sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rectrospectiva de Portugal antes e depois do 25 de Abril

Uma retrospectiva do Portugal de ontem e de hoje -, ou seja antes e depois do 25 de Abril de 1974.
A revolução dos cravos derrubou o governo fascista de Salazar. 
O povo vivia até então em opressão, 40% da população era analfabeta, a rede de escolas não cobria todo o país, dispunham de poucas condições como refeitórios e ginásios para aulas de educação física, apenas disponível em poucas cidades.
Foi o fim da clandestinidade daqueles que não aceitavam o regime, da guerra colonial e do isolamento internacional.
Enquanto nos países europeus depois da 2ª guerra floresceram novas indústrias, comércio, serviços, apoios estatais à educação, saúde e condições de vida para as suas populações, por cá, o país estagnou com o regime fascista, a discrepância na sociedade entre ricos e pobres era abismal.Os ricos senhores de grandes rendimentos de terras, casas e fábricas, exploravam a mão-de-obra muito barata, pagavam salários muito baixos, um dia de jornada de um sapateiro que se deslocava à casa do senhor era pago com uma broa (pão de mistura de trigo e milho). Havia escalões de jorna (salário) diferenciados para homens e mulheres, incrível que ainda hoje existe essa diferenciação nos trabalhos mais precários na vida rural e fábricas. Esses mesmos senhores com nome de família, fomentavam o abuso de mulheres, e elas para sobreviver, sujeitavam-se à devassidão. Por todo o Portugal nasceram muitos filhos “incógnitos”, uma verdade reposta com o 25 de Abril, cada nascimento obriga a paternidade, em alguns casos recorre-se a exames de ADN.
As famílias geralmente numerosas, levavam uma vida muito difícil, havia muita pobreza e fome, os pais viam nas crianças uma ajuda nas tarefas da lavoura, muitas não iam à escola, geralmente as raparigas eram precisas em casa para ajudar a cuidar dos irmãos mais novos e das tarefas de casa, já alguns rapazes saiam logo que fizessem a 4ª classe, poucos eram aqueles que continuavam os estudos, até porque só existiam liceus nas grandes cidades.
Excertos dessa ruralidade de extrema pobreza onde todos comiam da mesma malga ou tigela de faiança em redor do lume com garfos de ferro -,  couves com feijões ou feijões com couve galega migada ou nabos, conforme a época do ano com chicharo, feijão-frade ou feijão da velha, broa e uma sardinha dava para três quando não era para sete… Gastronomia  que viria dar origem às migas, à sopa de pedra na altura e do fertungado, que não é mais do que um requentado do aferventado de nabos da véspera no tacho de barro com azeite, alhos e louro. Só nos dias de festa se matava o galo ou um coelho. Viviam sem quaisquer condições, chegavam a dormir na mesma cama de ferro quatro -, dois à cabeceira e os outros aos pés, sem água canalizada enchiam cântaros nos poços e fontes, não tinham casa de banho, alguns uma retrete a céu aberto feita em madeira, não havia electricidade, o candeeiro a petróleo e candeias de azeite iluminavam as noites, sem estradas asfaltadas e poucos transportes, andavam a pé ou em carros de tracção animal porque andar de bicicleta, já era ser remediado.
O povo massacrado viu a sua liberdade restituída depois de 48 anos de tortura perpetuada pela polícia política do governo -, a PIDE e da rede de informadores, chamados na gíria de “bufos da pide”.
Até 1960 Portugal era tipicamente um país rural. Com a 2ª guerra mundial agudizou-se a miséria com o racionamento de bens essenciais, nessa altura muitos fugiram das aldeias recônditas dando origem a um movimento chamado êxodo rural e rumaram para o litoral. Os vieiros de Leiria vieram para as margens do rio Tejo onde construíram casebres de madeira suspensos por estacas, para Lisboa vieram trabalhar outros nos serviços, construção civil e as mulheres como criadas de servir, cozinheiras, governantas, mulheres-a-dias e caixeiras. Muitas dessas mulheres com os namorados e maridos na guerra no Ultramar, viram-se obrigadas a procurar trabalho fora de casa, inicialmente nas fábricas, outras apostaram na sua formação, estudando. Apenas com o ciclo preparatório podiam ser regentes escolares. Os correios foram das primeiras empresas públicas a admitir mulheres com o 5º ano dos liceus, durante décadas o histórico de colaboradores foi maioritariamente feminino. Na actualidade o número de alunos universitários do sexo feminino já é superior ao masculino, uma variante pela primeira vez alcançada.
A mudança em Portugal nos últimos 35 anos no que diz respeito a valores democráticos foi bastante significativa para o país, ganhou-se o direito à expressão, ao salário mínimo, 8 horas de trabalho diário, direito a férias, assistência médica e medicamentosa, à educação, entre outras das muitas vitórias alcançadas. Sobretudo para as mulheres que ganharam o estatuto de igualdade para com os homens, até à revolução não exerciam o direito ao voto e também não podiam ter contas bancárias. A sorte era ditada à nascença, aprender os serviços da vida doméstica e da lavoura de subsistência. O objectivo das suas vidas era o casamento e com ele o dever de ser esposa fiel, cuidar do marido, e dos filhos, sobretudo ser uma boa dona de casa, sem outros direitos, o marido é que mandava, esta devia-lhe obediência, só podia sair do país se ele o autorizasse. A violência doméstica era abafada, as vezes que foi exercida, o homem acabou por ver a justiça a seu favor com penas suspensas, porque o sistema era fechado e machista sendo que a mulher  não tinha quaisquer direitos porque a lei era fechada em relação a ela, o homem podia ser adúltero, porém, ela se o fosse via a sua imagem denegrida, enxovalhada, tratada como uma prostituta, sem serem apuradas as razões porque praticara tal atitude. À mulher era vetado tudo, até de sentir prazer…Para pensar!
Os valores democráticos foram consagrados na Constituição
A revolução alicerçou-se na democracia com o contributo de novos estatutos jurídicos fundamentais e primários, o País tornou-se numa sociedade aberta, mais tarde com a integração na União Europeia veio o crescimento económico, muitas verbas a fundo perdido para adjudicação das grandes obras públicas, o livre-trânsito de pessoas para trabalhar entre os Países da União, uniformizou-se a moeda com o euro.
A tolerância para aceitar diferentes formas de ser e de estar na sociedade foi uma mais-valia alcançada. Imprescindível observar a mulher integrada na sociedade conquistando o espaço que merece, ajudando e participando na construção de um país sem descriminação, onde homens e mulheres se deveriam completar na procura de um bem-estar conjunto, fazendo força nessa união. Cargos de responsabilidade em empresas com histórico de homens no comando tem vindo a inverter-se, são cada vez mais mulheres que tem vindo a ocupar lugares de chefia e a alcançar o sucesso num mundo que sempre fora dos homens. As mulheres além de femininas, mulheres, mães, donas de casa, são na vida laboral um exemplo de profissionalismo, desempenho, criatividade, perspicácia, audácia, rigor, e poder de iniciativa invejável, conseguindo coordenar várias tarefas em uníssono e executá-las com sucesso. As mulheres têm conseguido enfrentar as adversas dificuldades, tendo em conta os preconceitos formais da sociedade machista que ainda vigora, mas todas as suas vitórias são uma conquista de Abril com a implementação da democracia, não há profissões fechadas às mulheres.
As cidades cresceram rapidamente com a emigração rural e os retornados das ex-colónias, com a descolonização. Proliferaram subúrbios como Almada e Amadora que rapidamente se transformaram em grandes áreas metropolitanas, rodeadas de bairros de lata, barracas com telhados em folha-de-flandres, em zonas protegidas junto ao litoral como a Fonte da Telha, ocupação de prédios inacabados abandonados pelos construtores, exemplo a Quinta do Mocho ia ser mais um bairro chique nos subúrbios de Lisboa, um desentendimento entre sócios e o projecto foi abandonado, vieram a ser ocupados por imigrantes que, deste modo, evitavam pagar o aluguer das casas. A Brandoa chegou a ser o bairro clandestino maior da Europa, com os esgotos a correr a céu aberto. No entanto as autarquias continuaram na aposta da construção social iniciada no regime fascista pelo Instituto Nacional Habitação Social, o IGAPHE. Nasceram muitos destes bairros sociais, Pasteleira, Cruz Vermelha, Bairro do Pica Pau Amarelo, Bairro Branco, Chegadinho, para o realojamento de muitas pessoas que se encontram em situações de exclusão social.
Foram incrementadas nos anos 80 e 90 grandes obras de infra- estruturas, para apoio à explosão habitacional. Havia muita habitação clandestina e especulativa, construção sem planeamento. Só a partir dos anos 90 é que as autarquias começaram a apostar nos Planos directores do ordenamento do território.No entanto muitos autarcas não respeitaram estes planos directores de ordenamento, porque a sua tramitação e despachos são morosos, e muitas vezes sem concursos públicos decidiram com suborno nas estâncias próprias apressar a construção de bairros onde foram empregues materiais mais baratos cuja durabilidade forçosamente será por isso menor. Hoje estes bairros encontram-se totalmente degradados, a sua recuperação e manutenção exige por isso um custo superior ao investimento inicial.Os objectivos das autarquias nos projectos de habitação social deveriam passar por uma política de habitação condigna e planeada com cursos de formação sobre noções básicas de salubridade, economia do lar e cidadania, antes da entrega da chave. Também de estudar meios de redução até à eliminação de fatores de conflitualidade, colaborando na promoção social dos indivíduos, qualidade de vida de todos os agregados residentes nesses bairros sociais garantindo a integração de todos e uma correcta utilização das habitações. O problema da habitação social é preocupante, ainda não se chegou a uma matriz para a boa convivência entre etnias que vivem nesses bairros, que por terem culturas diferentes, geram violência e má vizinhança. Não basta dar casas às pessoas, há que trabalhar condignamente como qualquer cidadão para ver os seus direitos assistidos, e saber agradecer essa bênção com cuidados de manutenção da mesma, do prédio e dos espaços envolventes.
Viver em democracia é ter igualdade de direitos e respeitar os outros, sendo que mui-tos desses outros tenham culturas diferentes, não esquecer que somos todos humanos!

Práticas de conciliação da vida privada, familiar e profissional:

Conciliação na partilha da licença de paternidade. Os homens devem investir mais no conceito de “Pai”, intervir nesse projecto feito a dois. Prazer em acompanhar sempre que possível a esposa ao médico, viver momentos únicos como “ouvir o bater do coração do bebé”. Colaborar na escolha do enxoval do bebé, no meu tempo, foi feito por mim, o meu marido colaborou, cortou os lençóis e almofadas para eu bordar, ajudou na escolha dos motivos. Mostrar interesse em conhecer a ginástica pré natal, para ajudar a esposa no parto a não se descontrolar, exigir participar, ajudando, viver momentos de sofrimento e de alegria no momento do nascimento do seu filho. Assim aconteceu comigo, já lá vão 27 anos, o meu marido esteve comigo desde logo de manhã que dei entrada na Cruz Vermelha até para lá das 10 horas da noite. Foi essencial a sua ajuda, apoio, durante tantas horas de sofrimento e fulcral no parto, que se revelou muito difícil. Foi um herói, pelo auto controlo, firmeza, enfermeiro, massajando-me os rins, com uma calma imensurável que apenas só homens com “H” grande conseguem revelar…quanto a outros que por aí andam, dizem não ser capaz…mas dizem-se homens…contra-censo!
Então ser homem não é sinónimo de macho, forte, viril, sem medos?
Outra prática a evoluir na conciliação passa pela flexibilidade de horários compatíveis para acompanhar os filhos à escola, fazer compras e partilhar tarefas domésticas, trabalho árduo, não remunerado.
Outra medida conciliadora seria o pacote “dois em um” a aposta do nosso país em contrariar a baixa natalidade pelo apoio de incentivos do Estado às mães, na atribuição de subsídios adequados para que ela pudesse permanecer em casa com a criança até aos 3 anos.
Todo esse tempo contaria para efeitos de reforma. Medida já implementada em alguns países, nomeadamente em França.

Falando no antigamente, a partir dos anos 60, com a libertação da mulher de muitas das tarefas domésticas devido ao desenvolvimento tecnológico (electrodomésticos) e da extensão da escolarização, a sua entrada no mercado de trabalho foi gradualmente estendendo-se a todas as classes sociais, alterando profundamente o funcionamento de novas identidades na vida familiar.
Numa aposta de viragem, em mudar a forma de pensar e questionar a forma como se vive, questionando os papéis sociais tradicionalmente atribuídos aos homens e às mulheres, criando para todos iguais oportunidades de participação na vida pública e privada, suscitando um novo entendimento do trabalho para que as mudanças aconteçam por decisão das instâncias do poder e da força do querer das mulheres e dos homens.
No entanto por mais projectos de igualdade na partilha das tarefas domésticas, não têm havido grandes progressos. O desfasamento entre a divisão conjugal do trabalho doméstico que idealmente se desejaria e a que efectivamente se procura concretizar na prática é francamente evidente, 35% da população feminina defende poupar o marido às tarefas domésticas e somente 15% deseja efectivamente que as mesmas sejam divididas.
Os factores que poderão influenciar a discrepância entre a defesa da igualdade no trabalho doméstico são os valores culturais intrínsecos a uma sociedade como factos de imobilidade e de atraso em relação aos sistemas legais. A aposta na mudança de mentalidades desde a infância, não haver diferenciação de brinquedos para ambos os géneros sexuais ( estereotipação dos sexos); só assim essa prática desses princípios estabelecerá a igualdade na preparação da vida adulta sem dísticos isto é para mulher, “aquilo é para homem”.
Também por culpa do conceito de empregado doméstico não ser ainda usual, só agora aparecem os primeiros serviços de limpeza ao domicílio somente composto por homens. Também os electrodomésticos ainda são utilizados maioritariamente pelas mulheres.
No entanto, hoje muitos homens vivem sozinhos. Tem a responsabilidade da economia do lar, compras, limpeza, roupas. Têm aumentado a frequência em cursos de culinária. Estão cada vez, a torna-se mais autónomos. Uma nova geração, que reivindica a real identidade, reprimida, dar vida à mulher que cada um tem dentro de si!
É necessário reinventar novos papéis sociais de género, novas atitudes e novas identidades na vida familiar. Na noção de distribuição equilibrada das tarefas (domésticas e de apoio à família), como elemento promotor da conciliação entre o privado, o familiar e o profissional.
Agilizar processos de conciliação entre a vida privada, familiar e profissional, na reorganização dos processos de trabalho e da gestão dos tempos de trabalho, e serviços de apoio ajustados às novas necessidades.
A nível particular tive dificuldades em conciliar a minha vida familiar com o meu primeiro emprego. Trabalhava em Coimbra como assalariada a prazo, vivia num quarto alugado. Casada, comprei casa na Margem Sul só me sobrava dinheiro para vir a casa duas vezes por mês. Início de vida difícil, tempos que nem quero recordar, precariedade do trabalho, engravidar era sinónimo de contrato não renovado. Problemas com o meu marido que reivindicava a minha presença em casa, estava-se nas tintas para o meu emprego, mas não, para o ordenado. Lutei sozinha, contra situações adversas do foro psíquico, molestava-me, mas eu sobrevivi por teimosia, e por entender que o meu emprego era uma mais-valia para a minha independência, para me sentir bem comigo mesma. Consegui ao fim de 3 anos, vir trabalhar para Lisboa. Efectiva, com ordenado superior, estava na altura de ter um filho. Em abono da verdade posso atestar que para a conciliação de tarefas muito contribuiu a minha atitude em alterar hábitos tradicionais. Ensinei o meu marido em algumas tarefas, cozinhava pouco, passou a cozinhar mais, não fazia compras, passou a fazer, aprendeu a manter-se na minha ausência por motivos de força maior (durante 20 anos tivemos férias sozinhos), em relação ao orçamento mensal e poupanças passei eu a gerir, contrariando o hábito de ser sempre o homem com essa tarefa. Durante a gravidez, o meu marido foi bastante prestável, ajudou-me nas tarefas de casa e obrigava-me a alimentar bem. Depois de nascer a nossa filha ele teve uma conduta exemplar durante os primeiros anos, colaborando nas tarefas, em mudar a fralda, brincar com ela, dar banho. Extremamente dedicado, foi ele que a levava ao colo a pé, para a casa da ama e a trazia ao final do dia.
A partilha deve ser introduzida desde início, para criar habituação. Quando o conheci, ao fim de 5 dias lembro que me disse “quando casarmos”…ao que respondi, casar, nunca pensei nisso, trocas de palavras, saber o porquê, ao que respondi ”acho que não tenho jeito para pensar o que fazer de almoço e jantar” ao que de imediato ele respondeu “ não te preocupes que eu ajudo-te”… De facto sempre assim foi. Situações de enxaqueca, mal disposta ou chateada, ele nunca deixou de fazer as refeições, mesmo eu dizendo que não queria comer, sempre as fez a contar comigo.
A arte de conciliar é uma nova forma de viver em harmonia. Hoje com a liberdade de diálogo e com respeito e inter-ajuda não menosprezando o trabalho executado mesmo que não esteja de acordo com o nosso “jeito” tenho conseguido manter um casamento com mais de 30 anos.

Recordar efemérides vividas por Cacilhas


Cacilhas é uma freguesia da cidade de Almada com apenas 0,97 Km2, densamente povoada. O topónimo perde-se no tempo, dita o povo que deriva da “silha”, correia larga que abraçava a barriga dos burros para segurar a carga, como se “falava de ouvido”, gritando uns para os outros ”dá cá silhas”. Julga-se que assim nasceu o topónimo Cacilhas. No local havia um número elevado de burros que faziam parte do modo de vida de uma minoria da população no transporte de pessoas para Almada, Cova da Piedade, Sobreda e Monte de Caparica quando desembarcavam dos barcos vindas de outras terras.
Em termos de perspectiva de futuro para a freguesia de Cacilhas, a meu ver só pode ser de grande sucesso, se apostarem em iniciativas acertadas!
Local histórico as instalações ocupadas pela GNR num antigo forte. Desconhece-se a data da sua fundação e da ermida de Santa Luzia que lhe deu o nome que não resistiu à derrocada com o terramoto.
No mesmo local foi reedificada a atual igreja com orago a Nossa Senhora do Bom Sucesso em virtude de Cacilhas ter escapado ao maremoto em 1755.
Debruçada sobre o rio, desfruta de duas grandes frentes para o Tejo. Visitada desde tempos primordiais por outros povos, a prová-lo, vestígios de um povoado indígena da Idade do Bronze (séc. VIII a.C.), ocupado mais tarde por um entreposto comercial fenício, com um povoado da Idade do Ferro (séc. VII a. C.), na Quinta do Almaraz que atestam as ancestrais ligações das gentes ao rio, bem como a descoberta mais recente de tanques romanos para a salga de peixe que tive o privilégio de os observar antes do achado histórico ser “entupido” até serem encontradas soluções para a sua mostra permanente ao público.
O meu marido de costas para o veleiro da Groupama a velejar no Tejo
abril 2009
Fotos em 1 de maio 2011

A minha princesa a chegar de Lisboa para passar o dia com os pais
a boa corvina que aqui se pesca quando sobem o rio para a desova

Falando de alguns locais com apontamentos de história nesta freguesia:
Reinstalação do farol de Cacilhas instalado inicialmente em 1886, sendo retirado em 1978, com destino à ilha Terceira nos Açores.Desativado em 2000, estabeleceram-se contatos para o seu regresso e está a ser reparado em Paço d’Arcos no núcleo de manutenção de faróis da Marinha.
Inauguração com a banda da Marinha
O seu pedestal aguardou a chegada ainda este ano. Será que a sua cor original irá permanecer?
Ainda me lembro, era verde. Curioso o contraste com a cor do proletariado e da autarquia!

Maldade…já me fiz à foto na frente dele!

Cacilhas foi e será sempre a porta principal da cidade de Almada.
Porto de partida e chegada de milhares de pessoas diariamente, é preciso readaptá-la num conceito de modernidade, apelativa a visitas de turistas e gentes de Lisboa. Já que a sorte ditou Almada estar de costas para o rio, cabe a Cacilhas aproveitar a frente ribeirinha e reconverter toda a zona num enquadramento moderno, eficaz, funcional, histórico, com as várias empresas de transportes ali sediadas.
Adaptar o projeto Recria, na requalificação de casas seculares, mantendo a sua traça antiga, cores, brilho dos ferros forjados e azulejos. Manter ruas limpas, sem os inestéticos caixotes a abarrotar de cheiros nauseabundos, adoptar novo método de encaixe dos caixotes no subsolo, como em Almada. Embelezar cais devolutos, desativar o que não interessa e dotar os pontões de pedra de forma serem desfrutados pelo comum visitante que queira saborear de perto a intensidade do rio.
Aqui o telhado com um pequeno buraco, agora junho 2015 está na frente todo aberto.
A requalificação com esplanadas de rua com muitos edifícios de imagem lavada que se torna aprazível
Atracção turística, a lembrar a época dos descobrimentos, é a visita guiada à última fragata à vela que fez a carreira da Índia, D. Fernando e Glória. Em 1940 por já não ser necessária à Marinha foi reaproveitada como obra social para acolher jovens oriundos de famílias desestruturadas, onde aprendiam ensino escolar, artes e treino de marinharia. Em 1963 sofreu um incêndio, foi rebocada para o mar da Palha, onde ficou à mercê de pilhagens e desgaste com erosão das marés.
Ano de 2009
Finalmente recuperada, com grandes engrenagens de engenharia para não se desfazer o casco foi erguido com ajuda de balões.Sendo o casco em bronze que foi recuperado com a contribuição de saberes de artes antigas de artífices reformados do Alfeite, crucial reconstrução da fragata na sua traça original. Contudo, não foram feitas as velas. Como ficavam muito dispendiosas, apenas fizeram os mastros. Embelezou e enfatizou a Expo 98, como símbolo do nosso passado, marco histórico, ex-líbris, e hoje jaz, ancorada, num antigo cais da Parry & Son.
Outra medida interessante repôs o antigo chafariz. 
Trata-se de uma réplica do antigo chafariz de água sediado na praça, desativado no século passado, infelizmente destruído num tempo em que arquitetura, nesta terra, não era sinónimo de cultura! , o poço de abastecimento encontra-se ao cimo na frente do Posto de Turismo. 
Passagem do ano há o costume de festa entre margens onde o baile, champanhe e fogo de artifício são rei.
Ano de 2011
Trabalho no âmbito das Novas Oportunidades, sem fotos.

Falar de sotaque, dialectos e regionalismo

O sotaque é uma forma particular de falar uma língua mãe,numa distinção fonética que revela a cultura de uma região.Pode generalizar-se no tempo na língua de um povo, caso do Brasil, com o sotaque brasileiro da língua portuguesa.Também existe sotaque na pronúncia fonética de qualquer estrangeiro.Por ser diferente, pode tornar-se engraçado, mas também uma forma de preconceito, de diferença.
Existem imensos sotaques no nosso país. Norte, Beiras, Coimbra, Setúbal, Alentejano, Algarvio. Na área metropolitana de Lisboa, prolifera uma panóplia de sotaques, associada a comunidades migrantes: brasileira, africanos, leste e outras comunidades menos significativas.O sotaque enquanto fenómeno fonético, pode diferenciar e desprestigiar pessoas, cuja parte da sua vivência em determinada região acentuou características regionais. Exemplo Setúbal, carregam no “R”, já em Viseu, trocam o “ B” pelo “V”.
A miscelânea de temperos, charme atrevido, bonito de tão simples, o sotaque e o regionalismo podem ser tudo, menos ridículos.
Conceitos de Regionalismo:Tudo aquilo que se diz respeito a uma região, termo, locução ou costumes próprios daqueles que vivem nessa região.A expressão do valor cultural e artístico de uma região.O tempo sempre permitiu que o povo em cada região “inventasse” um nome diferente para a mesma “coisa” que, na língua mãe, já tinha nome.
E regionalista, é aquele que defende os interesses regionais, na corrente artística voltada aos temas da terra e se inspira nos elos regionais. Também o sentimento expresso na guarda de um património local.
Lamentavelmente no passado homens de cultura, não conseguiram atenuar dialectos, muito menos linguagem com sotaque, e regionalismos. Mais ainda, no Brasil deixaram atribuir significados de palavras diferentes, mesmo opostas, às que já existiam no dicionário da língua mãe em Portugal. Deturpação de letras no final da palavra, exemplo: substituição do “L” no final da palavra por “U”. Exemplo, chamando-me Isabel, não suporto ouvir o som do sotaque - Isabeu!
A muito curto prazo o sotaque e o regionalismo têm tendência para se extinguir, diluídos no tempo. A ditar este fenómeno a globalização: a massificação de muita e vasta informação; fácil deslocação de pessoas a outras terras; vivências de cada um. Num futuro próximo, no nosso país, todos falarão o mesmo padrão de língua, sem sotaque nem regionalismos. Surgirão novos vocábulos, numa mutação normal de uma língua viva como a portuguesa. Será inevitável.Também cabe a cada um enxergar outras dimensões de “sotaque” e regionalismo que não apenas ligadas à fonética linguística.
Parafraseando o autor do texto apresentado, os gestos também têm sotaque. Analisando pormenores que denunciam a origem das pessoas, e que as distinguem umas das outras, podemos discriminar vários tipos de olhares - ora vejam:
  • Olhares, sobre a linguagem estar: andar, mexer, estar, sentar, dormir e rebolar.
  • Olhares, sobre a linguagem do olhar, azul, castanho, verde ou preto: lânguidos, quentes e frios, redondos, oblíquos, amendoados, grandes e pequenos.
  • Olhares, sobre linguagem bocal: carnudas, pequenas, grandes, finas, escarlate, ou sem graça, nem por isso deixam de ter encanto.
  • Olhares, sobre linguagem do sorriso: atrevidos, sedutores, sexy.
  • Olhares, sobre linguagem das mãos: finas ou grossas, quadradas ou redondas, artimanha antiga de comunicar, tocar, sentir...
Este tipo de regionalismo é importante como factor de identidade que se pode vir a extinguir no tempo em virtude da perda gradual da identidade de cada um. O mundo caminha em jeito apressado, egoísta, desumano, onde o encantamento do pormenor se dilui na falta de tempo para apreciar estes valores num simples olhar ou toque. Coitado daquele que não sabe apreciar, contemplar, sentir palpitar o coração com um desses gestos.A mim espero que nunca me abandonem, quero-os sentir todos os dias, sinal que estou viva!

Estórias sobre a emigração portuguesa

A história da emigração portuguesa confunde-se com a história de Portugal a partir do século XV com as descobertas. Este fenómeno foi adquirindo características diferentes ao longo dos tempos, começando como um esforço de povoamento dos primeiros territórios descobertos, a ilha da Madeira. Mais tarde passou pelos aspectos de colonização do Brasil, Índia, África e Timor. Culminou, nas épocas mais recentes, nas características que ainda hoje sobrevivem na emigração temporária, cujos objectivos são essencialmente económicos. No início do século XX a emigração tinha como destino o Brasil, América e ilhas do Atlântico como Fernando Pó. Na segunda metade do mesmo século, no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, os destinos da emigração portuguesa encontravam-se bem delimitados, constituindo a América Latina, e, em especial o Brasil e a Venezuela, o destino mais importante da emigração portuguesa. Foi o período da emigração transoceânica, com um carácter marcadamente económico, familiar e de prolongada permanência, senão mesmo de permanência definitiva. No início dos anos 60, em especial a partir de1962/1963, a emigração começa a dirigir-se para a Europa, chamada na gíria “a salto”, vivia-se em ditadura. Abriu-se um novo capítulo na história da emigração portuguesa, porventura o que maiores repercussões teve nos domínios social, económico e demográfico da sociedade portuguesa.
Geograficamente mais próximos e carentes de quantitativos elevados de mão-de-obra, alguns países europeus, em especial a França e a Alemanha, passaram a constituir o destino prioritário dos emigrantes portugueses. O crescimento económico europeu e as tarefas de reconstrução do pós-guerra, aliadas a um crescimento demográfico resultante do Baby Boom (literalmente explosão de bebés, fenómeno demográfico ocorrido na sequência da Segunda Guerra Mundial), constituíram um enorme poder atractivo, potenciado por razões impulsivas internas, como sejam o fraco nível de vida das populações, as situações de desemprego e sub-emprego e um desequilíbrio estrutural da actividade produtiva (em vastas regiões do país imperava uma agricultura de subsistência). Simultaneamente registou-se neste período o início da Guerra Colonial, nos territórios de Angola, Moçambique e Guiné, o que terá constituído mais um factor repulsivo para os jovens sujeitos ao serviço militar obrigatório. A juntar a tudo isto não é de mais salientar o facto de Portugal viver numa ditadura em que a liberdade de expressão era proibida.
A partir dos anos 60 e até meados da década de 70 foi difícil avaliar correctamente os fluxos de emigração, pois grande parte dos emigrantes abandonava o país clandestinamente, sendo apenas possível a sua contabilização aproximada, de forma indirecta e principalmente através de alguns organismos do país de acolhimento. Calcula-se que a parcela composta pelos emigrantes clandestinos entrados em França terá rondado cerca de 50% do total de emigrantes com destino àquele país, na década de 60 e mais de 80% na década de 70. Efectivamente, a emigração portuguesa verificada no período compreendido entre 1976 e 1988 encontrava-se relativamente estabilizada em contingentes que variavam entre o máximo de 26 318 indivíduos, registado em 1979, e um mínimo de 13 680, registado em 1983. Os destinos prioritários dos emigrantes portugueses têm conhecido algumas alterações ao longo dos tempos. Em 1976, a América absorvia cerca de 72% da emigração contra apenas 24% da Europa. Contudo em 1988, a situação inverteu-se, com a Europa a receber mais de 50% dos emigrantes contra 44% do continente americano. Os destinos dos emigrantes das Regiões Autónomas são historicamente diferentes dos continentais. Os Madeirenses emigram preferencialmente para a África do Sul e
Venezuela, enquanto os Açorianos rumava principalmente para os EUA e o Canadá, perfazendo estes últimos a quase totalidade do contingente com destino ao continente americano. A França continua a absorver o contingente mais estável e o segundo mais significativo de emigrantes portugueses nos anos “mais recentes”. Embora a Suíça só apreça individualizada estatisticamente a partir de 1986, verifica-se que é um destino de grande importância para os emigrantes portugueses. A análise dos fluxos emigratórios de alguns anos atrás revela uma perda substancial do conjunto dos emigrantes permanentes que, representando ainda 90% do total, em 1976, baixaram para apenas 52%, em 1988. A emigração temporária passou de um nível de 10%, em 1976, para cerca de 48%, em 1988. O este fenómeno está associada a já referida perda de importância do continente americano como destino emigratório a par da subida da importância relativa da Europa. A adesão de Portugal às Comunidades Europeias e a elevada diferença de rendimentos que se continua a registar entre Portugal e a generalidade dos países europeus são razões explicativas para este facto, para além da proximidade geográfica, que permite e incentiva esta forma de ser emigrante (no final dos anos 80, principalmente). A emigração atingiu indiscriminadamente todo o território nacional com especial incidência nas zonas rurais. Actualmente, Portugal já não é aquele país de emigrantes, como ficou conhecido, pois as condições de vida e económicas melhoraram muito desde os anos 60, 70 e 80, o que fez com que deixássemos de emigrar, mas fez com que nos tornássemos um país alvo de emigração, por parte de países de leste, africanos e sul-americanos.

Com a adesão de Portugal à Convenção de Schengen, e a entrada em vigor do Decreto-Lei 244/98, a imigração ilegal parece estar associada a um fluxo maioritariamente constituído por indivíduos ligados a redes de tráfico de mão-de-obra estruturadas a partir das zonas emissoras. Neste contexto, em Portugal os principais fluxos migratórios provêm dos PALOP (com destaque para angolanos, cabo-verdianos e guineenses), do Brasil, da China, e dos países do Leste europeu.
A imigração clandestina proveniente dos PALOP, geralmente utiliza a fronteira aérea, com voos directos entre os países de origem e a capital portuguesa. Recorre-se com frequência à solicitação de vistos de curta duração, permanecendo-se depois em Portugal para além do prazo autorizado. A via aérea também é utilizada para a imigração de cidadãos brasileiros para Portugal, porque beneficiam, para entrar em território nacional, dos acordos celebrados em matéria de isenção de vistos. A imigração chinesa está frequentemente associada a redes que fornecem documentação falsificada de forma exemplar, e asseguram a deslocação mediante recurso a passadores (apelidados de "cabeças de cobra"). O respectivo pagamento é concretizado por núcleos de familiares e/ou prestação de "trabalho escravo" no país de destino, em restaurantes ou oficinas artesanais. De facto, julga-se que muitos destes locais constituem uma camuflagem ideal para esquemas relacionados com a imigração clandestina em todo o território nacional. A imigração ilegal proveniente dos países do Leste europeu, com particular ênfase para a Moldávia, Ucrânia, e Roménia, constitui o principal problema de Portugal e decorre da acção de redes de apoio operando em larga escala. Embora essas redes estejam estruturadas desde a origem, em Portugal também integram cidadãos portugueses e africanos (oriundos de países com ligações à antiga União Soviética, que se intitulam subempreiteiros da construção civil).

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização assinada entre países lusófonos, que instiga a aliança e a amizade entre os signatários. A sua sede fica em Lisboa. A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano de 2002, após conquistar independência, Timor-Leste foi acolhido como país integrante. Na actualidade, são oito os países integrantes da CPLP. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa abriga uma população superior a 230 milhões de habitantes, e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o Canadá, segundo maior país do mundo. O PIB de todos os países, somados, supera US$ 1.950 trilião. A CPLP já foi decisiva para alguns de seus países. Na Guiné-Bissau, por exemplo, a CPLP ajudou a controlar golpes de estado e, em São Tomé e Príncipe, por exemplo, uma reforma económica foi proposta. Na Guiné-Bissau, foi possível a reforma política.

O actual processo de globalização, impulsionado pelas novas tecnologias de comunicação e informação, está a interligar o mundo, estruturando a construção de uma sociedade multiétnica, e consequentemente confrontando diferentes ideologias, culturas e conceitos. A condição pós-moderna realçou as questões sobre as diferenças, colocou o “outro” como alguém que, mesmo vivendo de forma diferente, pode/deve ser reconhecido como "nós", e acentuou a flexibilidade como uma categoria política central para pensarmos sobre as mudanças que devemos proceder. Se a conversa franca/autêntica com o “outro” ainda não se tornou realidade, então torna-se mais urgente ainda, a necessidade dos espaços educativos pós-modernos a reflectirem como possibilidade, afinal, a efectivação desta conversa envolve uma negociação muito complexa. As sociedades contemporâneas são heterogéneas, compostas por diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão quase que permanentemente em contacto. Os diferentes são obrigados ao encontro e à convivência. As ideias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental, económica, já que teremos que conviver de alguma maneira. A política do reconhecimento e as várias concepções de multiculturalismo ensinam, enfim, que é necessário que seja admitida a diferença na relação com o outro. Isto quer dizer tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos. A democracia, por exemplo, é uma forma de viver em negociação permanente tendo como parâmetro a necessidade de convivência entre os diferentes, ou seja, a tolerância. Mas para valorizar a tolerância entre os diferentes temos que reconhecer também o que nos une.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Descobrir a falésia do Cristo Rei

Caminhada da Boca do Vento à Quinta de Arialva  até ao Ginjal.
No enclave, a escadaria em pedra de acesso ao miradouro da Boca do Vento com moderna marisqueira, e acessos ao elevador .
O pôr do sol é soberbo ao miradouro do castelo de Almada


No miradouro da Boca do vento

Sentada no muro de acesso ao elevador no aniversário da minha mãe 2010





Escadinhas que partem do miradouro da Boca do Vento ao cais onde estão restaurantes Ponto Final e outro.

Foto 2010
Camas para relaxar a ver o Tejo...

                                                                                         O elevador

Estrada que serve a quinta de Arialva e o estaleiro desativado de Olho de Boi e o seu bairro operário, praias, museus e Fonte da Pipa a Almada velha.

Acesso à beira rio do Ginjal ao jardim do elevador

No jardim à beira Tejo relvado, local aprazível, pendo de tonelada desprendido da encosta


A fonte da Pipa onde na época dos descobrimentos as naus enchiam as pipas de água potável, servindo a população até ao século XIX.



O museu naval convida a uma visita gratuita
A meio caminho a casa da guarda-fiscal, devoluta, mas com o quintal amanhado defronte ao rio, e de costas para o antigo bairro dos operários e instalações fabris do estaleiro Olho-de-Boi, um largo, a praia onde num ano trágico morreu um aluno do colégio Frei Luís de Sousa.
Fácil dar de caras com um portão escancarado em ferro forjado, na parede lápide em pedra a anunciar a Quinta de Arialva.

Espaço belo, majestoso a lembrar tempos de vida fausta, varanda coberta com painéis e bancos em azulejo, num convite, espreitar o rio, num vislumbre sem igual, sobre Lisboa. Aposta no domínio cultural nas artes e turismo de excepção, sendo que o património arqueológico existente é um dos motores do projeto, dada a sua importância. Meio escondido na arriba, escapou por enquanto ao vandalismo o Lagar de varas com grandes tanques em pedra em excelente estado de conservação, a merecer uma rápida intervenção, sob pena de se perder para sempre com um incêndio, como o que aconteceu com o palácio.
Subindo a arriba a caminho do Cristo Rei ainda se podem ver vestígios de cepas que sobreviveram à filoxera que determinou o declínio do comércio vinícola que durante décadas sustentou as marcas Arialva” e “Benfica”, rótulos que guardo junto a tantas outras pequenas coisas na minha vitrina de memórias. Será que alguém se preocupou em guardar para mais tarde mostrar a todos aqueles que se interessam por esta simbologia?

No meu olhar de zeladora num portelo do que resta dos armazéns da quinta de Arialva sinto que Almada finalmente tem vindo a demonstrar esforço unânime das forças políticas para começar um novo projeto de integração, de forma equilibrada e fundamentada, com diversas vertentes (cultural, económica e até social) no espaço compreendido desde o Ginjal à Quinta do Arialva. 
Projecto de requalificação conhecido há muito. É interesse da edilidade revitalizar o espaço abandonado e todo o património ao longo do rio, a cair aos a “olhos vistos”. Problemas com ocupações deliberadas nesse património por desocupados, vendedores ambulantes, sem abrigo e toxicodependentes que, num ímpeto de loucura ou por acidente, têm incendiado alguns locais. Persistem ao fundo, dois pólos de restauração, atrativos, óptimo para germinarem mais.
Cais do Ginjal
1 de maio 2011

  • E nas remodelações de casas , nesta se deveria ter deixado à vista esta estrutura de madeira envernizada

No entanto, Cacilhas demora em denotar interesse na requalificação de um espaço enigmático, o morro altaneiro de esplêndida vista deslumbrante e avassaladora de mais de 240 graus sobre a Arrábida, Seixal, Barreiro, Montijo, Alcochete, mar da Palha, Lisboa desde a ponte Vasco da Gama até para lá de Oeiras e arriba fóssil. Desfrutar daquele lugar num dia de sol e brisa amena, com o seu moinho de pedra e cal a lembrar tempos idos, ambiente de cariz romântico, faz sonhar, abalar corações, ver chegar e partir paquetes, todo o movimento de vaivém que se cruza no rio. Má sorte, convertido em parque de estacionamento, pombais em madeira de cores berrantes e leiras de monoculturas separadas com persianas a imitar muros. Tanto espaço para um restaurante circular, pista de helicóptero, jardins circundantes e elevador panorâmico. Para pensar!