quarta-feira, 23 de maio de 2018

A lenda do Moinho das Moutas ainda está por escrever na boca de Américo Antunes!

Para não se perderem as Memórias do rico passado de Ansião.
O seu nome na toponímia é  Moinho das Moutas e se fidelizou em Moitas como outras palavras na mesma terminação "ou em oi" que se usam na actualidade. Antigamente a palavra ancestral - Mouta como outras na região, consta  em assentos  antigos. O que realmente vale a pena manter vivo para as gerações vindouras, além da preservação dos nomes toponímicos são as tradições.
A crónica tem o mérito de prestar uma sentida Homenagem ao que foi um bom amigo virtual da Página do Facebook, igualmente apaixonado por esta terra e suas gentes - o Saudoso Américo Antunes que nasceu no Moinho das Moutas. Já falecido a quem dediquei a minha última mensagem - Sentidos pêsames à família e amigos. Fiquei chocada com o inusitado do desfecho, pois à dias acabado de fazer tratamentos estava animado e cheio de garra na luta deste maldito mal .Um homem que faz falta aos Amigos de Ansião no teimar das tradições, dos valores e das suas gentes. Paz à sua alma. Fiquei mais pobre no meu leque de bons amigos.Mais uma estrelinha a brilhar no céu. Um dia encontramo-nos para me contar a lenda do Moinho das Moitas que na sua boca ficou ainda está por contar...
Recordar as suas memórias ao som de Daniela de Santos Ave Maria live...
A casa onde nasceu a 19 de Abril de 1946  ao Moinho das Moutas em Ansião
Onde antes viveu um juiz. Os pais seus casaram em 1945
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Excertos retirados da sua Página Facebook https://www.facebook.com/americo.antunes2
Pela singularidade de ambos comungarmos a mesma cumplicidade por Ansião, tenha sido esta teimosia em partilhar os seus riquíssimos testemunhos, da sua querida irmã Odete Antunes  e de amigos das suas belas históricas,  que em vida nos presenteou a todos, e ainda das suas fotografias, tão grandioso legado que nos deixou que não se devem perder, antes valorizar, sem jamais pretensão de outra coisa que não seja reviver a saudade de pessoas e tradições  de tempos idos, sem  leveza de causar qualquer constrangimento a alguém!
Bela foto de um pavão  retirada da sua página
O primeiro pavão que conheci foi no Avelar em frente dos Correios que me desafiava a correr, tanto que os gostaria de novo voltar a passear pela vila...
Filarmónica Ansianense de Santa Cecília
Em dia de aniversário de 110 anos nas festas de Agosto de 2004 em Ansião com Elsa Rodrigues, Raquel Meireles, Dina Paz, Agostino Fazenda e Jorge Cancelinha .
Nesta foto ; Elsa Rodrigues, Joel Costa, Flávia Valente, Jorge Grunho, Marco Gaspar, Cândida Cancelinha e Marlene Évora.
Cantorias ao desafio em Ansião
Apesar de não me serem desconhecidos, apenas reconheço o homem do colete preto da família Fernandes, alcunha Saguim.
Testemunho da sua querida irmã  Odete Antunes 
Os seus queridos pais e mano na foto tirada na Casa de fotografia de Adriano Freire da Paz
«O meu pequeno " paizinho" que, enquanto o pai grande e a mãe grande se esfalfavam na luta da vida, para dar o melhor aos seus meninos, me mimava, inventava brincadeiras, ensinava a falar, amparava nos primeiros passos, ajudava nas primeiras letras... , sempre lado a lado, com tanto amor!...
 Hoje era teu dia de anos PARABÉNS MANITO! 
Eu sei que deves estar num lugar melhor...... 
Estejas onde estiveres contínuas com o mesmo lugar no meu coração!!!!!!»
O pai do Américo e da Odete Antunes em 1979
Onde teria sido captada esta foto tendo no tardoz uma casa alta de sobrado?

Maria Lucinda da Piedade a mãe  do Américo e da Odete Antunes
Testemunho de Mário Freire« A ti Lucinda, onde eu comprava as pastilhas Gorila antes de chegar a casa, e onde muitas vezes lhe pedia um copo de água...»


 O AMIGO DO POVO

«Ainda existe, tal e qual como era antigamente, e na pagina 4 lá está a adivinha e a charada combinada á sombra do castanheiro. 
Então o Ti Ambrósio lá vamos ter umas eleições autárquicas?
Pois é Carlos, é a conversa do costume: "Por uns alhos vedros melhor", " Mais progresso e bem estar para Beirais"." Estamos ao lado do povo de Albergaria" Etc
 De convencidos não têm nada...!Carlos, mas lata...! Têm tanta que dava para montar uma indústria de latoaria...!
"Até para a semana na taberna do Ti Godinho...»

 O jornal que eu via ler ao domingo debaixo da sombra da laranjeira o tio do meu pai o Manuel Silva no Bairro de Santo António.

O Sr Arcipreste Carlos Barata
«Esta foto, já bastante deteriorada, foi-me facultada pela minha amiga Lurdes Oliveira (café pastelaria Nabão - Moinho das Moitas - as melhores "lesmas" de Portugal). Aliás a Lurdes está lá ainda pequenina.
Nela, alem dos noivos, vemos o padre Carlos Barata (O Senhor Acipreste) figura incontornável do Ansião dos anos 50/60. Lembro-me da grande inauguração do relógio da torre, com 4 mostradores iluminados e que tocava cada quarto de hora. Uma grande festa com presença de figuras gradas da igreja e do regime.
Nós os miúdos, estávamos sempre à espera do sagrado "ite missa est", mas a prática a meio da missa também era interessante. O padre Carlos fazia sempre uma alusão ao calendário religioso (2.º domingo depois do Pentecostes, 1.ª domingo da Quaresma, etc.).
Depois vinha o anúncio dos casamentos, que terminava sempre com a advertência: "se souberdes de algum impedimento que torne nulos ou ilícitos estes matrimónios, deveis descobri-lo, sob pena de pecado mortal, a quem fizer denúncia falsa".
Vinha ainda o anúncio das intenções das missa da semana: "na próxima semana celebrarei pelas seguintes intenções: 2.ª Feira por alma de João Gaspar que foi do
Escampado de São Miguel; 3:º Feira por alma de Alfredo Godinho que foi da Lagoa, etc".
Antes de terminar, o bom do Padre Carlos, fazia ainda referência aos perdidos e achados que se encontravam na sacristia: "encontram-se na sacristia uma enxada rasa e um chapéu de homem que serão entregues a quem provar pertencer-lhe"
Ás vezes também havia comentários a alguma diretiva emanada do "Senhor Arcebispo Bispo de Coimbra"
Na minha fase do Externato Soares Barbosa, encontrávamo-nos muitas vezes, na secção de papelaria da loja do Ti Adriano Rodrigues, onde ambos íamos ver as novidades dos jornais e alguns livros que iam aparecendo. Havia sempre uma interessante cavaqueira, pois o S. Acipreste era um homem muito culto e conversador.
De notar que o Ti. Adriano Rodrigues, veterano da I Guerra Mundial, participante da batalha de La Liz, foi, ainda nos finais do Séc. XIX, um dos primeiros agentes nacionais da Livraria Bertrand. Quando estava na Guerra, escreveu uma carta ao meu avô Manuel Silva, onde dizia que havia de voltar, e para ele lhe guardar uma das cachopas do Casal.
»
Recordo-me dele já velhinho e do belo chalet ao Fundo da Rua onde morava .Está sepultado em Ansião. 

Casal das Sousas e os seus avós
Alguém sabe o rasto desta família que deu o nome ao Lugar?
«A foto recua no tempo, até aos anos 40, quando o Casal das Sousas era um lugar cheio de gente e de vida. Aqui temos, do lado esquerdo os meus avós Nastácia Marques (ou Anastácia, não se sabe bem) e João Antunes, os pais do meu pai, do meu tio Carlos Antunes e da minha tia Mariazé. Havia ainda o meu Ti Manel e a Ti Carmita que partiram para África e Brasil.
O casal do lado direito lembro-me vagamente  a Ti Clementina e o Ti Zé Saldanha... Viviam logo no início do casal, numa casa mais tarde habitada pelo Ti Carlos Saguim (Fernandes) em frente à casa da família Rato (Mendes). Eles morreram era eu ainda muito miúdo, teria uns 2 anos quando morreu o meu avô e uns 5 quando faleceu a minha avó Nastácia. Lembro-me que a casa tinha um relógio de sol por onde a minha avó se orientava no tempo e um varandim muito bonito.
No Casal das Sousas havia um senhor, de quem se falava muito em casa dos meus avós, que se chamava "Anastácio Serralheiro" . Era sobrinho do avô da Filomena Tomé, ( "Ti Francisco Serralheiro" ).»
Testemunho de Mário Freire « A Ti Lucinda da 'taberna' e a Ti Maria, do Casal, onde eu ia ao final da tarde buscar leite de vaca. Muitas vezes ainda assistia e tentava ajudar na ordenha.»
Odete Antunes a caminho do Externato na Rua Conselheiro António José da Silva.
O prédio que se vê já não existe era adoçado ao prédio onde funcionava o quartel da GNR, vidto pelo tardoz.
Segundo o testemunho da Dra Teresa Fernandes «Vivi nesta casa (onde funcionava o quartel) toda a minha infância e parte da juventude. Casa muito velha e sem condições mas com muito boas recordações. Aqui a traseira do antigo posto da GNR e as ruínas de uma pequena casa muito velha faziam parte da morada do Sr Armando Caseiro (latoeiro). A porta que se vê era da nossa cozinha. Confrontava com o grémio e ficava em frente da atual residência paroquial.»
Gentes do Moinho das Moitas nos anos 30
Rancho dos 14 magníficos amigos,vivos e actuantes continuadores da historia e "memorias de Ansião" ! 
Armando, era filho do Ti António Coutinho, alcunha "Marnifas" .
Agachadas na frente a São Duarte e a irmã do Ti Estevão Tojo e a Lurdes Bastiorra. Reconheço da esquerda para a direita julgo que a primeira seja uma das filhas do Sr Melado (?) seguida da Clara do Marnifas, a Prof Claudemira  , a Odete Antunes e o irmão Américo e o Armando Marnifas. Os outros não conheço...
Este Moinho das Moutas tem muito que se lhe diga !
Ti Eduardo Dias
Ainda o conheci na andança pela vila na sua carroça  a fazer entrega dos taleigos enfarinhados às freguesas.
«Pessoa muito interessante, o Mestre do Moinho das Moitas Eduardo Dias, filho do Ti Zé Dias do Marquinho era irmão da Prof. D. Laura esposa do Prof. Albino Simões bastante conhecido nas redondezas como o Moleiro.  Teve 3 filhas - Celeste, a Fernanda e a Teresa e um filho que agora não me lembro o seu nome. Era um filosofo, derreteu a fortuna até se ficar pelo moinho que funcionava a água e electricidade.O problema é que ele faleceu antes de eu começar a tirar umas fotos. Não tenho nada dele, infelizmente. Mas foi bem lembrado. Quando for a Ansião, e já lá não vou há 6 anos, vou ver se a neta, a Clarinha, irmã do Armando, ou a Ti Fernanda, a filha que foi contínua na Escola Primária, se me arranjam umas fotos.
No final dos anos 60, tinha um empregado que cantarolava umas coisas. Ouvi-o algumas vezes na taberna do Manuel Calado , no Casal S. Brás. 
Testemunho de Isidro Freire Leal «O Sr. Eduardo Dias «devia ser das pessoas mais inteligentes de Ansião!Não aguentou a pedalada da Vila que era muito exigente. Os petiscos e a mal dizer a falta de Amizade desinteressada, Solidariedade era coisa muito distante... »

A Lenda do Moinho das Moutas
O enigma do local? Segundo reza a lenda terá sido aqui que tudo aconteceu?

Havia uma Carpintaria pertencente ao Sr Fernando Serralheiro, e logo à frente a  sua Oficina, era filho do Sr António Serralheiro, que morava nesta casa.
O Ti António Serralheiro, além desta profissão, também era homem que matava os porcos nas redondezas.
Ansião anos  30
«A Vila tinha personalidade e uma beleza muito própria, às vezes as coisas simples são as mais belas.
Esta foto é fantástica, dá-nos conta que o terreiro defronto dos Paços do Concelho, já era calcetado a calhaus rolados, ainda não tinha sofrido o incêndio de 1937 que lhe retirou o varandim da frente»
«Certo dia do ano de 1970, resolvi subir à torre da igreja de Ansião para fotografar o extenso casario visto lá de cima. Mas tive uma pequena deceção. O casario havia algum, mas acabava logo ali. De um lado estava a avenida Dr Vitor Faveiro só com duas casas e pouco mais havia lá para o Pinheiral. Do outro lado lá estava o belo e saudoso edifício do Externato António Soares Barbosa, sacrificado em nome do Progresso (?) e mais uma dúzia de casas em Além da Ponte»
 Actual perspectiva  por altura da Feira dos Pinhões do adro...Se fosse da torre seria outra coisa...
João Ferreiro, pintor
 «Não conheço o suficiente de arte para poder classificar o tipo de pintura do meu cunhado João Silva (João Ferreiro). Só sei que as telas que me mostrou sobre Ansião, estão muito bonitas, e esta é uma das que gosto muito.»

A festa dos sábados- o Mercado ao ar livre na vila
Interessante ter registado a vendedora de barros dos Ramalhais, era verão por isso não trazia pelas costas a saia  em jaez de casaco e que pena não se notarem os ouros que tanto me encantavam... 
Nos anos 70, os sábados em Ansião eram uma festa
«O Mercado enchia de vida e bulicio, a Praça do Município e as Ruas confinantes. O cheirinho a sardinha assada e a peixe do rio, as tendas, a exposição de pipas, arcas salgadeiras, mosqueiros com rede, loiça , os barros vidrados, as couves para transplantar etc, etc e o movimento nas lojas, os negócios nas tabernas, toda uma alegria saudável num ambiente mágico.»
«Esta foto cuja autoria se perde no tempo foca a parte da vila com o seu chafariz de ferro alimentado por água da mina do Carrascoso à  Garriaza  elevada ao castelinho do Cimo da Rua.
Também mostra no seu tardoz o predio onde na esquerda era o famoso café do Ti Alfredo Calado, composto de duas partes,um salão com bilhar, e mais para trás com outra entrada em frente à loja de solas e cabedais do António Gaspar onde era uma especie de bar/taberna com um pequeno reservado. Foi sitio de tertulias e negócios, principalmente aos sábados, dia da feira. O Ti Alfredo Calado era uma excelente pessoa, comversador e com grande sentido de humor, que, com paciência, aturava as bebedeiras que se iam desenvolvendo nas intermináveis tardes de verão.
O meu pai  António Antunes todos os sábados fazia exposição e venda de borracha e pneus usados para servirem de solas nas botas arranjadas no sapateiro ali ao lado - Manuel Ventura na Sapataria do Sr Gaspar»
Contraste do antes e do depois...
Um belo prédio de traça antiga requalificado em dois diferentes, mostrando-se o da esquerda de tamanha arbitrariedade arquitectónica que o outro já equilibrou com o moderno e cantarias antigas das portas...

Ansião anos 20
«Que fará este magote de gente no Largo da Fonte.Não é difícil adivinhar. Este largo chama-se hoje Largo Adolfo de Figueiredo, um grande republicano ansianense de finais do Séc. XIX e início do Séc. XX, por acaso grande amigo do meu avô Manel Silva, o pratelheiro da filarmónica, à época um homem bastante culto e informado. Foi do meu avô que eu bebi muita informação desses tempos que mais tarde fui entrosando com outros conhecimentos que fui adquirindo.
Reparem que o grande cartaz que se encontra por cima do que mais tarde foi a loja do Sr. Adriano Rodrigues, do lado direito da foto tem escrito "Figueiredo".  Ali era a sede do Partido Republicano e do seu chefe ansianense Adolfo de Figueiredo, e onde funcionavam as suas campanhas eleitorais.  Daqui se deduz, que este magote de gente poderá estar a dispersar, ou em vias de assistir, a algum comício inflamado do Sr. Figueiredo. O Sr. Figueiredo foi presidente da câmara no tempo da República, sucedendo-lhe mais tarde, já no tempo da União Nacional de Salazar o médico Dr. Adriano Rego, pai da Dona Amélia Rego que viria a casar com o médico Dr. Amado de Freitas, que foi durante décadas delegado de saúde de Ansião. Outros presidentes da câmara a seguir, foram o Prof Elisio de Oliveira, Albino Simões e Américo Gaspar.»
 Contraste do antes e do depois
Ansião era bem mais bonita arquitectónicamente do que agora...
E já não se mostra assim. Nesta foto o prédio adoçado de paredes meias entre as casas das pontas  que foi do Sr Fernando Gaspar, foi alvo de requalificação recente.


A camioneta dos comerciantes de Ansião

«Só sei que, por aqueles tempos, se juntaram vários comerciantes ansianenses, que fizeram uma sociedade para comprar e explorar a camioneta que era utilizada para excursões e também para levar os homens e mulheres para as ceifas no Alentejo (RATINHOS) e para a Borda d'Água (RIBATEJO) onde havia muito trabalho sazonal nas lezirias.
Há aqui gente que ainda conheci. Consigo vislumbrar o Sr Júlio José da Silva (2.º à janela a contar da esquerda). O 6.º em pé, a contar da direita é o Sr Albino da Igreja Velha ao lado da esposa . Na frente o 3º casal a contar da esquerda é a Sr.ª Dídia e o marido o Sr Chico entre outros.»
O casal da direita, o homem alto da- me parecenças ao meu bisavô paterno Elias da Cruz .
«A tasquinha da Ti Lucinda
« Foi aqui que eu servi muito copito de vinho, milhares de pirolitos, abafados, copos de 3, traçados, xaropes de limão, mata-bichos, carapaus fritos, latas de sardinha com picante, onças superior, onças duque, papéis de enrolar tabaco zigue-zague, cigarros definitivos, provisórios, melões, etc. etc. Olha lá está o ti Mário Pirão (Tomé), sempre bem disposto e com bom sentido de humor. Eu gostava muito dele. Bebia o seu copito, mas nunca me lembro de o ver em estado menos "direito". De costas em pé está o Sr.Alberto Simões (Melado); sentados o Sr. Albino do Portolargo ( nao me parece o Ti Albino, parece-se um outro da vila que às vezes passava por lá. Não me lembro do To Albino do Portolargo vestir fato completo e chapéu).
E o Ti Mário Pirão. Na concertina um senhor do Casal Soeiro-  Fernando Lopes.
Sentado o David Contente, teve uma oficina de bicicletas na vila, com o irmão Artur, no mesmo prédio onde funcionou o posto da GNR dos lados da  Lagarteira, bem os conheci.


Memórias de ruralidade em Ansião
Um carro de bois na frente da casa dos meus pais ao Moinho das Moutas

« Rosário Mendes, penso que é dificil, mas não impossível o dono do boi pode estar na Diáspora, os automóveis ainda não esmagavam o asfalto das ruas ansianenses... »
Abertura do novo caminho para o Casal das Sousas em Ansião anos 60
«Quem se lembra deste sítio?
Quando terminava a vinha do Prof Albino Simões, andava-se mais um bocadinho e havia nesta curva entre pinheiros, que ficava assim em dias de chuva, do lado esquerdo v~e-se o pequeno caminho que ia dar à Fontinha e Salgueiro »
                                                           Remenda a cilha o albardeiro
                                                          O sapateiro bate os cabedais
                                                         Fazendo o calçado que o ano inteiro
                                                        Calcorreia os caminhos dos Casais
Américo Antunes

Nesta foto dos anos 40, para aí 43/46

«Vemos o veterano dos comerciantes de Ansião, Fernando José da Silva, à frente de um "grandioso" elenco. Consigo identificar o Sr Francisco José da Silva, o Sr. Acácio Costa (Serralheiro) do Moinho das Moitas,  o Zé Mau, o  Zé Cristóvão ( Mau) , o Sr. Mário Oliveira (Bastiorra), o Mário André Gonçalves Oliveira e o Sr. Adelino do Chico (o miúdo da esquerda). Falta-me um que também conheço mas não me lembro o nome.
Tinha sido inaugurada a moderna fábrica de azeite (lagar), perto dos Olhos d'Água, propriedade de Fernando José da Silva, dotada de um revolucionário engenho movido a água, para movimentação da moderna maquinaria do lagar, que incluía prensas hidráulicas controladas por manómetros de pressão de água. O lagar estava ainda dotado de um potente motor a electricidade, que entrava em funcionamento quando fraquejava a força da água.
O local, que até aí não tinha nome, passou a chamar-se sítio do Engenho, por causa do engenho de água ali montado.
Neste lagar passei longos tempos da minha infância. Adorava lagares, ajudar a pôr a massa nas ceiras, a descarregar as camionetas da azeitona e a partilhar as tibornas. Parece que ainda sinto aquele cheiro intenso do azeite em bruto a escorrer das prensas hidráulicas. Uma maravilha.»

«Testemunho de Isidro Freire Leal -  Neste Lagar, uma noite estavam dois homens de bastante idade, questionando como apagar a luz. Uma criança que os acompanhava chegou-se ao interruptor e pressionou-o e assim se fez noite. Meu avô ficou satisfeito pois eu consegui resolver um problema que ele e o amigo não sabiam como fazer. Entretanto passaram-se 70 anos...»

Sítio do Engenho nos Olhos d'Água
«O Lendário Engenho, perto do Relveiro e do "Olhinho", é uma referência mítica da minha infância e juventude. Este Engenho a água, onde brincávamos horas sem conta, fazia movimentar toda a maquinaria do Lagar do Sr Fernando.
A foto mais pequena data de 1968/69, quando adquiri a minha primeira máquina fotográfica, e a foto grande é uma bela pintura do meu cunhado João Silva, provavelmente inspirada nesta fotografia.»
 Saudades do Relveiro
«A Ribeira corria cristalina, cantando entre pedrinhas e pequenos desníveis, o Lagar fumegava anunciando o aroma ao azeite novo; nos moinhos ouvia-se o treco treco da pedra alveira moendo os grãos de milho que paulatinamente iam caindo da caleira para o olho da Mó, e mesmo ali, junto ao Engenho, havia o Relveiro, esse local mágico de brincadeira e de sonhos.
Na foto vê-se o Lagar do Sr Fernando José da Silva que mais tarde foi do Ti Fernando Serralheiro, do lado direito corre a Ribeira do Nabão, e o Relveiro começava ali onde o pessoal anda "de roda"»
«Odete Antunes - Engraçado: as raparigas de Ansião já usavam calças, a grande conquista da mulher!
Penso que foi com a chegada da CUF que as calças mais se vulgarizaram em Ansião. Era ver os homens pasmados e babosos, à porta da nossa taberna, a apreciar as raparigas que passavam nas bicicletas para a Fábrica!...»
Frequentei o Colégio Religioso das Irmãs Salesianas no Monte Estoril entre 71/2 onde não era permitido ainda o uso de calças. Se a CUF veio na década de 60, para aí entre 63/4, seja o mais provável que o uso de calças se tenha lançado apenas e após o 25 de abril e não antes.
A caminho do Moinho das Moutas para os Olhos d'Água
A  mula carrega os sacos  de cereal numa paisagem de terra com montes de  estrume para as sementeiras numa paisagem de olival  e de carvalheiros com bugalhos, serpenteada por muros de pedra seca.Tinha chovido, o caminho com poças de água...

Uma carroça com fueiros puxada por uma mula
«Por não encontrar nenhuma foto minha retirei de ANSIÃO TV devidamente assinaladas, a que tiro vénia »
A mula come o restolho depois da ceifa

A lavrar a terra com a manada de bois

A ti Lucinda acompanha o lavrar da terra.
Foto de Odete Antunes
« Aprender a vida era um bom princípio. Este "menino" penso que está no Canadá e há anos dei a foto ao seu pai.»
A faina das vindimas

«Como não encontro nenhuma das minhas fotos com este tema, aqui partilho, com a devida vénia, uma magnifica foto da Ansião TV.
As vindimas eram realmente o ciclo mais alegre do calendário agrícola. Lembro-me que o meu avô só deixava a malta comer uvas no dia da vindima. Antes era proibido. As vindimas mais bonitas da minha casa eram as do Camporês. Lá iamos com a carroça de burro até ao sítio das vinhas. Os poceiros, cheios de uvas, eram colocados na carroça , e seguros com cordas e com os fueiros. Entre os chiados da carroça e as cantigas, as uvas iam chegando ao seu destino e colocadas nas grandes dornas de madeira.»
 Apanha das espigas de milho
«Ao contráreio do que para aí se diz, eu não tirava só fotografias. E a prova é esta foto onde estou a "Vergar a mola" no arriscado trabalho de despiga do milho.»

Descamisada
«Esta foto foi tirada no cortejo das festas de Agosto de 2004. Não me lembro de que lugar era o carro, mas era muito bonito.»
 
  A gloriosa máquina de "esgrabulhar" milho
«Dizem que terá sido inventada por um mecânico da Sarzedela de nome Hingá, no início do Século passado. O certo é que era uma máquina fantástica, prática, nunca avariava e fácil de utilizar. Centenas de vezes trabalhei com estas máquinas na eira do meu pai.»
Testemunho da irmã Odete Antunes  
«Ai no dia da "esgrabulhada" aquilo era uma azáfama!... Enquanto um dava à manivela, outro metia as espigas que tinham que estar sempre a ser repostas no tabuleiro e o milho e os carolos também não se podiam deixar acumular...Todos corriam mas em grande coordenação de esforços.»

A eira a malhar o trigo ou centeio

A joeira que chamo peneira
 A rodilha
A canção das Serras de Ansião
«Esta canção não é certamente uma grande obra musical, mas é uma canção bonita,bem estruturada com sabor a Beiras, ou não fosse o seu autor o Arlindo de Carvalho, o compositor de Chapéu preto, Hortelá à mourisca, Oh Castelo Branco, Ai Oledo, Comboio da Beira Baixa, etc Curiosamente votado ao esquecimento por muitos cantores a quem facultou as suas canções de borla. Esta canção foi na época muito importante para a região de Ansião, pois não eram muitas as terras que tinham uma canção composta por um compositor conhecido e cantada por artistas da Rádio como a Lurdes Resende ou Artur Garcia  A canção foi inspirada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, onde o poeta e viajante Fernão Cardoso, passando pelas nossas serras de Ansião, as achou muito ásperas, resolvendo avisar os viajantes vindos do Porto ou de Lisboa, com a graciosa cantiga; Quem quiser passar seguro, pelas serras de Ansião deixe fora o coração. Mesmo não sendo o estilo de interpretação que mais gosto neste género, o meu renovado carinho por esta música, e provavelmente também do Dr Prates Miguel, vem agora do facto de, ao fim de 50 anos perdida no baú do tempo, a canção ter sido recuperada precisamente pela Luísa Basto, uma cantora que,juntamente com Luís Cília, foi grande referência de sobriedade e qualidade na canção de intervenção, na época do 25 de abril . Já havia o Zé Mário Branco, o Zeca Afonso, o Adriano, o Sérgio Godinho, etc., mas a Luísa Basto e o Cilia eram à parte, sem qualquer concessão à popularidade ou ao facilitismo musical...»
«Mano, sempre achei a parte do refrão demasiado"GRITADA". Aquele "AI" parece-me forte demais em relação á outra tão melodiosa e da qual gosto muito. Mas isto é critica de bancada. É só de ouvido... Mais uma vez gostei muito do teu"SUMARENTO" comentário. As tuas palvras dizem coisa!
- Im, concordo que o "AI" berra um bocadinho, mas é o que há. Talvez uma orquestração mais criativa pudesse melhorar, mas custa dinheiro. Eu termino uma versão com música um pouco diferente, mas nunca consegui pô-la em letra de pauta e não sei se será mais bonita. Tenho-a gravada em cassete das antigas e não dá para digitalizar. E já agora aqui vai uma bela canção de música beirã cantada pelo próprio Mestre Arlindo Carvalho.»
A visita de Nossa Senhora de Fátima a Ansião  
«Em 1953, a Imagem de Nossa Senhora de Fátima que andava em peregrinação pelo País chegou finalmente a Ansião num ambiente festivo e de grande devoção à Virgem. A vila encheu-se de flores de papel, engalanou-se, enfeitou-se, deu o melhor de si para receber tão divina visita. Esta fabulosa foto, que talvez tenha sido tirada pelo Sr Dr Marques, não sei, mais parece tirada nas verdadeiras aparições de 1917, tal o realismo dos pequenos pastores e do magote de pessoas com ar sério e espantado, que os rodeava.
Os pastorinhos, com ar tão devoto como os verdadeiros, são a Manelita Duarte, filha do Ti Estevão, o Ventura Marques e a Lurdes Bastiorra que me facultou a foto julgo foi tirada pelo Dr Marques o pai do Ventura..
Ideia, absolutamente genial, foi do Ti Estevão do Moinho das Moitas e a recriação foi de um realismo comovente. Era uma azinheira grande, cordeirinhos, pastorinhos encantadores a Manuel que me perdoe mas a carita e a posição das mãozitas da Lurdes estão de uma candura enternecedora.»


 « Praça do Município com a Legião Portuguesa e as janelas engalanadas de colchas na visita da Imagem de nossa SENHORA DE FÁTIMA ás freguesias ornada de fitas que se notam caídas do andor que eram eram postas na passagem por cada freguesia.
«Esta foto deve ser dos inícios dos anos 60, e apesar de a qualidade não ser a melhor, penso que se podem distinguir do lado direito, fardados a rigor, o Prof Albino Simões e o Martinho dos "Munhos".
A Legião Portuguesa em Ansião até tinha uma camioneta estilo militar, onde os legionários passeavam de vez em quando pela vila e arredores, em "exercícios".
Em altura de festas os legionários perfilavam nas procissões com os seus capacetes a luzir, e as suas fardas impecavelmente tratadas .»

A "limpa" da azeitona - O meu pai executando esse trabalho
« Eu ia muito para o campo com o meu pai, vivi, observei e gravei na memória toda a vivência destes tempos, bons e maus.
Era um trabalho bastante duro. Ainda de noite, lá se partia para os campos, ao frio e à chuva, às vezes gelo, para estender as mantas à volta das oliveiras e depois andar curvado todo o dia na apanha da azeitona do chão, subir às oliveiras e ripar os ramos mais inacessíveis ao varejão. Depois da colheita com panais (mantas), varejamento e ripanço, executada nas madrugadas frias das serras, entre mantos de geada e fogueiras que aqueciam o corpo e alma, ao som de cantigas e alegre falatório, vinha a seguir, a limpeza da azeitona, numa primeira fase com a ajuda do vento que tirava a "maior". Finalmente, de forma mais manual procedia-se à limpeza de folhas e impurezas que o vento não tinha levado. Só depois de escolhida e limpinha a azeitona ia para o lagar, quantificada em "meduras". No lagar, a azeitona era esmagada, pelas galgas de granito, transformada em massa, tratada em caldeiras de água quente, e depois posta em ceiras de sisal, e submetida à pressão das prensas hidráulicas, para extração do azeite, puro e virgem, que tanto ia para as candeias, como para as batatas com grelos.Daí a velha adivinha:Verde foi meu nascimento, e de luto me vesti, para dar a luz ao mundo, mil tormentos padeci.»
Odete Antunes
«Lembro-me tão bem, e tinha técnica levantar a azeitona com a pá em saber aproveitar a orientação do vento»
 A tasquinha do Manel Serralheiro 
«O do garrafão  é realmente o Armando "Pecholo" , filho do Virgílio Courela, irmão da Alda, casado com a Irene., tio da Paula....A construção da casa é um pouco posterior à minha meninice em Ansião, mas ainda apanhei o ambiente. Fica no Casal de São Braz, no caminho que vai para o Alqueidão.
Essa loja  foi pertença do Manuel calado, irmão do Alfredo e do Fernando (barbeiro). Quando o Ti Manuel serralheiro se iniciou nestas lides de taberneiro alugou-a(penso eu )à viúva.
Penduradas molhos de “costelas” (piscussanhas), as pequenas ratoeiras que utilizávamos para a safra dos taralhões.Eu e o meu primo Fernando Gaspar tínhamos uma “fábrica” de costelas no quintal da minha madrinha Mariazé, mas só para consumo próprio.»
Portulargo
Homem na poda dos vimieiros
«Este era o Portolargo dos milheirais, das papoilas perdidas, do cantar dos motores de rega, dos bandos de pardais, dos mantos coloridos das flores de margaça, do ronronar da ribeira que ia correndo até poder em curvas graciosas por entre figueiras, vimieiros, amoras e pereiros, e a bela terra que tudo dava, Santo Deus .
As hortas do Nabão, o Portolargo e o  Poisão eram uma espécie de celeiro de Ansião; sem dúvidas as melhores terras agrícolas na redondeza da vila com as Lameiras.»
Carlos Antunes 
« Porto largo onde havia de tudo. As minhas invasões por aquele local alegrava-me a alma.-»


LAVAVA NO RIO LAVAVA
Lavava no rio, lavava
Gelava-me o frio, gelava,
Quando ia ao rio lavar.
Passava fome, passava,
Chorava, também chorava,
Ao ver minha mãe chorar!
Cantava, também, cantava!
Sonhava, também, sonhava!
E, na minha fantasia,
Tais coisas fantasiava,
Que esquecia que chorava,
Que esquecia que sofria!

 
Amália Rodrigues

Rosário Mendes 
« mais uma genial foto.a minha querida e saudosa mãe: Laurinda Caladita do Casal Viegas, também vinha para a ribeira lavar a roupa mais pesada,  como cobertores, mais ou menos em maio ou junho, já o caudal se resumia a um pequeno fio de água, mas ainda assim suficiente.»
Américo Antunes 
«puxando pela memória, tenho quase a certeza que esta senhora que está a lavar roupa era filha do Ti Carlos Saguim(Fernandes). Na Ribeira do Nabão também se lavavam as tripas do porco por norma eram lavadas entre dezembro e Janeiro, pela matança do porco.Nesse tempo a Ribeira(deixemos o nome pomposo de rio)(deixemos o título pomposo de rio) ainda chegava a junho o que hoje é completamente improvável,a não ser algum ano mais chuvoso. Tudo se lavava naquelas belas águas.»
Isidro Freire Leal 
«meus Amigos a Ti Laurinda não era esta senhora. Já agora, as tripas do porco por norma eram lavada em Janeiro, quando da matança do porco. »


«Anos 70 nos férteis campos do Portolargo quando encontrei a Ti Mariazé, mulher do Ti António Cardoso, pessoas de trabalho e lavoura. Ali mesmo posou para a objectiva da minha pequena CHINON com todo o seu charme doce e simples.»
O cortejo alegórico
«O carro da Vila com o Dr Alfredo Silveira a esposa D Fernanda Figueiredo e as manas Oliveira; Mariazinha e Prof Armanda. Em cima do carro com o estandarte a morena Milú Coutinho ladeada das moças da sua geração a Célinha Fonseca Lopes, a Odete Antunes, a Helena Freire e há  três por identificar.»


Memórias de Ansião
«Figura incontornável de Ansião dos anos 60, o saudoso Dr Alfredo Silveira, um dos fundadores do Externato António Soares Barbosa , onde foi Professor durante décadas. Homem inconformista e preocupado com a sociedade do seu tempo, bondoso e sério, marcou profundamente todos aqueles que, como eu, tiveram o privilégio (infelizmente só para alguns) de frequentar o Externato e serem seus alunos. O S'TOR nunca dava nota negativas. Juntamente com a famosa varinha da Índia, que fustigava certeira as nozes dos nossos dedos, ficaram célebres as suas aulas de geografia ao vivo, onde, exemplificando com os alunos, explicava os movimentos da Terra, enquanto rodava sobre si mesmo, ia dizendo;  "Ó PIQUENA, SUPÕE QUE A MINHA BARRIGA É O EQUADOR ....»
«Naqueles tempos em Ansião éramos todos mais ou menos pobres, ricos em vivências mas pobres materialmente.Mas os da Vila eram mais  "IN", mais "JET SET". Havia, como em todas as terras de província, alguns preconceitos entre o pessoal da vila e os dos Casais que se refletia nos cafés. O café do Valente, mais elitista, era para os da vila. O Artur Paz, o Dr Travassos, o Juiz, eram presenças constantes. O café do Sr Chico, mais popular, dava guarida ao pessoal dos Casais e a toda a gente.
Estes pequenos preconceitos foram magistralmente traduzidos no linguarejar inteligente e mordaz do impagável Ti Manel Murtinho, grande artista da calçada portuguesa, homem de fino trato e de grande cultura popular. Homem nascido no Bairro de Santo António ao Ribeiro da Vide, onde aprendeu a arte de calceteiro com António Freire da Paz conhecido por "António Pataca"
«Ficaram célebres alguns ditos do Ti Manel Murtinho, como daquela vez em que vira de dedo em riste, para o seu grande amigo Mário do Zé Mau, e lhe atira, com o ar mais sério deste mundo:ouve lá meu casaleiro de merda, lá por seres filho do industrial da verga e teres casado com a filha do industrial do ouro, não passas de um vulgar casaleiro de merda.
O industrial da verga era o bom do Ti Zé Mau (Cristovão), exímio cesteiro, enxertador e uma estimada figura social, tanto nos Casais como na Vila, onde tinha a sua tasquinha em Aquém da Ponte, um sítio de tertúlias.  Já o industrial do ouro era o Sr Diamantino Monteiro dono da sua ourivesaria na vila e a esposa a D Piedade Lopes tomava conta da padaria, herança da sua mãe, pais do Nécas e da Tininha.»



O Casal Viegas
«Eu adorava a Ti Maria e o Ti Domingos. Ia muito a casa deles quando era miúdo e lembro-me até de ir ao casamento da Maria Rosa e do Artur.
Esta foto, cuja qualidade não é grande coisa, foi tirada numa festa do São Bras nos anos 70, não me lembro bem o ano, lá para 1976/77.Como sou um grande despistado e com este meu problema de visão, escapa-me muita coisa de Ansião, tamém porque na verdade se passam muitos anos sem lá voltar »
João Mendes Calado, conhecido por João caladito, talvez por ser de baixa estatura,mas dotado de uma força interior impressionante, era daquelas pessoas que quando se ia ao Casal Viegas tinha de vizitar para dois dedos de conversa, e o ouvir, no testemunho de Isidro Freire Leal.

Lugar  implantado em flancos montesinos de pedra escalabrada grossa e calhaus em laje alva, salpicado de veredas verdes, abrigado ao longo do contraforte norte da serra da Ameixieira. Um paraíso construído pela mão do homem com a ajuda das suas mulheres, resguardado de ventos com ares amenos a cheiros de vegetação mediterrânica, onde a alvorada e o entardecer se transformava em cenário idílico para sonhar e viver!
Deve ser preservado o património ancestral do casario com balcão muito comum no Maciço de Sicó: frontaria com escada, com ou sem telheiro e varandim e por baixo currais com cobertura a telha mourisca.E as eiras em pedra. O progresso está a mudar este emblemático Lugar e a sua paisagem , apesar de não ferir  o olhar com muita casa grande de cariz minimalista...Deve haver cautelas!
Outro grande apaixonado por Ansião
CÉSAR NOGUEIRA

Quem se lembra dos colchões de palha de centeio?

 A merenda à sombra de uma árvore
Sem o sabermos apreciávamos outros lugares.
As vistas do Ginjal em Almada que me acompanham há mais de 40 anos!


Por certo veio ao chamamento da pintura de Alfredo Keil que tanto acompanhou o Rei D.Carlos na região de Ferreira do Zêzere ao Avelar em caçadas,  e aqui pintou as lavadeiras no Ginjal.

Finalmente o projecto de requalificação do Ginjal está pronto, espera-se arranque ainda este ano. Sonho ainda apreciar e regalar o olhar com o novo Ginjal a dar caras a Lisboa!
 Ponto final, a esplanada do restaurante sobranceiro ao Tejo a beijar Lisboa
Onde também já fotografei a  minha mãe em dia de aniversário em 2009, cansada depois de um dia a passear por Cascais, aqui viemos lanchar.
Resultado de imagem para almada ginjal a minha mãe ao ponto final em dia de aniversário
Não nega o nosso homenageado Américo Antunes a sua  suposta ascendência ao povo judeu vindo da Europa central, Alemanha e Itália, judeus asquenazes em Diáspora aportaram na Europa central e oriental, no tempo se deslocaram para a Península Ibérica, a sua expulsão de Espanha em 1492 muitos aportaram a Portugal pela raia das Beiras na centúria de 500, onde constituíram grandes e pequenas comunidades estudadas, com famílias a se encaminhar para o interior se fixando em pequenas comunidades em Castanheira de Pera, Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos, Lousã, Espinhal, Ansião, Pombal etc, debalde jamais estudadas, tenho sido a primeira a falar desta fulcral evidência. Nesta família as substanciais caracteristicas; além da obstinação ao trabalho a beleza italiana, de olhar doce e silhueta alta , pelos cruzamentos em gerações o Américo herdou os genes primitivos de corpo entroncado, o mesmo olhar doce e tantos talentos, sensibilidade e inteligência, os mesmos dotes da sua irmã Odete Antunes de imensurável beleza rara. O Américo Antunes tem um filho médico em Leiria, coincidência ou destino, o foram os primeiros e grandes a dar cartas na medicina e na botica entre leis e outras artes.O Américo tinha duas lindas netas, lindíssimas, em total contraste a tamanha beleza  - uma imensamente loira e outra imensamente doce e morena!

FONTES
FOTOS E ESTÓRIAS RETIRADAS DA SUA PÁGINA DO FACEBOOK

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Rota das Carmelitas desvirtua a essência do que é ser peregrino!


A Reportagem Sexta às 9 da TVI veio abordar o desagrado de peregrinos nos Caminhos de Fátima, que se viram confrontados à imediação da Ribeira de Alcalamouque, com nova sinalética. 
Segundo eles, alguma incorretamente mal colocada e, outra sobreposta, com outras; Caminho de Santiago de Compostela e de Fátima. Em virtude, da marcação da novíssima Rota - a das Carmelitas de Coimbra. Em protesto, os novos Caminhos, são mais longos, numa extensão aproximada de centena e meia de quilómetros e, que os Novos Guias de roteiros de 2018 não a contemplam. 
Entrevistado o Turismo de Portugal, denotou sobre esta temática nada saber…Dita à prior que a partir de Coimbra, ainda não há novas marcações nem sinalização, em prol do concelho de Ansião onde já foi colocada  a motivo do desagrado e contestação! 
 
Paisagem de Sicó com os lindos montes cónicos Germanelo a norte e Jerumelo a sul 
Quando os admiro me interrogo como foi possível Pier Baldi, o aguarelista da comitiva do Príncipe Cosme de Médicis, na passagem  em 1699 não os ter deixado retratados na aguarela da Fonte Coberta...
Tive conhecimento desta nova Rota das Carmelitas por volta de 1990, na ligação do Carmelo de Santa Teresa, junto ao Memorial Irmã Lúcia, ao local das Aparições, "apadrinhada" pelo presidente da CCDRC, o Dr. Alfredo Marques, natural das Cavadas. Onde mais tarde se deslocou  a Ansião, supostamente para assinatura do protocolo com apoios de fundos comunitários e do Feder com o anterior executivo PSD.
Em Maio de 2010, a CCDRC, assinava um acordo de cooperação com as Dioceses de Coimbra e Leiria, Entidades Regionais de Turismo, Santuário de Fátima e, os referidos seis municípios no percurso pelos concelhos de Penela, Condeixa, Ansião, Alvaiázere, Ourém e Coimbra, a última a aprovar, há dias (2018) a assinatura do protocolo que permitirá formalizar a obra...Em 2018, passou na televisão uma reportagem com peregrinos descontentes por falta de sinalética e outra sobreposta com novos troços a partir da Ribeira de Alcalamouque e desagrado por se mostrar mais longa que a tradicional para Fátima.De facto este novo traçado pode ser enquadrado em rota cultural sim, mas não no âmbito de rota religiosa, são coisas diferentes. 

Rotas a passar no concelho de Ansião é o  Caminho de Santiago de Compostela com séculos  e  o Caminho de Fátima com um século! O que pode haver agora são rotas históricas, de natureza e culturais!
 
Alegadamente houve supostos interesses. Sem saber de quem partiu a ideia original no acordar a mesma sintonia  - fomentar o turismo na região, em abono da verdade não me parece nada mal, mas existem outras vertentes a explorar, sem a necessidade de ter sido criada uma nova Rota porque altera os primitivos caminhos de Fátima e ainda por a cruzar com o Caminho de Santiago e por isso uma grande "salganhada" o grande motivo de insatisfação dos peregrinos…
 
Premeditada a criação de um produto turístico para dar maior ênfase a terras que não tinham nenhuma expressão ou pouca  e, noutras já a tendo se mostra agora mais engrandecida como Alvorge e Santiago da Guarda, esta além da Rota de Santiago já se mostra incluída no circuito da romanização!
E Avelar e Chão de Couce ficaram de fora? Não é justo!
 
Dizer que foi intenção de redireccionar os fluxos de peregrinos das vias de comunicação com tráfego para caminhos que ofereçam maior segurança é relativo, vale o que vale. 
A segurança mais eficaz é a das estradas, que há muito já deviam ter sido alvo de melhoramentos pela falta de bermas, praticamente não existem, isso sim é que devia ser gasto os dinheiros a fundo perdido e ainda a existência de albergues e de pontos de descanso. Foram os próprios peregrinos descontentes que não aceitam as escolhas com o cruzamento das duas Rotas numa nova, a das Carmelitas, ainda por cima mais extensa, que lhes desagrada substancialmente.
 
Em abono da verdade tudo parece valer para mero aproveitamento turístico no engrandecimento de algumas terras em lhes dar maior visibilidade desvirtuando a essência do que é ser PEREGRINO!
A palavra peregrino aparece pela primeira vez na língua espanhola nos poemas de Berceo, na primeira metade do século XIII, para denominar aos cristãos que viajavam a Roma ou à Palestina para visitar os lugares sagrados. O vocábulo originou-se do latim, mediante a contração de per- (através) e ager (terra, campo), que deu lugar ao adjetivo pereger (viajante) e ao advérbio peregre (no estrangeiro), o qual, por sua vez, deu origem a peregrinus (estrangeiro) e peregrinatio (viagem ao exterior). Incorporou-se ao português e ao espanhol como peregrino.
 
Na vez da Rota das Carmelitas o que podia ter sido feito era uma Rota na região de Sicó para os peregrinos que queiram cumulativamente fazer além do Caminho de Santiago também os Caminhos de Fátima. Isso sim seria o correto!
 
Fulcral tenham sidos supostos interesses na Região de Sicó, que abarca Coimbra e, se estende a Ourém, para fazer nascer  uma Rota nova, com nome sonante  Rota das Carmelitas. 
Sem pejo,  a deliberar subestimar arbitrariamente traçados ancestrais,  alterando alguns troços por outros, em chão  que nunca foi de Rota nenhuma. Com aposta em novos e  com fusão das duas Rotas, no claro objetivo de maior centralidade em algumas terras e, nestas,  onde estão a nascer novos núcleos turísticos, como na Granja em Santiago da Guarda, até há anos praticamente desconhecida, não fosse a minha partilha no Blog..a grande influência, embora fosse Rota do Caminho de Santiago, que deixou de o ser alguns anos, em prol de outros interesses...De novo reposta!
 
Notório os muitos anos de espera da chegada de apoios financeiros, para a rota se vir a credibilizar mas,  a meu ver, foi  desvirtuada da sua essência religiosa. Porque a se-lo, devia manter o trajecto que as freiras faziam, o certo, e não o sendo, determina aposta em privilegiar pontos e locais com panóplia de interesses turísticos e históricos, por isso lhe chamam e bemm rota cultural, ainda assim,  se mostra incompleta, sem respeitar o traçado romano. 
Santiago da Guarda, contempla vários troços da via romana, um deles catalogado em Vales, no Vale de Boi,  sendo de lamentar o PSD depois do 25 de abril, roteou uma nova estrada de ligação a Ansião, e destruiu parte da calçada romana que foi a muito custo um troço de 150 metros catalogado pelo Professor universitário a pedido dos seus alunos do concelho, então estudantes em Coimbra, e que até hoje não mereceu sinalização tão pouco manutenção, tendo caído no esquecimento. Com o agravo da JFSG, ao seu limite tem um terreno julgo baldio  e, sem cerimónia colocou manilhas para fazer uma passagem… Distingui na intercessão dessa estrada no Lousal, para poente, a continuação do caminho de calçada romana, cheio de ervas, por limpar, mas, a sinalização da rota continua na nova estrada roteada depois do 25 de abril, entre outras aberrações já distinguidas noutros locais, a denotar falta de conhecimento do que foi o trajeto da via romana e depois medieval para Ansião .Indo intercetar já o final do Pinheiro,  uma rua com marcação da rota Carmelita .
A remate os autores que a retraçaram no concelho de Ansião, denotam falta de arcaboiço cultural  do     que foi o passado de Ansião e sobretudo deslumbramento, sem humildade de pedir ajuda, alicerçado aos interesses já aflorados...
 
A Vereadora da Cultura Cristina Bernardino, na pagina Facebook de Ansião, em novembro de 2019 respondeu  - A Rota Carmelita é, tão só, uma rota cultural. Sabemos bem que a Carmelita, Irmã Lúcia, nunca por aqui andou. Mas teria gostado...
 
A minha resposta:
Cara Vereadora do Pelouro da Cultura de Ansião, apraz-me acrescentar sobre o que afirma sobre a conduta da irmã Lúcia ter gostado destas paragens, tenho sérias dúvidas...após o milagre, então com 10 anos, analfabeta, sem saber ler nem escrever, foi o bispo de Leiria para a proteger dos peregrinos que a meteu num colégio de Doroteias no Porto, andou depois por Tui, para em 1946 se fixar nas Carmelitas em Coimbra. Pertinente perguntar o que conheceu do Mundo globalizado? Teve espaço para aperfeiçoar a sua sensibilidade?Freira, a viver em clausura, onde as boas emoções que tenha sentido o foram apenas para Deus e suas rezas. Pois falo do que conheci, estudei um ano num colégio religioso...
 
Concidadãos com cultura no seu Direito à Cidadania, esperam do atual executivo da nova missão autárquica PS, tenha sapiência, humildade e faça obra digna a melhorar e retificar erros culturais praticados no passado de Ansião. 
 
Fecho com evocação à ilustre ansianense, a Senhora D. Amélia Rego, que esclarecia dúvidas clamando - uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Ao jus assim neste contexto a retratar - Uma Coisa é uma Rota Religiosa fidelizada pelos peregrinos e Outra Coisa é uma nova Rota Cultural concelhia, o que seja plausível acontecer em pleno século XXI.
 
Há mais de um ano encontrei em Ansião um peregrino solitário perdido ao Ribeiro da Vide 
Vindo da Igreja velha que me pediu ajuda, minutos de conversa e lhe expliquei a nova Rota e a antiga, tendo optado pela antiga. Na despedida  me deixou muda "pessoas com dom e destreza a falar sobre tantos assuntos como a senhora deviam fazer parte das câmaras"...
 
A Rota dos Caminhos de Fátima com 100 anos. Os peregrinos a prestigiar as terras de onde partem  para  entroncar nos Caminhos de maior expressão, no sentido do Santuário de Fátima. De certeza que o Caminho que a minha avó Maria da Luz, percorreu na sua  peregrinação a Fátima, não foi o mesmo que eu fiz, no tempo dela não havia estradas que mais tarde foram abertas. No meu tempo de criança via chegar grupos de pessoas com paragem certa ao Ribeiro da Vide, onde degustavam o farnel junto da fonte descansado no escadatório da capela, alguns ficavam todos os anos na casa da eira do "Ti Zé André" para dormirem. E de manhãzinha seguiam caminho. Como depois das cerimónias os via virem de volta-
Só o ano passado constatei admirada as substanciais alterações que esta Rota sofreu. 
Ao Ribeiro da Vide, distingui muitos peregrinos perdidos entre  o Vale Mosteiro  e o Bairro-
Remarcaram o caminho pela rua da casa da minha mãe, na toponímia atestada - Travessa- uma afronta...contorna o Largo do Bairro, desce para norte uns metros com corte  à esquerda para o quelho do Vale Mosteiro, atestado Travessa Avª Sá Carneiro, de nome sonante, debalde, sem  preservação pela JFA, apenas cortaram as pontas das silvas de uma propriedade confinante, porque o chão em terra sem bermas, mostra-se uma lástima lamacenta em tempo de chuva, pior do que isso, jamais foi caminho de Fátima, a única rota que atesta a sua abertura tem 500 anos e foi dada pela fixação de judeus no Escampado de Calados, na ligação à estrada real!
 
No ano passado pelo Santo António, numa caminhada reparei que a Rota dos Caminhos de Fátima passou a integrar Albarrol, tamanha surpresa por jamais ter feito parte.Para passar junto do Nabão, onde vim a constatar uma estrada nova, estreita, perigosa, sem bermas,e os peregrinos junto do estradão do Nabão, que  nem o enxergam, tão pouco o que foi o buliçoso do ritual dos moinhos de água, pelas margens entupidas de vegetação...Havima de ser limpas mais tarde...
 
Outra vez podava os arbustos no quintal da minha mãe, quando subia um grupo de ciclistas em forte alarido, logo depois os ouvi a virem de volta aos gritos,  com os atrasados a dar conta da sinalização ...
 
Com inauguração de parque de merendas nas Cavadas. 
Quem remarcou esta Rota não sei se alguma vez fez a peregrinação a Fátima e se conhece de facto todos os caminhos do concelho que tem sido os percursos da Rota,  que deviam manter as bermas, limpas e devidamente sinalizados. Sendo certo, que hoje já há peregrinos munidos de GPS,  tem ao momento as coordenadas dos pontos para comer, dormir e carregar bateria dos telemóveis. 
 
A minha tia Maria, foi durante anos ao 13 de maio a Fátima, tanta promessa aquela mulher cumpriu, cujo quintal com entrada pelo Largo do Bairro nunca o usou, sempre passava pelo adro da capela de Santo António, para seguir pela estrada de Alvaiázere, essa sim a rota dos Caminhos de Fátima, num tempo de poucos quase nenhum carros, com muitos atalhos em Rota com um século de altos fluxos para vir a decair e voltar a renascer a fé nos últimos anos com peregrinações de grupos que trazem apoio de carrinhas para alimentação e até dormida. 
 
Em criança fiz uma promessa de ir a Fátima a pé 
Só em idade tardia a  cumpri, estávamos em outubro de 2000, apesar da chuva copiosa de madrugada ouvia os peregrinos na sua caminhada de grande sacrifício e devoção. Recordo a força que precisei para convencer a minha mãe e o meu marido...Armados de chapéu de chuva sempre aberto muito para lá de Almoster no chão da estrada real sem bermas, com os carros e camiões sem pedir licença escandalosamente nos molharam ficando os ténis a fazer chiadinhos. De facto, constatei a falta de sítios onde se comer mas que hoje já não bem assim, passámos por duas estalagem doutros tempos, uma com de 17.. de porta fechada, o que nos valeu foi o parco farnel levado de casa e a custo chegámos a Caxarias, onde a minha mãe cansada depois de comer uma sandes decide saciar a sede numa fonte onde logo se sente muito mal, o meu marido queixava-se de uma íngua na brilha e, eu com os ossos dos pés descadeirados, outro remédio não tive e  me socorri de telefonar à minha irmã , gentilmente nos foi salvar …Em maio do ano seguinte, a decisão de acabar a Rota, deixando o carro em Caxarias, sem ter encontrado gente afável para nos dar indicação de atalhos, tão pouco sinalética, o certo foi seguir  o sentido de orientação antes experimentado a caminho do Fárrio, evitando a Freixianda e, de novo evitar Ourém, seguindo por uma estrada acabada de rotear ao entroncamento para a Memória. Sempre a medo por atalhos, valendo o sentido de orientação para chegar a bom porto na saída de Ourém , onde paramos na esplanada de um café para logo levantar e seguir o rasto de um grupo que tomou uma estrada oposta à habitual para Fátima. Alcançado o costado da serra,  no alto encontrar casario novo salpicado de pedra crua com jardins a transbordar para a rua, onde deliberadamente fui roubando rosas que deixei aos pés de Nossa Senhora em Fátima. O que senti?
A rota é desgastante. Senti pena de gente no santuário de joelhos a cumprir promessas duras.
De perceber finalmente que o motivo da minha promessa em criança ali se mostrou no cumprimento sem sentido, o motivo não merecia tanto esforço, apenas valeu pelo conhecimento e pela caminhada e poder dizer que também tinha sido peregrina.
Pois se a minha avó Maria da Luz da Mouta Redonda fosse viva gostaria de saber, uma fervorosa devota de Nossa Senhora de Fátima, tal como a minha mãe e irmã, e sim por todas elas valeu a pena ter feito o sacrifício. Mas, eu não acredito em milagres religiosos. Só acredito em Santos.
 
Filme produzido o ano passado "Fátima" 
De João Canijo, cuja parte final filmada no concelho de Ansião; Lagarteira, recinto do mercado onde a roulotte sediou a base, pavilhão dos chineses onde uma foi comprar roupa e por fim o Ribeiro da Vide, no apoio de enfermagem aos peregrinos. Por incrível que pareça não tinha menção no final à Câmara Municipal de Ansião, e pelo menos o stand montou ao Ribeiro da Vide…
Atores no filme Fátima
 
Também nas vezes que me desloco à Biblioteca me tenho cruzado com peregrinos na Rota do Caminho de Santiago.
 
Graças ao testemunho de peregrinos estrangeiros que deixaram memorias escritas
As estradas medievais por onde passava a Rota do Caminho de Santiago vindo de sul de Alvaiázere,  Venda do Negro, Gramatinhas, Barreira, Escarramoa (Cavadas) Barranco, Casal Galego (Pinhal), Bairro de Santo António (Ansião), Vale Boi, Santiago da Guarda e, ...
Hoje depois da Venda do Negro,  a Rota foi retraçada na direção a Casais Maduros, Casal Viegas, Vale Perrim, entra na Garreaza, sem placa de toponímia, para se fazer chegar à vila pelo Cimo da Rua.
O Caminho de Santiago é maioritariamente percorrido por gente solitária, quando os encontro e os percebo trocamos dois dedos de conversa, a ultima vez foi na Fonte Coberta (Rabaçal) dizia-me o espanhol com a gaita de foles às costas quando o interpelei sobre a dificuldade -  um passeiozito de 700 km...
Fonte Coberta
Os caminhos de Santiago intensificaram-se no século XII dando azo ao aparecimento de povoados uns maiores que outros, onde não faltavam os símbolos religiosos como as Igrejas, mosteiros, Capelas, Alminhas , vivendo em seu redor o povo. A peregrinação do Caminho de Santiago acabou por vir a perder significado nos séculos seguintes para no século XIV ter mesmo decaído pelos saques, guerras, epidemias e catástrofes naturais. Por isso no meu tempo não me recordo de se falar nesta Rota. Em Portugal,  havia de ser reinventado no norte do País em 1992, e nos anos seguintes outras associações jacobeias nascerem, fazendo uso de trajetos antigos, das vias romanas e medievais que cruzam matas, campos agrícolas, aldeias, vilas e cidades históricas, atravessam rios com pontes, algumas deixadas pela ocupação romana com a miscelânea de paisagens marcadas pela diversidade de capelas, igrejas, conventos, alminhas e cruzeiros, nos quais não falta a imagem do Apóstolo Santiago com a sua concha, cajado e grande chapéu. 
Na torre medieval de Santiago da Guarda, encontra-se esculpida sobre uma porta uma concha conotando a passagem indubitável desta Rota dos Caminhos de Santiago-
A Imagem do Apóstolo quinhentista em pedra, que foi retirada da antiga matriz da Orada para a actual matriz de Santiago da Guarda, no século XVI, juntamente com a Imagem da Senhora da Graça e suas respectivas pienhas também em pedra, delas há referencia nas Memorias Paroquiais. 
Terra rica desta Rota ancestral ainda conserva em reservas bem guardadas parte de uma Imagem do Apóstolo que foi mote a ser retirada da minha crónica da capela da Orada, e só mais tarde percebi para integrar o novo libreto da rota, por alguém que precisa de se mostrar ...em que vale tudo!
O Caminho de Santiago é também uma oportunidade de descobrir a hospitalidade das gentes de Portugal e da Galiza, povo irmão, o único da panóplia espanhola mais parecido connosco na ligação e forte intercâmbio que desde sempre existiu até aos dias de hoje com o êxodo de galegos para Portugal para se estabeleceram sobretudo na restauração. Conheci alguns. A que se junta a vastidão e diversidade do património arquitetónico, as variadas paisagens;  frondosas e verdejantes, a forte contraste da aridez, granítica e de calcário,  lameiros e de secura . Com seculares tradições culturais e a riquíssima gastronomia e, os vinhos. Fatores dominantes do atrativo da Rota, pela panóplia cultural que oferece nos seus itinerários ancestrais a respeito aos milhares de peregrinos que neles já durante séculos convergiram em peregrinação no intuito do comungar o espírito religioso, por isso Caminhos que devem ser preservados por respeitarem os primitivos da Rota. Ou pelo menos os que se conhecem e não inventar alternativas, só porque foi alvitrado por um grupo iluminado que pensou no hipotético progresso de massificar as Rotas, com nova rotulagem, quando o certo seria a aposta na redescoberta de troços que se tenham perdido no tempo. Isso sim, o que deviam patrocinar como outras autarquias estão a investir no Alentejo. Os peregrinos devem ser respeitados no retiro da sua espiritualidade e ainda promovidos na sua passagem de caminheiros pelas nossas terras que tanto engrandecem, e ao que parece a novíssima Rota das Carmelitas, não seja bem o que acontece, que os confunde e desagrada!
 

Fontes
Wikipédia
Livro do Padre José Eduardo Reis Coutinho
Livro de Memorias Paroquiais Setecentistas

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Arquivo Municipal de Ansião!

Infortúnio o que sempre ouvi sobre o incêndio ocorrido nos Paços do Concelho de Ansião para sentir há dias em deslumbramento a tamanha descoberta, afinal nem tudo se perdeu!Bendita a  dupla de emoções vividas por segundos de dois estados antagónicos, perplexa e estonteada a deixa na vontade de mais vir a descobrir...Afinal no fatídico incêndio de 1937 ocorrido no Tribunal nem toda a documentação  referente ao passado de Ansião e da Igreja se perdeu, por isso  não seja  totalmente verdade!
Aconteceu por acaso numa  conversa sobre Ansião onde sempre se partilham saberes sem qualquer obrigação, apenas pelo prazer apaixonado de falar desta terra amada que num acaso tomei conhecimento da existência do Arquivo Municipal. Tinha acabado de  publicar uma crónica sobre a Casa da Roda. Mal eu sabia que no arquivo há documentação anterior a 1937...  Por falta de tempo e da leitura difícil em decifrar apenas retirei aleatoriamente dois excertos de dois Livros, um deles de capa parcialmente queimada e outro  que se salvou inteiro que vim a acrescentar à posterior. Fácil perceber que os Livros de actas da Câmara se abrem a novas pistas de investigação, quem sabe para melhor entendimento da razão de ter sido instaurada por volta de 1679 na Cabeça do Bairro a sede do poder da Vintena de Ansião com a sua primeira Casa da Câmara e prisão, para depois por volta de 1875 o abandono para a instauração da Comarca na centralidade da Vila no solar que tinha sido da família de Dom Luís de Menezes, o Senhor de Ansião, onde ainda se mantém. Igualmente outras pistas se abrem como mais saber das individualidades ligadas ao poder politico nesse tempo que seguraram as rédeas do concelho, sobretudo dos que enriqueceram com os bens afectos à Herdade de Ansião do Mosteiro de Santa Cruz vendidos em em haste pública e o Largo do Ribeiro da Vide, então um baldio, a razão de ter sido retirado a pensar e bem no empreendedorismo com abertura de novas acessibilidades, e a escola primária a laborar em casa em regime de aluguer e o recreio na frente, hoje uma pequena praceta a norte da praça do Município, e demais projectos em 1960 com estudos que não foram avante, como o da Estação Rodoviária e outros mais recentes que deles devia haver documentação e não existe...
Qual será o documento mais antigo deste arquivo? O Inventario do Município de 2013 compilado pela Dra Teresa Leonor Falcão Ramos contempla em suporte de papel livros e cadernos com datas extremas de 1835 a 1939 composto por correspondência, registos de testamentos, Autos de cumprimento legados pios, autos de posse, entre outras.Com condições de acesso de consulta livre.Há anos uma suposta estagiária dela se fala se fartou de rasgar e deitar fora papelada que nem ela própria sabia avaliar os conteúdos, apesar da licenciatura... Óbvio que não pode voltar a acontecer perder-se mais do manancial documentário deste concelho.Desloquei-me ao Arquivo Municipal para me deixar deslumbrar num espaço retratado de boas memórias de infância, onde não tinha voltado depois do falecimento do meu pai que ocorreu em setembro de 1972. Muito brinquei no jardim do solar, hoje lamentavelmente não existe e nos gabinetes dos magistrados com mobílias pretas com torcidos, gavetas de imitar e cortinas vermelhas, também recordar a sala de audiências, hoje auditório. A secretaria do Tribunal onde o meu pai trabalhava com os seus colegas de balcão abarrotar com resmas de processos judiciais de lombadas cozidas a guita em ziguezague, como se fosse uma obra de crochet...E o horror que pairava no ar em casa quando era chamado a fazer penhoras e autopsias!
Perdida por segundos nas minhas doces memorias para voltar à realidade e perceber onde foram os gabinetes dos magistrados com porta para a rua, local não totalmente limpo, devidamente organizado e arrumado, o será a breve trecho com enriquecimento do seu mobiliário que foi pertença dos magistrados, para receber condignamente os visitantes. Por mais incrível que pareça ao mais incauto seja atitude lamentável do último executivo PSD que lhe destinou o armazém, de onde teve de vir de volta a pedido da Dra Teresa Leonor Falcão Ramos, porque mobiliário também é elemento de Cultura!
Quando pessoas com deveres nas autarquias não detém a panóplia cultural necessária assim vai mal o património que é do povo, neste caso salvou-se, ao que parece faltam ainda um ou duas cadeiras, voltou o relógio de pé alto que foi da câmara , quadros a óleo de dois ilustres ansianenses , a merecer restauro, o do Conselheiro, o Padre António José da Silva a merecer ocupar o seu lugar de direito, o Salão Nobre e o do Pascoal dos Reis  no futuro Museu, e ainda distingui  fotos de antigos presidentes e da Assembleia Municipal guardadas em caixotes que me transmitiu as expôs no corredor onde voltaram a ter dignidade. A antiga secretaria do Tribunal  e a sala do Oficial de Diligências foram os espaços intervencionados para receber as estantes do Arquivo Municipal . O gabinete do Escrivão actualmente o espaço onde se manuseia toda a documentação para ser arquivada e se procede a pesquisas onde estava no momento o funcionário Alberto na procura sobre o nome antigo de S. João de Brito, pela divergência e controvérsia existente de morada referente a Casal Novo, dada por alguns moradores à EDP e CTT, e sim esta era a designação antiga . Suposto este nome caiu em desuso pelo beatismo e haja alguém que o queira de novo reabilitar . 
Antes do Arquivo  há muitos anos que  um historiador  de Ansião já tinha levado  para o conforto da sua casa , Livros e actas do conselho municipal  de 1937/ 1974, para vir a escrever sobre personagens que considerou ilustres ansianenses.
Por último entendo que os Livros e actas da câmara  deviam ser digitalizados, mostra-se trabalho dispendioso, contudo há que considerar dois factores, o primeiro pelo local do arquivo antigo, já sofreu no passado um incêndio, onde existe matéria altamente combustível, do próprio arquivo e da estrutura do edifício pelo que não deve ser descuidado, em segundo plano a pesquisa do passado de Ansião estando digitalizada no que se mostra mais essencial, confere ao investigador a possibilidade mais acessível para investigação no conforto da nossa casa, ao jus do arquivo distrital de Leiria, Torre do Tombo entre outros, e claro digitalizado está a salvo!  
O caminho a descobrir e revelar mais do passado ainda encoberto de Ansião abrindo hipóteses a novos investigadores, contrariando de vez que nem toda a documentação desse passado foi perdida. 
A placa deve ser aposta junto da porta  na direita
O Arquivo Municipal ainda não se encontra devidamente arrumado para permitir visitas e consultas a investigadores em ambiente calmo de silêncio, pese embora o permita na sala onde se manuseia a documentação, não sendo o melhor, mostra-se o possível. Na verdade já muito se mostra feito pelo que seja de esperar que em breve o espaço fique de cara lavada para ter finalmente  a visibilidade estética adequada ao visitante e ainda enobrecer em honra os Paços do Concelho com o seu rico mobiliário que foi dos magistrados.  O que ainda falta? Placa de ARQUIVO MUNICIPAL afixada na parede no exterior na porta a norte, pese embora a entrada se continue a fazer pela porta principal.Urge ser colocada rapidamente porque é demais merecida e Ansião deve honrar e dignificar o seu Arquivo Municipal .

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