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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Alvaiázere no limite do Maciço sul de Sicó…nas minhas doces memórias

Megalapiás dos Penedos Altos em Zambujal  chamados Portas de Alvaiázere

Modelado cársico, e dolomítico do Jurássico Superior, em forma de torre. Estruturas de vários metros de altura, resultaram da ação da água, que dissolveu as rochas calcárias, abrindo fraturas e depressões, escavando e esculpindo o relevo, dando origem a uma geomorfologia cársica com estética graciosa.

Assíduas vezes na vinda duma banhoca ao Agroal, depois de deixar a Freixianda, apraz-me atazanar o condutor para mudar de percurso a caminho de Alvaiázere. Adoro passear por estas serranias baixas onde a paisagem é mais ao meu gosto pelo salpico de aldeias com nomes curiosos; Pelmá, Casal do Rei, Venda do Preto e,...o ex-libris dos penedos do Zambujal, nada mais do que dois morros de pedra calcária, como se fossem colunas a ladear a estrada. Um deles apresenta na extremidade uma cúpula, que me transporta à infância, aos filmes de westerns no Arizona. São resultado da erosão que ao longo dos tempos se encarregou de os tornear, e desde sempre me encantam .
Ao deixar as " portas de Alvaiázere" na aldeia na beira da estrada há uma dolina cársica, uma lagoa como o povo chama. 

Cruz templária, retirada da net

Em miúda descobri uma Cruz como a que centra a pedra redonda esculpida numa laje no chão, do caminho do Escampado de Santa Marta em Ansião, mais à frente havia pedras grandes a evidenciar calçada romana ... Voltei 30 anos para a redescobrir a custo com emoção -, mal me descuidei para a fotografar , já estava soterrada com maquedame na ligação que fizeram a Albarrol...

A vila de Alvaiázere é-me querida pelas vezes que a minha mãe aqui veio a trabalho nos correios e me levava, caso se não tivesse ou pudesse faltar às aulas.

Mote para entrosar em alegre cavaqueira na discussão do célebre episódio de um dos "carrascos da morte de Inês de Castro, o Duarte Pacheco, nesta terra se refugiou antes de rumar a Espanha" desde sempre julguei que a casa seria o solar dos Serpa Oliveira, erradamente durante quase toda a vida chamaram de " Pachecos" cujo brasão para mim é maior que a casa -, espanto total o pleonasmo é propositado como a foto evidencia e desde miúda assim o caracterizo.

O Prof. Hermano Saraiva revisitou por duas vezes o concelho com os seus programas -, seguramente o 1º melhor que o último, também partilhou a opinião que não poderia ter sido aquele palacete que foi construído à posterior. A minha mãe trabalhou nesta terra há mais de cinquenta anos numa repartição que funcionava nesse solar, sempre me afirmou que a casa onde o mesmo se refugiou seria a que se localiza mais à frente na mesma rua, hoje descaracterizada sem traça antiga pintada de azul, será verdade? 
Ou será uma outra que descobri na frente do auditório, onde é notória a subida da estrada e soterramento de portas e janelas ainda visíveis num muro antigo contínuo com a referida casa de traça castiça a lembrar um solar remediado? Pairam as dúvidas, lançado fica o desafio! 
Um hábito meu atalhar a caminho de Ansião por estradas na borda do sopé da serra de Alvaiázere - apraz-me os ares da serra, ver as ruínas dos antigos "Fornos de Cal" espalhados pelo planalto, uma pena estarem todos ao abandono, seria uma rota turística de interesse juntando os sabores da serra ao travo de erva de Santa Maria, que por aqui se sente tal e qual como na serra da Ameixieira...
Foto de Luís Ribeiro retirada do google

A Quinta da Cortiça 
Remonta segundo o seu proprietário à era romana, tais os vestígios de abóbadas, arcos, túmulos, pias e Mós, que os mesmos implementaram nas suas rotas por esta região e aqui se encontram. O solar sofreu remodelações no século XIX, com a pequena torre, capela com a entrada para os celeiros repleta de prensas e Mós em pedra. Dedicam-se à produção de cortiça, azeite, queijo e criação de cavalos.
Foi seu dono o Eng.º José Lebre, um curioso  amante de artefactos do passado. Dispõe de duas salas com o espólio de fósseis por ele encontrados nas suas propriedades, sendo seu fiel guardador mostra a quem na queijaria compra queijo e se interesse em conhecer o espólio.

Na região existem outros vestígios do passado romano como a antiga villa de Rominha.
Nas encostas baixas a seguir ao lugar, ainda são visíveis buracos deixados pelos romanos, outros dizem pelos desertores franceses do Buçaco, ainda dizem que o seu subsolo esconde muitos vestígios e histórias dum passado esquecido mas pronto para desvendar tal igual nas aldeias de Vila Nova, Casal Novo e Farroeira . Visíveis são ainda as centenas de oliveiras, algumas milenares por todo o lado. A vida rural determinou a existência de um conjunto significativo de estruturas de arqueologia industrial que testemunham a ação deste povo como: lagares de azeite, azenhas, moinhos de vento e fornos da cal. 

Uma oliveira milenar

Pé de oliveira milenar do quintal da minha mãe

Também há vestígios da olaria onde fabricaram telhas "tegulae e inbrix" segundo ouvi o Prof. Hermano Saraiva se pronunciar.
Santuário de Nossa Senhora dos Covões
Adoro subir à serra a meio caminho depois da capelinha da Senhora dos Covões onde num dia me passou na frente do carro uma raposa de belo rabo...no cume há tantas antenas... um horror no melhor alecrim aos montes floridos pela Páscoa!
 Cintura da muralha do povoado
A 600 metros de altitude existe um sítio arqueológico caracterizado por um povoado fortificado de grandes dimensões com duas cinturas de muralhas parcialmente derrubadas: uma exterior e outra interior, aparentemente circular com cerca de 100 metros de diâmetro, ambas visíveis por fotografia área - perdi-me à procura delas de origem pré-histórica... há ainda outras marcas do passado a que se chamam "a Carreira de Cavalos" espólio de um povoado da Idade do Bronze.
Complexo Megalítico 
Anta 1 e 2 ficam situadas a cerca de 500 metros da aldeia do Ramalhal – S. Pedro do Rego da Murta, numa planície povoada por eucaliptos na margem direita da Ribeira do Rego da Murta. Além dos referidos monumentos, existem outros dispersos por toda a área envolvente integrado num complexo de 10 monumentos que, pelas suas características, evidenciam uma paisagem com intensas referências culturais que engrandecem o Concelho de Alvaiázere no panorama arqueológico Nacional e Internacional.
Arquiteturalmente é construído por blocos de pequenos esteios em calcário, matéria-prima local, que perfazem uma câmara semicircular e um corredor que pouco se diferencia deste e que se prolonga para SE, tal como a Anta I do Rego da Murta (localizada a menos de 500 metros). A câmara tem de diâmetro máximo cerca de 4 metros e o corredor prolonga-se num comprimento de 3 metros por cerca de 1 metro de largura. 
A sua boa preservação permite exumar uma grande quantidade e diversidade de objetos, na sua maioria intactos (vasos, um grande número de pontas de setas, alabardas, objetos simbólicos, como placas de xisto, botões em osso, contas de colar, etc.), as ossadas humanas (contando-se até ao momento com cerca de 50 indivíduos) e fauna (desde coelho, lebre, cavalo ou zebro, cão, porco, ovelha, etc.) 
Acesso: Na Ponte da Ribeira do Rego da Murta, no Ramalhal, na estrada nacional que liga Tomar-Alvaiázere, vira-se na primeira cortada à direita, numa estrada de terra batida percorrendo até chegar a um lagar em ruínas a cerca de 1 Km. A Anta II localiza-se a 100 metros à esquerda do moinho, no meio do eucaliptal. 

Rei Chícharo 



A vila expande-se para o turismo com apostas credíveis como o Festival do Chícharo também de reconhecer o valor de ilustres Alvaiazerenses como o cineasta Fernando Lopes nascido no concelho. 

Tive muito orgulho no âmbito de um dos primeiros Festivais Gastronómicos do Chícharo assistir à homenagem com que a autarquia o quis presentear numa sala a "rebentar pelas costuras" na Casa da Cultura de Alvaiázere onde se reviveram pessoas e momentos num ambiente de alguma comoção e alegria no registo semi-documental e autobiográfico.
«Nós por Cá Todos Bem» rodado pelo cineasta em 1978 na aldeia Várzea dos Amarelos . 
Fernando Lopes nasceu a 28 de dezembro de 1935 neste concelho -, teria sido agricultor como o seu avô se não fosse a sua querida mãe pegar nele para fugirem para Lisboa escondidos numa carroça cobertos com oleado para apanharam a carreira em Alvaiázere-, a fuga por maus tratos infringidos pelo progenitor...tal carinho pela sua mãe, incitou-o ao regresso às origens para rodar o documentário em honra dela ainda viva como se fosse uma despedida da sua vida árdua, enaltecendo a sua profissão - cozinheira de uma grande casa. 
Começou a trabalhar na RTP em 1957 no ano em que arrancaram as emissões regulares da televisão pública. Em 1959 consegue uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, que lhe permite estudar Realização de Cinema na London Film School. 
Foi um dos maiores símbolos do Cinema Novo português da década de 60 graças a filmes como Belarmino (1964), mas também um cineasta que continuou a marcar o seu tempo, por via de fitas como O Delfim (2002) ou Lá Fora (2004). 
Faleceu aos 76 anos em Lisboa...deixando aos filhos de herança quatro pinhais (?) na Várzea...por ser um homem amante das raízes onde um dia nasceu ...no vale corre a Ribeira Velha ( nem sei se por aqui no Barqueiro lhe dão outro nome) a caminho do Zêzere.
Interrogo-me porque razão neste lugar se chama Barqueiro? A pensar na canção de criança... 

Ó senhor Barqueiro
deixai-me passar,
tenho filhos pequeninos
não os posso sustentar.
Passará, passará ,
mas algum deixará,
se não for a mãe da frente
é o filho lá de trás.

O concelho já teve tempo de o homenagear na toponímia, ou será que já o fez e eu não sei?
Maças de D. Maria foi no passado propriedade do reino oferecida a D. Maria Paes Ribeiro que haveria de ficar conhecida na história como a " Ribeirinha" a amante predileta de D. Sancho I que no lugar de Maças de Caminho onde ainda existe uma casa com uma bela janela de avental com a cruz dos templários lavrada -, julgo por aqui passaria para a visitar, para as forças não lhe faltarem , pois se fala que a dita senhora era formosa como a Inês de Castro, faço fé que comia maças de boa semente , tal fama havia de ditar no tempo o nome deste airoso lugar... 
Fotos de Henrique Dias
Alvaiázere resiste, continua a lutar para se afirmar como pólo importante na região de Sicó, apesar das vias de comunicação nunca a privilegiarem no presente como a distinguiram no passado. 
Por aqui passou a estrada romana e a estrada medieval vinda de Conímbriga cujos homens se atreveram a sulcar a pedra e a contornar as serras para nela passaram Reis e comitivas: Casal da Rainha, Vale da Couda  até Ourém e Lisboa. 
Não há topógrafos, engenheiros, tão pouco engenho de gente com poder nas mãos, que ouse pensar neste passado de fausto - só pensam nos seus interesses e dos amigos - há falta de gente com visão como o ministro de Salazar das obras públicas Duarte Pacheco - que do outro antes aqui falado só tem o mesmo nome! 



Euzinha junto ao posto de turismo que funciona no r/c do coreto em noite de festival...depois do repasto de feijoada e tarte de chícharo, bem regado com tinto da região de 14 graus e não faltou a boa cachaça! 

Numa quinta feira Santa depois de ter passado a Porta da Serra na Marzugueira apreciei a casa na curva restaurada quando inusitadamente fui atacada por apetite desenfreado de me apear do carro para me perder d' amores pelo alecrim para os lados do Vale da Couda -, teria sido o linguarejar de um povo analfabeto , sem dentes, falava muito mal o português, ditaria que o nome de Conda (?), diminutivo de condessa o povo no tempo haveria de fidelizar " Vale da Couda" terra do meu querido amigo e colega do Externato, Carlos Gomes. 
Pela primeira vez vi-me na frente do profundo e abrupto vale que sempre me fascinou com a escarpa cravada de cascalho calcário em montinhos a fazer terrado às enfezadas oliveiras, na roda delas muros de pedra seca em meias luas -, cenário por demais encantador de grande quietude, tanto silêncio onde a introspecção em plenitude só neste local para mim é infinita de paz!

Atrevi-me a descer a ribanceira. Tomei o trilho dos rebanhos onde senti a profundeza do vale magnífico onde delirei sozinha e me desforrei em contemplações...perdi-me por fragas e costados pelos carreiros a fugir das caganitas de caprinos que se pegavam nas solas dos sapatos... incrível o ar puro e o cheiro fresco que inesperadamente me fizeram perder o bom senso, sem explicação, mais por vontade férrea de alivio e sem pedir licença, por entre esculturas talhadas pela erosão na pedra calcária cravadas por toda a terra debruadas a erva de Santa Maria, acedi ao apetite de verter águas -, aliviada só Deus sabe, como me senti até sentir o fluído quente a molhar os tornozelos... 
Naquele paraíso sei que me faltou um príncipe! 
Tal desgosto fez-me arrancar dois pés de alecrim para transplante e uma braçada de ramos floridos para enfeitar o meu oratório na Páscoa! 
Alvaiázere tem aldeias recônditas em abandono ou quase e é uma pena: Sem falar nas que adoro: Vale da Couda, Ariques e Bofinho
Sigoeira de Cima
Marques
Lumiar
Chão de Cume
Conhal
Mata
Paradela
Rocha

Não deixem de conhecer, atrevam-se, vale bem a pena descobrir o concelho, apreciar as megalápias semeadas por todo o lado com mancha de carvalho cerquinho e outra vegetação mediterrânica por aqui tão evidente e as suas gentes humildes e hospitaleiras. Alvaiázere fascina-me sempre mesmo de ruas vazias!

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