sábado, 10 de abril de 2010

Moinho de maré no Montijo

Aldegalega o nome primitivo do Montijo
Ultimamente temos ido ao Montijo uma vez por mês, geralmente ao 2º sábado aproveitando o evento da feira de velharias. Juntar o útil ao agradável.
Aquando da implantação da República a localidade tinha o nome de Aldeia Galega do Ribatejo conforme atesta placa evocativa num edifício republicano no centro da vila.
Quem como eu conheceu o Montijo há coisa de 30 anos quase que não reconhece, tais foram as zonas já rejuvenescidas pelo programa Polis.Grande expansão de prédios quintas dentro, novas avenidas, mas as entradas ainda um pouco "entaladas" em rotundas. O progresso chegou depressa um pouco atabalhoado,desde que se começou a falar na Ponte Vasco da Gama.
Euzinha
Passeio em 2009. A zona ribeirinha ganhou novos recantos e encantos, apesar de ainda faltar uma grande parte. Ainda persistem na paisagem muitos armazéns,fábricas desactivadas e muita ruína com escombros.
Vale a pena passear à volta dos meandros dos esteiros roubados ao rio e os da caldeira para uso do Moinho de Maré para fazer girar as Mós com a força motriz da água.Pena os canteiros tão arquitectónica e diria magestosamente implantados no rebordo das margens em círculos descendentes totalmente desprazíveis, apesar de rega automática.Interessante é deambular o olhar sobre eles no contexto do sol reflectido sobre as águas mansas e o desfile de calhaus rolados descendo até às margens em jeito de decoração minimalista.
O meu marido
Visitei no Cais o Moinho de Maré aberto ao público em outubro de 2009 com o meu marido e filha. O cicerone homem camarário muito aficionado a coisas ancestrais, com a lição estudada desde a sua fundação, denotando um prazer inexcedível em argumentar, explicar e acompanhar no ritual do cereal em grão até à moagem da farinha, exemplificando in loco onde o grão é esmagado, entre como quem diz ,a Mó de cima e a Mó de baixo, fazendo inclusive a alegoria ao ditado português:
Quando se está mal na vida é costume dizer-se o ditado " está na Mó de baixo, porque é uma Mó mais baixa, delgada"
Quando se está bem de vida é costume dizer-se o ditado "está na Mó de cima, mais alta, maior".
Adorei a desenvoltura do homem, transpirava por todos os poros, mas sentia-se que estava satisfeito por estar à altura de tal desempenho, sei que não lhe dei trégua, perguntei até à exaustão. De tudo sabia, até aqueles nomes dos instrumentos tradicionais. Vimos ainda alguns achados arqueológicos aqui encontrados quando da reconstrução, ainda me lembro do moinho em total ruína.Digno de uma visita sem dúvida.
Cá fora todo o cenário é de uma beleza sem paralelo, águas mansinhas para prática de desportos como o remo, que inveja senti, sei que me faria tão bem, anulava de vez os pneus circulares tão incomodativos...oh não, sim, sim...!
Ainda inserido no mesmo contexto o mercado ao ar livre mais acima também com vista para o rio expandindo-se terreno fora quase sem limites, há de tudo. Gosto em particular de lá comprar batatas, cebolas, morangos, pão, fogaças (bolos típicos de erva doce e canela) e flores.
A minha filha linda na foto também se encanta com rituais de muita cor e gente para trás e para a frente -, gritos de feirantes a apregoar a mercadoria, muita vontade de largar a nota...essa a verdade...mesmo chegando a casa e avaliar que afinal as compras não são o que pareciam.
Passeando a pé pela vila pode-se apreciar a arquitectura ancestral típica com muito azulejo na frontaria e ferro forjado trabalhado. A igreja matriz com a data de 1606 é um edifício imponente, recheada de grandes painéis lindíssimos de azulejos, em destaque o do hall de entrada em cúpula de tamanho mais exíguo e tons fortes mui gracioso. De todas as imagens a minha predilecta foi a de Nossa Senhora da Piedade,bela peça escultórica em terracota com o Jesus caído nos braços da mãe Nossa Senhora, uma figura muito delicada em tons esverdeados a lembrar o céu.Numa roda viva andavam algumas senhoras de volta dos preparativos para a grande festa dos motards a decorrer amanhã. Enfeitavam-se os andores. O santo padroeiro S. Pedro engalanado de seda lavrada em vermelho, o andor cheio de antúrios vindos directamente da Madeira, eram caixas e caixas de flores. Ao meio da igreja o andor da Nossa Senhora da Atalaia, vinda de propósito do santuário do concelho para a cerimónia. Mais abaixo quase à entrada o andor do Santo Rafael patrono dos motards com um mapa na mão e um capacete na outra e uma réplica de mota encravada à frente,ainda aguardava vez para ser ornado, estava nu.
O Montijo é uma cidade a descobrir com tantas frentes, tantos contrastes, ainda tanto por fazer, mas vale sempre a pena contemplar tão grandiosa frente ribeirinha tão doce de ondas a desvanecer de mansinho.
Ao longe Lisboa, a ponte 25 de Abril, Almada, Mar da Palha...uma vista a perder de vista com o aeroporto militar. Pena terem desactivado a linha de caminho de ferro...era demasiado típica, ainda a estação de Sarilhos de janelas e portas fechadas à espera de solução.
Visitem, acreditem, não darão o tempo como perdido muito, porque vale mesmo a pena conhecer!
 
 

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