quarta-feira, 13 de novembro de 2019

José Lucas Afonso Lopes , ilustre de Ansião, sem menção na toponímia!

Falta atribuir o seu nome na toponímia de Ansião 
O insigne Professor José Lucas Afonso Lopes de Ansião

O meu artigo de opinião publicado no Jornal Serras de Ansião, em Novembro

Na Assembleia Municipal de outubro o Sr. Presidente da Câmara Dr. António José Vicente Domingues abordou a temática de se batizar a Rua da Rotunda que nasce ao prédio "Tarouca" para o Mercado, artéria inserida na Quinta de S Lourenço, uma das cinco adquiridas pelo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra entre 1175/6 para formar a Herdade de Ansião. A deturpação em séculos em atentados à toponímia até meados do século XX na sua distinção pela  divisão da antiga estrada real em duas, a Quinta do Vale Mosteiro de Cima e  Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, quando ambas foram palco da mesma quinta de S Lourenço.

Mais que justo a Rua citada vir a ser agraciada com o nome do Prof José Lucas Afonso Lopes
Nasceu no Vale na Mouta Redonda, a 24 de março de 1914, na freguesia de Pousaflores. Criança adorável, a sua prima Maria da Luz Ferreira, nascida em 1911, brincou com ele no mesmo terreiro alpendrado do quintal  e na quelha do Vale, a ouvir as águas do ribeiro da Nexebra na frente da casa dos pais dela e dos avós de ambos, onde o primo viveu até o seu pai ter construído casa ao cimo do Lugar. Nesses anos de convívio familiar foi fácil despertar com a sua forte personalidade acalentando nela fascínio e adoração a tamanha e brilhante capacidade de retórica, números e humanista . Mais tarde, ela apesar de primogénita e mulher, o seu pai José Lucas Afonso a pôs a estudar para professora em Coimbra, tenha o primo sentido constrangimento por não ter a mesma oportunidade, em virtude dos seus pais não terem naquela altura a mesma capacidade financeira. Não se deixou derrotar, homem dinâmico, interessado em mais saber e lutador, foi em Coimbra, no cumprimento do serviço militar que tirou o 2º ano para Regente Escolar, vindo depois a concluir o Curso Geral dos Liceus e mais tarde o Complementar. Eloquente autodidata, de grande craveira, sentia as enormes dificuldades que existiam nas vilas do interior para o ensino. Como Regente Escolar fazia-se transportar de bicicleta, andou pela Serra de El Rei e Maças de D. Maria. A minha mãe, sua prima com menos 20 anos e a Maria do Carregal, foram suas alunas entre outras, todos andaram de cama de ferro e malas às costas, por Santiago da Guarda, Lagoas e Ribeiro da Vide, em Ansião. Valeu a pena tanto empenho, as preparou eloquentemente para o exame do 5º ano sendo aprovadas com distinção. Em 1966 foi convidado para inaugurar a Escola Primária dos Casais da Granja, em Santiago da Guarda. Sobre a sua conduta, a minha querida mãe sempre me falou do primo como um homem acima da média de elevado cariz inteligente, excepcional carácter, nascido com a missão de passar a palavra, um verdadeiro professor pelo gosto que nutria pelo ensino, não gostava de mexericos nem conflitos, sobretudo muito respeitador, a mais-valia num tempo de menina e moça. No papel de marido a minha mãe via no primo um homem educado, encantador, verdadeiramente apaixonado pela sua esposa, e esta atenta às lições dadas às alunas, aprendeu de ouvido, falar francês. José Lucas decidiu residir em Ansião tendo adquirido um lote de gaveto ao quelho da Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, na ligação à Misericórdia na vila, onde foi construída uma bela vivenda, o Mestre-de-obras, o seu irmão, conhecido por  António do Vale.
A glicínia na frente da vivenda de belos cachos lilazados será concerteza descendente da que existia no antigo hospital, hoje CGD. Num  tempo que esta qualidade  dos cachos da índia em Ansião, além desta, só havia a do jardim da D Maria Amélia Rego, na que foi a última estalagem da Ti Maria da Torre no Bairro e outra ao entroncamento junto da fonte para a Sarzeda. 
Conheci-as todas, mas a do antigo hospital, a casa do Sr Alfredo Simões, recordo  os grossos ramos que se enlaçavam no varandim da escadaria , com centenas de anos e os cahcos de flores e o aroma, o cheiro, o cheiro que irradiava, era divino...
Árvore genealógica de Jose Lucas Afonso Lopes
Cortesia de Henrique Dias
José Lucas imortalizado como Ilustre Ansianense no II Livro do Dr Manuel Dias (…) em 1941 sabendo das carências para o ensino foi sócio fundador do Externato António Soares Barbosa, onde foi Professor. Casa-se com a Srª D. Lídia Ferreira Afonso a 22 de setembro de 1945.O casal teve dois filhos - O Rui e o Luis. Na década de 50 entra como funcionário público na Câmara de Ansião. Em 1957 é o segundo sócio honorário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, seno o primeiro o Dr Vitor Faveiro. Igualmente também fez parte da Direção da Filarmónica de Santa Cecília. Por último foi Provedor do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ansião. O maior responsável pela reabertura do segundo Hospital da Misericórdia, ao Ribeiro da Vide, na década de 60 do séc. XX,  desativado desde o início da década de 50 do mesmo século, pouco depois da chegada do Dr Fernando Travassos. Foi a faceta social que melhor conheci no primo José Lucas, na área da saúde, e se veio a constactar  tremenda eficácia. Reaberto o Hospital com enfermeira permanente e uma criada, além de médicos, a chegada de táxis e da ambulância dos Bombeiros com gente doente e parturientes era corropio- a menina dos seus olhos , tantas vezes o distingui na estrada, a pé, de pasta na mão para acompanhar o seu bom andamento e o bem-estar dos seus doentes. Um cuidador!
Anos mais tarde, já não estando entre os vivos aconteceu a infeliz medida da extinção do Hospital da Misericórdia de Ansião, não me oferece qualquer dúvida que se teria debatido contra tudo e todos pela sua continuidade, por ser um homem de valores, acreditava no progresso e no desenvolvimento do seu pequeno concelho inserido no interior, cujo crescimento se faz com apostas válidas, e o Hospital era valia necessária para com talento, engenho e arte argumentar em sua defesa, louvando o seu historial de 300 anos, de todos o mais antigo no concelho, debalde sem a sua voz a clamar merecida e justa defesa, se perdeu e não devia, por fatal desconhecimento cultural! 
José Lucas, como gostava de ser conhecido, faleceu a 5 de março em 1967 e com ele se finou repentinamente o Futuro e o Progresso do Concelho de Ansião, sem outro(a) desde então ao seu perfil se assemelhe; dinâmico, humanista e estratega!
 Partilha do Henrique Dias, falta saber o Jornal de 8 de Março de 1967
José Lucas e a esposa jazem em sepultura na entrada do cemitério com o passeio público, a metros do palco da primeira igreja de Ansião, mérito do destino em os presentear para a eternidade. Já lamentável passadas décadas e ainda sem ter sido distinguido na toponímia, como bem o merece, pese o alto contributo e riqueza testemunhal deixada ao concelho, a herança a deixar aos vindouros, de um homem único que não olhou a esforços para melhorar a vida das gentes do concelho de Ansião, quer no ensino quer na saúde, além de participativo noutras atividades de cariz social e cultural. Em repto final, a sua família sinta o calor de todos nós ansianenses na meritória distinção, mais que justa, urgente!

Excertos do livro Ansianenses Ilustres do Dr. Manuel Dias






sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Proteção das árvores no palco da Mata Municipal de Ansião

No Parque Infantil os meus netos brincaram para depois começar uma aula inusitada ao ar livre na procura do carvalho cerquinho, alvarinho, negral e americano, o último introduzido, nesta altura outonal se apresenta em tonalidades carmesim, ao jus da cor de alguns bugalhos de uma espécie de carrasco, parasitados por um insecto que tomam esta tonalidade. Em 1747 ainda era riqueza a grãa, nas Serras de Ansião. Deleite a mexer nas folhas grandes e rendilhadas, viçosas e verdes do caravalho alvarinho, em comparação com outras sem brilho, peludas de tonalidade baça do carvalho negral e as pequeninas do carvalho cerquinho em manto a cobrir o chão...Árvores seculares ainda vivas e outras mais jovens todas convivem em salutar e franca convivência com frondosos pinheiros; o manso e o bravo além de medronheiros. 

Paragem ao painel alusivo à proteção das árvores  com Poema de Veiga Simões, Arganil
O Vicente fez -se à foto a jeito do “Homem Vitruviano” que Leonardo da Vinci se retrata aos 38 anos para explicar a perfeição das proporções do corpo humano: ciência, arte e sensualidade.
Paragem para leitura e reflexão ao painel azulejar
Sentados nos bancos de pedra graciosos pela estética e pelo material igual nas mesas, no privilégio de ser usado um produto da região- pedras esburacadas, dantes se encontravam muito para os lados da Venda do Brasil, deixados do tempo que o mar cobriu estas terras, e a excelência dos medronhos em agosto já tão madurinhos, no meu tempo só me lembro de os encontrar em outubro, ainda encontrámos pinhões, ali partidos com uma pedra que foi deixada em
sitio que não afecte mal a ninguém, pelos passeios de areia e de calçada andámos na jogatina ao bugalho, e ainda lhes falei da famosa ceramista minhota Rosa Ramalho sobre os Cristos que fazia e pintada de amarelo ocre, a coroa de espinhos na cabeça teria sido inspirada em bugalhos...
A Mata Municipal com exemplares de Carvalho Cerquinho, Alvarinho, Negral , e Americano, o último introduzido, convivem com pinheiro manso, bravo e medronheiros

Carvalho alvarinho, carvalho roble ou carvalho vermelho
Folhagem do carvalho cerquinho ou português
Carvalho americano
Foto da Mouta Redonda, Pousaflores
Nas ribanceiras dos leirões arroteados pelos primeiros povoadores, o abandono das culturas há 30/40 anos, as raízes por terem permanecido  no subsolo adormecidas, há anos a rebentar...parece negral
No meu tempo de aluna no Externato a Mata tinha uma espécie invasora de acácias, talvez trazidas pelo Dr Adriano Rego quando foi médico em Quiaios, foram no principio do séc XX plantadas nos areais para segurar as dunas no litoral. Hoje dizimadas na Mata Municipal.
 O adeus 
Reconfortados de Cultura e alma satisfeita, num olhar à cisterna!

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Isabel não és tu que andas sempre com Ansião na boca?

A minha amiga Maria dos Anjos encontrou um Jornal bimensal de Antiguidades e Velharias  e 2º Mão que me ofereceu  com a lábia a servir  de título à crónica.

O palco do cemitério actual de Ansião foi sito no primitivo burgo de Ansião, a poente.
Depois de 1593 este burgo foi transferido para nascente, onde se encontra ,com os  enterramentos  no adro para o povo e pobres,  dentro da igreja para nobres, padres, licenciados, abastados e frades de caminho.
Com a  instauração da Comarca de Ansião em 1875 foi cumprida a lei que obrigava a locais próprios para enterrar os mortos em cemitérios para nesse ano ter sido reimplantado no mesmo local onde o foi em tempo medieval.
Em 1969 a ampliação  do cemitério
O terreno do cemitério e sua envolvente terreiro da Quinta de S Lourenço, vendido em haste pública a vários, desmembrada  e a nascente  do meu bisavô Elias da Cruz, herança  que veio a ser dividida pela  minha avó Piedade da Cruz e a sua irmã Maria do Carmo - reza na escritura o seu nome -  Ribeiro da Igreja, o ribeiro (Vide) ainda hoje  limite do que resta dessa fazenda  a nascente e a poente o chão do actual cemitério novo que veio a ser comprado para o seu alargamento. Quem conhece o terreno distingue do ribeiro para poente a inclinação com o pico  mais alto onde é hoje o muro do cemitério novo onde foi  o palco da primitiva igreja de Ansião e o seu cemitério medieval.Local avançado pelo Padre José Coutinho como provável, pelos achados, a se credenciar pelo topónimo perdido, atestado na escritura referida da minha avó, e em 1669 a sua ruína a merecer menção na aguarela de Ansião, ao ser distinguida do adro da igreja actual pela comitiva de Cosme de Médicis.
Prefaciando o Padre Coutinho na empreitada do alargamento do cemitério  o caterpillar a remover as terras e as  oliveiras  trouxe ao de cima com as raízes vários testemunhos desse passado ali vivido- moedas, ossadas humanas, pedras esculpidas, lajes sepulcrais, bilhas, cerâmica, imbrices e tegulae e pesos de tear partidos segundo informação do então Presidente da Junta de Freguesia José Capelo que  mandou guardar a base de  uma pequena estátua em calcário e um marco lavrado no mesmo material com 4 letras esculpidas STTL? Este foi abusivamente metido no novo muro do cemitério tendo sido retirada em 1979 e guardada convenientemente (...)Sempre que uma sepultura é aberta  outros achados são encontrados  e moedas da primeira Dinastia e reais e ceitis da Segunda, abarcando 14 reinados e somando 86 moedas. A segunda moeda de Dom Sancho I - Dinheiro Bolhão A/-,REX SANCIVIS, entre dois círculos  granulados. Cinco escudetes triangulares, em Cruz, cantonados por quatro besantes. 
Muitos anos mais tarde num funeral o Padre Coutinho chamou-me para ver na terra de uma sepultura aberta  com as terras na sua volta para distinguir facilmente fragmentos  cerâmicos e em vidro do tempo romano, demonstrando assim que foi chão de um habitat romano e depois medieval.

Numária Medieval do Cemitério antigo de Ansião do Padre José Eduardo Coutinho.
O pequeno livro foi-me oferecido pelo Padre José Coutinho, entretanto perdido, levando-me ao equívoco se não o teria entregue na Biblioteca com outros do mesmo tamanho, do mesmo autor, debalde disseram-me que não, na verdade a casa não tem buracos e o livro desapareceu!

O ANTIQVÁRIO  nº 20 de junho de  1997 
Artigo sobre a   Numária do Cemitério de Ansião pelo Padre José Reis Coutinho

A origem das Quinas de Portugal
Segundo o Padre Coutinho remonta ao reinado de Dom Sancho I, época em que se começou a generalizar o uso de armas de nobreza como símbolo heráldico. Entretanto, a primeira referencia textual ao Escudo Nacional data de 1380, quando o bispo de Lisboa, Dom Martinho, evoca, a Carlos V, de França, a História de Portugal, desde D Afonso Henriques, e onde, igualmente, descreve a origem das armas nacionais, dizendo representarem os cinco escudetes, ou Quinas, os outros tantos ferimentos que o Fundador recebeu durante a batalha de Ourique, em 25 de julho de 1139, as quais ficaram no corpo do Rei dispostas em cruz. Esse facto, bastante discutível(que para uns, foi tido como determinação dos desígnios divinos, para outros, como ocasional coincidência, para uns outros,m acção polémica acesa por ardor crítico(cf Alfredo Pimenta, Fontes Medievais de História de Portugal, Lisboa 1948, 10 e 70-71; e Manuel Gonçalves Cerejeira, Vinte anos de Coimbra, Lisboa MCMXLIII, 113-19) tem certo paralelismo na vida de S Teotónio, primeiro Prior do Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, onde é salientado ter o Rei combatido contra cinco reis mouros, que venceu com auxilio divino: devicit auxilio sibi facto divino, aspectos mais tarde retomados pelos frades daquele Mosteiro a fim de identificarem os ferimentos do monarca com as Chagas de Jesus Cristo.Simultaneamente, o culto das Cinco Chagas do Senhor, as feridas que Cristo recebeu na Cruz e manifestou aos Apóstolos, depois da Ressurreição, foi sempre, uma devoção muito viva entre os Portugueses, desde os começos da nacionalidade. São disso testemunho a  literatura religiosa e anomástica referente a pessoas instruídas. Os Lusíadas sintetizam (1,7) o simbolismo que, tradicionalmente relaciona as armas do estandarte nacional com as Chagas de Cristo. Assim, os Romanos Pontífices, a partir do Bento XIV, concederam para Portugal uma festa particular, que, ultimamente, veio a ser fixada a 7 de fevereiro.
O Autor da Cartilha da Numismática Portuguesa, 1, 266-67, assim, o fundamental acerca de tal problemática: A Heráldica portuguesa surge por ocasião do casamento da Infanta Dona Teresa, filha de Dom Afonso Henriques, com o conde da Flandres, em 1184; a representação das Quinas aparece em inícios do reinado de Dom Sancho I , a partir de 1185; a analogia às feridas de Dom Afonso Henriques é perfeita nos documentos diplomáticos, esfragísticos, e numismáticos de D Sancho I; as feridas, representadas por golpes desenhados, passaram a pontos aglomerados dentro de uma formação amendoada;evoluíram em alinhamento e fixaram-se em número de cinco, em casa escudete, no final do reinado de D Afonso III, antes de 1279;possivelmente, em atenção à determinação heráldica de ser colocado em número de cinco em sautor peças, de número e posição indeterminada; e tomaram essa disposição já no reinado de Dom Dinis.
Por conseguinte, tratando-se de matéria heráldica, é perfeitamente lógico que a simbologia seja baseada, principalmente nas gentes mais admiráveis dos cavaleiros medievais, com particular incidência para os feitos de armas praticados em combate, onde se situa a origem dos ferimentos recebidos por Dom Afonso Henriques, na Batalha de Ourique(?).
Portanto, as Quinas traduzem a honrosa evocação das feridas causadas e assinaladas em cruz, inerentes à paradigmática batalha ganha aos Muçulmanos, e imortalizariam a ideia de ter sido a espada e o escudo os agentes efectivadores da defesa e vitória da Cruz sobre o Crescente. Isso é peremptoriamente manifestado no dinheiro nº 9 de Dom Sanho I ( cf J.Ferraro Vaz e Xavier Salgado, op Cit.22;e Pedro Batalha Reis, op Cit., I, 268) e nos morabitinos do mesmo monarca, neles representado a cavalo, galopando, à direita, com o ceptro crucial levantada na mão esquerda, e, na direita, a espada erguida, numa atitude guerreira e outra tanto expressiva da Cruz defendida pela Espada.
Um tanto comum aos morabitinos, também os dinheiros permitem encontrar a representação figurativa do Escudo com as Quinas. Os exemplares de Dom Sancho I exprimem a difícil execução bem patente na incipiente monetária medieval.porque perdeu a tradição de elevada perfeição alcançada nas cunhagens clássicas dos moedeiros da Grécia e de Roma -, apenas indicando os escudetes através de cinco pequenos escudos triangulares, dispostos em cruz.
No reinado de Dom Sancho II, verifica-se um duplo processamento:inicialmente o escudo arredondado na parte inferior- cujo formato definitivo desde então se estruturou em evolução  no sentido do arredondamento, vai gradualmente, sendo acentuada até final da Dinastia Avizina -, com cinco escudetes, em cruz, ou menos, pela dificuldade de os colocar num espaço tão limitado, sempre mantendo algum dos eixos da cruz;e, ulteriormente, os cinco ou quatro escudetes , vazios, em formação crucial. 
Assim, começaram os escudetes por aparecer carregados de um só besante; depois, totalmente vazios e em número de quatro, por vezes com um besante entre eles. Com Dom Afonso III, a formação alarga-se até cortar as legendas, e cada escudete recebe mais besantes, desde logo fixados em cinco e dispostos em sautor, disposição essa que, a partir de Dom Dinis, é tornada representação comum regular nos reinados seguintes.
Poe último, a presença dos castelos apenas surge no séc. XV, com as cunhagens monetárias doe Dom Duarte, provavelmente ligada ao alargamento territorial, pelas campanhas ultramarinas do Norte de Africa, das quais Ceuta marcou o primeiro momento e início.
Ápice da impugnação de argumentos inerentes ao feito de Ourique, é a intrépida publicação de Alfredo Pimenta, Ainda a Batalha de Ourique, Lisboa 1945, de aliciante leitura.

Conclusão
A avaliar pela abundância dos referidos materiais achados onde, desde 1875, se situa o cemitério da freguesia, podemos chegar à existência de uma relação de simultaneidade, por ter sido ali uma estação arqueológica romana, posteriormente usada em local cemiterial, e é provável localização do primitivo centro da vida religiosa de Ansião medieval, pois, ao que inicialmente ficou enunciado, junta-se, ainda, a exumação de um tambor de coluna, em calcário amarelecido pelo tempo, e a base de uma ingénua imagem de S Sebastião, no mesmo material, a qual conserva visível o cuidado deposto da escultura, como evidenciam os pés; é datável do séc. XV e, certamente, deixada nos escombros porque está muito danificada (...) que sentido traduz o pedaço de imagem quatrocentista, entretanto surgida entre outros materiais arqueológicos da época e ulteriores?(..) assim à luz dos numismas deixados aquando de sepultamento, os quais abrangem um período de quatro séculos, trata-se de um cemitério medieval, e atendendo ao contexto  situacional em que aparecem os vários achados, necessariamente podemos inferir a proposição lógica consequente das premissas; 
a primitiva ou velha igreja de Ansião estava situada no local presentemente ocupado por parte das propriedades pertencentes a José da Fonseca Lopes, de herdeiros de Maria do Carmo Cruz e de sua irmã Piedade da Cruz, actual cemitério e terrenos limítrofes, a Norte (...)Além do exposto, os factos permitem estabelecer três momentos circunstanciados: inicialmente, a igreja medieval situava-se naquele planalto do lugar de Igreja Velha, e aí foi o primeiro e antigo cemitério, desde o séc XII a 1593; seguidamente, com o séc. XVI, o núcleo medieval estendeu-se para nascente, edificando-se, naquela data a actual igreja matriz , e para ela o adro envolvente passou o moderno cemitério, como testemunham os registos paroquiais, bem como algumas lápides funerárias, das quais apenas subsiste a de André Fernandes  e mulher, Catarina Fernandes, na sua capela lateral, seiscentista;finalmente, desde 1875, o local de enterramento é o cemitério contemporâneo, regressando, portanto, ao antigo local onde estivera do séc. XII ao séc. XVI.


Pese a aguarela de Pier Maria Baldi de 1669 retratar a primeira referencia sobre a vila de Ansião publicada no Livro do Padre José Coutinho em 1986, o facto de ser pequena, a preto e branco,onde apenas se permite distinguir uma torre de igreja, para o autor se ter referido se tratar da actual igreja - porém não o é, em verdade.Graças à réplica da aguarela, ampliada, num carro alegórico dos Netos em 2014, onde vim a identificar a ruína da primitiva igreja. A chave dada pelo óculo de iluminação para nascente, num tempo que a frontaria era obrigatória para poente.Diz-nos ainda que a comitiva não passou pela estrada real ao Vale Mosteiro,onde teria visto a sua ruína de frente, abrindo a investigação por onde deixou Ansião a comitiva . Foram  5 anos para interpretar a aguarela. O seu todo tem vários núcleos. Jamais alguém, além do Padre Coutinho, já mencionado, o tentou e apenas à igreja . Pela simples razão - é extremamente difícil. O artista no todo deixou retratos de sítios diferentes que distinguiu na chegada e na partida. Como cheguei a esta conclusão? Por paixão, por tenacidade afincada, a cruzar textos, a perceber como era Ansião naquele tempo medieval,  na vantagem de o conhecer como ninguém, por ser curiosa e observadora enxergo pormenores que aos demais passam despercebidos, e sim esta característica a me distinguir com apresentação de resultados.
Facto importante para credenciar finalmente o palco da igreja primitiva entre a junção do cemitério velho com o novo, no sitio onde o planalto é mais alto e por isso distinguida do adro da igreja actual onde a comitiva ouviu missa antes de deixar Ansião, a caminho de Coimbra. O autor teimou deixar  imortalizada a brutal ruína da igreja e seu casario associado ao burgo primitivo, ao jus de  lição - na sua visão devia ter sido recuperado e não mudado...O recado deixado a Ansião - não retratou a actual igreja em prol da ruína da primitiva , é um facto! Na perspectiva de uma amadora!

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Dr. Manuel Maria de Melo Júnior e sua esposa a Prof Otília no tempo vivido em Ansião

Para não se perderem as memórias  futuras do Dr. Manuel de Melo Júnior e da sua esposa a Prof Otília no tempo que viveram em Ansião
O Dr Melo aportou a Ansião como advogado e Conservador do Registo Civil, casando com a  Prof. D. Otília natural do Casal Viegas, Ansião. 
Segundo o testemunho do meu bom amigo Isidro Freire Leal  " a Prof. Otília filha de uma amiga de minha Mãe do Casal Viegas viveu com sua mãe, seu avô e sua irmã. Seu pai foi para o Brasil muito cedo, por motivos que não escrevo. Sua mãe, avô e irmã foram ter com ele, por onde ficaram."
O Dr Melo e a esposa Prof Otília eram extremamente educados, afáveis com todos e de grande simpatia. Desconheço o apelido da Prof.Otília, com descendência também no Brasil. O Dr. Melo fazia parte do orfeão académico de Coimbra, confidência de anos e anos que nos cruzamos na frente da casa uma vida de aluguer ao Sr Pires, quando o via a descer a linda escadaria de pedra em meia-lua a caminho do trabalho no Registo Civil e partilhávamos dois dedos de conversa. Um ano na década de 70 no peditório para a Liga contra o Cancro pôs na minha caixinha amarela uma nota de 50$00 num tempo que só moedas caiam, também a sua esposa Prof. Sra D. Otília, senhora distinta de alto porte e cabelo ripado tanta vez a vi a tirar o carro da garagem a caminho da escola para a Constantina. Na minha candidatura para o BPSM tinha de apresentar referências, o nome que dei foi precisamente o do Dr Melo. Lembranças ténues das suas duas lindas filhas que só conheci em pequenas - Manuela e Paula, desde que foram para Coimbra estudar onde tinham uma casa nunca mais as vi.Na última etapa da vida o casal perdeu-se na aventura de ter a sua própria vivenda na terra da esposa-,sendo ele da zona da Bairrada, apostaram no Moinho das Moutas depois do entroncamento para o Casal das Sousas na sua construção, em etapa já reformados, julgo pouco ou nada a gozaram, um casarão grande vestido de amarelinho... a fatalidade entrou nas suas vidas com a morte inesperada da filha mais velha, seguida da deles em galopante corrida!
Ainda cheguei a ver o Dr Melo na Figueira da Foz, perdido das ideias, nem nos reconheceu...
A casa foi vendida há poucos anos.
O testemunho da grande amiga da minha irmã e minha Maria de Fátima Fernandes da Constantina  "Conheci muito bem o Sr. Dr. Melo a esposa Professora Dra Otília (foi minha professora 4 anos e também explicadora , quando casei estiveram no meu casamento, passados 40 anos, as duas prendas que me deram utilizou-as  quase todos os dias,e recordo...as filhas que conheci e brinquei muitas vezes com elas nessa casa, mais com a Paula que fez a primária comigo e costumávamos ir assistir ás aulas de francês na TV da casa dos meus Pais,nessa altura a escola primária era das 9 ás 18h. A casa que conheci era uma casa linda e bem cuidada...acrescento que o Dr.Melo era um grande ser humano  e sabia muito de arte e conhecimento histórico..."
A casa que todos da minha idade conhecemos

Perdeu-se a vivência do quotidiano deste casal, quantas histórias teriam ambos para contar sobre Ansião. Viveram uma vida  nesta casa . Antes a casa  foi de meus ascendentes paternos de apelido Bastos Guimarães - o único filho faleceu sem descendência e a mãe a D Augusta, veio a doar pelo menos esta casa, não sei se mais prédios, a uma prima - Deolinda Pires, esposa do Sr Pires que viveram na casa adoçada ao correio velho. Foi vendida ao atual proprietário o Dr Leonel Morgado, que a requalificou numa arquitectura moderna em finais de 2015. Tenha sido a primeira vez que em Ansião, finalmente se começou a valorizar o património antigo na manutenção da traça antiga, mantendo a escadaria em meia lua, os bancos namoradeiros que haviam nas janelas da frente também já tinham sido retirados noutra anterior requalificação, nesta perdeu-se a bela chaminé  com o estuque do anel no brasão dos Menezes, e disso tenho pena. 
Linda e elegante chaminé
O que tinha de notório esta chaminé? Ao meio em destaque o criativo desenho do estuque em forma de argola - o anel do brasão dos Menezes - O Senhor de Ansião.
Exercitar a memória ? Alguém conhece outras assim com o mesmo anel?
Testemunho do Dr Leonel Morgado  Tenho pena de não a ter podido manter, mas a estrutura da casa por baixo tinha sido completamente alterada nesse canto, uma misturada de pedra antiga com blocos e tijolos de alguma intervenção de há poucas décadas, só consegui manter duas paredes e meia da estrutura original.
Partilha do Dr Leonel Morgado
...posso mostrar como ficaram por dentro as paredes, sem quebrar muito a intimidade...
Extraordinária partilha do Dr Leonel Morgado ao jus do seu lado humanitário, sentimental a valorizar o que foi o passado dos nossos avoengos em Ansião. De fato são pessoas com o seu carisma e panóplia de talentos que interessa ressaltar neste Grupo pelo contexto cultural. Bem haja. Claro que jamais se pretende colidir com a privacidade de cada um - apenas realçar os testemunhos do passado e na sua casa em particular porque foi de meus ascendentes paternos, continuada pela vivência do Dr Melo e da sua esposa a Prof D Otília, tão eloquentes, simpáticos e atenciosos, em falar com todos . Mal olhei a parede percebi onde estiveram os bancos namoradeiros para idealizar no passado como teria sido aliciante ao entardecer estar ali sentado como esteve por último a D Augusta que se tinha mudado para esta casa mais perto da vila. Uma das filhas do Ti Parolo - a Tina ou a Lúcia, assim me o transmitiram, à vez, aqui vinham passar a noite em sua companhia. Este conhecimento já vinha de outra casa onde viveu antes até o filho ter falecido ou quando ficou viúva, na Rua Polibio Gomes dos Santos, ainda a conheci em ruína onde passava depois da meia noite do turno do correio, cheia de medo com a minha mãe, e de novo hoje em abandono junto da rotunda ao Ribeiro da Vide. Se me permite irei acrescentar a sua foto na crónica para memoria futura se perceber melhor a sua ancestralidade e seus testemunhos.
A casa remonta ao inicio do século XX pela abertura desta rua atestada na toponímia Rua Dr Domingos Botelho de Queiroz - que permitiu a expropriação para o seu rasgo ficando a nascente onde é a casa uma linha desirmanada da quinta que se passou mais a sul a chamara Canto - o canto da quinta. A construção tenha sido  entre 1900/1 por altura da construção do segundo hospital da Misericórdia de Ansião, ao Ribeiro da Vide, houve essa grande necessidade de abertura de novas acessibilidades.
Portão de aceso à garagem,  nova, onde tanta vez distingui a Prof Otília entrar ou sair com o carro
As obras
Projecto de arquitectura modernista do Arqº Bruno Dias de Ansião
Segundo me confidenciaram a casa antiga mostra-se totalmente aberta com sala de recepção  em projecto de arquitectura modernista a desenvolver-se no terreno pelo tardoz  fechado em meio circulo numa aposta inovadora de vivência de fora para dentro, a nova viragem  de casa intimista e intemporal, totalmente vestida de branco a cor monocromática da sua nova aposta .
Confesso sofri um choque, até que alheada me esforcei, percebi e aceitei por alargar o meu espírito de cariz conservador!

E sim um ícone na arquitectura ao manter a pedra das cantarias e da escada de meia lua com as argolas de ventilação em rodapé!
De realçar o candeeiro de braço em ferro forjado
Como deve ser em contexto histórico do centro da vila.
 
Fechar a equacionar se o arquitecto poderia ter utilizado a simbologia da chaminé - para isso teria de ter conhecimento do passado da casa e de Ansião. E fica claro que não o sabia para não o ter aproveitado - e sim não podendo ter ficado a chaminé, por falta de estrutura o símbolo que carregava o Anel do brasão dos Menezes, a ter ficado a embelezar a parede lateral sul, em qualquer altura poderá ser acrescentado, se for essa a intenção do proprietário. 

domingo, 20 de outubro de 2019

A riqueza da grã nas Serras de Ansião em 1747

Tomei conhecimento do termo Grãa numa visita guiada aos conventos da Caparica, uma espécie de carrasco da espécie Quercus coccifera. Em miúda recordo na Costa do Escampado, em Ansião, subir o costado desde a Fonte da Costa pelo carreiro de terra vermelha ornada a cascalho branco e erva de Santa Maria. Ao cume a perder de vista para norte, a minha família tinha uma grande fazenda, hoje minha e da minha irmã, onde o meu avô paterno "Zé do Bairro" cortava os carrascos para com eles acender os fornos da sua  padaria. Por aqui ou a caminho da Ferranha, outra fazenda no Vale Cerejeira recordo de ver carvalheiros com  bugalhos com textura esponjosa em tom avermelhado, mas sobre eles nada sabia, julgava que seriam assim por ainda estarem verdes e só depois de secos é que ficavam com a cor característica castanha...
Bugalho seco de um carvalho alvarinho da Mata Municipal de Ansião
Os bugalhos também chamados galhas da espécie Quercus coccifera são o resulto  de uma picada do insecto cochonilha Kermes vermilio, conhecido também como grã-dos-tintureiros, grã-de-carrascoa, grão-escarlate e carmesim
O insecto faz um furinho no bugalho provocando uma reação de espessamento nos seus tecidos criando um espaço de casulo onde deposita os ovos para as larvas se desenvolverem parasitando a planta, alimentando-se dos nutrientes da galha ou bugalho que se desenvolvem durante o inverno, a textura interior é esponjosa e duros por fora, o insecto parasita varia de entre 6 a 8 mm, se desenvolvendo preferencialmente sobre os ramos juvenis e os pecíolos das folhas jovens desta espécie de carrasco. O insecto parasita é o produtor do corante carmesimquando a galha seca fica pronta para uso como corante para as artes e tinturaria de têxteis .
Na Caparica eram os frades em trabalho exaustivo que procediam à apanha das galhas  do carrasco para secagem e obter um pigmento carmesim ou carmim  após trituração em almofariz.

Bugalho ou galha vermelha
Foto captada no Alto da Serra ao Camporês, a 3.4.2022, de bugalhos gémeos, em Ansião
Inseto que poliniza a galha da grãa
Carrasco comum
Nomes vernáculos: carrasco, carvalho dos quermes, carrasqueiro, carrasqueira, carrasquinha, carrasco-galego, verdadeiro carrasco. 
O carrasco da família Fagaceae, nome científico-Quercus coccifera é um arbusto que surge espontâneo em Portugal, em terrenos calcários, secos, pedregosos e com menor frequência, terrenos com maior teor em sílica. O carrasco é um arbusto de folha persistente, perene e verde o ano inteiro. Pode atingir até 6 metros de altura, ramifica-se abundantemente em múltiplos ramos a partir do pé tornando-o em floresta mediterrânica impenetrável , as folhas dentadas e espinhosas. A madeira do Carrasco é semelhante à da azinheira, de boa qualidade, muito sólida, dura e pesada, devido à dimensão reduzida não tem praticamente nenhum aproveitamento, as raízes mais grossas podem ser utilizadas para a produção de carvão e para lenha. Produz um fruto (bolota) utilizado na alimentação animal, incluindo algumas aves.

Quem introduziu a grã na Europa?
Parece terem sido os Fenícios a introduzir a grã na Europa, tendo em vista novas áreas de produção, onde pudessem colher o corante necessário para a indústria têxtil, a cor vermelha era tida em grande apreço em todo o Mediterrâneo oriental. 
Também os romanos tornaram o aproveitamento da grãa em empreendimento comercial de apreciável volume em todo o império, a fim de satisfazerem o gosto pelos vermelhos vivos nas vestes cerimoniais. Os carrascos cresciam nos matagais mediterrânicos no sul da Península Ibérica e de França continental, Córsega, Itália continental, Sardenha, Creta, Turquia ocidental, Argélia e Marrocos, regiões com invernos amenos e primaveras e verões secos e quentes. O inseto parasita só os espécime fêmeas, os únicos que produzem o corante escarlate que em baixa concentração produzia cores que iam do rosa ao roxo. A colheita era feita pela manhã, sendo necessário cerca de 1 kg de  galhas ou bugalhos  frescas para produzir 10-15 g de pigmento puro. Na Idade Média era colhido no sul da França e sudeste da Península Ibérica ,a sua utilização suplantou no mundo muçulmano e no ocidente da Europa a púrpura obtida a partir do molusco que desde a  Antiguidade Clássica era a principal fonte dos tons de vermelho e escarlate.
O uso desta cochonilha na região do Mediterrâneo manteve-se inalterado ao longo de vários séculos até que após a descoberta do Novo Mundo no  século XVI permitiu a introdução dos corantes derivados da cochonilha-dos-catos, cuja concentração e poder de tingimento é bem maior. 
O custo de produção do corante a partir do quermes era muito alto, tornando este corante muito caro, o que ainda era mais oneroso quando se utilizava no tingimento de seda. O preço dependia da qualidade e abundância da colheita da cochonilha, da disponibilidade de mão-de-obra para a recolha, uma tarefa fastidiosa e lenta, e da qualidade do pigmento obtido.

Utilização da grãa de carrasco
Utilizado em tinturaria para dar a cor carmesim a tecidos valiosos, fabricados desde a antiguidade clássica em toda a Europa, principalmente na zona mediterrânica. Este tipo de corante foi também usado para tingir tecidos para a realeza europeia e norte-africana e para o papado (em panos de lã e de seda).A cidade de Montpellier era famosa no século XIV pelos seus tecidos escarlate de grande valor. O corante era também usado pelos monges copistas em iluminuras de manuscritos medievais. A sua presença foi detectada em pinturas do Neolítico na França e múmias egípcias.

A espécie Kermes vermilio 
Tem sido objeto de numerosos estudos dada a sua importância na história da cultura da Europa como fonte de pigmentos utilizados em algumas das mais marcantes obras da pintura europeia medieval e renascentista e o seu impacte económica na área da tecelagem e da tinturaria.

A grãa teve grande valor comercial no passado em Portugal e na Europa
Entrou em desuso com o carmesim importado do México durante a época colonial que era dez vezes mais rentável que a grãa europeia.

A grãa portuguesa 
Era vulgar na Arrábida e no Barrocal algarvio, com grandes populações, que permitiram a sua exploração comercial, tendo sido exportado, como matéria corante preciosa, para muitos centros têxteis europeus.
Hoje é raríssimo, não só em Portugal, sendo uma espécie em extinção, mas também noutras zonas onde antes era abundante.
Parece ter sido considerada a melhor das grãs, muito procurada no Algarve e na península de Setúbal, embora existisse, também, no Baixo Alentejo. Até ao reinado de D. Manuel, a apanha e comercialização da grã era privilégio da casa real. Este rei liberalizou, em 1499, a sua colheita e comércio, sendo a apanha autorizada num período curto, fim de Maio e início de Junho, quando a cochonilha estava na plenitude da sua capacidade tintória, repleta de substância corante, os ovos e larvas, de cor vermelha ou carmesim, retidos nas fêmeas. 
Crê-se que a última colheita em Portugal tenha ocorrido em 1912, com a exploração tecnológica já muito decadente.

Excertos a referir a importância da grãa em Portugal
Corografia , ou Memória económica , Estadista e Topográfica do Reino do Algarve por João Baptista da Silva Lopes, sócio da Academia Real das Ciências (...) No promontório de Sagres além de outros vegetais encontra-se o açafrão, a soda de um produto espantoso, a baga do zimbro  que se desfaz toda em suco e  a grã do carrasco... 
João de Barros as matas do conselho(Pombal) , assi da bolota, como as serras do carrasco da grã,  que no tempo um Inseto de vermelho muito vivo, que se cria na casca do carrasco, de que se faz a tinta grã, utilizada para tingir tecidos.
Os estudos  sobre a grã que encontrei 
O de Maria dos Anjos Ferreira a Grã-dos-tintureiros – Kermes vermilio Planchon, mostra-se deficiente sobre pólos produtivos de grã no território, a dando apenas no litoral alentejano, barrocal algarvio e Arrábida, quando também existiu forte pelo menos na Caparica, Almada,  a fonte de rendimento dos frades e nas Serras de Ansião, ainda viva a sua atividade em 1747.

Grãa nas Serras de Ansião
Graças a uma notícia nas Memórias Paroquiais de 1747 do Padre Luís Cardoso sobre a Serra de Anciam,  a tradução da minha autoria (...)A serra de Ansião não é igual, com  partes se abatem em profundos vales, e outras partes se levanta em grandes oiteiros(...) divide-se em dois braços, um dos quais forma a serra de Alvaiázere, e outro a serra da Junqueira; nesta acaba, e principia naquela, e de uma a outra são 2 léguas de distancia .Tem dentro em si algumas povoações, como são:as vilas de Ancião, donde a serra toma o nome, a do Rabaçal, Alvaiázere, Maçãs de D Maria, Aguda e Chão do Couce, não faltando a outras povoações de menos conta (...) Não obstante a sua aspereza , tem, e cria várias ervas medicinaise fora das vulgares, e sabidas, acha-se nela em abundância alecrim, e Peonia, como também Grãa de carrasco, a que nas oficinas se chama Chermes.
O excerto evidencia a riqueza da grã nas Serras de Ansião em 1747, nas oficinas se chama Chermes, o padre queria ter escrito Quermes. O que faz sentido dizer, a grã era trabalhada em oficinas para obtenção do  pigmento carmesim para ser vendido.
O padre Serra na sua notícia da serre de Ansião em 1747 (...) Cultiva-se em várias partes, semeando-lhe cevada, centeio, trigo e milho grosso; mas destes frutos abunda pouco; e o que mais frutifica é azeite, pois tem muito, e bom olivedo. Muitos carvalhos, que produzem muita bolota, pasto dos porcos que em grande quantidade se acham na terra; e é tanta que dela se utilizam muitos outros, que de fora vem aqui buscar o sustento com grosso interesse dos moradores e pela bondade dos pastos, são as carnes excelentes»

Duas riquezas que se perderam e outrora abundantes nas serras de Ansião
A grã e as varas de porcos ruivos foi activa até meados do século XX em Ansião.
O que ainda existe é a mancha de carvalho e carrasco cujas bolotas servem para javalis e outros animais selvagens e ainda para estrumar as terras.Triste é passar pelo Vale da Couda e pisar a calçada coberta de um grande manto de bolota que ninguém apanha , igual no Escampado e ,...Quando foi utilizada para se fazer pão e no mesmo a castanha,  no meu tempo a via a ser apanhada para alimento de porcos.
Um produto mediterrânico, biológico, debalde desperdiçado, sem saber se já se fizeram estudos para ser aproveitado em proveito humano e também  animal em  rações.
Os exemplares de carvalho seculares deviam ser protegidos e classificados por espécies no concelho.
Também não devem ser abatidos como constatei um exemplar de diâmetro extraordinário a caminho do Escampado de Calados.Nem sei como foi possível cortá-lo, olhando ao tamanho da serra  ...

Causas da raridade actual  da grãa ?
São desconhecidas. As alterações climáticas, a utilização prolongada do carrasco como combustível, a fragilidade das larvas neonatas e o longo período de hibernação, o parasitismo, devido a forte actividade de parasitóides, e a predação.

Curiosidade
A grã nas serras de Ansião pode estar na origem da toponímia das Gramatinhas de Santo António, hoje apenas Gramatinha, que se explica por o lugar ter nascido  no Caminho de Santiago de Compostela vindo de Ansião, Escarramoa, Barreira, Gramatinhas, onde havia uma estalagem, um dos últimos hortelãos era de Albarrol e a capela com o orago a Santo António, o patrono dos viajantes, como a do Bairro em Ansião. 

Gramatinha é uma palavra  composta por gra+ matinha = Matinhas de grã
Alertada pelo amigo João Bicho sobre a  mesma origem do topónimo Graminhal, e sim!
Uma a norte e outra a sul de Ansião.

Fontes
Maria dos Anjos Ferreira a Grã-dos-tintureiros – Kermes vermilio Planchon

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Passeio cultural à boleia do passe desse de comboio a Setúbal

Estação de comboios de Setúbal
Casa Santa Ana
Lateral do que foi o convento de S João
Ombreiras bonitas
Pombo a ver a paisagem...
Fachada a sul
Portal da capela 
Brasão do S João e do carneiro
Entrada para o convento com calçada a basalto
Alcatruzes em jeito de vasos
Belo exemplar de um grande vaso em faiança
Casario arte nova - azulejos e arquitectura
Uma fábrica no telhado o Mundo
Casa com painéis em cinza, não percebi de que material...
Monumento Nacional em venda
Porta do séc. XIV pertenceu provavelmente a uma antiga Leprosaria  aqui existente. Na trave do portal lê-se " Vanitas Vanitatvm et Omnia Vanitas" - Vaidade das Vaidades, Tudo é Vaidade.
Fontanário
Na Praça do Quebedo partida de comboio para Praias do Sado
Depois da saída do comboio em terra alheia um recanto bucólico...
Politécnico de Setúbal
Courelas fechadas por muros de canas
Belas rosas
Bonito casario nas Praias do Sado
Bastante  estacionamento, um horror os fios das comunicações e electricidade
Azinhaga Fim do Mundo

Comboio de carros 
O Sapal  do outro lado da linha do comboio
De volta a Setúbal à Praça do Quebedo
Reprodução do monumento das Descobertas
Muralha 
Casa do Corpo Santo Museu do Barroco

Capela do palácio dos Quebedos
Confraria do Corpo Santo
Carrancas de barcos
Capela 
Na vitrene Santelmo
Sala do Despacho
Enfermaria do séc. XVIII. Trabalho Português
Museu do Convento de Jesus de Setúbal
Tecto
A escadaria para a rua 
Porta de ligação com a igreja no passado
Varandas medievais em ferro forjado

Hospital de João Palmeiro
Em recuperação pela câmara
Fiquei na dúvida se estes elementos não são visigóticos?
          
De volta ao casario da cidade
Miradouro

Linha para Praias do Sado
Museu do Trabalho
Degrau brecha da Arrábida
Oratórios da Via sacra
Beirados compridos nas varandas
Câmara Municipal
^
Estátua ao Bocage

O beirado para proteger a varanda
Outro oratório da via sacra
Casario revelando a sua antiguidade
Voltámos ao miradouro
Capela baptismal
Capela particular
Sepultura brasonada
Casa do Bocage
Retrato do Bocage por Julio Pomar
Espólio do  atelier do fotografo
Fotos

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