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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Desiludida na feira de velharias de Cantanhede, na mente jamé!

Na minha estada na Figueira da Foz tive conhecimento da feira de velharias anual em Cantanhede, logo me decidi estrear nela atendendo ao hipotético (?) índice populacional no meu  alto julgar fosse o abarrotar da conta bancária...Aconteceu no primeiro domingo deste mês, na terra do Conde de Marialva -, título nobiliárquico de Portugal concedido em 1479 por D. Afonso V a favor de D. Pedro de Meneses, no entanto, apenas seria renovado quase século e meio mais tarde, num descendente do primeiro conde-, segundo a Wikipédia. Conheci Cantanhede antes do 25 de abril, sem a grande estátua do conde no seu bonito cavalo, bem vestido de belo chapéu e penugem , como sendo a produtora do Licor de Merda!
Ao tempo a minha mãe deslocava-se a trabalho à estação dos CTT, enquanto isso percorria a vila onde descobri uma montra junto da igreja com as garrafas de rótulo sonante em exposição, fácil foi convence-la a comprar, curiosa a ler os ingredientes no tardoz, percebi que era feito com as melhores merdas  selecionadas de abelha...deixei-me ficar a rir!
Puro engano o meu  no pensar nas alvíssaras gordas das gentes, o que me pareceu a rondar o paupérrimo, a fazer jus à temática do Museu de pedra imponente, mas sempre hirta de  fria!
Cheguei em cima das 8 horas quando a organizadora, uma Eng, simpática e bem falante, se fazia ouvir dizendo que  se podia abancar ao longo dos jardins deixando avisos para não estragarem as flores, porque depois alguém lhe mandava a conta...
Achei que deveria dar-lhe uma palavra, pois não tinha feito inscrição, logo me descansa apressada, dizendo que iria passar pelas bancas, mas afinal jamais passou, ou falou!
Os feirantes reclamavam do sítio por o acharem fora de portas do habitual jardim no centro da cidade, onde as pessoas que frequentam os cafés  se manifestam público abundante a deambular pela feira -, diziam à boca cheia que foi propositado juntar o evento com outro a decorrer no pavilhão, para lhe dar ênfase-, a Feira de Reduções, que a meu ver teve pouca afluência, assim como stands...

De manhã apareceu pouca gente, a mulher dos tremoços, dos bolos sortidos, das cavacas, e dos gelados pouco faturou, culpa do sol  que se manteve encoberto quase todo o dia,   e a das farturas o mesmo, a minha mãe foi comprar duas, sem modos lhe venderam já duras, pareciam plástico!
Mais acima havia um bar que fazia bifanas onde o meu marido comprou  -, a mulher por certo deixou cair o picante nelas, que nos vimos aflitas para as tragar...Outros se queixavam igual.Seria para puxar a cerveja ou o tintol!
Só as casas de banho, no pavilhão, se mantiveram limpas, desinfetadas e cheirosas.Que elogios teci à empregada de serviço!
Ouvi reclamações sobre o aluguer dos stands ser demasiado caro em comparação com outras feiras onde se vende mais, e o precário é mais leve. Até me contaram sobre  o tipo de negócio que está a dar cartas...
O stand da igreja, ou a ela ligado, tinha uma grande quermesse interessante, com preços vários, as rifas onde saia sempre premio, mas afluência não sei se tiveram!
A minha vizinha mal me viu chegar com os brindes nas mãos desata a correr trazendo a imagem de um Padre Cruz, dizendo à boca cheia que muita gente lhe solicita esta imagem  nas feiras por Coimbra.
No sábado tinha comprado na feira da Figueira  da Foz um bule de caldo que por engano o levei, para não o partir decidi pô-lo na banca com o preço de 250 € ... Dei conta de uma senhora estouvada que olhou a peça e lhe achou graça, mexeu e remexeu -, ao ver os números do preço, olha e diz-me custa 2,5€ ? A que eu lhe respondo-, a senhora acaso conhece a peça, acha mesmo que o que está marcado é o que diz? Volta a olhar e diz-me, é 25€ -, volto a responder-, já vi que não entende que peça se  trata, é um bule de caldo em faiança século XIX, para colecionadores e o preço é 250€  que em leilão pode triplicar...Foi-se a fugir balbuciando sozinha! Fiquei na dúvida se a 2,5€ ainda a achou cara, supostamente esperava que fosse 1€...Fico furiosa com gente incrédula, e inculta!
Dei corda à língua a falar da Vista Alegre, de ter começado a laborar com a produção de vidro-, diz-me um homem de idade " olhe fui há tempos ao Museu em Ílhavo e ninguém falou disso"...
Vendi este prato com um balancé de grinaldas com duas crianças, a uma senhora que tinha um igual, sendo o seu maior pertença da sua avó, após a minha explicação foi-se embora, mas voltou para o levar, e fez muito bem, porque é deliciosamente belo.
As minhas compras na feira: os copos que estão na banca, os três de pé alto são para a minha garrafa, assim fica o conjunto completo do casamento dos meus pais, os outros de água são para vender, achei a estampa graciosa do quadro com os anjinhos aos pés do Senhor dos Passos, para a  minha casa rural, também uma caneca Sacavém para a minha coleção, e revistas.
Ainda não reconciliada com a brutalidade inculta  de tanta mulher  vaidosa, tatuada, de cabelos  pintados baços, sem brilho, desgrenhados secos e mortos, andantes em saltos altos, de mini saias com pernas gordas e mal torneadas, e outras enfiadas em roupa  colada ao corpo com brutais decotes até ao umbigo, inadequada à idade e à silhueta, quando passa uma mastrunsa caminhante na frente do marido, olha para a banca repara na máquina fotográfica, de imediato se vira para trás e pergunta-lhe "isto é uma máquina fotográfica?" Então havia de ser o quê! Fico pasma com tanta burrice!
De tarde apareceu muita gente que na calçada caminhavam andantes, só mira e anda apressados, em procissão desfilante, nem paravam...um desatino que até metia aflição!
Duas mulheres  fizeram compras na banca da colega ao meu lado que denotava falta de ética e de respeito por os demais colegas, tinha os preços marcados, os clientes olhavam, ela dizia " não olhem para os preços que não são esses, faço mais baratinho..." armada de voz estridente pegava no preço que ia baixando até o cliente acordar, com isso vendeu bem, estragando o negócio dos demais. Na minha banca duas mulheres apreçaram um prato de bolo  marcado por 15€ ,uma delas ofereceu 10 € valor que tentei dividir no prejuízo baixando para 12 € -,mas uma delas era mulher de perfil mandona, volta a lançar o repto "só dou 10€ " -, ao ouvir a minha recusa firme, vira-me as costas indo de novo para a banca da minha vizinha onde já tinha enfeirado antes onde levou peças com história e outras sem estórias, deixou-me  aborrecida pela ignorância, nada mais que um prato com história, com mais de 100 anos, da Fábrica Angolana da Marinha Grande, lapidado com os olhos da coruja e flores em fosco com a graça dos três pezinhos. Ora se o comprei por 10€, onde fica o meu ganho?
Esta taça gomada de cantão popular marcada Fabrica Pinheira,dizia  a feirante que era Miragaia...Santa paciência!
Chegava-se no mira e anda um casal que lhe apressou uma boneca de cerâmica grande que se vendiam há 40 anos nas feiras anuais, que tenho uma igual para venda que a minha mãe comprou nesse tempo, até tinha uma coluna para a assentar , um dia estava assim posta ao meio de uma escada e uma prima do meu pai ao olhá-la pergunta à minha mãe " ó prima ao cimo da escada é o S. Miguel ( o Santo que ela conhecia da capela junto da sua casa no Escampado)...
Dizia  a feirante "olhe que ainda tem o preço em contos(1.900$00)" em euros pedia 60, gerou-se um trocadilho de palavras de contos e euros -, o marido da senhora oferece-lhe 19 € supostamente a gozar com o valor dos contos -,valor que repenica chamando-lhe de" esperto" -, palavra que a esposa interpreta como ofensa, não acata, e de cara visivelmente furiosa se vira para a feirante em tom forte e diz-lhe que a palavra "esperto" é muito feia, e a repete com tenacidade, que a mãe dela não admitia sequer , que dela se falasse...A feirante em tom brejeiro desconversou o enredo, claro está que se  rematou o desaguisado de palavras azedas com palavreado francês da ex emigrante -, " tu es la brebis galeuse de cette marché aux puces..."que se baldou na falta de resposta, por a outra só saber e mal português!
Fica no entanto a minha vizinha desvairada que não se podia ouvir, "só se for nesta terra de Cantanhede que a palavra "esperto" tem significado diferente..." 
Esqueceu-se da ironia e altivez como a exclamou!
Para acalmar andava e desandava na frente da banca até ao outro vizinho sempre a barafustar, comeu gelados e bolos,  e amiúde abria a toalha de renda, tantas foram as vezes que a impingiu, que a conseguiu vender, o mesmo com a colcha de seda e o naperon, parecia aqueles negociantes de feira" não leva uma, não leva duas, leva três e só paga..."!
O Luís de sotaque brasuca que conheci na véspera na feira da Figueira da Foz também apareceu com os desenhos de Álvaro Cunhal feitos na prisão, embora eu ache estranho não os ter assinado!
Agradeço a cortesia das fotos de alguns dos desenhos.
Uma senhora bem vestida pára e conversa um bocadinho, vinha hilariante por ter reencontrado duas bancas atrás, uma antiga colega da Escola, que não a julgava nestas andanças...Ainda me disse " olhe a minha criada partiu-me um enorme garrafão que o meu marido trouxe de herança da casa da mãe, falecida recentemente, por isso mesmo não lhe quero causar mais incomodo, de forma que o escondi com o cortinado para ele não se aperceber ( imagine que tenho dois a ladear uma alta comoda, quem vai a casa gosta desta decoração) vim à feira ver se encontro algum, tenho de ter atenção ao gargalo que deve ser grosso".
A Marisa enfeirou, tinha um estandarte deles
Passeei-me ao longo do certame várias vezes para as pernas não se toldarem presas na cadeira exígua, até que numa dessas voltas ouvi um piropo de um colega a dizer para outro-, "esta menina  deslumbrante já aqui passou várias vezes"...Senti serem contadores de estórias com história, um deles era neto de um dos últimos pintores da Fábrica  da Viúva António Oliveira de Coimbra -,disse-lhe que tinha um prato grande para venda que não tinha na banca, com um veado pintado em azul, logo me  confidenciou que era o género que o avô mais gostava de pintar, paisagem com veados do  século XVII.
Também falou do tempo que o avô trabalhou perto de Leiria, e assinava as peças como se estivesse em Coimbra, o que deu azo a risos, a lembrar os irmãos Ruas, quando trabalharam em Darque assinavam as peças com "R"-, depois que se mudaram para Caminha na mesma continuidade se mantiveram, daí a eterna confusão atribuir as peças a Darque e a Caminha...
Outro feirante  falou-me da fábrica que fez os vitrais para o Mosteiro da Batalha, já não me lembro do nome ali perto de Alcobaça, e disso tenho pena.
O homem calvo e moreno com a cremalheira a precisar de arranjo que me dirigiu o piropo, seria letrado, alvitrou estar de partida para Angola, deixando neste agora as feiras,  falou-me por alto do vasto território constituído pelos concelhos de Alcobaça e Nazaré, bem como parte do concelho de Caldas da Rainha que constituem os "Coutos de Alcobaça" formados por 13  vilas, que os frades quando iniciaram a construção do Mosteiro se instalaram na Ataíja de Cima, uma zona junto à serra caraterizada pelos seus olivais onde ainda se encontram as ruínas da Casa do Monge Lagareiro, com o brasão de Cister, local onde vivia o monge cisterciense destacado para coordenar os trabalhos no lagar.
Quando lhe disse que gostava de escrever diz-me "então vai escrever a minha biografia"!
Apareceu um casal, estranho de magrela, ele tímido, mal abria a boca, já ela afoita falava com os feirantes para irem até ao seu carro estacionado onde tinha alguma loiça e vidros para venda, também fui espreitar-, havia dois jarros em esmalte, variedade de copos, pratos, mas nada especial, mais tarde soube que tinham passado pela feira da Mealhada vendendo o melhor stock, tendo sido  recambiados para esta feira com o "lixo" que ninguém quis, segundo opinam alguns!
Gente mesmo crua, como crús eram as pessoas que lhes comprou alguma coisa -,um casal de jovens  vinha vaidoso com o par de jarros e uns pratitos nas mãos, ao passar pelo meu estaminé pararam e dizia ela para ele-, "vês aqui os preços, fizemos boas compras" no querer prevalecer que tinham feito uma boa compra  na comparação dos meus pratos de coleção da Real Fábrica de Sacavém que se encontravam marcados em faixas-, mas claro, era comparar pedras com diamantes, porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa! A isto chama-se ignorância no ramo de velharias e loiça industrial! 
Caminhante vem uma senhora vestida de tailleur à vontadinha com 50 anos, da cor do serrabeco, ainda assim elegante pelo porte altivo e silhueta magra,  trazia um embrulho debaixo do braço, a quem questiono se não quer levar  o candeeiro que tinha apreciado de manhã na minha banca, diz-me radiante "olhe comprei dois pratos da cegonha por 10€"...Fiquei a mastigar-, a este preço só se me os derem ou os roubar...
E não são da marca da cegonha, sim EMA! 
Mas quem é que sabe o que é uma ema?Só gente culta!
Desiludida e cansada arrumei a banca da feira de velharias de  Cantanhede.
Salvou-se a alfazema que  surripiei  dos arbustos com que salpiquei os sacos para quando de novo os abrir me cheirarem bem...porque a feira cheirou-me mal!
Na  minha mente  saltitava "Cantanhede jamé de Jamais!"

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