quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Romarias e festas do meu tempo por Ansião

Retalhos da minha infância na vila de Ansião no distrito de Leiria.
Cresci rodeada de várias criadas internas -,umas novíssimas quase da minha idade, outras mais velhas. Ao tempo não se ouvia falar nem em infantários nem pré-escolar.
A fuga sempre esteve intrínseca em mim, desde que comecei por gatinhar.Cedo comecei a fugir pela crista dos regos das batatas saltando as alfaces "orelha de burro" no limite do ferujal a caminho da casa da minha tia Maria,ainda me lembro da bisavó velhinha enferma na cama de ferro,na quina do quarto o irrigador nada mais do que um depósito de vidro com papel rosa velho muito gasto, arrepiante a mangueira -, clisteres o remédio! 
Primeira romaria na aldeia da Sarzeda…

Honra de Nossa Senhora da Esperança. O Virgílio Valente levou-nos de táxi. Depressa o meu pai nos abandonou, encaminhou-se para o balcão de ocasião da taberna feita no adro da romaria, na aba do balcão de pinho os amigos e conhecidos pagavam rodadas de copos de vinho tinto. No arraial da festa junto à quermesse o cordão da minha botita mal apertado quis teimar em sentir o chão -, o meu pai com um copito a mais fez azo ao alarido em mote de desconsolo, até vergonhas no arraial sentiu a minha mãe comigo ao colo, apreensiva, no caso até arrependida, não estava habituada a faltas de educação, cansada estava de o ensinar a ter modos, até de o habituar a comer sopa, tais eram os maus hábitos trazidos de solteiro, quando sentia fome sabia como se desenrascar, fosse no galinheiro, salgadeira ou padaria, amanhava-se a enganar a barriga de misérias, apesar da casa abastada, tanta fartura, não havia rei nem roque, isso sim…
Porfírio, foi ourives, homem que conheço desde sempre, e também conheci bem o seu pai, Anastácio, gente boa, educada e muito simpática, algumas vezes me cortou anéis com o dedo já arroxeado...
Foto retirada do Serras de Ansião


Gentes da Sarzeda: Adolfo, Aciolina, Dolorinda e, irmão, Helana e irmã, Porfírio e irmãs, e… 

Outeiro: Olinda, Simões e, … 

Velha da Pereira…quem não se lembra de ver a quando vinha à vila descalça de lenço atado atrás da cabeça e avental preso na anca de andar de abanico apressado, dela se rezava que fazia uma dorna de vinho com os bagos que apanhava no chão depois de feitas as vindimas…

Cavadas: D. Lúcia e marido Adriano Marques; Freire “ Formigo” e, … 

S. João de Brito: Dr. Branquinho; Prof. Reis; Dr. Abel; Valdemar, Carrilhas e, …

Pessegueiro e Bairrada: Jezulinda, Clarisse, Armanda, Ilídio e, … ainda me lembro do alambique de medronho na Bairrada.
 Acaso troquei os Lugares de alguns, desculpem, assim como daqueles que esqueci o nome!
2ª Romaria ao S. João no Porto ...
Surpresa inesquecível a visita dos tios Rosária e António -, alcunha “Paredes” da Portela de S. Lourenço acabados de chegar de Luanda - coisa de dias tinham festejado o meu aniversário de cinco primaveras. Casal sem filhos com tantos sobrinhos julgo ser a única que não era afilhada -, metia-me confusão todos os meus primos os chamarem por padrinhos e eu de tios. Emigrados em Angola acabados de chegar traziam na bagagem lembranças para toda a família -, das Canárias serviços de café em porcelana chinesa para os irmãos. Da Madeira bonecas e uma peça de pano para fazer vestidos para as afilhadas. Gesto que  vi repetir apenas mudava o padrão, umas vezes forte de cores garridas outras pastel, tecidos em poliéster, não amarrotavam nem precisavam de ferro . Recordo o último vestido em relevo em tons de laranja brutalmente curto e decotado, por baixo vestia uma camisola preta de gola alta fininha...o que eu brilhei à saída da missa!
Vinha ao de cima o cheiro do café, igual o do açúcar refinado, até então só conhecia o amarelo e latas redondas de goiabada e os amuletos -, uma arte de esculpir a madeira de pau-preto, a minha mãe ainda hoje ostenta o seu “busto negro na estante como augúrio de sorte”…mal distribuíram as prendas de partida estavam para França com outros tios Américo e Clotilde, também eles radicados em Luanda. Dias depois de novo na terra -, vaidosos cada um com o seu Peugeot 403 em preto reluzente. 
Junho -, festas populares, decisão às pressas de festejar no Porto o S. João fizeram questão de me levar, a minha segunda festa na infância, esquecer é que nunca, tal o espetáculo cintilante das luzes, do cheiro forte a alho-porro, martelinhos a tilintar na minha cabeça, enfeites de bandeirolas em papel de todas as cores e o barulho das luzes a piscar dos carrosséis. 
Vaidosa ia eu, trajava saia pregueada acabada de estrear verde raiada de bolsos brancos, mal saímos de casa parámos no Fundo da Rua junto ao Padrão na casa da modista D. Lucinda que ficava defronte no r/c  entrei apressada  para ai me trocar!



Santa Iria em Tomar …

Ainda guardo uma foto  tirada com os meus pais e irmã. De meias brancas até ao joelho, fio de ouro com a livra da minha mãe acompanhada do Tonito “da São” que nesse ano foi connosco. A 3ª com o meu namorado Luís, mãe e irmã.
Feira anual dos frutos secos em Outubro. Não faltava a ida ao circo Mariano, à tourada, lixada a ladeira, a praça ficava na entrada, lá no alto, a foto tirada à "La minute" e,…
Correria pelos carrosséis, depois do almoço passeio pelo Mouchão, o meu pai tinha o hábito de alugar um barco a remos, uma vez ao puxa-lo para o ancorar, veio de repente, fiquei com o dedo médio entalado contra o muro, dores, tanta dor, foi-se a unha, ainda hoje é frágil. Outros anos fazíamos um piquenique na saída da cidade junto a um grande fontanário na ribanceira do Nabão, pela tarde a festa brava, custava subir a ladeira até à praça de toiros. Certo e sabido ouvir a conversa sobre o colégio D. Nuno Álvares Pereira no gaveto com o canal de água junto aos lagares do Rei D. Dinis onde tinha estudado, cujo diretor, Dr. Borges, homem do Alvorge. Anos que visitávamos o Convento de Cristo a célebre charola, janela Manuelina, sala do Capítulo, a mata, escadarias com remates em esferas que tanto me faziam lembrar a do portão do Mosteiro em Ansião, igualzinha de pescoço alto…Grandes piqueniques na Mata Nacional dos sete montes, não faltavam as pataniscas, o arroz de feijão, saladinha feita no momento, o melão o garrafão de vinho, degustado na sombra, sentados na mesinha mais perto da fonte. 
Santarém… 
Também de excursão em Junho, a maior de todas à Feira do Ribatejo, a Feira Nacional da Agricultura e do cavalo. Comia-se uma boa sopa de pedra, de tarde corria-se o recinto da feira, viam-se as tendas com capotes alentejanos, samarras com gola de raposa e botas à campino, a minha irmã não passava sem um par, as fatiotas dos cavaleiros e amazonas, adorava sobretudo os chapéus, coletes e as charretes de cerimónia com grandes rodas e banquinhos. Uma feira com muito charme.

Golegã
A feira da Golega e do Cavalo Lusitano decorre em novembro, onde não faltam castanhas assadas, mantas às riscas, cobres de todos os feitios, cavalos, toiros de lide e campinos. A partir de 73 a minha mãe levava-nos de carro deixava estacionado junto ao cemitério, onde sempre nos lembrávamos do famoso matador Manuel dos Santos. Adorava comer nos restaurantes ambulantes.
Frenesim maior da feira -,faziam-se sempre compras. Ano houve que escolhi um lindo sobretudo cor de laranja com barras em pele castanha na roda e mangas...furor num bailarico quando o estreei...                                                                                      

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