terça-feira, 13 de abril de 2010

Gondramaz aldeia de xisto em Miranda do Corvo

Gondramaz, o topónimo terá provavelmente influência germânica, cuja origem perde-se nos tempos.
Miguel Torga, médico na região, em 1935 visitava frequentemente Gondramaz, atestando essa vivência mais sofrida. À entrada da Aldeia as boas vindas são-nos dadas com um seu poema numa placa metálica na área de recepção. Miguel Torga, 1941.
“A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas Pelo vento;
De casas de moradia Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia Nos beirais; De poeira;
De ver esta maravilha: Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.”

Visitei em família a aldeia de Gondramaz no feriado de 1 de Maio de 2006. Aldeia em xisto nas faldas da serra da Lousã, encravada num dos contrafortes do alto da serra de Miranda do Corvo a uns valentes 9 Kms sempre a subir por estrada estreita e sinuosa, eis que chegamos ao paraíso muito a gosto ainda a placa identificativa das antigas,em cimento, na companhia das antenas de energia renovável em desfile não me chocou!
Também se pode subir pelos carreiros estrategicamente já delineados com sinalética.Gostei de calcorrear as calçadas de xisto, revivi um cenário idílico, transcendente de foro mui emocional, só igualável a um orgasmo seja intelectual ou sexual. Mesmo assim, a um deles, seja qual for.Praticamente a aldeia toda requalificada, e a meu ver muito bem, com muitos motivos de interesse.

Mulher nua em pedra tão desnudada, agressiva, cravada numa das paredes, aventa ao visitante artista escultor, que por lá tem o seu atelier. Noutra parede apenas pequena caras esculpidas, a fazer lembrar escultura visigótica.
Parapeitos das frágeis janelas com ardósias  e nelas tachos de barro preto característico de confeccionar a chanfana, ali dispostos em jeito de vasos.
Adorei tal conexidade naquele cenário, tipicamente tão português e o contraste da negrura do barro sem vidragem como manda a tradição.A aldeia é circundada por cerejeiras, vales a perder de vista como se tivessem ali sido semeadas, nascem espontaneamente desde os confins da chamada Terra Quente em Trás os Montes, em jeito de despedida abruptamente até se extinguem no concelho de Alvaiázere depois do Rego da Murta, Areias, mais coisa menos coisa.
O lavadouro
A capela

sábado, 10 de abril de 2010

Moinho de maré no Montijo

Aldegalega o nome primitivo do Montijo
Ultimamente temos ido ao Montijo uma vez por mês, geralmente ao 2º sábado aproveitando o evento da feira de velharias. Juntar o útil ao agradável.
Aquando da implantação da República a localidade tinha o nome de Aldeia Galega do Ribatejo conforme atesta placa evocativa num edifício republicano no centro da vila.
Quem como eu conheceu o Montijo há coisa de 30 anos quase que não reconhece, tais foram as zonas já rejuvenescidas pelo programa Polis.Grande expansão de prédios quintas dentro, novas avenidas, mas as entradas ainda um pouco "entaladas" em rotundas. O progresso chegou depressa um pouco atabalhoado,desde que se começou a falar na Ponte Vasco da Gama.
Euzinha
Passeio em 2009. A zona ribeirinha ganhou novos recantos e encantos, apesar de ainda faltar uma grande parte. Ainda persistem na paisagem muitos armazéns,fábricas desactivadas e muita ruína com escombros.
Vale a pena passear à volta dos meandros dos esteiros roubados ao rio e os da caldeira para uso do Moinho de Maré para fazer girar as Mós com a força motriz da água.Pena os canteiros tão arquitectónica e diria magestosamente implantados no rebordo das margens em círculos descendentes totalmente desprazíveis, apesar de rega automática.Interessante é deambular o olhar sobre eles no contexto do sol reflectido sobre as águas mansas e o desfile de calhaus rolados descendo até às margens em jeito de decoração minimalista.
O meu marido
Visitei no Cais o Moinho de Maré aberto ao público em outubro de 2009 com o meu marido e filha. O cicerone homem camarário muito aficionado a coisas ancestrais, com a lição estudada desde a sua fundação, denotando um prazer inexcedível em argumentar, explicar e acompanhar no ritual do cereal em grão até à moagem da farinha, exemplificando in loco onde o grão é esmagado, entre como quem diz ,a Mó de cima e a Mó de baixo, fazendo inclusive a alegoria ao ditado português:
Quando se está mal na vida é costume dizer-se o ditado " está na Mó de baixo, porque é uma Mó mais baixa, delgada"
Quando se está bem de vida é costume dizer-se o ditado "está na Mó de cima, mais alta, maior".
Adorei a desenvoltura do homem, transpirava por todos os poros, mas sentia-se que estava satisfeito por estar à altura de tal desempenho, sei que não lhe dei trégua, perguntei até à exaustão. De tudo sabia, até aqueles nomes dos instrumentos tradicionais. Vimos ainda alguns achados arqueológicos aqui encontrados quando da reconstrução, ainda me lembro do moinho em total ruína.Digno de uma visita sem dúvida.
Cá fora todo o cenário é de uma beleza sem paralelo, águas mansinhas para prática de desportos como o remo, que inveja senti, sei que me faria tão bem, anulava de vez os pneus circulares tão incomodativos...oh não, sim, sim...!
Ainda inserido no mesmo contexto o mercado ao ar livre mais acima também com vista para o rio expandindo-se terreno fora quase sem limites, há de tudo. Gosto em particular de lá comprar batatas, cebolas, morangos, pão, fogaças (bolos típicos de erva doce e canela) e flores.
A minha filha linda na foto também se encanta com rituais de muita cor e gente para trás e para a frente -, gritos de feirantes a apregoar a mercadoria, muita vontade de largar a nota...essa a verdade...mesmo chegando a casa e avaliar que afinal as compras não são o que pareciam.
Passeando a pé pela vila pode-se apreciar a arquitectura ancestral típica com muito azulejo na frontaria e ferro forjado trabalhado. A igreja matriz com a data de 1606 é um edifício imponente, recheada de grandes painéis lindíssimos de azulejos, em destaque o do hall de entrada em cúpula de tamanho mais exíguo e tons fortes mui gracioso. De todas as imagens a minha predilecta foi a de Nossa Senhora da Piedade,bela peça escultórica em terracota com o Jesus caído nos braços da mãe Nossa Senhora, uma figura muito delicada em tons esverdeados a lembrar o céu.Numa roda viva andavam algumas senhoras de volta dos preparativos para a grande festa dos motards a decorrer amanhã. Enfeitavam-se os andores. O santo padroeiro S. Pedro engalanado de seda lavrada em vermelho, o andor cheio de antúrios vindos directamente da Madeira, eram caixas e caixas de flores. Ao meio da igreja o andor da Nossa Senhora da Atalaia, vinda de propósito do santuário do concelho para a cerimónia. Mais abaixo quase à entrada o andor do Santo Rafael patrono dos motards com um mapa na mão e um capacete na outra e uma réplica de mota encravada à frente,ainda aguardava vez para ser ornado, estava nu.
O Montijo é uma cidade a descobrir com tantas frentes, tantos contrastes, ainda tanto por fazer, mas vale sempre a pena contemplar tão grandiosa frente ribeirinha tão doce de ondas a desvanecer de mansinho.
Ao longe Lisboa, a ponte 25 de Abril, Almada, Mar da Palha...uma vista a perder de vista com o aeroporto militar. Pena terem desactivado a linha de caminho de ferro...era demasiado típica, ainda a estação de Sarilhos de janelas e portas fechadas à espera de solução.
Visitem, acreditem, não darão o tempo como perdido muito, porque vale mesmo a pena conhecer!
 
 

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A minha Páscoa 2010 em rico passeio pela Beira Baixa

Mouta Redonda e  num pulo a caminho de Mação, Abrantes,  Castelo de Almourol, Tomar, Vale da Couda , acabar nas Fragas de S. Simão.
Na quinta feira Santa depois ao almoço rumo à minha casa de campo. A tarde com sol inspirava a devaneios pelos jardins. Mal cheguei depressa calcei botas de cano alto de borracha, arregacei as calças de ganga e de luvas nas mãos e chapéu na cabeça plantei as flores que levava. Muita erva no jardim defronte à eira.Tirei a que pude. Ao fundo do quintal onde se estrangulou um ribeiro subterrâneo plantei arbustos para crescerem e ornarem em graça o grande buraco.Na sexta rumei cedo em rota de passeio até Castelo Branco. Porém quase a chegar ao entroncamento com a IP, a minha mãe disse-me que não lhe apetecia , preferia conhecer Mação. Fizemos-lhe a vontade, deambulámos por estradas secundárias. Assimilei curiosidades com o nome de aldeias cujos nomes sonantes os conheço há muito de outras bandas; Mesão Frio e Arganil . O que mais gostei foi da paisagem igualzinha à minha querida  Nexebra com o cume de cristas quartazisticas e ao longo das colinas grandes blocos de mármore semeados.Gostava de ter estudado geologia para poder saber entender tais fenómenos tectónicos que num raio de 100 Km2 originaram na paisagem salpicos na Nexebra no Maciço de Sicó e aqui. Não parámos em Mação, passeamos apenas de carro. A vila é airosa. Gosto sobretudo da brancura das casas ornadas a ocre.Já conhecia!
Terra para se voltar com tempo para conhecer as redondezas e a história dos locais com arte rupestre junto do Tejo, o Museu com achados pré históricos, as serras e a gastronomia.
Miradouro da serra do Bando
Anta da Foz do Rio Frio Ortega Mação
Azenha do Mouco no rio Tejo junto a Ortiga em Mação
Castro Amêndoa em Mação
Paragem em Abrantes.Passeio a pé pela zona velha, minha conhecida, reencontrei os mesmos recantos e estátuas modernas muito bem inseridas naquele contexto. Registo de fotos, como gosto.Faziam-se horas de almoço, logo tivemos a sorte de encontrar um restaurante aberto, afinal era feriado. Deliciámos uns bons e saborosos filetes e arroz de legumes. Tudo muito bem confeccionado.
Palha de Abrantes
De saída rumo a Tomar para parar no Castelo de Almourol. A minha mãe já lá não ia há coisa de 65 anos. Nem se lembra se lá passou de comboio ou carroça a caminhos de Avis.
Nesta margem foi a minha segunda vez, sendo a primeira tinha a minha filha 2 anitos.
No caminho na zona de Alferrarede o rio espraia-se largo deixando sobressair alguns penedos de granito defronte da ilha onde está implantado o castelo.
Impressionante como o corredor de água que nos separa do morro é tão pequeno dando a sensação de quase poder ser ultrapassado com um pequeno salto...Pura ilusão, mas que dá vontade, lá isso dá, por segundos fez-me lembrar o "Pulo do Lobo" no Guadiana, na margem por terras de Serpa. Pena o barqueiro não estar  gostaria de ter visitado a ilha e o castelo.
Parámos novamente em Tomar para fazer umas compras.De regresso alvitrei o gosto de tomar a estrada por Alvaiázere, a reviver cenários de total atmosfera serrana, desde a Cortiça até ao Vale da Couda onde parámos.

Sozinha deambulei de botas de salto alto por entre fragas de pedras partidas pela erosão, semeada de tomilhos, jacintos e lírios, porque as orquídeas ainda não floriam.Tanto aroma sentido naquela imensidão infinita de costados abruptos com terrados em meia lua de muros de pedra seca a sustentar enfezadas oliveiras e fragas profundas até aos vales a vontade em as descobrir...
Onde senti  imensamente livre na necessidade execrável  naquele local fazer uma descarga sólida. E o foi grandiosa, o papel higiénico rapidamente substituído por pequenos calhaus de calcário ao meu redor. De repente ficaram salpicados, chega de obscenidades por entre pedras...Voltei à estrada e passei para a margem oposta em descida a caminho do vale nunca antes aqui tinha estado, apenas o avistada da estrada de carro ou camioneta. Confesso muito medo tinha quando a estrada era mais estreita. Senti prazer em contemplação desta beleza ao fundo do vale onde distingui grandes penedos no leito de um riacho que só leva água  no inverno por entre calhaus rolados...Água, não vi pinga! 
A colina estava limpa varrida pelas últimas chuvadas fortes, só enxerguei caganitas do gado caprino e ovino. Pelas veredas encontrei muito alecrim, trouxe um ramo e dois pés para replantar. Um dei à minha mãe o meu plantei-o no jardim da casa rural.

No domingo de Páscoa almoçamos na minha casa rural. A minha irmã trouxe o leitão e espumante bruto Messias.Os doces eram mais que muitos. A minha mãe cedo se levantou para os fazer, arroz doce, pão de Ló especial com recheio, e bôla de presunto.Comprei um folar com fios de ovos e miniaturas em chocolate para enfeitar a mesa, ovinhos, coelhinhos, gomas e... 
A tarde foi passada na aldeia de S. Simão deixámos o carro nas imediações da capela dedicada ao orago que deu o nome à aldeia com data de 1675 cravada num dos portais.
Senti-me na minha casa...
Descemos a calçada até ao restaurante, estava repleto. A paisagem é soberba.A aldeia pertence ao concelho de Figueiró dos Vinhos e está enquadrada na requalificação das aldeias de xisto. Praticamente todo o casario está reconstruído. Excepção da casa onde nasceu a D Maria Augusta Morgado que foi chefe da estação de correios de Ansião e conheci tão bem, vi a casa da D Maria José Nogueira, junto à fonte, restaurada agora de uma sobrinha, lindas as cameleiras no quintal, também vi a irmã da Mavilde Murtinho com mais de 90 anos, tirei-a pelas semelhanças.A tarde estava magnífica, pena os meus pés entalados nuns sapatos de salto alto, vontade mesmo de me descalçar.
Rumo a casa tratei de arranjar o oratório para a visita Pascal.
Correu tudo bem sem sequer ter sido planeado.Ainda fui visitar a campa do meu pai ao cemitério.
Encontrei a D Albertina e filha Cristina, recordámos com saudade o irmão Zé Manel no Canadá da minha idade, desde miúda que não o vejo.Deixei uma nota que noutra altura quero conversar com ela para saber mais do Bairro e da estalagem que foi dos seus avós.
Chegadas a casa da minha mãe continuámos a nossa conversa sentadas no muro do canteiro por detrás da sua casa.Tanto que conversámos com o sol a presentear-nos de feição,até se esgueirar de mansinho como que a dizer adeus...à nossa Páscoa de 2010!

Piedade a minha avó materna e madrinha

Confesso que me começo a encantar com fantásticos testemunhos sobre as mais variadas temáticas de cariz religioso e profano. Em especial - as Verónicas. Despertada por uma especial referente a Nossa Senhora da Mersiana, que me exaltou porque me fez lembrar a minha avó paterna, também ela de seu nome - Piedade. Minha madrinha de baptismo, como era hábito na época tinha o condão de dar o seu nome à sua afilhada. Porém, a minha mãe não gostando do seu nome decidiu em boa hora dar-me o nome de Maria Isabel, e assim ficou a minha graça.Há quem diga que os nomes das pessoas tem uma consonância com a personalidade que cada um irá perfilar na sua vida.A talhe de exemplo, sempre ouvi dizer que os "Luises" são excelentes pessoas. De facto todos os que conheci, assim o atestaram, assim é o meu marido e alguns amigos.
O meu batizado com os meus avós patrenos, meus padrinhos
Quanto à minha avó Piedade na foto no dia do meu batizado, teve uma vida muito infeliz.Mulher com mais de 1,80 abençoada de cabelos negros brilhantes que lhe rondavam os pés, mulher deslumbrante, de tez branca e olhos grandes, a mais bonita de todas as suas irmãs, tinha umas mãos de oiro para bordar à máquina. Trocou encantos com um magistrado da comarca chegado de fora, mas naquele tempo os pais dela não viam um homem de Letras o marido ideal para a filha (padeiros, tinham horizontes curtos?) e a escolha para marido recaiu num pedreiro, homem do Bairro de Santo António cujo pai trabalhava na Câmara nos serviços externos; obras, plantio de árvores  e limpezas das minas e fontes, sendo o filho homem trabalhador que se afirmou bom mestre de obras, mas rude nos afetos, e reza a verdade que a noiva fugiu na noite de casamento para casa dos pais...
A minha avó Piedade levou uma vida insípida sem amor, resignada no trabalho, afamada padeira e boleira, além de bordadora, teimou no tempo abafar as suas mágoas na adega que era paredes meias com a copa a dois passos da padaria.Recordações menos agradáveis ...Um dia os meus pais mandaram-me ir a casa dela buscar azeite, sem quê nem para quê, bateu-me, fiquei sem perceber a razão, apesar de criança apenas trazia o recado que os meus pais me pediram...
Só de me lembrar que também me podia chamar  Piedade, até arrepio, porque não gosto é do nome, já dela apesar de tudo sempre gostei muito!
Melhor nome seja o de  Isabel, a lembrar a Rainha Santa, que os  meus verdadeiros amigos escrevem assim o meu nome Izabel!
No dia de Páscoa abri a minha casa à visita pascal. Enfeitei a entrada com flores brancas e o oratório com alecrim. Usei o cálice da Vista Alegre de 1824 para pôr a água benta com o raminho de oliveira, que foi herança desta avó, comprado em Lisboa pelo pai quando foi à tropa.
A minha avó viveu mesmo na casa defronte à minha, incrível a sua adega na direcção do meu oratório. Coisas que fazem pensar.Saltou-me a visão para a coincidência do nome da Santa, o nome da terra Merciana, que é como quem diz, a lembrança de adegas, vinhos a rodos. Alegoria que se enfeitiçou na minha mente. Será que é prenúncio vinho versus Piedade, Pietá? Não, não pode ser  que uma das imagens de Santos mais emblemática das nossas igrejas, para mim assim o é, apenas igualável a Nossa Senhora da Conceição.
Trilogia a Nossa Senhora da Mersianna , Piedade e vinho. Hoje lamentavelmente deu-me para prosear em devaneios!
"A história passa-se no século XII para XIII na zona do concelho de Alenquer, em Portugal continental.Tinha a ver com um pastor, portanto era uma zona onde havia muito gado bravo, touros que pastavam na região chamada Montes de Alenquer. Essa região hoje, essa terra, chama-se Merceana que como era uma zona de grandes pastagens com “ganadarias” que ali havia. Havia um pastor que todos os dias um touro lhe faltava na manada. E esse touro tinha o nome de Marçano. O pastor percorria montes e vales, todos os dias, à procura do touro.
Até que um dia foi atrás do touro para ver onde é que ele se escondia. E acontece que encontra esse touro ajoelhado junto a uma árvore onde tinha, segundo se diz, que era a imagem duma pietá, duma Nossa Senhora com o Cristo ao colo.
Entretanto essa imagem foi depois, digamos que, recuperada pelo pastor e ele com um canivete foi talhando, de certa maneira, aquilo que tinha visto. Portanto, o pastor recolheu essa imagem e foi levá-la para outro lado que era a zona do Arneiro. E acontece que o touro nunca mais foi a esse local. E levaram então, alguns problemas na altura, sobre se a imagem era verdadeira, se era de carne e osso ou não, e o pastor ficou para sempre guardião dessa pietá. Acontece que a Rainha D. Leonor, passado uns anos, a Rainha D. Leonor, como ia muito às Caldas da Rainha o seu percurso era sempre por Alenquer. Um dia fez-se acompanhar de um bispo. Ouvindo falar nesta história, de que Nossa Senhora tinha aparecido a um touro e a um pastor, passou com o bispo nessa região, onde é hoje Merceana devido ao nome do touro que era Marçano, deu origem a esta terra que é Merceana. Acontece que encontrou, foi com o bispo ver essa imagem de madeira talhada e guardada sempre pelo dito pastor. "
Acontece que a lenda dizia que a Nossa Senhora era mesmo de carne e osso. 
"A lenda reside no seguinte: dizem que o bispo pegou num alfinete, para mostrar a Rainha D. Leonor que não era de carne e osso, que era mentira esta história que se contava. O bispo agarrou num alfinete e espetou na imagem. Segundo a lenda, jorrou sangue dessa imagem e o bispo ficou cego. Então, a Rainha D. Leonor prometeu que se o bispo se curasse, para reparar essa falta de confiança do bispo, que mandava construir, mesmo naquele local, uma igreja. O bispo curou-se e a Rainha D. Leonor, mulher de D. João, mandou então construir uma grande igreja, que ainda hoje existe, datada do século XV (a primeira construção) em honra da Nossa Senhora da Piedade da Merceana. Essa igreja teve sempre honras, esteve sempre ligada aos reis de Portugal. Embora seja uma grande igreja em termos arquitectónicos foi sempre considerada, tinha todas as tenças e as regalias de capela real porque a Rainha D. Leonor sempre que passava para Caldas da Rainha (fazia parte da sua vida com as misericórdias, como todos sabemos), passava sempre por ali. Tinha uma grande devoção a esta igreja, a esta imagem da Nossa Senhora da Piedade, que ainda hoje se encontra venerada nesta região, nesta terra de Merceana, em que vários círios, várias romagens ao longo dos séculos têm sido feitas. E o círio, digamos, essa romagem mais antiga do país é a da Nossa Senhora da Nazaré que todos os anos vão à Merceana em romaria, ainda hoje. Foi a partir desta ermida, desta lenda mas misturada com alguma realidade, porque é verdade que estas pessoas tinham uma grande devoção à Nossa Senhora e a imagem lá está, o altar desta igreja foi construído em cima da raiz da árvore onde o touro tinha sido encontrado ajoelhado de fronte desta pietá. O pastor morreu e está também enterrado neste altar. E até hoje, século XXI, há uma grande devoção a Nossa Senhora da Piedade e a esta história muito bonita que dizem que esta igreja foi construída por causa de uma promessa da Rainha D. Leonor que se o bispo ficasse bom dos olhos por causa de ter tentado ver e picado uma imagem sacra."

Fontes
http://www.lendarium.org/narrative/a-imagem-da-nossa-senhora/
Fotos Google

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