segunda-feira, 26 de abril de 2010

Em dia de 25 de abril de 2009 a feira de Algés e Alfama,...

Longe vão os anos que nesta data criava em mim tamanha ansiedade de assistir aos muitos concertos...
Cansei-me optei por mudar de horizontes e fomos à feira de Algés.
Caminhámos por entre estátuas de pedra, com gente que ia e outras que vinham!
A consciência dizia-me se almoçássemos na casa da nossa filha ficava "o dia do 25 de abril mais barato"...
Aparecemos de surpresa e preparou-se a mesa com vista sobre o Tejo, tão bonita até parecia que havia festa.

Nada faltou desde a tábua de queijos e presunto, os croquetes, a boa salada com oregãos de Sicó, arroz branco, uma das minhas especialidades para segurar a lasanha, que não era muita...salada de frutas, café, bagacinho do nosso lavrado em garrafa de vidro antiga servida em cálices diferentes de todas as cores e tamanhos e tarte de requeijão. O dia estava a convidar. Alfama é lindíssima com tantos miradouros cheios de gente, tantas frestas de caras para o rio, a caminho da Graça sempre a subir...
Visita à Villa Sousa, logo à entrada dois tetos em estuque autênticas obras de arte, em semelhança com os agora condomínios de luxo...Encontrámos outro miradouro sobre o rio, mas sem forças fui devagarinho até ao miradouro da Senhora do Monte... Ao lado das Mónicas, na pedra gravada a inscrição, CASA DE CORRECÇÃO, debalde tinha-me esquecido da minha máquina em  dia que convidava a fotos únicas. 
Cansados de sacos nas mãos e tantas escadas a subir e a descer Alfama...Adorei tê-la ajudado, foi um prazer!
Aqui estou eu a descongestionar o stress e o cansaço.Contente apesar de tudo. Teimosa, apenas bebi um chá verde e uma fatia de bolo de chocolate que fiz ontem, uma delícia, a cobertura ficou um espanto, cremosa a derreter suavemente na boca...ainda consegui introduzir o IRS, este ano diferente pela primeira vez. Amanhã pago os impostos, essa é para doer, e muito.Distingui turistas de mochila às costas com cravos entalados à laia do que se viu há 36 anos nas espingardas...e alguns, poucos, murchos pelo chão...
E o 25 de Abril onde ficou neste me longo dia?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Rio Maior no 32º aniversário de casório na feira da cebola

O tempo convidou a passeio, o vestido fresco ajudou, senti-me muito bem, gostei de ter revisitado Rio Maior a vila e as suas salinas, que muitos não conhecem.

Festejo do 32º aniversário de casamento na vontade de ir até Rio Maior na feira da cebola, há anos que aqui não vinha...
Os muitos feirantes ordeiramente alojados em tendas todas iguais junto ao pavilhão das feiras com muita qualidade de cebola, desde a branca, espanhola, roxa e claro da portuguesa, a minha favorita que devoro!
Chegou-se a hora de almoço. Decorria um festival gastronómico no pavilhão; havia carne barrosã, de toiro do Ribatejo e arouquense, escolhi a última. Uma maravilha!
Como entrada um pratinho de frangalhos de carne estufada, foi comer e chorar por mais, nem há palavras para falar do deleite apetitoso degustado, escolhemos costeleta de novilho e naco acompanhados com batata cozida, vinho do Douro, fresquinho e queijo da serra da Estrela. Repasto caro, mas delicioso.
Interessante foi a companhia de um casal muito simpático de Alenquer, à volta das nossas idades, mais coisa menos coisa, grandes entusiastas da boa comida portuguesa e de passeios. Alegre cavaqueira,esmiuçamos cumplicidades, gosto por velharias e carros de marca Jaguar....Diria um casal moderno, de boa conversa, gostei imenso, beijinhos para a Emilinha e Sr. Vieira -, temos de nos reencontrar!
No primeiro andar tomámos um café, nada de doces e fomos à feira onde comprei um saco de 5 kg e uma réstia, pelo fascínio desde miúda quando eu própria as fazia.
Ainda uma volta pela feira de artesanato fiquei de olho numa ceira, linda, mas era carota, fica para a próxima.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Capela Santo António ao Ribeiro da Vide em Ansião

Lamentável a continua falta cultural a que esta capela de Santo António, ao Ribeiro da Vide, em Ansião, desde  sempre foi vetada à falta de investigação; tão pouco objeto em vídeos e fotos publicitárias do concelho nem no concurso de 2016 Olhares de Ansião; onde concorri, com o escadatorio e a porta aberta com as velas acesas para a Trezena, a falta de conhecimento cultural e tradições a determinar o ganho da ponte do Marquinho...
Graças à  minha crítica construtiva, para sentir a merecida contemplação em publicidade ao concelho em 2020!
O adro, a Capela, o escadatório, a Fonte e o largo do Ribeiro da Vide e a Cerca  da Misericórdia foram locais emblemáticos da minha infância e adolescência. A casa dos meus pais entesta a norte com o adro, e hoje no seu seguimento a caminho da vila, tenho a minha segunda  habitação. Nas minhas deslocações  continuam a ser locais que percorro amiúde , sendo certo que adoro subir o escadatório a relembrar o tempo de criança que fazia das lajes ao longo dos degraus, escorrega, como a raiz aérea do plátano que fazia de cavalinho...
Quintal dos meus pais beija  o adro da Capela de Santo António 
No linguarejar da minha mãe, a minha avó materna Maria da Luz da Mouta Redonda, vinha passar umas temporadas a Ansião, para me ajudar a criar, contudo passava o tempo de roda das criadas com medo que elas "roubassem" alguma coisa de valor; tinha de idade, mais de 70 anos que já não lhe conferia feição para governanta, tão pouco para ama, ao me deixar sozinha na camita com o biberão enroscado fazendo fé a mediação na reza ao "Santo António, Santatoninho te acuda minha filha, Pai Nosso e Avé Maria" sem saber aludia ao soneto do Códice Conimbricense O "Divino António com o Menino Jesus nos braços" "Fiava-se Deus dele, e bem convinha - que desse António a Deus, o mais, que teve - se Deus a António deu o mais, que tinha" - Expressão lírica aos Milagres feitos por Pádua ...Já o  "Santo António"  fazia o que podia para tomar conta de mim,  não seria por morar paredes meias com a Capela que me concebia graças, afinal, anos mais tarde via todos os dias a tia Maria à sua volta com rezas, flores e azeite para o alumiar e, graças sem saber se recebeu quantas pediu ...
Foto com a minha mãe e as primas Tina e Júlia 
Junto ao muro com o adro onde me banharam no alguidar... Apesar da má qualidade da foto distingue-se a nova estrada roteada com pouco mais de 50 anos para a Barreira  e o caminho de ligação da vila a  ligar o largo do Bairro passando pela casa dos meus pais e, ao Ribeiro da Vide se nota na foto o caminho do Bairro para o inicio do Cimo da Rua , roteado em meados da centúria de 600, quando o poder do concelho foi instalado na Cabeça do Bairro.
Foto captada pelo meu pai com a máquina emprestada pelo Jaime Paz ao cimo do escadatório da Capela de Santo António. Os plátanos a ladear o escadatório ainda adolescentes... Foram plantados pelo meu bisavô Francisco Rodrigues Valente em 30, do séc. XX. Segura-me ao colo no dia do meu batizado a minha querida avó materna Maria da Luz Ferreira da Mouta Redonda - Pousaflores  no dia 8 de agosto de 1957, o padre, sobrinho do meu avô  José Lucas Afonso viria a ser considerado Ilustre Ansianense o Dr António Freire de Lisboinha.
A Capela foi citada no Inventário Artístico de Portugal 
Da Academia das Belas Artes, do Distrito de Leiria, em 1955, Gustavo Sequeira, cita a capela em desprimor cultural, nem a fotografa «Fica num alto cerca da povoação sobre um escadório de vários lanços. Está quase abandonada, e não tem coisa alguma de interesse artístico». Possivelmente nem entrou na capela, ao ter entrado teria concerteza reparado no espolio da Imagem de Santo António e o Cristo crucificado, o mesmo referido nas Memórias Paroquiais em 1769, na notícia do Padre Serra.
Segue-se o mesmo aziago, em 2008, no Livro do Património Religioso de Ansião dos autores:  Dr Manuel Augusto Dias, Dra Joana Dias e do D. António Simões « Localizada numa nova centralidade da vila de Ansião, no Ribeiro da Vide, próximo do Tribunal e do Lar da Santa Casa da Misericórdia , a Capela de Santo António, fica ao cimo de uma escadaria de vários lanços, entre arvoredo esplêndido . A fachada principal é encimada pela cruz latina apontada, com o sino no lado esquerdo. Ainda nesta fachada , além da entrada principal encontram-se dois pequenos janelos, um de cada lado da porta, encontrando-se o orifício para as esmolas do lado direito da porta principal. Na soleira da porta lateral encontra-se  a data de 1641, que, muito provavelmente, assinalará a data da fundação»
Ao se basearem na crónica do meu Blog que tinha a data errada, sem indicar fontes em Webegrafia. Tão pouco houve visita  à capela, onde teriam reparado na laje datada. Anos mais tarde a numeração por ser medieval, foi-me esclarecida pelo Padre Coutinho, para de imediato a alterar na crónica do Blog. O correto é ler-se a laje está na soleira interior da sacristia para a capela datada de 1647 e abaixo inciso: 6 e 4, a depreender o dia e o mês, isto é a capela foi instituída a seis de abril de 1647.

Laje na soleira da porta para a sacristia com a inscrição de 1647
                              
A  laje datada de 1647 foi posta estrategicamente na soleira da porta da sacristia para a capela a cimento pelo meu bisavô Francisco Rodrigues Valente, quando cimentou o chão da sacristia e assinou o seu nome em siglas FRV, em 1926. Sendo verossímil que a laje que fez parte da  frontaria a nascente, quando foi mais pequena, ao ter sido alterada ficou guardada para mais tarde ele a ter ali posto, para não se perder. Junto da porta a nascente encontra-se o lajeado com números de sepulturas que na ampliação ali foram recolocadas, traduzindo jazigo familiar do instituidor da capela, por ora ainda desconhecido.
                                   
Marca da fogueira ao endireito da porta a nascente
Na passagem dos invasores franceses, em  outubro de 1810,  fizeram no lajeado fogueiras cujas marcas são ainda evidentes. Uma laje devia ter ficado partida sendo substituída possivelmente aquando da ampliação. As pedras na volta  encontram-se à toa numeradas. Desde pequena que me interrogava se tinham sido eles que as tinham feito, e só muito mais tarde ao conhecer outras semelhantes na igreja da Torre de Vale Todos, entender que as capelas também serviam para testemunhar a  fé católica de cristãos novos aqui aportados. Os mais abonados instituíram capelas que serviam também de carneiro perpetuo. Na ampliação as lajes foram recolocadas, ficando as com numerações todas juntas.  

Excerto da Relação do estado das igrejas, confrarias e capelas de Ansião, do Padre José Fernandes da Serra, em 1769 
«(...) A Capella de Santo António , tem calis, patena, e colher de prata, pedra de ara, quatro toalhas, duas mezas de corporais, seis sanguinhos, huma vestementa de seda de corres [sic], alva, amito, e cordam em bom uzo, dois frontais, hum de seda de corres [sic] muito uzado, e outro de damasco branco, e incarnado quazi novo, a Imagem do Santo em vulto bem esculpida e incarnada, hum Santo Christo bem  perfeito, dois castissaes de estanho, e sino; esta forrada de guarda pó.» In “Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas - Ansião”

Padre Manuel Ventura Pinho
«É provável que esta capela fosse outrora muito mais pequena. Como acontecia com quase todas, tratava-se de um centro de apoio à administração dos sacramentos aos doentes. Quando o pároco era chamado, as pessoas disponíveis, ao toque do sino, reuniam-se ao pé da capela e aí organizavam uma procissão de acompanhamento do Santíssimo Sacramento até à casa do doente.
A sacristia parece ter sido um acrescento relativamente recente, quando ela começou também a servir para dizer Missa, ao menos uma vez por ano, com festa em homenagem ao padroeiro.»

Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes 
«(...) devoto a Santo António ao Ribeiro da Vide, o Padre António Freyre de Sam Bento, e seu irmão o licenciado Manoel Freyre Coutinho desta vila »
Não se sabe se existe costado do instituidor, que ainda se desconhece com os irmãos – Freire de Sam Bento e Coutinho, devotos da sua capela. 
O orago Santo António, o patrono dos viandantes, na proteção a roubos na estrada real.  Instiga a dizer que a capela foi instituída por um estalajadeiro.Quem teria sido o seu fundador? Nas Memorias Paroquiais a informação de capelas na vila mostra-se incompleta a marcar dificuldade pela falta do nome do instituidor, a data da instituição ou do seu orago.
Abre-se a pespetiva de João Freireque  instituiu em 1603 uma capela na vila, com dois irmãos.  Contudo até pode ter sido ele, debalde após 44 anos é que temos a data da fundação da capela de Sto. António, no promontório desirmanado pela abertura do novo caminho de ligação da Cabeça do Bairro para a vila. Ou Domingos Fernandes.  Se atender que desde 1444 todos os estalajadeiros ostentam este apelido e ainda que era cunhado de António de Barros, da Ribeira do Açor, da quinta dos Sequeiras. Em 1721 o administrador da sua capela na vila era o Padre Bartolomeu Barros.Ou, Manuel Freire Gameiro, que assiste às Missasda sua capela na vila em Torres Novas, por onde se mudou talvez pelos curtumes e por onde ficou para o seu apelido não se encontrar em Ansião. Na certeza foi um Freire, mas qual? A data da sua fundação permite investigar no Bispado de Coimbra quem foi o seu instituidor, sendo credível que a pessoa credetícia para o localizar seja o Padre Coutinho.
Apurei estas hipóteses em  excerto das MP pág 248 de 1721 « Primeiramente informei me pello Conselho e nam achei Capelas mais que António de Barros da Ribeira do Açor que mostrou duas quitasoins do Senhor Doutor Provedor de quinze Missas que paga pela instituhisam que fez Domingos Fernandes seu cunhado da vila de Ansião, este instituidor faleceu e a instituiu em 31 de agosto de 1681 anos.»
« Mais huma obrigasam de sete missas de capella que instituhiu Maria Rodrigues molher que foi de António Pires da Sarzedela e hoje é sam administradores della António Nunes e sua molher Maria Rodrigues e Domingas Freire viúva e António Freire viuvo todos da Sarzedela a qual instituição foi feita a  aos cinco de maio de 1658. São sete missas.»

Manuel Freire Gameiro, que assiste às Missas em Torres Novas, por onde tenha ficado e hoje com descendência. Debalde nada mais se sabe.

E ainda o administrador de uma capela na vila o Padre Luís de Carvalho, sem se saber quem foi o instituidor, orago e data da fundação.

Palcos de capelas desaparecidas na vila
A casa que foi do Sr. Nogueira abaixo do Centro Paroquial , foi de um padre onde se crê houve capela. 
A casa que foi do S.r Pelim, pelo portal e óculo  aventa ter sido capela da casa seguida a norte.
No Moinho das Moutas também existiu uma capela que teria sido na ruína que existe - casa de balcão. 
Conclui-se  que a falta de informação nas MP a cada uma das capelas invocadas, não nos permite mais avançar.A bela Milú Coutinho era devota presença em dia de festa. Por apurar os seus laços familiares à minha bisavó paterna do Bairro, Sendo credível que é sucessora da família Coutinho, e antes Freire , com a minha bisavó,  mulher em tempo que não recebia o apelido paterno, o que falta averiguar em genealogia.
Se antes ninguém investigou, agora com as pistas dadas mais se pode investigar e concluir.

Capela a nascente para a quinta do Bairro
Com a porta da primeira capela

Guilherme da Silva Dias e esposa agraciaram em 1975 o adro, com um Cruzeiro que tem a seguinte dedicatória «rezem pelas almas que estão sofrendo no purgatório. Tende compaixão delas».

Jaz morta há muitos anos a bela acácia, espécie rara, resplandecia em copa amarela na primavera, a lembrar a cor judaica, o povo, que a plantou. A sebe de cedros que a tia Maria plantou com a sua morte, sem poda cresceram para o céu, inestéticos,  retiram visibilidade. Alguns foram cortados em lenha sem o cunho cultural do que é madeira nobre –  arrojo, a ditar à que existe vir a ser usada em mobiliário(mesas tipo D Maria) em carpintaria da terra para o futuro Museu de Ansião, a titulo de tributo da limpeza anual do adro, pese sempre o esquecimento de podar as restantes árvores, que este ano 2021 serão pelo menos três podadas, uma impede a passagem pedonal e as três retiram  visão à casa baixa da minha mãe.Pedi autorização ao Sr Pare Joao Fernando.

Alunas do Externato António Soares Barbosa
Cortesia da Suzete ao permitir a partilha pela Odete Antunes na página do Facebook dos antigos colegas do Externato. Na foto as colegas: Eugénia Nunes, Suzete, São Vicente, Silvina, Emília de Almoster, eu e Odete do Marquinho.
Sentadas no banco oco que já não existe  defronte da capela antes da remodelação anos 60 do séc. XX .
Só reconheci o local pela casa feita para o casamento da prima São do balanço do poço e o muro de pedra no seguimento para a casa dos meus pais a nascente.

Recordo a capela velhinha abobadada com altar em madeira azul marmoreado, deveria ter sido aposta a sua preservação .Modernizada em demasia, na década de 60 do séc. XX, manteve a sua volumetria . O lampadário central foi retirado e eletrificada com um candeeiro no teto, muito alto e candeeiros com chaminé facho na lateral do altar, mais tarde foi apetrechada com bancos... Resta da sua ancestralidade o lajedo, com o sepulcral numerado, a Imagem de Santo António e do pequeno Cristo crucificado,  em miúda parti-lhe sem querer um braço, foi restaurado, mal e porcamente...Do exterior foram retirados os bancos em pedra , a Cruz e o campanário do sino foram novos e também foram alteradas as janelas a poente. No interior o platô para suster o altar em cima do chão lajeado e na parede frontal duas mísulas para suporte das Imagens - Santo António e Nossa Senhora de Fátima e ao meio um grande Cristo Crucificado. 

A prima Júlia ofertou-me a caixa de esmolas, por ter sido substituída por duas novas
O interior atual da Capela de Santo António
Santo António com a Cruz e o Menino sobre o livro
A cuidadora  da capela e do asseio da capela?
A tia Maria Valente. Mulher muito devota ia a pé a Fátima todos os anos. No oficio da tradição familiar, no corrupio diário, pé em riste, o baile ao laço do avental em abanico, e nas mãos a chave, azeite ou flores. Culto de rigor seguido pelas filhas; São, Tina e Júlia - até ao insólito e brusco mudar secular da tutela e da posse da chave, ao culto com novenas, velas e flores ao rebate da porta! 
                
No Livro de César Nogueira 
Refere " O Santo foi levado à fonte do Ribeiro da Vide para o lavar" 
Seria dito com humor, na certeza olhando ao seu peso,  em terracota...bem sei a dificuldade de o tirar para o andor quanto mais de o trazer escada tório abaixo e voltar a levar sem mazelas... 

O ritual da Trezena
Em 1971/72 frequentei o Colégio Religioso as Salesianas no Monte Estoril. Quis nessa altura o malfadado destino antecipar brutalmente a morte do meu pai,  e não voltar ao Colégio. O fato de ter estudado um ano neste Colégio, conferiu-me um estatuto de pessoa adulta e sabedora da doutrina religiosa, no julgar de muitas pessoas, para no ano seguinte a tia Maria,  me dirigir convite para pedir o terço na Trezena. Honra que até aí só era pertença de uma velhota do Cimo da Rua. Um grande prazer assumir tão grande responsabilidade. Estranho ouvir a minha voz sonante, clara a recitar o terço naquela Capela apinhada, porém em silêncio, cheia de gente! 
A chegada da hora fazia-se com o corrupio dos cachopos para puxar o pingarelho do sino. Adorava no final  do pedido do terço, a cançoneta dedicada ao Santo, enchia-me de prazer logo eu que nem sei cantar ali sentia dava-lhe jeito. 

Os preparativos para a festa 
A partir dos meados de maio começavam os preparativos a fazer flores e bandeirolas, em papel de todas as cores. Na véspera da festa os cachopos tinham a tarefa de estender cordel pelo recinto do adro e escadaria para colar as bandeirolas com cola feita de farinha e vinagre. Os homens montavam os arcos em pinho, pesados, eram enfeitados para depois serem colocados no ar enfiados nos buracos fundos. 
No arraial rapazes graçolas em rancho iam buscar lenha para se saltar à fogueira . Pedia-se a burra da tia Maria - a Gerica, onde íamos pelos pinheirais roubar aqui e ali, a carrada mal arrumada a fugir pelos fueiros toscos de pinho e os cachopos em paródia a rir e a brincar. 
As mulheres lavavam a capela e enfeitavam o altar. 
Moçoilas a tentar fazer tapetes de malmequeres amarelos nos patamares das escadas depois dos cachopos a terem raspado com o sacho e varrido com a vassoura de urze. 
Pela noitinha no adro acendia-se a fogueira, abria a tasca dos comes e bebes, ajeitava-se a música para o bailarico, acendiam-se as luzes. O arraial estava pronto para começar a festa.
Predilecção sentia por a minha casa ser paredes meias com o adro, num passo estava na festa...À volta da fogueira reunia-se uma mão cheia de gente de várias faixas etárias a comer petingas assadas no brasido e chouriça, bem regadas com vinho, cervejas e sumos. Noite dentro a deitar conversa fora, havia encantamentos e deslumbramentos. Tudo era pecado naquele tempo. Tudo era proibido. Ia para casa desgastada com a sensação de não ter gozado quase nada, e havia tanto para gozar. Rapazes bonitos; Fernando do Pinhal, o Zé Emídio, o Toino do Tarouca, o Alberto da Carmita, o Chico Borges e,....

As estações do ano nesta paisagem 
Poda a talão, a certa - porém, com ramos grossos com mais de  metros na maioria a necessitar de basal atarraque, já que a capela altaneira mal se enxerga, imagine-se com folhagem...escondida!
Pese a poda em 2020 a capela, à fonte, não se enxerga...
Mais! Repor a dignidade da sala de visitas a sul de Ansião: alindar, iluminar e desafogar a vista do adro a norte de 180º afogada pelo choupal, que pede abate como regenerar plátanos com atarraque, já que a capela altaneira, mal se enxerga após a poda. A fonte clama ascensão em altura e voltar a saciar a sede , aposta em flores e, murais com arte urbana!
O rebentar da folha nos plátanos
 Capela aberta  em junho com as luzes do altar acesas para o ritual da Trezena
 Paisagem primaveril
Nunca me canso de fotografar em  paisagem outonal pela palete cromática quente a desafiar o sonho que comanda a vida
Onde em miúda me sentei e volto sempre com pensar de criança...
Infraestruturas de apoio às festas
A falta de estética nem rigor a desfiar o espaço ...

Em 2016 no último dia da Trezena foi servida sardinha assada com broa e vinho, a "Isaura Reala" levou um panelão de bom caldo verde e uma palangana de petinga com molho escabeche. A Tita uma vida  a viver no Seixal mudou-se para a casa herdada do sogro "Trinta" ao Ribeiro da Vide fez uma grande caixa de bolinhos os  "S" de Azeitão, eu e a minha mãe passámos duas horas na cozinha a fazer um grande arroz doce e bolinhos de bacalhau, com a conversa  esqueceu-se de pôr a farinha toda no Pão de Ló pelo que baixou, tivemos do comer em casa, estava maravilhoso, outros ofereceram bolos e rissóis e,...

A minha mãe no jardim da sua casa no tardoz da Capela
Como se vivia em ambiente da festa a Santo António?
Domingo o dia ansiado de festa estreava sempre um vestido novo. Usava as pinturas da minha mãe para me maquilhar. Lembro-me de num ano a minha prima São me dizer, "oh cachopa estás muito bonita com os olhos pintados". Adorava sentir os meus cabelos asa de corvo longos soltos ao vento, davam-me tanta segurança, fosse pelo brilho e elogios. Confiante, vaidosa e fresca até à igreja matriz buscar os paramentos para a missa e procissão. A Capela enchia-se de gente a transbordar para a rua. A procissão era muito grande e bonita. A Filarmónica abrilhantava com rasgados sons  nos instrumentos reluzentes em contraste com a farda azul. As janelas enchiam-se de colchas brancas e de seda para a procissão. Abria-se a festa com a quermesse e com o pregão das fogaças oferecidas ao Santo e animais. Havia quem licitava a própria fogaça com o assado para o comer com a família na Cerca. Ouviam-se gritos para os jogos tradicionais. Anos mais tarde junto à tasca dos comes e bebes muitos degustavam o caldo verde, feijoada, carne assada, torresmos e couratos, o vinho saia de pipos em enfusas para atestar copos de três em flecha. O som do altifalante da música convidava a bailarico, apareciam sempre os desocupados, embriagados, tristes, solitários e claro bons rapazes, bonitões, atrevidotes, malandrecos e de outras paragens. Num tempo que tudo era para desconfiar de tudo e de todos. De ficar "falada" infelizmente já não tinha pai e sentia por isso o dobro do dever de me e recatar na defesa da honra...No entanto sentia querer namorar!
Adorava rir-me, fazer festa. Saudades de tempos que já não voltam.
Nesta Capela casei em 1978 - o segundo casamento aqui celebrado. E os meus netos mais velhos- Vicente e Laura foram em 2016 aqui batizados.

Porta engalanada para o batizado dos meus netos mais velhos Vicente e Laura
Esta capela sofreu no verão de 2020 um assalto 
Os meliantes sem conseguir arrombar a porta principal, nem a caixa das esmolas de pedra da fachada, retiraram a grade de um janelo a poente, para entrar na capela, a profanando, ao saque das caixas de esmolas. Desprezaram pelo chão imensas moedas de cêntimos. Se não tivesse visto, jamais acreditaria que alguém dê  ao Santo, de esmola cêntimos. Bem sei que é dinheiro, mas, convenhamos, cêntimos é o mesmo que quase nada dar!

Parece que voltaram, talvez na procura do espolio, por ora bem guardado, deixando os cêntimos no chão no tardoz do adro. Em dezembro, os estragos ainda se mantém. Notável a morosidade a reparar estragos e instalar segurança eletrónica!

Imperativo em Ano Novo incrementar justiça cívica, a educar cidadãos sem preocupação pelo meio ambiente e higiene urbana. Urje colocar dispensadores de sacos  nos espaços públicos e no adro, para recolha dos dejetos de cães guiados por trela!

FONTES
Memórias Paroquiais
Página da Igreja de Ansião Padre Manuel Ventura
O Livro sobre o Património Religioso de Ansião do D. Manuel Augusto Dias, filha Dra Joana Dias e do Dr. António Simões

terça-feira, 13 de abril de 2010

Gondramaz aldeia de xisto em Miranda do Corvo

Gondramaz, o topónimo terá provavelmente influência germânica, cuja origem perde-se nos tempos.
Miguel Torga, médico na região, em 1935 visitava frequentemente Gondramaz, atestando essa vivência mais sofrida. À entrada da Aldeia as boas vindas são-nos dadas com um seu poema numa placa metálica na área de recepção. Miguel Torga, 1941.
“A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas Pelo vento;
De casas de moradia Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia Nos beirais; De poeira;
De ver esta maravilha: Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.”

Visitei em família a aldeia de Gondramaz no feriado de 1 de Maio de 2006. Aldeia em xisto nas faldas da serra da Lousã, encravada num dos contrafortes do alto da serra de Miranda do Corvo a uns valentes 9 Kms sempre a subir por estrada estreita e sinuosa, eis que chegamos ao paraíso muito a gosto ainda a placa identificativa das antigas,em cimento, na companhia das antenas de energia renovável em desfile não me chocou!
Também se pode subir pelos carreiros estrategicamente já delineados com sinalética.Gostei de calcorrear as calçadas de xisto, revivi um cenário idílico, transcendente de foro mui emocional, só igualável a um orgasmo seja intelectual ou sexual. Mesmo assim, a um deles, seja qual for.Praticamente a aldeia toda requalificada, e a meu ver muito bem, com muitos motivos de interesse.

Mulher nua em pedra tão desnudada, agressiva, cravada numa das paredes, aventa ao visitante artista escultor, que por lá tem o seu atelier. Noutra parede apenas pequena caras esculpidas, a fazer lembrar escultura visigótica.
Parapeitos das frágeis janelas com ardósias  e nelas tachos de barro preto característico de confeccionar a chanfana, ali dispostos em jeito de vasos.
Adorei tal conexidade naquele cenário, tipicamente tão português e o contraste da negrura do barro sem vidragem como manda a tradição.A aldeia é circundada por cerejeiras, vales a perder de vista como se tivessem ali sido semeadas, nascem espontaneamente desde os confins da chamada Terra Quente em Trás os Montes, em jeito de despedida abruptamente até se extinguem no concelho de Alvaiázere depois do Rego da Murta, Areias, mais coisa menos coisa.
O lavadouro
A capela

sábado, 10 de abril de 2010

Moinho de maré no Montijo

Aldegalega o nome primitivo do Montijo
Ultimamente temos ido ao Montijo uma vez por mês, geralmente ao 2º sábado aproveitando o evento da feira de velharias. Juntar o útil ao agradável.
Aquando da implantação da República a localidade tinha o nome de Aldeia Galega do Ribatejo conforme atesta placa evocativa num edifício republicano no centro da vila.
Quem como eu conheceu o Montijo há coisa de 30 anos quase que não reconhece, tais foram as zonas já rejuvenescidas pelo programa Polis.Grande expansão de prédios quintas dentro, novas avenidas, mas as entradas ainda um pouco "entaladas" em rotundas. O progresso chegou depressa um pouco atabalhoado,desde que se começou a falar na Ponte Vasco da Gama.
Euzinha
Passeio em 2009. A zona ribeirinha ganhou novos recantos e encantos, apesar de ainda faltar uma grande parte. Ainda persistem na paisagem muitos armazéns,fábricas desactivadas e muita ruína com escombros.
Vale a pena passear à volta dos meandros dos esteiros roubados ao rio e os da caldeira para uso do Moinho de Maré para fazer girar as Mós com a força motriz da água.Pena os canteiros tão arquitectónica e diria magestosamente implantados no rebordo das margens em círculos descendentes totalmente desprazíveis, apesar de rega automática.Interessante é deambular o olhar sobre eles no contexto do sol reflectido sobre as águas mansas e o desfile de calhaus rolados descendo até às margens em jeito de decoração minimalista.
O meu marido
Visitei no Cais o Moinho de Maré aberto ao público em outubro de 2009 com o meu marido e filha. O cicerone homem camarário muito aficionado a coisas ancestrais, com a lição estudada desde a sua fundação, denotando um prazer inexcedível em argumentar, explicar e acompanhar no ritual do cereal em grão até à moagem da farinha, exemplificando in loco onde o grão é esmagado, entre como quem diz ,a Mó de cima e a Mó de baixo, fazendo inclusive a alegoria ao ditado português:
Quando se está mal na vida é costume dizer-se o ditado " está na Mó de baixo, porque é uma Mó mais baixa, delgada"
Quando se está bem de vida é costume dizer-se o ditado "está na Mó de cima, mais alta, maior".
Adorei a desenvoltura do homem, transpirava por todos os poros, mas sentia-se que estava satisfeito por estar à altura de tal desempenho, sei que não lhe dei trégua, perguntei até à exaustão. De tudo sabia, até aqueles nomes dos instrumentos tradicionais. Vimos ainda alguns achados arqueológicos aqui encontrados quando da reconstrução, ainda me lembro do moinho em total ruína.Digno de uma visita sem dúvida.
Cá fora todo o cenário é de uma beleza sem paralelo, águas mansinhas para prática de desportos como o remo, que inveja senti, sei que me faria tão bem, anulava de vez os pneus circulares tão incomodativos...oh não, sim, sim...!
Ainda inserido no mesmo contexto o mercado ao ar livre mais acima também com vista para o rio expandindo-se terreno fora quase sem limites, há de tudo. Gosto em particular de lá comprar batatas, cebolas, morangos, pão, fogaças (bolos típicos de erva doce e canela) e flores.
A minha filha linda na foto também se encanta com rituais de muita cor e gente para trás e para a frente -, gritos de feirantes a apregoar a mercadoria, muita vontade de largar a nota...essa a verdade...mesmo chegando a casa e avaliar que afinal as compras não são o que pareciam.
Passeando a pé pela vila pode-se apreciar a arquitectura ancestral típica com muito azulejo na frontaria e ferro forjado trabalhado. A igreja matriz com a data de 1606 é um edifício imponente, recheada de grandes painéis lindíssimos de azulejos, em destaque o do hall de entrada em cúpula de tamanho mais exíguo e tons fortes mui gracioso. De todas as imagens a minha predilecta foi a de Nossa Senhora da Piedade,bela peça escultórica em terracota com o Jesus caído nos braços da mãe Nossa Senhora, uma figura muito delicada em tons esverdeados a lembrar o céu.Numa roda viva andavam algumas senhoras de volta dos preparativos para a grande festa dos motards a decorrer amanhã. Enfeitavam-se os andores. O santo padroeiro S. Pedro engalanado de seda lavrada em vermelho, o andor cheio de antúrios vindos directamente da Madeira, eram caixas e caixas de flores. Ao meio da igreja o andor da Nossa Senhora da Atalaia, vinda de propósito do santuário do concelho para a cerimónia. Mais abaixo quase à entrada o andor do Santo Rafael patrono dos motards com um mapa na mão e um capacete na outra e uma réplica de mota encravada à frente,ainda aguardava vez para ser ornado, estava nu.
O Montijo é uma cidade a descobrir com tantas frentes, tantos contrastes, ainda tanto por fazer, mas vale sempre a pena contemplar tão grandiosa frente ribeirinha tão doce de ondas a desvanecer de mansinho.
Ao longe Lisboa, a ponte 25 de Abril, Almada, Mar da Palha...uma vista a perder de vista com o aeroporto militar. Pena terem desactivado a linha de caminho de ferro...era demasiado típica, ainda a estação de Sarilhos de janelas e portas fechadas à espera de solução.
Visitem, acreditem, não darão o tempo como perdido muito, porque vale mesmo a pena conhecer!