Mostrando postagens com marcador Sempre um frenesim a Feira da ladra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sempre um frenesim a Feira da ladra. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sempre um frenesim a Feira da ladra

Tempo enevoado convidava a passeio, enfeirei, como é hábito. Tenho bancas que não passo sem as ver e comprar, claro, pela qualidade e preço.
São aqueles vendedores que compram recheios durante a semana, iniciam a venda aqui  e, no domingo acabam na feira do mês nas redondezas - o que sobra vendem por atacado a outros colegas para fazerem negócio - tem vezes que hesito não compro, depois ao domingo encontro as peças na D. Maria...

Na banca do Miguel comprei impecáveis - nunca foram usados três lindas peças da SP de Coimbra: dois pratos e uma saladeira - imaginem faziam-me falta. Ainda um pequeno prato Viúva Lamego em tons amarelo impecável e uma moldura pequena por 1 € - antiga para a casa rural, estava em falta - pretendo redecorar uma parede da sala com fotos a preto e branco dos antepassados - tipo  colecção que vi num livro de 1967 da Reder's Digest que a minha mãe tinha - e nunca, claro esqueci.Em casa reparei que afinal  os cantos são em prata e foi partido o vidro para retirarem a foto - esqueceram-se que atrás ficou a verdadeira foto de família de 1947 tirada num fotografo em Lisboa com dedicatória...

Almocei bem - comi umas sardinhas regadas com bom tinto fresco e bolo de bolacha, fiquei confortada -  tivemos por companhia dois homens jovens, com eles travamos boa conversa, um  divorciado há 2 meses, tanto falamos sobre relacionamentos...

Noutro estaminé postado no chão - comprei uma moldura com uma estampa de uma Santa - que me saltou logo foram os escapulários na sua mão, a coroa, cantinhos em lata a imitar prata e vidrinhos espelhados à volta do caixilho, uma delícia, por 1,5€ para ornamentar a sala da casa rural. O vendedor - um jovem negro de S.Tomé , bem falante, rija e boa a conversa, rapaz bem disposto, parecia de bom intimo acabou por nos oferecer uma caderneta militar de 1929 - num relance tirou o boné de marca da cabeça - olhando para nós, disse...bom, muito bom, não sabem o bem que me fizeram aqui e...apontava para a cabeça...Senti tanta pena dele, bem que o influenciei para aproveitar as Novas Oportunidades e tratar da legalização, até me mostrou os papéis - "topei" logo que era diferente, com cultura, trabalhou muito nos restaurantes da Expo - ainda lhe comprámos um cavalo tipo Lusitano branco - pó de pedra de Alcobaça ou biscuti a rivalizar com os famosos da Vista Alegre- que sujo estava,  lindo agora que foi lavado!
Mais à frente encontrei outro vendedor com quem travei conversa, já mais velho, magro de origem Goesa, via-se que tinha percorrido o mundo, sabia o que dizia...em jeito atrevido disse-lhe - sabe, os seus olhos são iguais aos nossos, tem por certo na sua família genes de gente portuguesa..o que nos rimos, farta conversa. Este o maior prazer da feira, o imprevisto, conversar com gente anónima de tudo e de nada, rir...e apetecer ficar!
Num canto vi um tinteiro em porcelana chinesa, tipo casca de arroz marcado por 1,5€ - nunca tinha visto, tive de o comprar, fez-me lembrar os tinteiros brancos de rebordo das carteiras na primária - ao chegar a casa constatei tratar-se de um cálice (para beber a aguardente de lagarto) ...

Na saída comprei uns Jambés com couro para oferecer à  minha filha, lindos por um preço simpático.Ao lado um colega, já enfrascado com pacotes de vinho pelo chão - vazios...tocava, tendo como instrumento uma simples cana rachada, o raças do rapaz, apesar de embriagado tocava como ninguém o malhão, até lhe dava o jeito de bater com a mão.Comprei-a por 1€. A cana desnudada - tem contudo por baixo um parafuso para ajudar a vibração, fazer saltar o som característico que me catapultou à infância - homens em romaria cantavam à desgarrada estrada fora com elas nas mãos engalanadas com fitas berrantes em jeito de laço.Ele a cantar, batia com ela na anca, atrevidote convidava a dança!

O que tive pena? Vi pela primeira vez lindos azulejos século XVIII com caras de anjos e um painel quase completo com um anjo desnudado, eram lindos de morrer, a vendedora rapariga na casa dos quarenta, muito magra, marcada pelas amarguras da vida, falava fluentemente inglês...trocava conversa com um homem novo, conhecedor...Vim embora, ao fim de alguns passos voltei-me, para meu espanto arrumava-os...voltei, nada vi, vendeu-os dados! Se estivesse sozinha tinha-os comprado!
Eram divinais, únicos, de onde teriam sido roubados?
Sim, era mercadoria nobre, se era!

Seguidores

Arquivo do blog