Mostrando postagens com marcador o meu tio paterno Chico de Ansião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador o meu tio paterno Chico de Ansião. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Francisco Rodrigues Valente, o meu tio paterno Chico de Ansião

O tio Francisco conhecido por Chico na família e amigos herdou o nome do avô paterno que vivia no Bairro de Santo António. Como o meu avô "Zé do Bairro" casou em 2ªs núpcias, ficamos sem as fotos que haviam em casa, fiquei com esta tipo passe dum cartão do tio.

No dia do meu batizado em agosto de 1957-, na direita o Sr. Zé André do Ribeiro da Vide seguido dele a minha avó Piedade, o meu avô "Zé do Bairro", o padre Freire de Lisboinha, primo da minha mãe, a criada do Alvorge com 14 anos comigo ao colo, a minha mãe e a prima do meu pai a Tina-, o fotografo, o meu pai com o kodak emprestado do retratista Jaime Paz.Curioso onde estão não era nosso, era um lote do Ti Abílio Ferreiro, que anos mais tarde os meus pais compraram a peso de oiro. Em frente da casa a frondosa figueira que dava figos "bosta de boi"...enchavidos, sem sabor que só os porcos comiam!
Mais novo, o único irmão do meu pai -, bom rapaz " pobre diabo, não fazia mal a uma mosca" puxou parecenças aos genes mouros por parte dos avós do Bairro de Santo António de Ansião pela estatura baixa, em contraste com o meu pai muito alto, com genes fenícios por parte da mãe. Destituído (?) para os estudos, não passou do 2º ano no Externato de Ansião...
Padeiro, a sua profissão, no comércio da sua mãe Piedade.
Avó Piedade Cruz a foto era do seu cartão de Sanidade.
Esta foto é muito interessante pelo olhar que nem eu nem a minha irmã herdamos, mas sobrinhas dela como a prima Amélia me faz recordar a minha avó.
A casa onde nasceram o meu pai e o irmão, seguida da casa onde funcionava a padaria.
Na frente o barracão onde se guardava a lenha para os fornos, pocilga e currais-, onde hoje é a minha casa.
Ao tempo andou de carroça e bicicleta a vender pão, muitas vezes com o seu amigo, apesar de muito mais novo, o Toino, o filho mais velho da "Albertina do Pau Preto" tantas vezes foram os dois ao Avelar fazer a venda. O tio cobiçava o seu serviço, e o jeito calmo para atender a freguesia, dizendo-lhe que um dia ainda seria seu padeiro... 
Lembro-me bem do tio Chico, no gosto de usar botas pretas de cabedal feitas à medida no sapateiro do Sr Gaspar. Como bens, tinha uma grande telefonia Blaukpunt e a pasteleira, a sua fiel amiga bicicleta. Fora isso, não tinha mais nada...
 

Ao tempo a casa dos pais era farta, em que só se valorizava o trabalho, labuta nas terras, na padaria, e o avô na arte de pedreiro, com isso havia dinheiro -, mas faltava amor...
A minha avó Piedade foi obrigada a casar com um homem de quem não gostava, nada tinha a ver com ela -, homem de trabalho, grosseiro, e ela mulher de trato fino, prendada de mãos, delicada, na noite de núpcias fugiu para casa dos pais...Difícil acredito teria sido suportar uma vida em desamor... Aprender a abafar os desgostos no vinho, tendo a adega no enfiamento da casa, fácil foi enfrascar-se para esquecer a má sorte ditada pelos pais a quem teve de obedecer...fácil foram os filhos aprender tal vício... Raro o dia que o tio também não se enfrascasse em demasia…Do tio sempre falaram bem as filhas mais velhas da Maria José "a Ilhoa do Casal das Peras, não havia dia que após a venda, no fundilho dos panos do cabaz do alforge assente na bicicleta não levasse pão para elas, nunca se esquecia, se não calhasse do dia, arranjava de véspera, a troco de um copito e dois dedos de conversa".Aquele tio sabia onde havia gente boa, de bom coração, com necessidades-, boas moçoilas de arregalar as vistas, ainda lhes dava uns tostões, gesto que hoje dizem de boca cheia de quem lhe fez bem…Tímida fala dele, envergonhada, a prima "Júlia do Bairro, por se mostrar um atrevidote na escola, às escondidas surpreendia-a para lhe apalpar as mamas"...rapariga de peito generoso, altivo, uma obra de arte, apurado gosto o tio Chico tinha, apesar de pecar, sua prima em primeiro grau.O irmão da prima Júlia -, o Chico quando se casou, disse-lhe "primo, a vida de casado é boa, casa-te também, mas não escolhes uma mulher da vila…"O tio Chico sofreu um acidente trágico… Contou-se o que alguns se lembraram de inventar: bêbado, se desequilibrou e caiu da escada; outros, que foi empurrado pelo meu avô " Zé do Bairro"...De facto não existia corrimão na escada, que fpo mal estruturada a caminho do sobrado, muito perigosa. Aconteceu o pior, partiu a espinha em quatro sítios, tendo sido hospitalizado de urgência em Lisboa. 
Um domingo de manhã, os meus pais vieram no táxi do Germano visitá-lo, eu e a minha irmã ficámos sozinhas, porque a criada do Alvorge, a Lurdes, tinha ido de folga a casa. No momento vivia-se a febre das coleções, nomeadamente de selos.
Éramos de fértil imaginação, aproveitando a ocasião de estarmos sós, tomámos a decisão de arrombar a mala de cartão atulhada de cartas a abarrotar, poemas e telegramas, do namoro dos nossos pais. Meu Deus, o que nós fizemos com a loucura dos selos. Jamais esqueci as lindas frases românticas carregadas de paixão, dos belos sonetos, dos telegramas de amor...Estranho nunca presenciei em casa o que acabara de ler...O meu pai, homem de doença frágil e ciúme doentio, chegou a obrigar a minha mãe a mudar de saia que a modista "Celeste do Marnifas" tão bem as sabia fazer, quando ela se lembrava de a vestir, travada, com pequena racha a evidenciar a silhueta roliça e as bonitas pernas...Lamentavelmente destruímos tudo o que havia naquela mala de cartão.Da valente tareia não nos safámos a fazer jus ao nome de família -, VALENTE.Passado pouco tempo, o meu tio Chico veio para casa, entrevado -, na altura assim se dizia, hoje, diz-se paraplégico. Os meus avós compraram uma cama nova de casal em madeira para maior conforto, fizeram o seu quarto na sala do sobrado, por ser mais espaçosa e receber visitas.Um dia fui visitá-lo com a minha irmã, enfeitavam a alta cómoda bustos do Eça de Queiroz e Almeida Garrett. 
Difícil é esquecer os seus olhos raiados de lágrimas a pedir à sua mãe -, a nossa avó Piedade, que fosse buscar o seu cordão de ouro ( dos dois que havia na casa, sendo um para cada filho) -, ato imediato, em jeito apressado em satisfazer o pedido do filho o vi entregar-lho em mãos...não menos apressado ele o pôs nas minhas, com a voz trémula balbuciou " é a única coisa que o tio tem para vos deixar"...Este gesto de bondade e carinho, marcou-me para toda a vida. Afinal ele tinha coração, gostava de nós, as suas pequenas sobrinhas, teria 7 aninhos...Porventura, um dos poucos de bom coração naquela família. Infelizmente, não resistiu e morreu solteiro por volta dos seus tenros e viçosos vinte e oito anos.O cordão foi dividido em dois fios, na ourivesaria do Sr Anastácio -, um fio para mim e outro para a minha irmã.

Seguidores

Arquivo do blog