Figueiredo, e onde funcionavam as suas campanhas eleitorais.  Daqui se deduz, que este magote de gente poderá estar a dispersar, ou em vias de assistir, a algum comício inflamado do Sr. Figueiredo. O Sr. Figueiredo foi presidente da câmara no tempo da República, sucedendo-lhe mais tarde, já no tempo da União Nacional de Salazar o médico Dr. Adriano Rego, pai da Dona Amélia Rego que viria a casar com o médico Dr. Amado de Freitas, que foi durante décadas delegado de saúde de Ansião. Outros presidentes da câmara a seguir, foram o Prof Elisio de Oliveira, Albino Simões e Américo Gaspar.»
 Contraste do antes e do depois
Ansião era bem mais bonita arquitectónicamente do que agora...
E já não se mostra assim. Nesta foto o prédio adoçado de paredes meias entre as casas das pontas  que foi do Sr Fernando Gaspar, foi alvo de requalificação recente.


A camioneta dos comerciantes de Ansião

«Só sei que, por aqueles tempos, se juntaram vários comerciantes ansianenses, que fizeram uma sociedade para comprar e explorar a camioneta que era utilizada para excursões e também para levar os homens e mulheres para as ceifas no Alentejo (RATINHOS) e para a Borda d'Água (RIBATEJO) onde havia muito trabalho sazonal nas lezirias.
Há aqui gente que ainda conheci. Consigo vislumbrar o Sr Júlio José da Silva (2.º à janela a contar da esquerda). O 6.º em pé, a contar da direita é o Sr Albino da Igreja Velha ao lado da esposa . Na frente o 3º casal a contar da esquerda é a Sr.ª Dídia e o marido o Sr Chico entre outros.»
O casal da direita, o homem alto da- me parecenças ao meu bisavô paterno Elias da Cruz .
«A tasquinha da Ti Lucinda
« Foi aqui que eu servi muito copito de vinho, milhares de pirolitos, abafados, copos de 3, traçados, xaropes de limão, mata-bichos, carapaus fritos, latas de sardinha com picante, onças superior, onças duque, papéis de enrolar tabaco zigue-zague, cigarros definitivos, provisórios, melões, etc. etc. Olha lá está o ti Mário Pirão (Tomé), sempre bem disposto e com bom sentido de humor. Eu gostava muito dele. Bebia o seu copito, mas nunca me lembro de o ver em estado menos "direito". De costas em pé está o Sr.Alberto Simões (Melado); sentados o Sr. Albino do Portolargo ( nao me parece o Ti Albino, parece-se um outro da vila que às vezes passava por lá. Não me lembro do To Albino do Portolargo vestir fato completo e chapéu).
E o Ti Mário Pirão. Na concertina um senhor do Casal Soeiro-  Fernando Lopes.
Sentado o David Contente, teve uma oficina de bicicletas na vila, com o irmão Artur, no mesmo prédio onde funcionou o posto da GNR dos lados da  Lagarteira, bem os conheci.


Memórias de ruralidade em Ansião
Um carro de bois na frente da casa dos meus pais ao Moinho das Moutas

« Rosário Mendes, penso que é dificil, mas não impossível o dono do boi pode estar na Diáspora, os automóveis ainda não esmagavam o asfalto das ruas ansianenses... »
Abertura do novo caminho para o Casal das Sousas em Ansião anos 60
«Quem se lembra deste sítio?
Quando terminava a vinha do Prof Albino Simões, andava-se mais um bocadinho e havia nesta curva entre pinheiros, que ficava assim em dias de chuva, do lado esquerdo v~e-se o pequeno caminho que ia dar à Fontinha e Salgueiro »
                                                           Remenda a cilha o albardeiro
                                                          O sapateiro bate os cabedais
                                                         Fazendo o calçado que o ano inteiro
                                                        Calcorreia os caminhos dos Casais
Américo Antunes

Nesta foto dos anos 40, para aí 43/46

«Vemos o veterano dos comerciantes de Ansião, Fernando José da Silva, à frente de um "grandioso" elenco. Consigo identificar o Sr Francisco José da Silva, o Sr. Acácio Costa (Serralheiro) do Moinho das Moitas,  o Zé Mau, o  Zé Cristóvão ( Mau) , o Sr. Mário Oliveira (Bastiorra), o Mário André Gonçalves Oliveira e o Sr. Adelino do Chico (o miúdo da esquerda). Falta-me um que também conheço mas não me lembro o nome.
Tinha sido inaugurada a moderna fábrica de azeite (lagar), perto dos Olhos d'Água, propriedade de Fernando José da Silva, dotada de um revolucionário engenho movido a água, para movimentação da moderna maquinaria do lagar, que incluía prensas hidráulicas controladas por manómetros de pressão de água. O lagar estava ainda dotado de um potente motor a electricidade, que entrava em funcionamento quando fraquejava a força da água.
O local, que até aí não tinha nome, passou a chamar-se sítio do Engenho, por causa do engenho de água ali montado.
Neste lagar passei longos tempos da minha infância. Adorava lagares, ajudar a pôr a massa nas ceiras, a descarregar as camionetas da azeitona e a partilhar as tibornas. Parece que ainda sinto aquele cheiro intenso do azeite em bruto a escorrer das prensas hidráulicas. Uma maravilha.»

«Testemunho de Isidro Freire Leal -  Neste Lagar, uma noite estavam dois homens de bastante idade, questionando como apagar a luz. Uma criança que os acompanhava chegou-se ao interruptor e pressionou-o e assim se fez noite. Meu avô ficou satisfeito pois eu consegui resolver um problema que ele e o amigo não sabiam como fazer. Entretanto passaram-se 70 anos...»

Sítio do Engenho nos Olhos d'Água
«O Lendário Engenho, perto do Relveiro e do "Olhinho", é uma referência mítica da minha infância e juventude. Este Engenho a água, onde brincávamos horas sem conta, fazia movimentar toda a maquinaria do Lagar do Sr Fernando.
A foto mais pequena data de 1968/69, quando adquiri a minha primeira máquina fotográfica, e a foto grande é uma bela pintura do meu cunhado João Silva, provavelmente inspirada nesta fotografia.»
 Saudades do Relveiro
«A Ribeira corria cristalina, cantando entre pedrinhas e pequenos desníveis, o Lagar fumegava anunciando o aroma ao azeite novo; nos moinhos ouvia-se o treco treco da pedra alveira moendo os grãos de milho que paulatinamente iam caindo da caleira para o olho da Mó, e mesmo ali, junto ao Engenho, havia o Relveiro, esse local mágico de brincadeira e de sonhos.
Na foto vê-se o Lagar do Sr Fernando José da Silva que mais tarde foi do Ti Fernando Serralheiro, do lado direito corre a Ribeira do Nabão, e o Relveiro começava ali onde o pessoal anda "de roda"»
«Odete Antunes - Engraçado: as raparigas de Ansião já usavam calças, a grande conquista da mulher!
Penso que foi com a chegada da CUF que as calças mais se vulgarizaram em Ansião. Era ver os homens pasmados e babosos, à porta da nossa taberna, a apreciar as raparigas que passavam nas bicicletas para a Fábrica!...»
Frequentei o Colégio Religioso das Irmãs Salesianas no Monte Estoril entre 71/2 onde não era permitido ainda o uso de calças. Se a CUF veio na década de 60, para aí entre 63/4, seja o mais provável que o uso de calças se tenha lançado apenas e após o 25 de abril e não antes.
A caminho do Moinho das Moutas para os Olhos d'Água
A  mula carrega os sacos  de cereal numa paisagem de terra com montes de  estrume para as sementeiras numa paisagem de olival  e de carvalheiros com bugalhos, serpenteada por muros de pedra seca.Tinha chovido, o caminho com poças de água...

Uma carroça com fueiros puxada por uma mula
«Por não encontrar nenhuma foto minha retirei de ANSIÃO TV devidamente assinaladas, a que tiro vénia »
A mula come o restolho depois da ceifa

A lavrar a terra com a manada de bois

A ti Lucinda acompanha o lavrar da terra.
Foto de Odete Antunes
« Aprender a vida era um bom princípio. Este "menino" penso que está no Canadá e há anos dei a foto ao seu pai.»
A faina das vindimas

«Como não encontro nenhuma das minhas fotos com este tema, aqui partilho, com a devida vénia, uma magnifica foto da Ansião TV.
As vindimas eram realmente o ciclo mais alegre do calendário agrícola. Lembro-me que o meu avô só deixava a malta comer uvas no dia da vindima. Antes era proibido. As vindimas mais bonitas da minha casa eram as do Camporês. Lá iamos com a carroça de burro até ao sítio das vinhas. Os poceiros, cheios de uvas, eram colocados na carroça , e seguros com cordas e com os fueiros. Entre os chiados da carroça e as cantigas, as uvas iam chegando ao seu destino e colocadas nas grandes dornas de madeira.»
 Apanha das espigas de milho
«Ao contráreio do que para aí se diz, eu não tirava só fotografias. E a prova é esta foto onde estou a "Vergar a mola" no arriscado trabalho de despiga do milho.»

Descamisada
«Esta foto foi tirada no cortejo das festas de Agosto de 2004. Não me lembro de que lugar era o carro, mas era muito bonito.»
 
  A gloriosa máquina de "esgrabulhar" milho
«Dizem que terá sido inventada por um mecânico da Sarzedela de nome Hingá, no início do Século passado. O certo é que era uma máquina fantástica, prática, nunca avariava e fácil de utilizar. Centenas de vezes trabalhei com estas máquinas na eira do meu pai.»
Testemunho da irmã Odete Antunes  
«Ai no dia da "esgrabulhada" aquilo era uma azáfama!... Enquanto um dava à manivela, outro metia as espigas que tinham que estar sempre a ser repostas no tabuleiro e o milho e os carolos também não se podiam deixar acumular...Todos corriam mas em grande coordenação de esforços.»

A eira a malhar o trigo ou centeio

A joeira que chamo peneira
 A rodilha
A canção das Serras de Ansião
«Esta canção não é certamente uma grande obra musical, mas é uma canção bonita,bem estruturada com sabor a Beiras, ou não fosse o seu autor o Arlindo de Carvalho, o compositor de Chapéu preto, Hortelá à mourisca, Oh Castelo Branco, Ai Oledo, Comboio da Beira Baixa, etc Curiosamente votado ao esquecimento por muitos cantores a quem facultou as suas canções de borla. Esta canção foi na época muito importante para a região de Ansião, pois não eram muitas as terras que tinham uma canção composta por um compositor conhecido e cantada por artistas da Rádio como a Lurdes Resende ou Artur Garcia  A canção foi inspirada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, onde o poeta e viajante Fernão Cardoso, passando pelas nossas serras de Ansião, as achou muito ásperas, resolvendo avisar os viajantes vindos do Porto ou de Lisboa, com a graciosa cantiga; Quem quiser passar seguro, pelas serras de Ansião deixe fora o coração. Mesmo não sendo o estilo de interpretação que mais gosto neste género, o meu renovado carinho por esta música, e provavelmente também do Dr Prates Miguel, vem agora do facto de, ao fim de 50 anos perdida no baú do tempo, a canção ter sido recuperada precisamente pela Luísa Basto, uma cantora que,juntamente com Luís Cília, foi grande referência de sobriedade e qualidade na canção de intervenção, na época do 25 de abril . Já havia o Zé Mário Branco, o Zeca Afonso, o Adriano, o Sérgio Godinho, etc., mas a Luísa Basto e o Cilia eram à parte, sem qualquer concessão à popularidade ou ao facilitismo musical...»
«Mano, sempre achei a parte do refrão demasiado"GRITADA". Aquele "AI" parece-me forte demais em relação á outra tão melodiosa e da qual gosto muito. Mas isto é critica de bancada. É só de ouvido... Mais uma vez gostei muito do teu"SUMARENTO" comentário. As tuas palvras dizem coisa!
- Im, concordo que o "AI" berra um bocadinho, mas é o que há. Talvez uma orquestração mais criativa pudesse melhorar, mas custa dinheiro. Eu termino uma versão com música um pouco diferente, mas nunca consegui pô-la em letra de pauta e não sei se será mais bonita. Tenho-a gravada em cassete das antigas e não dá para digitalizar. E já agora aqui vai uma bela canção de música beirã cantada pelo próprio Mestre Arlindo Carvalho.»
A visita de Nossa Senhora de Fátima a Ansião  
«Em 1953, a Imagem de Nossa Senhora de Fátima que andava em peregrinação pelo País chegou finalmente a Ansião num ambiente festivo e de grande devoção à Virgem. A vila encheu-se de flores de papel, engalanou-se, enfeitou-se, deu o melhor de si para receber tão divina visita. Esta fabulosa foto, que talvez tenha sido tirada pelo Sr Dr Marques, não sei, mais parece tirada nas verdadeiras aparições de 1917, tal o realismo dos pequenos pastores e do magote de pessoas com ar sério e espantado, que os rodeava.
Os pastorinhos, com ar tão devoto como os verdadeiros, são a Manelita Duarte, filha do Ti Estevão, o Ventura Marques e a Lurdes Bastiorra que me facultou a foto julgo foi tirada pelo Dr Marques o pai do Ventura..
Ideia, absolutamente genial, foi do Ti Estevão do Moinho das Moitas e a recriação foi de um realismo comovente. Era uma azinheira grande, cordeirinhos, pastorinhos encantadores a Manuel que me perdoe mas a carita e a posição das mãozitas da Lurdes estão de uma candura enternecedora.»


 « Praça do Município com a Legião Portuguesa e as janelas engalanadas de colchas na visita da Imagem de nossa SENHORA DE FÁTIMA ás freguesias ornada de fitas que se notam caídas do andor que eram eram postas na passagem por cada freguesia.
«Esta foto deve ser dos inícios dos anos 60, e apesar de a qualidade não ser a melhor, penso que se podem distinguir do lado direito, fardados a rigor, o Prof Albino Simões e o Martinho dos "Munhos".
A Legião Portuguesa em Ansião até tinha uma camioneta estilo militar, onde os legionários passeavam de vez em quando pela vila e arredores, em "exercícios".
Em altura de festas os legionários perfilavam nas procissões com os seus capacetes a luzir, e as suas fardas impecavelmente tratadas .»

A "limpa" da azeitona - O meu pai executando esse trabalho
« Eu ia muito para o campo com o meu pai, vivi, observei e gravei na memória toda a vivência destes tempos, bons e maus.
Era um trabalho bastante duro. Ainda de noite, lá se partia para os campos, ao frio e à chuva, às vezes gelo, para estender as mantas à volta das oliveiras e depois andar curvado todo o dia na apanha da azeitona do chão, subir às oliveiras e ripar os ramos mais inacessíveis ao varejão. Depois da colheita com panais (mantas), varejamento e ripanço, executada nas madrugadas frias das serras, entre mantos de geada e fogueiras que aqueciam o corpo e alma, ao som de cantigas e alegre falatório, vinha a seguir, a limpeza da azeitona, numa primeira fase com a ajuda do vento que tirava a "maior". Finalmente, de forma mais manual procedia-se à limpeza de folhas e impurezas que o vento não tinha levado. Só depois de escolhida e limpinha a azeitona ia para o lagar, quantificada em "meduras". No lagar, a azeitona era esmagada, pelas galgas de granito, transformada em massa, tratada em caldeiras de água quente, e depois posta em ceiras de sisal, e submetida à pressão das prensas hidráulicas, para extração do azeite, puro e virgem, que tanto ia para as candeias, como para as batatas com grelos.Daí a velha adivinha:Verde foi meu nascimento, e de luto me vesti, para dar a luz ao mundo, mil tormentos padeci.»
Odete Antunes
«Lembro-me tão bem, e tinha técnica levantar a azeitona com a pá em saber aproveitar a orientação do vento»
 A tasquinha do Manel Serralheiro 
«O do garrafão  é realmente o Armando "Pecholo" , filho do Virgílio Courela, irmão da Alda, casado com a Irene., tio da Paula....A construção da casa é um pouco posterior à minha meninice em Ansião, mas ainda apanhei o ambiente. Fica no Casal de São Braz, no caminho que vai para o Alqueidão.
Essa loja  foi pertença do Manuel calado, irmão do Alfredo e do Fernando (barbeiro). Quando o Ti Manuel serralheiro se iniciou nestas lides de taberneiro alugou-a(penso eu )à viúva.
Penduradas molhos de “costelas” (piscussanhas), as pequenas ratoeiras que utilizávamos para a safra dos taralhões.Eu e o meu primo Fernando Gaspar tínhamos uma “fábrica” de costelas no quintal da minha madrinha Mariazé, mas só para consumo próprio.»
Portulargo
Homem na poda dos vimieiros
«Este era o Portolargo dos milheirais, das papoilas perdidas, do cantar dos motores de rega, dos bandos de pardais, dos mantos coloridos das flores de margaça, do ronronar da ribeira que ia correndo até poder em curvas graciosas por entre figueiras, vimieiros, amoras e pereiros, e a bela terra que tudo dava, Santo Deus .
As hortas do Nabão, o Portolargo e o  Poisão eram uma espécie de celeiro de Ansião; sem dúvidas as melhores terras agrícolas na redondeza da vila com as Lameiras.»
Carlos Antunes 
« Porto largo onde havia de tudo. As minhas invasões por aquele local alegrava-me a alma.-»


LAVAVA NO RIO LAVAVA
Lavava no rio, lavava
Gelava-me o frio, gelava,
Quando ia ao rio lavar.
Passava fome, passava,
Chorava, também chorava,
Ao ver minha mãe chorar!
Cantava, também, cantava!
Sonhava, também, sonhava!
E, na minha fantasia,
Tais coisas fantasiava,
Que esquecia que chorava,
Que esquecia que sofria!

 
Amália Rodrigues

Rosário Mendes 
« mais uma genial foto.a minha querida e saudosa mãe: Laurinda Caladita do Casal Viegas, também vinha para a ribeira lavar a roupa mais pesada,  como cobertores, mais ou menos em maio ou junho, já o caudal se resumia a um pequeno fio de água, mas ainda assim suficiente.»
Américo Antunes 
«puxando pela memória, tenho quase a certeza que esta senhora que está a lavar roupa era filha do Ti Carlos Saguim(Fernandes). Na Ribeira do Nabão também se lavavam as tripas do porco por norma eram lavadas entre dezembro e Janeiro, pela matança do porco.Nesse tempo a Ribeira(deixemos o nome pomposo de rio)(deixemos o título pomposo de rio) ainda chegava a junho o que hoje é completamente improvável,a não ser algum ano mais chuvoso. Tudo se lavava naquelas belas águas.»
Isidro Freire Leal 
«meus Amigos a Ti Laurinda não era esta senhora. Já agora, as tripas do porco por norma eram lavada em Janeiro, quando da matança do porco. »


«Anos 70 nos férteis campos do Portolargo quando encontrei a Ti Mariazé, mulher do Ti António Cardoso, pessoas de trabalho e lavoura. Ali mesmo posou para a objectiva da minha pequena CHINON com todo o seu charme doce e simples.»
O cortejo alegórico
«O carro da Vila com o Dr Alfredo Silveira a esposa D Fernanda Figueiredo e as manas Oliveira; Mariazinha e Prof Armanda. Em cima do carro com o estandarte a morena Milú Coutinho ladeada das moças da sua geração a Célinha Fonseca Lopes, a Odete Antunes, a Helena Freire e há  três por identificar.»


Memórias de Ansião
«Figura incontornável de Ansião dos anos 60, o saudoso Dr Alfredo Silveira, um dos fundadores do Externato António Soares Barbosa , onde foi Professor durante décadas. Homem inconformista e preocupado com a sociedade do seu tempo, bondoso e sério, marcou profundamente todos aqueles que, como eu, tiveram o privilégio (infelizmente só para alguns) de frequentar o Externato e serem seus alunos. O S'TOR nunca dava nota negativas. Juntamente com a famosa varinha da Índia, que fustigava certeira as nozes dos nossos dedos, ficaram célebres as suas aulas de geografia ao vivo, onde, exemplificando com os alunos, explicava os movimentos da Terra, enquanto rodava sobre si mesmo, ia dizendo;  "Ó PIQUENA, SUPÕE QUE A MINHA BARRIGA É O EQUADOR ....»
«Naqueles tempos em Ansião éramos todos mais ou menos pobres, ricos em vivências mas pobres materialmente.Mas os da Vila eram mais  "IN", mais "JET SET". Havia, como em todas as terras de província, alguns preconceitos entre o pessoal da vila e os dos Casais que se refletia nos cafés. O café do Valente, mais elitista, era para os da vila. O Artur Paz, o Dr Travassos, o Juiz, eram presenças constantes. O café do Sr Chico, mais popular, dava guarida ao pessoal dos Casais e a toda a gente.
Estes pequenos preconceitos foram magistralmente traduzidos no linguarejar inteligente e mordaz do impagável Ti Manel Murtinho, grande artista da calçada portuguesa, homem de fino trato e de grande cultura popular. Homem nascido no Bairro de Santo António ao Ribeiro da Vide, onde aprendeu a arte de calceteiro com António Freire da Paz conhecido por "António Pataca"
«Ficaram célebres alguns ditos do Ti Manel Murtinho, como daquela vez em que vira de dedo em riste, para o seu grande amigo Mário do Zé Mau, e lhe atira, com o ar mais sério deste mundo:ouve lá meu casaleiro de merda, lá por seres filho do industrial da verga e teres casado com a filha do industrial do ouro, não passas de um vulgar casaleiro de merda.
O industrial da verga era o bom do Ti Zé Mau (Cristovão), exímio cesteiro, enxertador e uma estimada figura social, tanto nos Casais como na Vila, onde tinha a sua tasquinha em Aquém da Ponte, um sítio de tertúlias.  Já o industrial do ouro era o Sr Diamantino Monteiro dono da sua ourivesaria na vila e a esposa a D Piedade Lopes tomava conta da padaria, herança da sua mãe, pais do Nécas e da Tininha.»



O Casal Viegas
«Eu adorava a Ti Maria e o Ti Domingos. Ia muito a casa deles quando era miúdo e lembro-me até de ir ao casamento da Maria Rosa e do Artur.
Esta foto, cuja qualidade não é grande coisa, foi tirada numa festa do São Bras nos anos 70, não me lembro bem o ano, lá para 1976/77.Como sou um grande despistado e com este meu problema de visão, escapa-me muita coisa de Ansião, tamém porque na verdade se passam muitos anos sem lá voltar »
João Mendes Calado, conhecido por João caladito, talvez por ser de baixa estatura,mas dotado de uma força interior impressionante, era daquelas pessoas que quando se ia ao Casal Viegas tinha de vizitar para dois dedos de conversa, e o ouvir, no testemunho de Isidro Freire Leal.

Lugar  implantado em flancos montesinos de pedra escalabrada grossa e calhaus em laje alva, salpicado de veredas verdes, abrigado ao longo do contraforte norte da serra da Ameixieira. Um paraíso construído pela mão do homem com a ajuda das suas mulheres, resguardado de ventos com ares amenos a cheiros de vegetação mediterrânica, onde a alvorada e o entardecer se transformava em cenário idílico para sonhar e viver!
Deve ser preservado o património ancestral do casario com balcão muito comum no Maciço de Sicó: frontaria com escada, com ou sem telheiro e varandim e por baixo currais com cobertura a telha mourisca.E as eiras em pedra. O progresso está a mudar este emblemático Lugar e a sua paisagem , apesar de não ferir  o olhar com muita casa grande de cariz minimalista...Deve haver cautelas!
Outro grande apaixonado por Ansião
CÉSAR NOGUEIRA

Quem se lembra dos colchões de palha de centeio?

 A merenda à sombra de uma árvore
Sem o sabermos apreciávamos outros lugares.
As vistas do Ginjal em Almada que me acompanham há mais de 40 anos!


Por certo veio ao chamamento da pintura de Alfredo Keil que tanto acompanhou o Rei D.Carlos na região de Ferreira do Zêzere ao Avelar em caçadas,  e aqui pintou as lavadeiras no Ginjal.

Finalmente o projecto de requalificação do Ginjal está pronto, espera-se arranque ainda este ano. Sonho ainda apreciar e regalar o olhar com o novo Ginjal a dar caras a Lisboa!
 Ponto final, a esplanada do restaurante sobranceiro ao Tejo a beijar Lisboa
Onde também já fotografei a  minha mãe em dia de aniversário em 2009, cansada depois de um dia a passear por Cascais, aqui viemos lanchar.
Resultado de imagem para almada ginjal a minha mãe ao ponto final em dia de aniversário
Não nega o nosso homenageado Américo Antunes a sua  suposta ascendência ao povo judeu vindo da Europa central, Alemanha e Itália, judeus asquenazes em Diáspora aportaram na Europa central e oriental, no tempo se deslocaram para a Península Ibérica, a sua expulsão de Espanha em 1492 muitos aportaram a Portugal pela raia das Beiras na centúria de 500, onde constituíram grandes e pequenas comunidades estudadas, com famílias a se encaminhar para o interior se fixando em pequenas comunidades em Castanheira de Pera, Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos, Lousã, Espinhal, Ansião, Pombal etc, debalde jamais estudadas, tenho sido a primeira a falar desta fulcral evidência. Nesta família as substanciais caracteristicas; além da obstinação ao trabalho a beleza italiana, de olhar doce e silhueta alta , pelos cruzamentos em gerações o Américo herdou os genes primitivos de corpo entroncado, o mesmo olhar doce e tantos talentos, sensibilidade e inteligência, os mesmos dotes da sua irmã Odete Antunes de imensurável beleza rara. O Américo Antunes tem um filho médico em Leiria, coincidência ou destino, o foram os primeiros e grandes a dar cartas na medicina e na botica entre leis e outras artes.O Américo tinha duas lindas netas, lindíssimas, em total contraste a tamanha beleza  - uma imensamente loira e outra imensamente doce e morena!

FONTES
FOTOS E ESTÓRIAS RETIRADAS DA SUA PÁGINA DO FACEBOOK

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