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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Práticas de conciliação da vida privada, familiar e profissional:

Conciliação na partilha da licença de paternidade. Os homens devem investir mais no conceito de “Pai”, intervir nesse projecto feito a dois. Prazer em acompanhar sempre que possível a esposa ao médico, viver momentos únicos como “ouvir o bater do coração do bebé”. Colaborar na escolha do enxoval do bebé, no meu tempo, foi feito por mim, o meu marido colaborou, cortou os lençóis e almofadas para eu bordar, ajudou na escolha dos motivos. Mostrar interesse em conhecer a ginástica pré natal, para ajudar a esposa no parto a não se descontrolar, exigir participar, ajudando, viver momentos de sofrimento e de alegria no momento do nascimento do seu filho. Assim aconteceu comigo, já lá vão 27 anos, o meu marido esteve comigo desde logo de manhã que dei entrada na Cruz Vermelha até para lá das 10 horas da noite. Foi essencial a sua ajuda, apoio, durante tantas horas de sofrimento e fulcral no parto, que se revelou muito difícil. Foi um herói, pelo auto controlo, firmeza, enfermeiro, massajando-me os rins, com uma calma imensurável que apenas só homens com “H” grande conseguem revelar…quanto a outros que por aí andam, dizem não ser capaz…mas dizem-se homens…contra-censo!
Então ser homem não é sinónimo de macho, forte, viril, sem medos?
Outra prática a evoluir na conciliação passa pela flexibilidade de horários compatíveis para acompanhar os filhos à escola, fazer compras e partilhar tarefas domésticas, trabalho árduo, não remunerado.
Outra medida conciliadora seria o pacote “dois em um” a aposta do nosso país em contrariar a baixa natalidade pelo apoio de incentivos do Estado às mães, na atribuição de subsídios adequados para que ela pudesse permanecer em casa com a criança até aos 3 anos.
Todo esse tempo contaria para efeitos de reforma. Medida já implementada em alguns países, nomeadamente em França.

Falando no antigamente, a partir dos anos 60, com a libertação da mulher de muitas das tarefas domésticas devido ao desenvolvimento tecnológico (electrodomésticos) e da extensão da escolarização, a sua entrada no mercado de trabalho foi gradualmente estendendo-se a todas as classes sociais, alterando profundamente o funcionamento de novas identidades na vida familiar.
Numa aposta de viragem, em mudar a forma de pensar e questionar a forma como se vive, questionando os papéis sociais tradicionalmente atribuídos aos homens e às mulheres, criando para todos iguais oportunidades de participação na vida pública e privada, suscitando um novo entendimento do trabalho para que as mudanças aconteçam por decisão das instâncias do poder e da força do querer das mulheres e dos homens.
No entanto por mais projectos de igualdade na partilha das tarefas domésticas, não têm havido grandes progressos. O desfasamento entre a divisão conjugal do trabalho doméstico que idealmente se desejaria e a que efectivamente se procura concretizar na prática é francamente evidente, 35% da população feminina defende poupar o marido às tarefas domésticas e somente 15% deseja efectivamente que as mesmas sejam divididas.
Os factores que poderão influenciar a discrepância entre a defesa da igualdade no trabalho doméstico são os valores culturais intrínsecos a uma sociedade como factos de imobilidade e de atraso em relação aos sistemas legais. A aposta na mudança de mentalidades desde a infância, não haver diferenciação de brinquedos para ambos os géneros sexuais ( estereotipação dos sexos); só assim essa prática desses princípios estabelecerá a igualdade na preparação da vida adulta sem dísticos isto é para mulher, “aquilo é para homem”.
Também por culpa do conceito de empregado doméstico não ser ainda usual, só agora aparecem os primeiros serviços de limpeza ao domicílio somente composto por homens. Também os electrodomésticos ainda são utilizados maioritariamente pelas mulheres.
No entanto, hoje muitos homens vivem sozinhos. Tem a responsabilidade da economia do lar, compras, limpeza, roupas. Têm aumentado a frequência em cursos de culinária. Estão cada vez, a torna-se mais autónomos. Uma nova geração, que reivindica a real identidade, reprimida, dar vida à mulher que cada um tem dentro de si!
É necessário reinventar novos papéis sociais de género, novas atitudes e novas identidades na vida familiar. Na noção de distribuição equilibrada das tarefas (domésticas e de apoio à família), como elemento promotor da conciliação entre o privado, o familiar e o profissional.
Agilizar processos de conciliação entre a vida privada, familiar e profissional, na reorganização dos processos de trabalho e da gestão dos tempos de trabalho, e serviços de apoio ajustados às novas necessidades.
A nível particular tive dificuldades em conciliar a minha vida familiar com o meu primeiro emprego. Trabalhava em Coimbra como assalariada a prazo, vivia num quarto alugado. Casada, comprei casa na Margem Sul só me sobrava dinheiro para vir a casa duas vezes por mês. Início de vida difícil, tempos que nem quero recordar, precariedade do trabalho, engravidar era sinónimo de contrato não renovado. Problemas com o meu marido que reivindicava a minha presença em casa, estava-se nas tintas para o meu emprego, mas não, para o ordenado. Lutei sozinha, contra situações adversas do foro psíquico, molestava-me, mas eu sobrevivi por teimosia, e por entender que o meu emprego era uma mais-valia para a minha independência, para me sentir bem comigo mesma. Consegui ao fim de 3 anos, vir trabalhar para Lisboa. Efectiva, com ordenado superior, estava na altura de ter um filho. Em abono da verdade posso atestar que para a conciliação de tarefas muito contribuiu a minha atitude em alterar hábitos tradicionais. Ensinei o meu marido em algumas tarefas, cozinhava pouco, passou a cozinhar mais, não fazia compras, passou a fazer, aprendeu a manter-se na minha ausência por motivos de força maior (durante 20 anos tivemos férias sozinhos), em relação ao orçamento mensal e poupanças passei eu a gerir, contrariando o hábito de ser sempre o homem com essa tarefa. Durante a gravidez, o meu marido foi bastante prestável, ajudou-me nas tarefas de casa e obrigava-me a alimentar bem. Depois de nascer a nossa filha ele teve uma conduta exemplar durante os primeiros anos, colaborando nas tarefas, em mudar a fralda, brincar com ela, dar banho. Extremamente dedicado, foi ele que a levava ao colo a pé, para a casa da ama e a trazia ao final do dia.
A partilha deve ser introduzida desde início, para criar habituação. Quando o conheci, ao fim de 5 dias lembro que me disse “quando casarmos”…ao que respondi, casar, nunca pensei nisso, trocas de palavras, saber o porquê, ao que respondi ”acho que não tenho jeito para pensar o que fazer de almoço e jantar” ao que de imediato ele respondeu “ não te preocupes que eu ajudo-te”… De facto sempre assim foi. Situações de enxaqueca, mal disposta ou chateada, ele nunca deixou de fazer as refeições, mesmo eu dizendo que não queria comer, sempre as fez a contar comigo.
A arte de conciliar é uma nova forma de viver em harmonia. Hoje com a liberdade de diálogo e com respeito e inter-ajuda não menosprezando o trabalho executado mesmo que não esteja de acordo com o nosso “jeito” tenho conseguido manter um casamento com mais de 30 anos.

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