Foto atual dos Paços do concelho de Ansião
Tentar esclarecer a veracidade sobre o brasão que ostenta o varandim dos Paços do Concelho de Ansião, dissecando duas edições de autores que se mostram incompletas: Heráldica da Bandeira e Armas do Município de Ansião do Dr. Manuel Dias - Ansião e o Estado Novo em edição da Câmara Municipal de Ansião de 2000.E um pequeno fascículo do Padre Coutinho - Documentos Senhoriais de Ansião 1993 que cito excerto (...) «Quando receberam a titularidade de Ansião, os Condes de Ericeira edificaram uma bela moradia senhorial no centro da vila e encimaram-na com o brasão de armas (encontra-se presentemente colocado, em posição invertida, no muro frente à casa dos herdeiros de António do Bairro, o mestre de obras responsável pela construção do novo edifício municipal, a quem a edilidade da época doou a pedra de armas, porque na varanda do salão nobre só quiseram o brasão municipal que a Associação dos Arqueólogos de Lisboa concedera à vila antes de 1935 , sobre a constituição heráldica da bandeira , armas e selo do município de Ansião, proposta pela comissão de heráldica da Associação de arqueólogos portugueses. Deu origem à base do brasão atual em mármore com as romãs na frente dos Paços do Concelho, porque o de pedra ficou mal esculpido: Esquartelado:o 1º e o 4º de prata, com 5 escudetes de azul, postos em cruz, cada escudete carregado de 5 besantes do campo, postos em sautor, e bordadura de vermelho carregada de 7 castelos de ouro; o 2º e o 3º de azul, com 3 flores de liz de ouro; sobreposto, um escudete de ouro liso (Meneses), com um anel de ouro, tendo encastrado um rubi voltado para o chefe, e com a sombra do mesmo anel no cantão sinistro da ponta. Como ornato superior do escudo, de tipo francês, o timbre: coronel de conde (as armas que ostenta o Pelourinho).»
Desde sempre me indignou em terra de canteiros o brasão do varandim dos Paços do Concelho ser em mármore, pese o filão rosa acreditado na especialidade, atestado por Domingos Vandelli na Lagarteira/Sarzedela quiçá se estende ao Carril no Vale Perrim, onde também o meu pai dizia o havia numa sua propriedade.
Foto de 1915
Despertei na leitura do Padre Coutinho (...os Condes da Ericeira edificaram uma bela moradia senhorial no centro da vila e encimaram-na com o brasão de armas (Encontra-se presentemente colocado, em posição invertida, no muro frente à casa dos herdeiros de António do Bairro).
A primeira foto conhecida dos Paços do Concelho na vila, data de 1915. E de fato nota-se uma mancha preta, acima do lintel da 3ª porta do sobrado. Dá a sensação de ser um brasão de Portugal coroado, e não o dos Condes, que mandaram implantar o seu no Pelourinho, em 1686, que foi sito defronte do solar e, em 1903 trasladado para norte onde se encontra.
Portanto que brasão era aquele? Teria vindo da primeira Casa da Câmara na Cabeça do Bairro, desativada em 1896 ? Provável, ou mandado executar nessa altura .
Os Paços do concelho sofreram um incêndio em 1937. Sendo ampliado como se apresenta. O brasão de pedra foi retirado, não houve interesse em o manter, sendo dado ao mestre de obras... Sendo mandado esculpir no inicio os anos 60, do séc. XX, outro em mármore que lá está ao lavrante Ezequiel, da Sarzedela.
De fato é estranho o brasão não ter sido em pedra, como as cantarias...
O mestre-de-obras da ampliação dos Paços do Concelho António Rodrigues Valente, conhecido por António do Bairro (de Santo António) onde nasceu, era irmão do meu avô paterno. Quem mandou esculpir ao lavrante Freire, as cantarias.
Por conhecer bem a casa onde morou no Escampado de S. Miguel, parti em fim de tarde com o meu marido na tentativa de localizar o brasão na parede como aventa o Padre Coutinho. Afinal não foi encastrado no casario e muros defronte da casa e sim, logo a sul, noutra propriedade, que veio a ser herança das netas , que o encastrando ao contrario , na sua divisão do muro ao meio. Falei com pessoas que toda a vida ali passaram e não se lembram de o ver...em verdade há poucas pessoas de olhar peculiar !
Pois ali permaneceu anos, até que o Sr. Oliveira, marido da Júlia, ao requalificar o muro o retirou. Segundo a esposa o levou para a casa dos avós dela. Tanto a casa dos avos como dos pais das minhas primas sofreram obras de requalificação. Julga-se por isso, por viverem no Canadá, que a pedra do brasão se tenha perdido.
A sua utilidade era apenas uma- confirmar se era o brasão de Portugal. Mas, só pela mancha na foto, é o que parece ser.
Encontrei a prima Stella, radicada no Canadá de férias no Escampado, já não a via há muitos anos. Disse-me que se recorda do brasão andar lá por casa dos avós pelo chão – era de pedra, branco, com castelos esculpidos, mas, tinha um defeito - não se recorda qual ...a câmara não o quis repor e deram-lho. Como para ele era uma pedra preciosa quis deixa-lho às netas ,o encastrando na sua herança.
O que corria na voz da avó Júlia do Escampado, o avô delas é que foi o mestre de obras, quem mandou fazer as cantarias e o brasão. Ao que parece ficou mal esculpido e como o pagou trouxe-o para casa.
Verifica-se uma dualidade de opinião - a camara não o quis encastrar e deu-o ao mestre de obras. Já as netas ouviam que o avô o mandou esculpir e por ter ficado mal, a camara o rejeitou, sendo ele que o pagou ficou com ele.
O mais importante?
Era perceber se efetivamente o brasão veio transferido da Casa da Câmara da Cabeça do Bairro, e parece-me bem que sim. No meu tempo, anos 60 do séc. XX, já só havia o átrio lajeado e duas colunas grossas pela frente, já não tinha o telheiro onde esteve implantado o brasão.
É visível na foto o brasão de pedra ao meio do edificio
Falta a data do comício que foi na primeira República
Para mim corrobora que o brasão era de pedra, aqui foi colocado quando o edifício passou a ser os Paços do Concelho, e portanto com grande probabilidade veio da Casa da Câmara da Cabeça do Bairro.
Estaria mal esculpido os castelos de Portugal, e por isso a rejeição. Denota os maus lavrantes de 600 que também esculpiram mal o brasão que se encontra na sepultura da capela da Misericórdia.
E , perdeu-se!