segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Jurisconsulto Pascoal José de Mello Freire dos Reys nasceu em Ansião

Livro da sua autoria com o seu nome completo
Árvore genealógica elaborada por Henrique Dias

Avós paternos Manuel Rodrigues Bicho ou Manuel Roriz Bicho
Avós maternos José Carvalho de Vila Cã (Pombal) e Luísa Freire da Ribeira do Açor , Ansião.

Os pais de Pascoal dos Reys
Encontrei registos posteriores com o apelido Bicho dito alcunha , atesta que se  fidelizou.
O pai de Belchior dos Reis viveu no Escampado de Calados, em Ansião. Encontrei um registo de casamento no Escampado de Santa Marta que o menciona. Depois de casado com Isabel Rodrigues foram morar no Casal do Galego,  hoje Pinhal, a sul de Ansião, onde ainda existem dois troços de estrada real, um deles em vias de desaparecer, se não lhe acudirem o que se lamenta. Se lhe acrescentar a  perda da toponímia antiga, que dita a origem deste casal e de outros que ali moraram vindos da Galiza. 

Belchior Reys só podia ter vivido em dois locais ao Ribeiro da Vide
Depois de casados foram morar na Quinta do Bairro, a entestar o Largo do baldio do Ribeiro da Vide, em Ansião, onde tenham nascido os filhos.Mas em que casa?
A norte, na casa que foi de João Marques André, veio a ser herança, por serem  familiares, ou noutra mais a sul do largo, também herança, que apresenta chão empedrado de calhau calcário negro no r/c , a casa no tempo devia ter sofrido alteração, ao lado encontra-se um muro baixo,  mas ainda conserva a caracteristica de duas portas à maneira judaica, seria esta a casa onde viveu Belchior dos Reys?

Chão em pedra escura a sul do largo do Ribeiro da Vide
Parede primitiva  a norte da  casa?
Encontrei este um muro baixo quase rente ao chão onde teria assentado outrora a primitiva  parede e  nos séculos seguintes foi alterada como agora se encontra mais pequena(?).
Casa atual que fez parte da Quinta do Bairro ao Ribeiro da Vide
Belchior dos Reys
Foi oficial do exército português que se distinguiu na Guerra da Sucessão de Espanha, em que Portugal participou, entre 1704 e 1712. 
Naquele tempo foi implementada uma mediada: desde que numa família, um dos filhos ingressasse numa Ordem ou Seminários, os outros filhos se quisessem estudar, ficavam libertos de fazer entrega de Declaração de pureza de sangue. Por isso, o seu primogénito Marcos, se licenciou e nada ficou escrito na sua ficha, o que seja verossímil dizer também porque já tinha a família ultrapassado a 4ª geração, então o limite de consanguinidade de sangue infestado de judeu, mouro ou outro, ou então a "paga" que pediu por ter ido a Espanha, não se sabe, tempo que se omitia informação e por isso é difícil enxergar, contudo há descendentes em Ansião de apelido Serra - sabem que são descendentes de judeus disseram-me que um deles  foi para padre, denunciado e expulso e havia um livro em casa que desapareceu.

Informação documental
O que existe é parco sobre esta família e o mesmo de outras igualmente importantes que fazem parte do passado de Ansião, estariam registadas em  Tombos e Actas da Câmara e em livros da Igreja. Esta ao fazer a entrega com a implementação da Republica se veio a perder no incêndio nos Paços do Concelho em 1937, por estar mal guardada, sem olhar à sua valia. 

Citar excerto https://geneall.net/pt/forum/59276/pascoal-de-melo-ascendencia/ de Manuel Augusto Dias, Ansianenses Ilustres, vol. I, Ansião, 2002) 
" (...) Nasce a 6 de abril de 1738 em dia de Páscoa por isso lhe é dado o nome de Pascoal. Foi baptizado a 13.04.1738. Homem dotado, e que constitui a base do carácter sisudo e austero de um magistrado público destinado a representar o soberano no exercício das gravíssimas funções do poder judicial. A partir dos 12 anos vai para Coimbra, sendo entregue aos cuidados de seu irmão Luís (padre) que se responsabiliza pelos estudos  preparatórios que antecedem a entrada na Universidade. Aos 13 anos de idade, inicia os seus estudos na Universidade onde se revela um estudante brilhante, e, no dia 13 de Maio de 1757, com apenas 19 anos de idade, doutorou-se na Faculdade de Leis, o que, naturalmente, foi considerado um feito notável e raro. Em 1772 inicia, na mesma Universidade, «uma notável carreira de lente universitário»"
«Ocupou os mais elevados cargos da nação. 
«Pascoal de Mello Freire foi provido na Colegiada de São João Baptista, de Coruche,nas Conezias Doutorais das Sés da Guarda, Faro e Braga, professor da cadeira de Direito Pátrio, Desembargador da Casa da Suplicação, Deputado da Mesa da Censura, da Bula da Cruzada, da Mesa...»
«(...) Pascoal de Mello Freire dos Reis  concorreu à cadeira de Véspera da Faculdade de Leis, que ficou a reger. No seu tempo, ocorreu em 1772 a reforma dos estudos de Direito que fundiu as Faculdades de Leis e de Cânones.
Na Torre do Tombo, encontra-se a sua habilitação de Bacharel (1778, Maço 1, n.º 32), datada de 10 de Agosto de 1778, visando aparentemente uma nomeação como Desembargador da Relação do Porto, cargo para que não chegou a ser nomeado.
Por Decreto de 21 de Outubro de 1781, ficou regente da cadeira de Direito Pátrio, em que se integrou a maior parte da sua obra escrita.»
«Cónego, jurisconsulto e professor. Foi um dos mais importantes jurisconsultos portugueses, fundador da Jurisprudência Pátria e da História do Direito Civil Português. Entre os importantes cargos e títulos.
1772-90 Professor de Direito Pátrio na Universidade de Coimbra
1783 É Deputado da Bula da Cruzada e da Assembleia da Ordem de Malta
1785 É Provisor do Grão Priorado do Crato e Desembargador da Casa da Suplicação
1787 É Deputado da Mesa da Comissão Geral do Exame e Censura dos Livros
1792 É Deputado da Casa do Infantado
1793 Deputado do Santo Ofício e Conselheiro de D. Maria I
Cónego Doutoral das Sés da Guarda, de Faro e de Braga; Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa; e Professor de Direito Pátrio na Universidade de Coimbra»
Em 1798 Morre em Lisboa, no dia 24 de Setembro, com 60 anos».

Segundo o Dr Vítor António Duarte Faveiro
"(...) Pascoal de Mello Freire e a Formação do Direito Público Nacional, Ansião, Publicações Ediliber, 1968, p. 39. Também de seu nome completo Pascoal de Mello Freire dos Reys. (Cf. Manuel Lopes de Almeida, Documentos da Reforma Pombalina, vol. I (1771 – 1782), Coimbra, Universidade de Coimbra, 1937, pp. 322 – 323)."

Citar excerto https://portal.oa.pt « (...) inaugurou a cadeira de Direito átrio (Direito Português) que o Marquês de Pombal acabara de inaugurar. Muito jovem não era o titular da cadeira que seria o arquitecto e obreiro , tendo o curioso titulo de (substituto), embora tenha sido ele quem, sem qualquer colaboração, percorreu toda a antiga e moderna legislação , e pela primeira vez a dotou de um verdadeiro sistema doutrinal.Quando foi nomeado definitivamente, nove anos somente antes da sua aposentação, um monumento jurídico havia já sido erguido pela sua pena:a primeira história do direito português, ( Historiae Juris Civilis Lusitani de 1788) ,os dois tratados fundamentais do nosso direito o Civil e o Criminal , que ninguém jamais ousara escrever e Institutiones Juris Crimilanis Lusitani de 1789, esta última numa perspectiva mais prospectiva influenciada pelo iluminismo penal de Cesare Beccaria e Fillangeli, (Génova/1738- 1794/Milão), difundidas na Europa a partir de 1764 com a publicação do seu Dos Delitos e das Penas, tiveram eco em Pascoal de Melo e nas suas aulas em Coimbra, tendo sido chamado pela rainha D. Maria I que o encarregou em 1783 de fazer um Novo Código Penal, que ele apresentou em 1789 através de um Novo Código de Direito Público e de um Ensaio do Código Criminal a que mandou proceder a Rainha fidelissima D. Maria I (embora só seja publicado em 24 de junho de 1823), citando na introdução deste último Beccaria, Locke e Montesquieu e preconizando no seu conteúdo leis menos severas, a fim de evitar maiores tormentos aos condenados, assim como atenua penas, embora mantenha algumas infamantes. Daqui se atribui a Pascoal de Melo a posição de precursor do moderno direito penal português, por fazer eco do pensamento iluminista e humanitário, mesmo que nenhum dos seus códigos tenha sido adotado. Aliás, no processo de revisão do Livro II das Ordenações, houve uma polémica famosa entre Pascoal de Melo e António Ribeiro Santos, em que primeiro apodou o segundo de republicano. »

Arquivo Municipal de Lisboa
Foto de Francisco Leite Pinto de Pascoal dos Reys
Arquivo Municipal de Ansião
Quadro datado de 1937
Pascoal dos Reys condecorado com  Cruz de Cristo ao peito
Os retratos acima e em baixo são diferentes, o de cima aparenta ser mais velho e em baixo mais novo de rosto oval alongado, nariz muito comprido, lábios finos, farto cabelo, olhar triste e mãos grandes.Evidencia ascendência de clã judaico que ainda perdura em Ansião, o revejo ainda em linhagens a alta silhueta e magreza de carnes, ao invés de outro clã também evidente de tronco bem encorpado e olhos claros, do povo franco. 
O meu tio Alberto Lucas escreveu a Crónica Histórica de Pousaflores relatando testemunhos da sua avó Brízida Ferreira, que haviam Galileus e Fariseus que se fixaram em  Chão de Couce, Fariseus em Maças de D. Maria e em Pousaflores, Galileus, os Dias.

A toponímia de Lisboa com o nome de Pascoal de Melo, em Arroios 
Lamentavelmente o nome pela metade!
«(...) Após 84 anos do seu falecimento e 15 após a abolição da pena de morte em Portugal este vulto maior do direito português teve honra de dar o seu nome a uma Rua de Lisboa onde morreu a 24.9.1798».
Invalida aos lisboetas de apelido "Reys" de se questionarem da sua origem nesta suposta ligação familiar... 
Toponímia em Ansião
A sua terra natal, na dupla a toponímia e do nome da Escola C+S, sem ninguém que repare no passado e na história, na casa que se ensina História!
Leva a descendentes a não se identificar com o seu ilustre ansianense!
A Câmara Municipal de Ansião no mandato PSD
(...) «fez a entrega de 50.000$00 ao Arquivo Distrital de Leiria para a recuperação da obra Historiae Juris Civilis Lusitani, cujo autor, Pascoal José Melo Freire dos Reis, era natural de Ansião."
Desconheço onde se encontra a obra!

Deveria integrar o futuro Museu de Ansião 
« (...) A Pascoal de Mello Freire dos Reys  se juntam muitas obras menos conhecidas , ditadas sobretudo pela motivação polémica do momento, alguns inéditos, ou publicados post mortem por seu dedicado sobrinho, Francisco de Mello, ou por outros.O famoso iluminista que tinha seguido o humanitarismo penal do iluminismo em voga, e adaptado da escola alemã o usus modernus pandectarum teve o seu baptismo de fogo. O seu projecto e a resposta às suas criticas testemunham uma muito curiosa atitude. Ribeiro dos Santos, seu colega da gémea faculdade de Canones , acusa-o e estigmatiza-o como o representante de despotismo português. é desnecessário dizer que os ventos revolucionários de França e a dissenção entre os nossos jurisconsultos desencorajaram a Rainha a promulgar os códigos constitucional e criminal.»

Pascoal de Mello Freire dos Reys 
Encontrei uma referencia que Pascoal dos Reys veio a incrementar uma medida na Lei vindo abolir o esquartejamento de corpos de bandidos e malfeitores depois de mortos no cadafalso  como tinha acontecido ao malfeitor Rui Mendes de Abreu em 1679, com família em Ansião e casas arrasadas na Carapinheira. Um braço veio para Ansião e outras partes do corpo para terras onde praticou assaltos e mortes.

O sobrinho de Pascoal Dos Reys - Francisco Freire da Silva e Melo
(...) e que se queixava de desleixo e incúria da parte da Academia da Ciências aquando da impressão das obras de seu tio. O Jornal do Comércio, n.º 4 626, de 3 de Abril de 1869, insere um artigo da autoria de José Maria António Nogueira, que se refere à morte e sepultura deste ilustre patrício de Ansião, a partir do Dicionário Bibliográfico, vol. XVII, p. 142 e seguintes (em português actual, excepto a certidão de óbito, para facilitar a sua leitura): «Melo Freire acabou os seus dias na freguesia de S. Jorge, de Lisboa, para onde viera morar em 1796, tendo em sua companhia seu sobrinho Francisco Freire da Silva e Melo, e mais dez pessoas de família, todas com a denominação de criadas, segundo consta do rol das desobrigas daquela freguesia e ano, que examinámos. Tendo falecido a 15.02.1838 em Lisboa. A contar de 1798 não há mais desobrigas desta família na freguesia de S. Jorge, o que leva a crer que mudou de residência, após o falecimento de Melo Freire, ocorrido a 24 de Setembro do dito ano. Não será de mais que ponhamos aqui a certidão de óbito do notável jurisconsulto, não só por ser documento que ainda não vimos publicado, mas porque precisa de uma rectificação que talvez possa aproveitar de futuro. “Aos 24 dias do mez de setembro de 1798 annos, falleceu da vida presente, n'esta freguezia de S. Jorge, o illustrissimo e reverendissimo desembargador Paschoal de Mello Freire dos Reis, filho de Belchior dos Reis e de D. Faustina Freire de Mello, natural da villa de Ancião, bispado de Coimbra; recebeu sómente os sacramentos da penitencia e extrema uncção, e não recebeu o Sagrado Viatico por não dar logar para isso a molestia. Foi sepultado sem testamento n'esta igreja de S. Jorge. De que fiz este assento, dito mez e era ut supra. = O prior, Antonio José Rodrigues (Livro III dos obitos a folhas 184 verso)». 
 
Sobrinhos do Pascoal de Melo dos Reys

Entre os letrados, encontramos alguns indivíduos que atestavam a sua limpeza de sangue, o seu património e a sua “qualidade” face a outros letrados, ostentando o título de “cavaleiro da Ordem de Cristo. É o caso de Bernardo Correia de Azevedo Morato, Teófilo Morato Freire de Melo .Pai e filho são descritos como pessoas muito abonadas (Bernardo com um património de 60 contos de réis e Teófilo com 30 contos de réis), detentoras do título de cavaleiro da Ordem de Cristo e muito capazes. 

Conf. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé Nova, Batismos, 1781-1781. fl. 249v. Bernardo Correia de Azevedo Morato contava 70 anos, em 1796, quando foi arrolado para vereador. Este médico era casado com Joana Freire de Melo, irmã do jurista Pascoal Freire de Melo e do meio cónego Luís de Melo. Em 12 de Março de 1766, o casal batizou o seu filho Teófilo Morato Freire de Melo ,o menino cursaria Leis (à semelhança do seu tio Pascoal Freire) obtendo o seu doutoramento
em 20 de Julho de 1789 237. 37 Cf. Memoria Professorvm Vniversitatis Conimbrigensis. 1772-1937, vol. 2, dir. de Manuel
Rodrigues, Arquivo da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1992, pp. 120-121


Em https://terrasdaribeirinha.wordpress.com - Título: Discurso Anti-Académico Autor: Francisco Freire de Melo Ano: 1820  
 (...) Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra no ano de 1786, desempenhando posteriormente vários cargos, nomeadamente Deputado da Inquisição de Lisboa e Arcediago da Sé de Leiria. Francisco de Melo, foi padre, doutor, latinista, polemista, Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa mas, acima de tudo, um grande impulsionador da publicação da Obra do seu tio, Pascoal de Melo, de quem era grande admirador. Pegou nos seus manuscritos, grande parte deles inéditos,  e procedeu à sua transcrição. Com o desenvolvimento deste trabalho foi-se apercebendo que alguma da Obra de Pascoal de Melo, já publicada, teria de ser revista, pois haveria muitas correcções a fazer. Assim, comunicou à Academia de Ciências, responsável pelas Obras já publicadas, a sua disponibilidade para colaborar numa nova edição, mas nunca recebeu resposta.
Discurso Anti-Académico é um folheto raro e fundamental para se perceber a polémica entre Francisco Freire de Melo e a Academia Real das Ciências de Lisboa por causa da reedição das Obras de Pascoal de Melo Freire pela Universidade de Coimbra, em 1815

No Jornal do Comércio, n.º 4 626, de 3 de Abril de 1869 
" (...) um artigo da autoria de José Maria António Nogueira, que se refere à morte e sepultura do nosso ilustre patrício, e que transcrevemos, a partir do Dicionário Bibliográfico, vol. XVII, p. 142 e seguintes (em português actual, excepto a certidão de óbito, para facilitar a sua leitura): «Melo Freire acabou os seus dias na freguesia de S. Jorge, de Lisboa, para onde viera morar em 1796, tendo em sua companhia seu sobrinho Francisco Freire da Silva e Melo, e mais dez pessoas de família, todas com a denominação de criadas, segundo consta do rol das desobrigas daquela freguesia e ano, que examinámos. Nos anos de 1797 e 1798 também aparece vivendo em companhia de Melo Freire outro seu sobrinho, José de Melo Freire da Fonseca. A contar de 1798 não há mais desobrigas desta família na freguesia de S. Jorge, o que leva a crer que mudou de residência, após o falecimento de Melo Freire, ocorrido a 24 de Setembro do dito ano. Não será de mais que ponhamos aqui a certidão de óbito do notável jurisconsulto, não só por ser documento que ainda não vimos publicado, mas porque precisa de uma rectificação que talvez possa aproveitar de futuro. “Aos 24 dias do mez de setembro de 1798 annos, falleceu da vida presente, n'esta freguezia de S. Jorge, o illustrissimo e reverendissimo desembargador Paschoal de Mello Freire dos Reis, filho de Belchior dos Reis e de D. Faustina Freire de Mello, natural da villa de Ancião, bispado de Coimbra; recebeu sómente os sacramentos da penitencia e extrema uncção, e não recebeu o Sagrado Viatico por não dar logar para isso a molestia. Foi sepultado sem testamento n'esta igreja de S. Jorge. De que fiz este assento, dito mez e era ut supra. 
= O prior, Antonio José Rodrigues (Livro III dos obitos a folhas 184 verso)”.

As exéquias fúnebres de Pascoal José de Mello Freire dos Reys
«(...) falecido em Lisboa a 24 de setembro de 1798, foram uma grandiosa homenagem do mundo jurídico nacional ao grande mestre jurisconsulto. O elogio, em latim , de Garção Stockler, e uma bela peça de oratória e um exemplo da sua fama.Entretanto daí em diante quase foi esquecido.Os estudos sobre ele não chegam a preencher a contagem dos dedos de uma mão, e actualmente quase não aparece citado senão nos trabalhos de História jurídica e na parte histórica dos tratados de Direito criminal »

Pedra tumular de Pascoal José Mello Freire dos Reys
Encontra-se no corpo aberto do Convento do Carmo em Lisboa 
Para um homem Grande, teve uma sepultura simples!
Pascoal dos Reys
Viveu na sua casa em Lisboa com irmãs e outros familiares no total de 10 que dizia serem criados...
Denota o acostumado sistema de amparo muito comum no seio de famílias judaicas. Na boa tradição de acolher na sua Casa os familiares, irmãs, no papel de criadagem do mano catedrático com ordenado e situação estável. Ou obrigação de sustentar sobrinhos rapazes que iam estudar para Coimbra que ficavam a cargo de quem já lá vivia, foi o caso de Pascoal que ficou a cargo do padre Luís de Mello.
Debalde, Pascoal, deste amparo se envergonhava, ao chamar as irmãs, de criadas...Que o remete para um  perfil hipócrita, nada  aceitável.
Por todos os créditos que teve na sua vida, de facto Pascoal dos Reys foi homem de mente brilhante, sendo certo que ninguém jamais abordou a razão com apenas 19 anos, ter sido o juiz a bater o martelo na sentença dramática da família mais ilustre portuguesa os nobres Távora , a quem ditou uma morte horrível no cadafalso, a favor dos interesses e ganância do Marquês de Pombal. Enigma, a deslindar jamais estudado a preceito, mostrando-se o Marquês, visivelmente mais ambicioso o teria supostamente coagido por ser jovem juiz , aflorando a comum ascendência judaica e  parentesco, com o Marquês,  com poder que o rei lhe favorecia, o tenha intimidado para executar a sentença a seu contendo, ou promessa de alguma valia...Quiçá a casa em Lisboa...Em verdade,  Ansião, sendo terra de canteiros nunca lhe  erigiu merecida estatuária! Eles lá sabiam as suas razões!
De todos os considerados Ilustres Ansianenses saídos de  Ansião, para estudar  em Coimbra, nenhum voltou, tão pouco deixou escrito memorias do passado da sua meninice, tradições e linhagens, apenas a destacar  Pascoal dos Reys, por tentar regressar à sua origem, ao mandar construir um solar em chão  de família Freyre, debalde a morte o surpreendeu cedo e por isso não o viu acabado. Seja esse mérito o da vontade mayor de voltar à sua terra de Ansião, que o viu nascer , para ressaltar a nobreza em voltar às raízes e de certo modo o desculpar pelo mal que causou aos nobres Távora, brutal sentença com tamanha tortura jamais aflorada por investigadores, e o devia, no suposto e pertinente conluio com o Marques de Pombal que ambicionava desmedidamente o poder, não olhou a meios para atingir os fins, só derrubado por D. Maria I.

Excerto de  Terra e Conflito Cfr. M. Margarida Sobral Neto

https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/84855/1/Terra%20e%20Conflito%20_%20pdf.pdf

(...) na opinião de Mello Freire, só devia ser aplicado no caso de direitos jurisdicionais, considerados “intoleráveis”, ou em caso de “bens imoderados”. Quanto aos moderados e às rendas e direitos necessários ao sustento da igreja e dos eclesiásticos, não punha sequer a hipótese de limitação, quanto mais de revogação. Jurista, homem prático, conhecedor das condições em que vivia o agricultor (Mello Freire era natural de Ansião, tendo nascido num período (1738) de intensa contestação ao convento de Santa Cruz, motivada pela recusa de pagamento da ração de décimo em Ansião. Cfr. M. Margarida Sobral Neto, “Regime senhorial em Ansião. O Foral Manuelino e seus Problemas nos Séculos XVII e XVIII”, Revista Portuguesa de História, Coimbra, 1983, t. XXVIII, pp. 59-94. 183 Ob. cit., p. 22.)

Mello Freire, depois de apontar algumas leis a favor da agricultura, destacando as publicadas no reinado de D. José, concluía: “O interesse pela lavoura, que anda na boca de quase toda a gente e que as nossas leis recomendam com profusão até ao exagero, de nada vale realmente, se não se suprimirem todos os obstáculos que a vemos embaraçar. Os principais desses embaraços são os tributos imoderados, a ignorância da nobilíssima ciência da agricultura, e a pobreza, oriunda, desses dois fatores, que necessariamente leva ao seu abandono.

Alberto Carlos de Menezes dá-nos conta da “lucta entre os Senhorios e colonos, aquelles querendo tudo, estes dando sómente o que não podem sonegar na partilha” o que constituía a estratégia utilizada pelos Lavradores para procurarem “o seu alivio ás furtadelas”, dando, na opinião deste autor, “exemplos de immoralidade a seus filhos e domesticos”, que aprendiam a fazer o mesmo quando fossem “proprietarios” (Plano de Reforma de Foraes e direitos bannaes, cit., p. 100)


Toda a vida se disse! 
Morra homem e fique fama!

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Lagoa do Castelo na encosta do Senhor do Bonfim em Ansião!

Até hoje a data de 1175 a marcar a primeira referência à vila de Ansião da escritura de venda de dois quartos da sua herdade no total de quatro vendidas até 1176 ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, por Pedro Mendes  Osório Rodrigues .

Lagoa do Castelo na encosta do Senhor do Bonfim
O Livro do Padre Coutinho de 1986 veio originar a aprovação de um Projecto da Carta Arqueológica do concelho de Ansião em 1997, com prospecções em vários anos.
Em 2010 com prospeção no Escampado de S.Miguel «O local terá albergado um povoado, enquadrável na Idade do Ferro. Na cumeada parece observar-se muralhas implantadas sobre contínuos afloramentos de rocha natural. Apesar dos elementos descritos na bibliografia, em visita ao local, e após intensa prospeção numa área com cerca de 163.680m², não foi possível detetar quaisquer vestígios arqueológicos. A este facto, não será alheia a abundante vegetação arbustiva.»
Sem se perceber concretamente a que local se referem na deficiente explicação do local e sem foto, a evidenciar não andaram com gente conhecedora dos locais (?) teria sido na Lagoa do Castelo ou para sul no final do Escampado de S.Miguel? 
Vinda de norte no final do Escampado de S.Miguel ao alto que parece terminar em abrupto outeiro fragoso distingui do caminho  num quintal uma imensidão de muros grossos de pedra que esta foto documenta.Pode evidenciar ali existiu um povoado ou simplesmente é um amontoado de muros grossos de pedra?
Limite do Escampado de S Miguel a norte

A primeira vez há anos que conheci a Lagoa do Castelo deixei-me ficar desolada por não enxergar água tanta era a vegetação e assoreamento, tendo na sua frente distinguido lajes que me reportaram para calçada romana (?) da suposta continuação da calçada vinda de norte Graminhal, com troço catalogado em Vales, ao Vale de Boi, Pinheiro, Santana, Mata da Mulher  e ao contornar a Lagoa do Castelo seguia para sul pelo Escampado de S. Miguel , Santa Marta onde em miúda recordo de ver grandes pedras aprumadas a emergir da terra como fantasmas , descarnadas, umas muito acima e outras mais abaixo no final do caminho, muito mais  tarde voltei para fotografar, infelizmente uma nova estrada roteada para Albarrol destruiu estes vestígios para sempre, pese o bom senso e ponderação - nem toda a calçada é romana. Noutra prospecção nos Escampados no caminho para o Marquinho depois de Santa Marta encontrei um caminho lajeado muito fragmentado em aventar posas ser este o da via romana vinda dos Moinhos de João da Serra, o que também faria sentido. Porque depois de Santana o caminho entronca nos Nogueiros.

Mata da Mulher 
Na margem esquerda da ribeira do Nabão, a sul da Ponte Galiz  foi dado o nome invulgar - Mata da Mulheronde o povo ainda fala que as mulheres fugiam dos romanos e se escondiam nas buracas dos carvalhos, onde ao alto ainda existe a dolina cársica atestada na toponímia por  Lagoa do Castelo onde existiram restos de muralhas, assim falava a tia  do meu pai Júlia à neta agraciada com o mesmo nome, a reportar para um povoado, castro ou castelo que aqui existiu? Que outra razão o povo teria para lhe chamar Lagoa do Castelo?  Fulcral e necessário investigar e interpretar os locais para deslindar o traçado da via romana por onde entrava a poente em Ansião.De facto não se encontra referência em nenhuma documentação de um castelo aqui junto da lagoa, mas também noutros locais do concelho igualmente existe a toponímia Castelo e não existem; Lagoa Parada em Santiago da Guarda; Torre de Vale de Todos; Avelar,  também se fala da existência de um castelo na Serra do Mouro, Ateanha e Pousaflores, já no Alvorge houve uma torre de atalaia romana que ditou o nome, e em Alcalamouque, palavra de origem árabe com a mesma designação . Torres e castelos foi herança deixada por romanos e  mouros para alguns terem sido melhorados na reconquista cristã com outros a se perderam pelo abandono, quando já  não se mostravam necessários, sendo óbvio que o povo reutilizou as pedras para as suas habitações e afins.Desconheço se hoje ou ainda haverá algum vestígio do resto das muralhas que a tia do meu pai conheceu e falava à neta, possivelmente as viu na  sua propriedade defronte da lagoa, por ser o local mais desafogado e altaneiro. Na grande probabilidade de terem sido reutilizadas na casa da quinta da Boa Vista que foi de Rui Mendes de Abreu, hoje apenas existe a capela do Senhor do Bonfim.
Em concluir,  por Ansião passaram pelo menos duas vias romanas principais que em época medieval tomaram o nome de estrada real a poente e estrada coimbrã a nascente, com troços de ligação entre elas para os habitts  romanos junto do Nabão até ao actual Vale Mosteiro actual e poente da actual vila a merecer estudo e interpretação .Sobre a Lagoa do Castelo e do Escampado de S. Miguel, a necessitar estudo para atestar qual  foi o primeiro burgo povoado e de defesa de Ansião da idade do ferro a destronar o lugar de primeiro atribuído ao chão do cemitério?

Lagoa do Castelo
O povo chamou às geoformas ou dolinas cársicas características da paisagem do Maçico de Sicó, lagoas, por serem em geral de aspecto redondo para o alongado de pequena dimensão com água. Na minha segunda vez  no mês passado que me desloquei à Lagoa do Castelo constatei com satisfação afinal não está morta, tinha muita água.No regresso encontrei a Helena Lopes que me disse  que há tempos uma máquina a encurtou nos limites das margens para alargar o caminho na sua frente e para manter água para as perdizes...
No passado conheci outras lagoas que entretanto foram literalmente assoreadas pelo traço de estradas como a lagoa de Santiago da Guarda na frente da Casa Senhorial , a que existia no cruzamento do Vale Cerejeiro a sul da Fonte da Costa, a lagoa na entrada nascente de Albarrol, a lagoa da Chã Galega com a estrada ficou barranco para  há poucos anos ter sido totalmente assoreado pelo novo alargamento da estrada, havia outro barranco que deu nome ao Lugar ao fundo dos Matos, foi destruida a lagoa ao limite do Casal das Sousas e,...Estas lagoas foram importantes no passado no Maciço de Sicó por ser parco em água no verão em que o povo delas se servia para dar de beber aos gados e no meu tempo mulheres lavavam a roupa  como na Lagoa do Pito. Também num passado mais primitivo a sua existência tenha sido fulcral para sediar um pequeno povoado ou  castelo de vigia e defesa na Lagoa do Castelo . Estas lagoas deviam merecer atenção da autarquia  e das Juntas de freguesia para as manter preservadas e limpas de vegetação infestante  por serem testemunhos indeléveis a marcar a paisagem idílica de brutais contrastes, ora insípida, agreste, desértica, de pedra escalabrada branca vestida de terra rossa e  por todo o lado debruada à toa de erva de Santa Maria e outros tomilhos; jacintos, orquídeas, lirios, orquídeas, cucas, arruda, alecrim, esteva, rosmaninho e carrascos a cobrir costados e vales verdejantes de vegetação crespa e compacta chamada Mediterrânica, com salpicos aqui e ali de frondoso carvalhal, pinheiral manso e bravio, mancha de medronheiro, loureiros e ameixeiros bravios para fazer aguardente em que eucaliptos a espécie invasora alastra sem pedir licença...
Quem nunca ouviu falar do tesouro enterrado na Lagoa do Castelo?
Reza a lenda  que a capa do rei está enterrada debaixo do penedo da lagoa...
A invocação à capa do rei o tenha sido um rei mouro, por ser rica bordada a ouro e pedrarias em invocar a a riqueza ao tesouro. O penedo a merecer estudo parece ser mármore, como os há pela encosta da serra de Nexebra, nome dado pelos romanos e que no século XIX o químico italiano da Universidade de Coimbra Domingos Vandelli estudou um filão de mármore na Lagarteira, o meu pai falava haver outro no Carril ao fundo do Casal das Pêras no Vale Perrim.
Lendas de tesouros enterrados existem similares no castelo de Montemor o Velho com duas arcas enterradas uma com o bem, a riqueza, e outra com o mal, a peste.Mais perto de nós no Sobral  a sul de Penela descrito por Jarnaut  em que se diz sobre os seus rochedos  existe um grande algar  onde está soterrada uma caldeira de oiro de grandes dimensões.
Garreaza - topónimo que se não lhe acodem morre para sempre. Em miúda recordo o episódio passado com o Rafael da Garreaza agarrado à leitura do  livro de S. Cipriano alucinado com a lenda do tesouro que se falava existir  enterrado junto da Lagoa da Castelo na Costa, a poente do Senhor do Bonfim, no tempo teria feito parte da Quinta da Boa Vista,  cujo dono Rui Mendes de Abreu assaltou e saqueou muita gente para algures na sua quinta o tenha enterrado  junto da Lagoa ?...Ou não, segundo as vozes é mais antigo e tenha sido enterrado por um rei mouro...Mas também pode ter sido pelos judeus que vieram com ouro e Imagens, que esconderam debaixo de lapas de pedra, ao serem descobertas em tempo de beatice veio a ditar Milagre...e as moedas ainda podem estar de facto escondidas...
O Rafael, era boa pessoa, o conheci bem, prestava trabalhos agrícolas para os meus pais.Longe vai o tempo que não se falava de outra coisa de ter convidado o Zé Serra do Escampado Belchior, para irem escavar o tesouro"  arca enterrada cheia d'oiro" na Lagoa do Castelo. O Serra não foi na conversa, mal deixou os bois no curral foi-se deitar. O bom do Rafael embevecido na leitura do livro de S. Cipriano cujo preceito dizia para se chegar pela meia-noite foi fazer tempo no café Chico do Fernando ao Fundo da Rua, para a certeza com os copos ter dado com a língua nos dentes ao falar da sua real intenção. Desconheço se estava munido de enxada, ou já a tinha deixado no local. Estaria à meia noite no local como manda o preceito onde chegaria cansado depois da subida brutal do promontório do Senhor do Bonfim e dali ainda até à Lagoa do Castelo, grande caminhada  com  suposta candeia para se alumiar  para supor que alguém que o ouviu no café ficou com vontade de o seguir sem que disso ele se desse conta, na convição ver para crer , o que me apraz dizer. O Rafael ao chegar à Lagoa do Castelo começou a cavar quando é surpreendido por uma voz - ”Tiras tu, levo eu “ levas tu, tiro eu” “ ou tiras tu, mais eu?” Óbvio que o bom do Rafael homem destemido, sem medo, ali na escuridão responde afoito à voz : “Não, tiro só eu”!
Mal responde de forma egoísta nesse preciso instante começou a apanhar paulada de meia-noite, nitidamente  "borrado de medo" por achar que era obra de almas penadas que o atacavam pela audácia em vir roubar o tesouro,  desata em fuga a caminho do Escampado de S. Miguel onde só pára na casa do tio do meu pai, o António Rodrigues Valente, sem uma bota que a perdera pelo caminho, sendo tão medonho o seu estar, diziam, que ali pernoitou só saindo pela manhã...e já ia alta quando o bom do Rafael sai do Escampado de S. Miguel de regresso a casa na Garreaza, seriam 11 horas, e às Almitas apareceram-lhe duas velas acesas uma de cada lado, se ainda estava assustado, mais ficou...depois disso nem queria que lhe falassem da lenda da Lagoa do Castelo, visivelmente com o corpo moído pela tareia que levou horas antes e, com o raiar do sol ainda alucinado?
Nunca se soube quem o teria surrado e bem surrado. Não acredito em almas do outro mundo...
Falava-se também do Zé Forte do Lousal
Outro visionário a tentar descobrir o tesouro, dizia quando ali foi saiu montado num cavalo a galope que só parou para lá do Vale Judeu, em Santiago da Guarda...Grande alucinação, para noutra vez numas casas desmoronadas na saída da Sarzedela também andou na procura de um tesouro que se dizia estar lá escondido, até a mulher se zangou com ele...
Formigais (Ourém) onde de vez em quando aparece gente com o livro de S. Cipriano à procura de um tesouro...
Pelmá , fala-se de um tesouro romano de numerosas moedas de ouro, prata e bronze encontrado por volta de 1751, então um  priorado do Conde de Atouguia(?), Tão pouco sei o seu destino!
A norte, no Alvorge, denários em ouro foram encontrados junto da Fonte do Alvorge possivelmente escondidos por algum soldado romano.
No castro de Trás de Figueiró foram encontradas 15 moedas, que levou o Padre José Eduardo Coutinho em chamar-lhe tesouro,   um emigrante natural do Alvorge encontrou mais 14 moedas que as veio a oferecer ao seu patrão na Bélgica, denotando suposta real falta de cultura e sentido de património, em não saber valorizar a sua terra de a deixar enaltecida com os achados do seu passado para e somente seduzir o seu patrão...Uma coisa seria oferecer -lhe uma moeda, outra coisa foi oferecer o tesouro!
Bairro de Santo António em Ansião
No quintal dos meus pais quando se procedia à retirada de terra para os caboucos da casa foi encontrado um pedaço de corrente em ouro por uma prima do meu pai, que o pai dela logo vendeu. 
No quintal da última estalagem foram encontradas algumas peças perdidas por viandantes - um brinco com a data de 1640 foi-me mostrado. Falava-se que foram vendidas no Banco de Portugal em Coimbra.
No quintal dos meus tios ao lado dos meus pais os homens a cavar para a sementeira do milho ao se abaixar e levar a mão ao bolso era sinal que tinham encontrado ouro.Teria sido terreiro de acampamento de comitivas em habitat romano?No quintal dos meus pais encontrei há anos dois pedaços de telha tegulae, muito grossos.Em miúda ouvia falar ter aparecido numas ruínas de uma casa que ainda me lembro dela uma panela de libras ao Pinhal ( Casal do Galego, Ansião) na beira da que foi a estrada real...O "Mocho" do Bairro encontrou na Igreja Velha onde passava a estrada real uma moeda em ouro,  se falou requalificou a casa...Fora os que encontraram mas  nada disseram!
Escampado Ansião, o Chico Serra confidenciou-me em novo a remodelar uma chaminé de uma casa no Escampado encontrou uma moeda que dizia PORTUCALE , depois disso foi trabalhar para Seiça onde a veio a vender ao patrão que lhe deu o mesmo valor que um mês de ordenado...
Falou-me ainda quando andava a cavar vinha na fazenda do Alfredo Simões no que hoje é o cemitério novo encontrou junto ao pé de uma cepa um rolo de papel com moedas pretas, cavou mais e encontrou outro, estava acompanhado com um colega , não me lembro quem era, ficando ambos perplexos e receio ao se lembrarem do que aconteceu ao Rafael na Lagoa do Castelo e voltou a por os rolos no local e tapou, as mulheres chegaram com o almoço e contaram-lhes sucedido em que todos, nada mais fizeram com medo de coisas do outro mundo... Esta história contada pelo Chico Serra já a tinha escrita há anos para depois se perder nestas andanças informáticas, para hoje apenas disto me lembrar, em revelar se os rolos eram em papel como disse não podiam ali estar há muito tempo, pois o papel corroí com muita facilidade, e sendo ele analfabeto, mas conhecedor do dinheiro já antes distinguiu uma moeda importante que a guardou para  mais tarde a vender por bom dinheiro e ali serem  réis ou tostões sem valia alguma, ou não seriam enroladas em pergaminho a que chamou papel,  uma incógnita!
Moedas de  todos os reinados foram encontradas no cemitério tendo merecido estudo num pequeno Livro A Numária do Cemitério antigo medieval de Ansião do  Padre José Eduardo Reis Coutinho.


Lagoa do Castelo
Distingui um rasto de lajeado no caminho vindo de norte da Mata da Mulher a entroncar na Lagoa do Castelo como há anos passava igual pela frente da lagoa e agora com o alargamento do caminho já não existem...O lajeado na frente da lagoa a norte seria da entrada para um da villa romana ?
                                    
Encruzilhada de caminhos na Lagoa do Castelo.
A Lagoa encontra-se na esquerda com  a via romana, a credenciar, vinda de baixo da direita em que tomei partido de a contornar para sul, caminho que percorri com o meu marido.
Caminho para sul será o antigo romano (?)  na descida encontrei algumas lajes ao centro...
Depois de descido o caminho debruado a muros de pedra seca eis que literalmente termina dentro de um olival, o meu marido dizia que tínhamos de voltar para trás, para logo o contrariar com o meu bom sentido de orientação dizendo para nascente iríamos encontrar o caminho vindo do Escampado de S.Miguel.
Caminhei sobre chão revoltado pelo focinho do javali na procura de raízes suculentas no pior dos desafios em ultrapassar o vasto olival até que se avista um imensurável mural de silvedo sem pespectiva de alguma saída até que me lembrei de deixar o olival para seguir pelo costado que o mediava para encontrar uma saída , e logo a deslindei acima de uma casita ....
Chegados ao caminho de ligação do Escampado de S. Miguel à Lagoa do Castelo e Senhor do Bonfim paramos para descansar sentados num muro na sombra de um frondoso carvalho onde os raios de sol do entardecer se faziam anunciar mornos, doces e mui luminosos, em cenário de beleza natural onde só acordámos com o chilrear dos passarinhos...
Seguimos caminho para o Escampado de S. Miguel e no vale no inicio da ladeira dei conta de um novo caminho para poente que ao fundo extrema com o olival que percorri para se fazer luz que seja a continuação do caminho que se perdeu no tempo no vale do olival para o troço remanescente ao longo do costado ainda permanecer onde entronca neste que existe para o Escampado de S. Miguel e seguiria a caminho  do Escampado de Santa Marta, a mercer investigação este troço.
O que mais falta?
Interpretação urgente à imediação da Lagoa do Castelo com escavação arqueológica para atestar se o caminho abordado vindo da Mata da Mulher é a continuação da via romana vinda de norte catalogada ao Vale de Boi, antes que se perca com a passagem de máquinas e camions pesados no corte e transporte de madeira dos vestígios da calçada romana.
E ainda  se existem restos de muralhas ou do assentamento de um castro ou castelejo.
Em que a prospecção arqueológica de 2010 no Escampado de S.Miguel deve ser explicita quanto ao local onde foi realizada.
Em verdade sou curiosa mas não ignorante para nos últimos anos me ter dedicado ao papel de investigadora em cidadania cultural desta terra no papel de mais descobrir e especular  em que a hipótese de Ansião ter nascido num habitat ou castro no Escampado de S.Miguel ou na Lagoa do Castelo vir a colocar em segundo lugar o burgo no chão do cemitério atribuído em primeiro, premissa que deve ser inspiradora a entendidos e audazes no poder autárquico a ovacionar  entendidos !
Falta investigar a sequência das vias secundarias romanas para sul onde entravam em Ansião e os troços de ligação nas Lagoas .Apesar de viver fora de Ansião há mais de 40 anos, esta terra é o meu porto seguro onde tenho outra casa.Em cada temporada que me sobra algum tempo nos meus afazeres rurais gosto de visitar e revisitar locais do concelho, registar fotos e de escrever as minhas vivências a que junto memórias para um dia mais tarde reler e me voltar a divertir, e foi assim sem ter sido premeditado dei comigo a fazer investigação, em que o meu poder de memória e de correlacionar dados me ajuda neste crescimento em mais deslindar e partilhar de Ansião, tão apaixonadamente!
Sem medo algum em errar me tem ajudado a Crescer!

FONTES
Livro do Padre José Eduardo Reis COutinho de 1986
http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=projectos.resultados&subsid=2945845
Livro Penela história e arte de Salvador Dias Arnaut e Pedro Dias
Testemunhos orais do Chico Serra, Helena Lopes, Lúcia Parolo e Júlia Valente

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Abordar em maior plenitude o Pelourinho de Ansião!

O Pelourinho de Ansião enquanto representação simbólica do poder na elevação a vila por D. Afonso VI então um pequeno aglomerado habitacional a que se juntou lugares de termo para ter perto de 100 vizinhos  para outorga do primeiro Foral em 1514 por D. Manuel. Jamais ninguém abordou o que aconteceu ao Pelourinho primitivo de 1514. Quando a vila foi doada a D Luís de Menezes, Senhor de Ansião foi erigido novo Pelourinho com data de 1686 e colocado no terreiro defronto do pequeno solar, hoje Paços do Concelho adoçado à ermida de NS Conceição.
Em finais da centúria de 600 o Mestre jesuíta Dr António dos Santos Coutinho voltou a Ansião incumbido de fazer uma nova capela para a Misericórdia, se devia chamar Igreja pela bela frontaria, obra que terminou em 1702, tendo ainda anexado uma Albergaria à Casa da Misericórdia. A obra da nova capela adoçada ao solar com atabalhoamento sobretudo aos telhados.
O actual Pelourinho não é o  original de 1514, sim o edificado em 1686 catalogado como Imóvel de Interesse Público, desde 11 outubro de 1933. 

O SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico «Estrutura em cantaria de calcário, composta por soco de dois degraus octogonais, sobre o qual assentam oito esferas, que sustentam a base do pelourinho, também de oito lados. Sobre ele apoia-se a coluna, de secção octogonal no terço inferior, sobre base tripartida e emoldurada, separado da parte superior cilíndrica por anelete de oito lados. Na parte superior do fuste sobressai molduramento rectangular cartelado com a inscrição. O remate é composto por bloco prismático onde está inserida a pedra de armas do Conde da Ericeira, encimada por uma coroa, terminando com coruchéu encimado por florão cónico.»

No Pelourinho está gravada a seguinte inscrição:
MERCEDE COPARATA MERITIS OB INCLITA BELLO ET PACE GESTA AD LVDVVICO MENESIO COMITE ERICÆIRÆ I686 Segundo a tradução do Padre Manuel Ventura Pinho
«Mercê concedida a Luís Meneses conde da Ericeira, pelos méritos alcançados em façanhas ímpares tanto na guerra como na paz. 1686».
 Pelourinho encimado por tufo floral acima do Brasão dos Menezes, com o anel ao centro
A ser considerado um dos mais bonitos na região o seja pela moldura colocada no século XVII com inscrição latina da doação da vila a D. Luiz de Menezes, Conde da Ericeira, como prova de agradecimento régio pela sua valorosa participação na Batalha do Ameixial naquela data e ao mesmo tempo pretende também lembrar que a criação deste concelho e a atribuição do seu senhorio foi um gesto de gratidão a D. Luís de Meneses, pelo esforçado que pôs na defesa da restauração da independência de Portugal contra os castelhanos. E do brasão dos Menezes.
Sede da Junta de Freguesia de Ansião
Aqui foi o primeiro  açougue de Ansião. A minha mãe bem se lembra dele, sobretudo da imensa balança de latão. O prédio foi ampliado num feliz , raro e  harmonioso projecto de arquitectura, a dignificar o monumento histórico do Pelourinho onde funciona hoje a sede da Junta de Freguesia de Ansião.
Na década de 40 foi a praceta engrandecida  com calçada portuguesa por Manuel Murtinho de belos efeitos decorativos a branco e preto, que ainda existe.
Em 2019 na fachada norte foram colocados dois painéis azulejares da aguarela de Pier Baldi de 1669 de Ansião, um painel a cor séptia e outro a cores do pintor de Leiria , falecido, Jorge Estrela  oferecidos pela Associação Al-Baiz, onde não se identifica  o Pelourinho.
Contribui com um azulejo no valor de 10€.
Foto depois de 1902 quando já tinha sido retirado o Pelourinho da atual Praça do Município de Ansião onde ao meio onde está um homem com o seu burro tenha sido o seu local primitivo.
Senhor de Ansião Luiz de Menezes construiu um pequeno solar, dele não se conhece o plano, nem gravura, a foto abaixo no principio do século XX, mostra visível o mesmo tenha sofrido requalificação pela bonita idade pelo menos de 189 anos. O Conselheiro e Padre António José da Silva foi chamado a Ansião antes de 1875 onde nesta data instalou a Comarca de Ansião, sendo notório que os caixilhos das janelas e os gradeamentos serão dos finais do séc. XIX, pormenores que desde sempre passaram despercebidos a historiadores e investigadores...Até porque há informação dum forte temporal por volta de 1704, sendo a nota de 1706, a referir a destruição da capela da Misericórdia em 1706 com um forte vendaval e o solar teria à  volta de 17 anos, para acreditar que o solar também sofreu prejuízos.

Acredito que o solar nunca teve brasão porque o mesmo foi esculpido no Pelourinho que lhe estava defronte no terreiro.Em 1937 os Paços do Concelho sofreram um incêndio, tendo sido ampliado para norte como hoje se encontra. Na altura os arqueólogos escolheram para brasão de Ansião o motivo das romãs com o anel relevado dos Menezes ao centro. Era em pedra , debalde veio com defeito,  em sua substituição mandado fazer outro em mármore, mais fácil de trabalhar  executado pelo canteiro Sr Ezequiel da Sarzedela.
O Pelourinho foi retirado do terreiro defronte do solar de Dom Luíz de Menezes com protestos e reclamações sobretudo do pai do poeta Políbio Gomes dos Santos para ser reposto em 1902 na nova praceta em triângulo que se originou com a expropriação da quinta do Dr Domingos Botelho de Queiroz para abertura de uma nova rua a nascer a poente da Praça do Município para na toponímia vir a ser atestada na Rua Combatentes Grande Guerra a entroncar na bifurcação a norte com a Rua Direita, hoje Dr Adriano Rego, um novo local, o ideal na mudança de poleiro com dignidade na entrada norte da vila de Ansião.A Rua Direita nasceu com a construção da Ponte da Cal depois de 1648 quando foi iniciada rasgada praticamente em linha recta para a vila vindo a originar nos finais do século XIX novo rasgo de uma nova acessibilidade de grande impacto na  ligação Pontão/Pombal a cruzar a Rua Direita em ditar os topónimos - Fundo da Rua e Cimo da Rua (da Rua Direita).
Foto da praceta ladeada pelas duas rua onde foi recolocado o Pelourinho

A mudança do Pelourinho com nova base de suporte com oito esferas de pedra sobre as quais está assente em representação das oito Freguesias que integravam então o Concelho de Ansião, desde 13 de Janeiro de 1898 e por força da alteração ocorrida em 2013, foram as mesmas reduzidas para seis Freguesias, com a Lagarteira e Torre a serem integradas na Freguesia da sede concelhia . Quanto a mim jamais o devia ter sido permitido porque são indubitavelmente locais de maior ancestralidade pela passagem da via principal romana na ligação norte/sul, e em época medieval chamada estrada coimbrã, em que muito antes de 1359 já existia uma grande labuta com os almocatés nos Moinhos de água, lagares e pisões na Ribeira do Açor e na Ribeira do Nabão atestada numa contenda arquivada na Torre do Tombo, terras onde veio a ser instituído o Couto de Torre de Vale de Todos do Bispado de Coimbra com um pequeno Seminário, dele ainda existem ruínas entre a Ribeira do Açor e Crucial de S. Bento.E ainda mais importante pela genialidade de famílias do passado de Ansião, da sua maior concentração, a que acresce a rara beleza inóspita vestida de calhaus salpicada de dolinas cársicas e poços de chafurdo com arquitectura ancestral de casario na graça do tradicional balcão com ou sem telheiro a merecer inventariação e conhecimento do seu valor cultural a não ser desvirtuado na Ateanha, Alzazede, Lagarteira e Torre numa paisagem cortada por veredas de encostas verdes rasgada a torto e a direito pela pedra calcária que se esventra e rompe em terra rossa para nos deslumbrar em cenários enigmáticos de aprazível beleza e espraiando com várzeas a perder de vista onde historiadores e eu no papel de autoditacta avento foi palco da celebrizada Batalha de Ourique a rivalizar com a Vala de Ourique em Soure, um dos palcos aconteceu.
Outra visão mais antiga do principio do séc XX ao Fundo da Rua com o Pelourinho 

Ansião celebrou no dia 4 de julho de 2014 os 500 anos do Foral Manuelino
Além da festa apenas a pagela nos Paços do Concelho...Onde me fiz à foto.
Tomei conhecimento das comemorações pelo Henriques Dias e Rafael Henriques nas suas Paginas do Facebook para estranhar não ver nada que me chamasse à atenção de cariz semelhante por parte da vereadora do Pelouro da Cultura de Ansião, nem anúncio na sua página de Facebook , pese embora  a Câmara tenha colocado convites no Facebook, mas como não era amiga da Página...Os folhetos e cartazes no verso mencionavam " o responsável por estas comemorações é um filho da terra para coordenar este programa está o nosso conterrâneo e historiador Manuel Augusto Dias que através de várias iniciativas dará a conhecer aos cidadãos..."
Em 2014 fiz uma crónica sobre a comemoração dos 500 anos da atribuição do Foral de Ansião em https://quintaisisa.blogspot.com/2014/07/ansiao-celebrou-no-dia-4-de-julho-500.html
Pelos vistos o evento muito publicitado (?) no entanto me pareceu de brilho baço e não foi por ter sido palco ocorrido ao meio da semana com presenteio de chuva e chuvisco, onde faltou a meu ver o incremento da população em aderir ao evento em massa para na graça presentear convidados e plateia com travessas de arroz doce típico na região... Teria sido ex-libris de hospitalidade em bem receber, mas mais parecem algarvios que deles se fala comem da gaveta!
O que efetivamente estranhei foi o facto das pessoas envolvidas no evento não me terem dirigido convite, apesar de muito anunciado e dele, pouco, quase nada soube ou dei conta, nem tão pouco a minha querida mãe assídua do café na vila, nada soube ou tão pouco dele ouviu falar, para estranhar nada se ter apercebido.Mais uma bofetada! Mas que grande disparate! Pois o é isso exactamente!
O que me magoou foi sentir que  houve um amigo a  não passar de suposto que no tempo me vinha a tecer convites para neste caso não me dirigir palavra, NADA de NADA!
Teve receio que lhe ofuscasse o brilho com a minha alegria.Valeu outro bom amigo, mais antigo, que se mantém fiel ao longo da vida.Mas pior , Ansião não foi objecto de enriquecimento urbano com obra estatuária a marcar o acontecimento da efeméride 500 anos!
Como outras congéneres limítrofes o fizeram e bem!
O primitivo açougue
O talho municipal. Deve-se ao empenho do Dr Domingos Botelho de Queiroz também a construção do Matadouro (hoje WC na Requalificação do Nabão) que ainda o conheci convertido em canil municipal.
 
Foto Paz reeditada pelo meu primo Afonso Lucas retirado da página do Facebook do João Monteiro
O primeiro carro dos Bombeiros junto da casa da neta do Dr Domingos Botelho de Queiroz a Srª D Maria Amélia Botelho Rego defronte o Pelourinho e ainda se distingue o belo candeeiro de pé alto antigo.Sentada no carro a Anabela Paz e o seu pai Artur Paz, atrás julgo o Sr Fernando Silva, quase na ponta o Sr João Monteiro junto de um dos dois irmãos (latoeiros) com um dos filhos? Não conheço mais ninguém...

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Casal d' Afonso d' Pêra na toponímia ancestral de Ansião!

Desde miúda que  tive o privilégio de vir amiúde ao Casal das Pêras, a casa da "Ti Otília  Silva, da Ilhoa,  da mãe da Helena e da Maria " . Recordo de haver ruínas, que me deixavam a pensar o que ali teria existido no passado e ainda a razão do nome do Lugar, porque pereiras não distinguia nos quintais  alguma!
Verossímil que a expansão da herdade de Ansião com 30 casais, para neste local altaneiro se ter instalado um casal de apelido - Pêras -  o pioneiro, seu fundador. Desconhecemos de onde aportou. Mas, se admita que em 1527 - data que nos aparece abaixo referenciada sobre a sua existência, seja proveniente de um clã de judeus fugidos de Espanha do êxodo de 1492 que se foram encaminhando da raia até aqui . A sua descendência terá ido para outros Lugares,  pois em 1721, continua neste Lugar, apenas, a viver um casal cuja descendência  se mantêm ainda viva com o apelido,  que se fidelizou na toponímia no plural - Casal das Pêras. 
Aparece descrito nas Memórias Paroquiais (...) segundo o Numeramento Geral do Reino, de 1527, informa-nos que a aldea de Ansião tinha 67 vizinhos com Casal, Fonte Galega, Constantina, Ribeira do Açor, e Cervedela ( Sarzedela) , Lousal, Escampado, os Empojados (Empiados) e o casal d’Afonso d' Pêra. Nesta data, no lugar de Ansião havia 24 vizinhos «e os mais nestas póvoas».
Em 1721 a «Villa de Ancião» tinha «47 moradores», mais «hum cazal chamado Cazal de Pêras situado em hum outeiro com 2 moradores» .

Registo de 1585 do  Livro de baptismos de Ansião
Margarida do Casal das Peras, no final da página  

Sem o devido conhecimento em Paleografia, atrevo-me a traduzir o que depreendo da escrita medieval 
Aos 8 de dezembro baptizei Margarida  de Paula ou Pedra? Ânes sua mãe, do Casal das Peras. Padrinhos Silvina Paiz de Sousel mulher de Manuel Paiz Galvão? de Ansião.
O registo mostra-se interessante em vários aspectos;
A data 1585 a indiciar a continuação viva do Lugar Casal das Pêras.
Batismo de uma criança de mãe solteira, por não ter menção do nome do pai.
Apelido Paiz, que evoluiu para Paes e hoje Pais? Ou Paz?
Padrinhos, se depreende de  Silvina Paiz Sousel ? A lembrar a ligação de gente da região ao Alentejo e ao Senhorio de terras em Pussos, nos Cabaços  no concelho de Alvaiázere, a reportar para o Visconde de Sousel - António José de Miranda Henriques da Silveira (?)

Livro de óbitos de 1682 de Ansião
Aos dezassete de outubro de 1682 faleceu a mulher de Abel Roriz do Casal das Peras enterrada na igreja
O fato de ter sido sepultada na igreja e, não no adro, reporta que era de gente rica.

Nas Memórias Paroquiais do Cura José Fernandes da Serra de 1769 (...) não sei que haja discórdias ou particulares , mais que hum Manoel António do Cazal das Peras desta Freguesia , o qual por cauza de munto vinho que bebe, trata mal de palavra, a sua mulher e família pondo os fora decaza muntas vezes as deshoras da noute, com o que cauza grave escandallo, e não tem sido bastantes muntas vezes reprehencoens, e avizos queho dado, ja particulares, e publicos, e cheguei, alevar em minha companhia duas testemunhas para verem o que lhe dezia, as quais foram António Cardozo desta villa de Ansião; e António Mendes do Bairro de Santo António; prometeo immenda mas não a comprio, e continua, ainda que não sessam as admoestassoens; hé o que posso informar, e vossa Senhoria Reverendíssima mandara o que for servido, a cujos decretos sujeito a minha escravidão com quem hé.
O relato mostra-se curioso e, uma vez esquinado, pela ingestão de vinho na estalagem do Bairro,  fazia disparates, exercendo violência doméstica, como hoje se diria. Ao se chamar apenas Manoel António sem apelido, pode evidenciar filho incógnito (?).
Apelido Pêras
O meu bom amigo Pedro Guerreiro Henriques, comprou uma papelada a gente de Beja , antes de vender gosta de a ler quando deu conta de uma caderneta militar em nome de Manuel Simões Pêras dos Impiados, Ansião, nascido a 31 de maio de 1898, que logo a põe de lado  por saber que muito falo desta terra, temática que jamais lhe passa em nada despercebido! 
O meu bem haja pela cortesia, por se interessar pelas coisas que escrevo sem lhe dizerem directamente respeito, porque é algarvio, o que valorizo em dobro na vontade de mais saber.
Caderneta Militar
Não tem foto
Achega em correlacionar a descendência do primeiro habitante no Casal d' Afonso d' Pêra, cujo apelido se manteve pelo menos até 1898. E ainda vivo na boca do meu compadre, em conversa ocasional  sobre alguém que mora na Lagoa da Ameixieira, nascido no Casal das Pêras, onde ainda vive uma irmã Isaura, que bem conheço, filhos do Ti Sebastião Pêras.

No Livro Ansião e a Primeira Guerra do Dr Manuel Dias
Que a minha irmã gentilmente me ofereceu, o  autor dedica-o à memória do seu avô materno José Simões Pêras .Supostamente irmão do Manuel Simões Pêras, o da caderneta militar ou seu  familiar...

Ambos os indivíduos a evidenciar parentesco com origem no primeiro casal povoador que ditou o nome ao Casal das Pêras. Por casamento ou, outra situação se deslocaram para os Empiados, Lagoa da Ameixieira e Manguinhas, entre o Casal de S. Brás e Viegas e, algures no Alentejo o da caderneta militar por lá ficou aquando da  safra das ceifas...

A primeira acessibilidade de Ansião para o Casal das Pêras
Foi rasgada sob a que foi a via romana vinda das Lagoas reutilizada em época medieval com a construção da Ponte da Cal, seguida da Rua Direita, a caminho da vila, pela frente da igreja ,continuando para sul  ao atual Cimo da Rua, seguindo ao lado poente do Castelinho e Cruzeiro para a Garreaza ( existe aqui, uma mina que serviu na distribuição de água na vila, pela arquitetura pode ter sido romana? E aqui questionar por onde seguia a via? Pelo Carrascoso o caminho é estreito até às Almitas, para seguir aos Empeados,  ou não, e, seguia em frente para o Casal das Pêras, Barranco e Escarramoa. Recentemente na caminhada a sul do Carrascoso, cortei ao 1º corte à esquerda, desconheço se ali se ali se chama Vale Frade? Ao alto, vislumbrei o entroncamento vindo de poente de um caminho que suponho vem dos Matos, há anos roteado. Mais acima existe outro entroncamento, segui para sul pelo rasto de lajedo, que aventa ter sido da via romana, a caminho da Escarramoa, a ligar a Sarzeda e Almoster. Voltei para trás, seguindo para norte, onde nas descidas as chuvas deixaram à mostra lajedo fragmentado, a evidenciar a via romana vinda dos Empeados, reutilizada em parte, na Rota das Carmelitas e do Caminho de Santiago de Compostela, na direção do Casal Viegas.  
Recordo desde sempre a estranheza da ladeira da Garriaza até às Almitas do Casal das Pêras,  larga empestada de vegetação rasteira,sem jamais me passar pela cabeça tamanha ancestralidade. 
Um dia vinda do Carril de bicicleta com uma saca de azeitona mal cheguei à ladeira para aliviar a canseira levantei-me do selim, debalde a saca nas pontas tropeçou nos pedais tendo-me feito cair em amálgama  com a saca, que não se abriu e a bicicleta não me caiu em cima ...
Ao chegar a sul ao cimo do Casal das Pêras, na esquerda vivia a Isaura (Pêras) que não carrega o apelido do pai, o Ti Sebastião, dita que tenha sido aqui primitivamente o local  da fundação do Lugar, por ser altaneiro onde viveu d' Afonso d'Pêra. A Isaura há anos confidenciou-me ou foi a mãe ou a avó que era espanhola.
Mas, não a tenho visto para mais saber.

Alminhas do Casal das Pêras
Capelinha por alma das almas do Purgatório  feita em 1922
Não a encontrei referenciada no Livro Património Religioso do Dr António Simões, Dra Joana Dias e Dr Manuel Dias,  o que se estranha, tendo à partida os dois últimos raízes neste Lugar ancestral na história de Ansião, mas não me cabe a mim fazer a árvore da sua genealogia...
O chão onde está implantada a capelinha é calcarenito branco com laivos rouge para se expandirem em ocre, quase barro empedernido que se estende por uma língua vinda de norte, da Rua Políbio Gomes dos Santos . Nas obras de requalificação desta rua onde entronca com a Quelha do Canto, se evidenciava e sempre me recordo  de também a observar na que foi a Quinta do Bairro, à imediação do Ribeiro da Vide  que era baldio,  por ser chão inóspito, estéril onde nada crescia, apenas os plátanos nos anos 30 do séc. XX, se deram bem e algumas oliveiras na direção sul no chão que foi do "João das notas" ainda hoje estéril para aflorar com mais evidencia no Casal das Pêras no palco da capelinha.  Mas nos séculos, até hoje, a terra foi sendo objeto de trabalho para lhe retirar sustento ao ser adicionada com estrumes e queimadas,e hoje  apresentar  um solo de camada arável  à superfície  com os pontos referidos a mostrar como foi no passado.
Supostamente as iniciais no ferro forjado sejam de quem a mandou fazer?
Gosto do altar, em pedra, é gracioso e da lanterna suspensa que tem vindo a desaparecer doutras .
Estranhei com mulheres tão bonitas e prendadas a toalha se apresentar de bainha simples sem ornato de uma renda...A pensar na bordadeira de excelência a "Maria José - a  ilhoa" e do seu  bordado da Madeira.
Tanta vez pelo Casal das Pêras a caminho de uma fazenda no Carrascoso da minha tia Maria e, de outra que o meu pai herdou no Carril, a caminho dos Matos. Tomado o caminho depois das Almitas corta-se para sul a caminho do Carril e,  na esquerda,  ao alto ainda existiam ruínas de uma casa, julgo foi do Ti Sabino.
Um dia, a minha prima Júlia Silva do Bairro - no meu tempo de criança mostrou-me por ali algures a poente  um grande penedo onde estava escavado o pézinho  de Nossa Senhora, escultura de grande perfeição, para mais tarde perceber tenha sido esculpido no calcário, no tempo do neolítico, cuja erosão nos séculos, o deixou perfeito para em tempo de forte beatização a tudo que se mostrava estranho, se atribuir milagre ou relativo a Nossa Senhora...
Rua do Casal das Pêras
Na foto abaixo a casa que foi da Ti Otília irmã do Ti Manel Silva que casou no Bairro com a tia do meu pai - Maria, irmã do meu avô paterno "Zé do Bairro".
Horas de aflição naquele tempo ouvir falar em dentista aos doze anos para me acompanhar o meu pai ao consultório por cima do antigo café  do Calado, ao largo do Correio velho, onde me extraíram dois molares. Aprendi a lição de me vangloriar na festa de batizado da Inês, filha do meu primo Afonso Lucas, na sua casa de Além da Ponte, onde abri as garrafas da gasosa e laranjada com os dentes, gracinhas de " maus talentos" da adolescência. A partir daí nunca mais descuidei a boca, interiorizei o que é uma "dentadura artificial" que a Ti Otília, mulher solteirona do Casal das Pêras,  quando descalça passava ao adro da capela de Santo António, ao Bairro, na frente da casa dos meus pais,  vinda da casa do irmão, o tio Manel, e me atazanava e à minha irmã, gesticulando a dentadura em vaivém repentino  -  de dentro para fora da boca, há mais de 55 anos. Visivelmente assustadas a mulher metia medo, alta de pele enrugada, cabelo desalinhado, vestida de avental mais parecia um vampiro, apesar de excelente pessoa, mulher de paródia que  adorava crianças...sem perceber o medo com que nos aterrorizava, pois nem sabíamos que existiam dentaduras artificiais... Só muito mais tarde percebemos que tinha as gengivas mirradas com a idade, a dentadura estava larga  que lhe dava o mote para nos assustar, naquele tempo em Ansião, usar dentadura era um luxo só dela talvez pela irmã  que vivia em Tomar onde tratou da boca...
 que a vida humana nos merece
As vezes que subi a ladeira sinuosa do Serrado das Sobreiras do avô "Zé do Bairro", hoje fazenda da minha irmã, onde havia gente que atalhava caminho ao endireito do ribeiro, como a "Ti Augusta do Tarouca" e os filhos: Mário, Carlos, Amândio, António, Olinda e Fátima Valente, os rapazes lindos de morrer os mais parecidos ao pai. 
Confidenciou-me a "Ti Augusta do Tarouca" que o seu pai António Santos tinha uma galera de 4 rodados, que usava para tirar o estrume da estalagem do Bairro onde por vezes iam corpos mortos misturados ... e depois ia despejar tudo ao fundo do Casal das Pêras...Quando a estalagem acabou e foi a herança, repartida,  no sitio da cavalariça foi feita uma casa para o Ti Inácio e a Ti Laurinda. Ao serem escavados os caboucos  pelo meu tio Manuel Silva, que era do Casal das Pêras,mas vivia no Bairro, casado com a minha tia Maria, disse em casa que  encontrou muitos ossos...se depreende que era comum a outras estalagens noutros tempos, forasteiros e mercadores, bêbados ou surpresos a dormir sendo mortos para lhe roubarem o dinheiro, e depois enterrados, para não dar more a falatório e denúncia, por isso se encontrou tanto osso e caveiras, por fim,  já nem se importavam, porque o poder já tinha saído do Bairro, perdendo a dignidade com o seu depósito na estrumeira, uma desumanidade!

Lembranças ainda de gente boa
Ti Sebastião e das filhas - Isaura e Céu, da mãe da Helena e da Maria, da casa da Ilhoa, ainda viva, quase a celebrar cem anos de seu nome Maria José, madeirense, o marido conheceu-a no Funchal, quando cumpria o serviço militar, onde esteve dois anos e meio. Enamorou-se dela e desse amor nasceram as duas filhas mais velhas,  a Conceição, carinhosamente tratada por São e a Lurdes. Findo o serviço militar foi obrigado a trazer a mulher e as filhas para o continente vindo morar na casa dos pais dele, cuja mãe (galega) de génio forte, ao jus de sogra  "encravilhadora" aliciava o filho contra a nora. E das namoradas que ele deixou, pelo menos duas, julgo em Albarrol, onde teve de ir morar até a irmã emigrar para o Brasil e poder voltar ao Casal das Pêras. Em Albarrol nasceram as belas gémeas- Eulália e Amália . Sorte teve o pobre homem não dar muitos ouvidos à mãe, sabia bem a mulher boa que escolhera, de bom coração, trabalhadora, amiga de todos e, muito boa mãe. No Casal das Pêras nasceu a Tina que julgo vive em Torres Novas, o Fernando, muito bonito e os gémeos a Ana Maria e o Zé Júlio, os mais novos, que não ficam atrás de nenhum deles nem em simpatia nem em beleza. A Maria José, não tinha tempo para se dedicar ao bordado madeirense. Grande a lida da casa e a cuidar dos filhos. Mesmo assim, ainda bordou um lindo vestido em xantung azul escuro, lindíssimo na boca da minha mãe "rica a barra larga numa silva de flores"  do vestido da sua colega Irene, do externato, filha da "Ti Alzira Aureliano" julgo irmã do "Tinta", que viveu ao Ribeiro da Vide.   
O marido da" Ilhoa, a Maria José" o apelido do marido "Lopes" homem de alta estatura e seco de carnes tal como o Ti Manel Silva, nascido na casa que ficou para a irmã a Ti Otília. Dizia-se que tinham ascendência britânica (?). A linhagem é comum a outros de Ansião, que os interligo a judeus, a um clã com características de bela silhueta, elegância e cariz sóbrio, comum ao do meu bisavô paterno Elias da Cruz.

Pedidos de passaportes:

Passaporte de Salim Diogo

1913-03-28

Idade: 22 anos

Filiação: Joaquim Diogo / Josefa de Jesus

Naturalidade: Ribeira de Açor / Ansião

Residência: Casal dos Pêros / Ansião

Destino: Santos ( Brasil )

Observações: Não tem


Passaporte de Roberto Filipe Fazenda

1913-03-28

Idade: 27 anos

Filiação: Manuel Caetano Filipe/ Ana de Jesus

Naturalidade: Ribeira de Açor / Ansião
Residência: Casal dos Pêros / Ansião

Destino: Santos ( Brasil )

Passaporte de José Nunes

1907-12-17

Idade: Não mencionada

Filiação: Manuel Nunes da Fonseca / Maria de Jesus

Naturalidade: Santo Aleixo do Beco / Ferreira do Zêzere / Santarém
Residência: Casal das Peras / Ansião

Destino: Santos / Brasil

Observações: Não escreve


Passaporte de Alexandre Lopes

1907-12-17

Idade: Não mencionada

Filiação: Salvador Lopes / Josefa Marques

Naturalidade: Albarrol / Pousa Flores / Ansião
Residência: Casal das Peras / Ansião


Em conclusão a linhagem de gente que aqui viveu que agora se pôs a descoberto: ÂnesPêras; Lopes; Santos; Nunes, Fazenda , Diogo, Silva; Carvalho, Bento, Valente e,...

A minha querida amiga Fátima Valente, filha da Ti Augusta Tarouca ajudou-me nos apelidos das gentes do Casal das Pêras.
"Zé da Tuba" chamava-se José Simões Bento,  viveu na primeira casa à entrada era o pai da Helena e da Maria,  que bem conheci, seria conhecido pela alcunha "Tuba", por ter sido musico na filarmónica onde tocava o instrumento a  tuba.
Claro há sempre alguma coisa a acrescentar...

Fontes
Livro das Memórias Paroquiais
Livro do Património Religioso d Ansião
Livro Ansião e a Primeira Guerra do Dr Manuel Dias
Testemunhos da minha boa amiga Eulália, Isaura, Júlia Silva e do meu compadre Fernando Moreira
Caderneta militar de Manuel Simões Pêras
Testemunho de Fátima Valente

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