Crónica com resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em setembro de 2022
Ostenta o Cimo da Rua do passado medieval ,a casa da Ti Zulmira Portela.
A conheci peixeira, e recordo armada de carro de madeira, balança de pratos a redor de gatos a cheiro de guelras. Impressiona a fachada austera de sobrado, vestida a pedra nas janelas com aventais pequenos, piais, óculo e escada interior, grande que enxergava quando tinha a porta aberta.
Em 2015 identifiquei nas faces do pedestal simbologia Católica e Maçónica, que divulguei neste Blogue.
Símbolo jesuíta de três setas
Encontrei este símbolo no lintel do paço da Granja , Santiago da Guarda "IGNCIO DE LOYOLA (_) DA COMP.A DE IHS ROGAI POR NOS"
Benfeitoria com arte urbana
Subia a rua para sul quando enxerguei a pintura, alegre, vestida de amarelo com margaridas às cores que no imediato me reportaram para a casa de Amália Rodrigues, no Brejão.
A minha critica construtiva- "velhinho" pese de cara bem retratado, o baixo ventre foi mal equacionado, pela evidencia de uma dobra a mais...o que reclama o meu olhar como o copo na mão, não faz sentido, que foi e é uso termal, aqui na fonte a água saciava-se com as mãos em conchinha ou em caneco cerâmico de aparar a resina...
César Nogueira aborda num dos seus livros "o
marco de pedra secular com o buraco onde
teria estado enfiada a cruz, fazendo alusão à crucificação de Cristo. Em
alto-relevo e nas quatro faces vários instrumentos com que foi pregado à cruz."
Agracio o leitor a relembrar excertos de dois dos seus contos que lhes cruzei ligação a Ti Faustina
dizia que foi no 5 de outubro de 1810, que chegaram os franceses por volta do
meio-dia cheios de fome, escolheram a quinta que era num alto, cortaram as
oliveiras e fizeram uma muralha em redor do acampamento. Roubaram tudo o que
encontraram de comer nas casas, menos animais que o povo soltou, das talhas
tiraram o azeite para torcidas feitas com os lençóis das arcas, parecendo dia
na noite fria. No dia seguinte andaram por toda a vila e roubaram o que
puderam. Nem a igreja respeitaram. Um pobre homem que apanharam e se recusou a
dar-lhe dinheiro, o tinham sacrificado. Despiram-no e enfiaram-lhe no cu uma
vela a arder que o fazia gritar de dor, cada vez que a cera, ao derreter, o queimava.
Dizia mais tarde “ E eu que não tinha dinheiro, do cu me fizeram candeeiro”.
Passados dias, abalaram com as mochilas cheias. Passaram uns anos e o boticário
Portela comprou, algures, umas papeladas velhas para embrulhar os preparos dos
remédios, encontrando um rol com trastes de ouro, roubados, e que dizia, pelos
jeitos, estarem escondidos na casa da eira da quinta onde estiveram acampados
os franceses. Por alguma razão se esqueceram de levar aquele ouro, ou quem o
escondeu tenha morrido. O Portela calou-se bem calado, e tratou de comprar a
Quinta. E, dizia-se por aí à boca pequena, que realmente o tesouro, tal, como
dizia o papel, estava lá. E o que é certo, é que dum momento pró outro, desatou
a comprar tudo o que aparecia. Mais tarde vendeu a quinta ao Sr. Chico do Fundo
da Rua.
Conto que entronca no do Francês “amalandado. Em crer, quem roubou o ouro da igreja que embrulhou em papéis do seu cartório e o escondeu na casa da eira, adiante se verá que foi morto, por isso foi descoberto mais tarde (…) o carreiro dos Verdinegros antes de fugir de casa escondeu no peal da cozinha 30 libras da venda da junta de bois. Com o dinheiro no pensamento, no outro dia antes do sol fora, ouviu a gralhida dentro da sua casa com os franceses e uma magana, que também palrava - “de súpeto”, vai-se a virar, e ficou sem pinga de sangue, na sua frente, um “Diab’alma” dum grande francês façanhudo, que viria verter águas ou dar de corpo. Arregalou os olhos e já a abrir a boca, sem tempo de a fechar – espeta-lhe no bandulho a vara de picar os bois, de zambujo, com aguilhão afilhadinho, que nem uma lanceta. Calhou ao lado estar a cova de caldar o bagaço, para onde o empurrou e tapou com palha. Dai a pouco ouviu uma grande algaraviada à procura dele e nada…depois de abalarem fez-lhe em cima uma borralheira e plantou uma figueira pedral, a “figueira do francês”.
Sugere-se estudo à catalogação do pedestal, admito ser setecentista, sendo reposta à época a Cruz, a jus do que existiu no Montijo e foi retratado na aguarela de 1669 de Pier Baldi.
De momento não encontro a foto do Cruzeiro que existiu no Montijo semelhante ao nosso, logo que possa, virei aqui publicar.