terça-feira, 1 de outubro de 2013

Feira de velharias em Leiria...que só os beijos te tapem a boca!

O dia acordou encoberto para me fazer ao caminho de Pombal onde mal cheguei constatei "para mal dos meus pecados" ... não era dia de feira!
Há muito que deixei de ligar aos dias da semana, muito menos saber a semana do mês -, equivoco em duplicado, ora vejam!
Puxei pelo caderninho( que não está atualizado...) tinha escrito feira no Louriçal ( que parece só acontece a 15 de agosto...). Estanho a meio caminho tomei a estrada, antes da zona industrial comecei a ver imenso fumo...debalde segundos depois constatei ser nevoeiro e dos grandes.Chegada a custo ao Louriçal, não deslumbrava vivalma-, salvou-se do zero pelo pobre do homem encostado na ombreira da porta da igreja do convento... Obrigada a seguir a seta azul entrei pela vila  onde parei  junto a uma rotunda onde de novo analisei o caderninho-, dia de feira em Leiria, diz-me a minha mãe que convidara para companhia " então se estamos aqui vamos até lá" fomos sempre com nevoeiro, nunca tinha entrado na cidade vinda da Figueira da Foz-, instigava-me  " só avenidas novas, achas que consegues dar com a feira?" respondi que sim, bastava seguir o rio. Assim foi, deparei-me com os feirantes na arrumação dos estaminés no recinto do Jardim Luís de Camões onde cheguei pelas 9.15.
F
 
Parei o carro junto do marco de pedra de antanho com a sinalização para a Figueira da Foz.Perguntei a um colega se o organizador da feira já estaria no local-, responde-me que ainda não o tinha visto, nisto insisti como era a sua fisionomia ?
- Responde-me "tem cabelo comprido e usa óculos"...
O certo era tomar a lógica do final da feira-, foi para lá que me encaminhei, ao meio do calçadão vi um grupo de pessoas, entre elas algumas minhas conhecidas-, vi logo que andavam com o organizador para distribuição de lugares. Cheguei-me a eles, disse ao que vinha, diz-me logo " a senhora está credenciada?" respondi de imediato, claro que sim... diz uma das "Paulas" aqui o Sr Joaquim nunca deixa um vendedor sem lugar, não é como em Setúbal que dizem logo que não há lugares...
Esperei pela minha atribuição. Atrevida , disse-lhe o que já contei sobre a sua fisionomia...responde-me "os barbeiros também tem de ganhar dinheiro e os óculos com a pressa esqueci-me deles..."
Curioso é refletir e pensar na credenciação de feirante. Quantos os feirantes que lá estavam sem a ter?
Alguns-, disso sei e bem!
Joaquim que vive em Fátima, deu-me o mote onde poderia estacionar o carro no cimo da colina, e aponta, sou bem mandada lembrei-me vagamente da zona nova quando aqui vim ao casamento da minha prima Isabelinha com o Quim em 73 - , nela alugaram um apartamento.Consegui arranjar um lugar sem pagar,  pus-me a descer a colina só parei para registar fotos de duas casas que adorei a arquitetura . 
Mal chegada ao  Rossio registei a foto do tardoz da primeira  casa com um bucólico alpendre em circular tipo romano...
Adoro a cobertura em ardósia, a imitar escamas, e o mirante uma delícia
Uma parede com história sustentada à espera de melhores dias...
Frontaria de fachada com belo portal  sustentada por vigas de ferro
Belíssimo fontanário de três bicas. Em 1726 já  eram relacionadas as nascentes Fonte do Arrabalde da Ponte de Leiria (freguesia de Santiago), de água tépida; Fonte de Santa Catarina, junto da ermida desta santa e na cerca do convento de S. Francisco, de água quente sulfúrea; Fonte das Colmeias (p. 102) na freguesia do mesmo nome, de água fria com a curiosa “virtude para provocar às mulheres a purgação mental, no que tem tal eficácia, que continuando a bebe-la, não só experimentam que os meses supressos lhe baixam, senão que duas vezes cada mês lhe acudam com grande afluência”.
  • Sob o nome “Caldas de Leiria” Henriques em 1726 descreve a nascente: “No Rocio da cidade de Leiria brotam na raiz do outeiro de S. Miguel duas fontes, muito chegadas uma à outra, a que o vulgo chama Olho de Pedro, uma das quais é de água fria, outra de água tépida, que passa por minerais de enxofre, e delas se tomaram antigamente banhos, com que se curavam vários achaques, e ainda hoje se acham sinais dos tanques em que se banhavam os enfermos […] E ainda hoje se conserva um tanque na cerca do Convento de S. Francisco, junto de cujo muro esta água nasce, no qual os seus religiosos tomam banho, para achaques cutâneos, a que chamam do fígado, como são impinges, comichões, chagas, e postulas.”



Pela descrição do autor sobre a fonte de Santa Catarina que alimentava o tanque do convento, ficamos a saber que esta água era conduzida para “o Claustro e mais oficinas do Convento, da qual depois de fria bebem os religiosos”.
  • Também Tavares (1810) menciona estas nascentes: “Ao fim do Rossio, e na baixa do monte de S. Miguel, que fica a norte da cidade de Leiria perto da cerca do convento de S. Francisco, nasce em quantidade de duas telhas de água uma fonte Quente". Está a sua origem dentro de uma casa dividida em duas, cada uma com o seu tanque capaz de acomodar escassamente duas pessoas. As casas são bem reparadas, e correm seus reparos e conservação por conta do Senado da Câmara da Cidade […] Em mui pouca distância até vinte passos desta nasce outra fonte de dois olhos de água fria. Na mesma direcção da primeira, em distância de cerca de duzentos passos, já dentro da cerca dita, há outra fonte, que terá meia telha de água da mesma qualidade, que nasce na altura de vinte e cinco a trinta palmos acima da primeira […] à qual chamam Fonte de Santa Catarina, onde também há um tanque, em que os religiosos tomam banhos […] A fonte do sítio do Arrabalde, se tem alguma diferença da temperatura ordinária das águas de fonte, merece mui pouca contemplação a título de tépida.  
  • Lopes (1892) descreve as nascentes: “Primeira a fonte Quente, próximo do Rocio, ao fim do passeio Público. A sua água é diáfana, cristalina, inodora, insípida, e marca 26º de temperatura […] é recolhida numa casa, dividida em dois compartimentos, com uma tina em cada um.[…] A segunda fonte de Santa Catarina, igual à anterior mas com 25º de temperatura […] a 3ª Fonte dos Covêlos, é também reconhecida pelo nome de Salgadas, é fria, tem cloretado de sódio, e por isso foi antigamente utilizada para a fabricação de sal.”
 Informação retirada de http://www.aguas.ics.ul.pt/leiria_fquente.html
A Fonte Quente é uma fonte de elevado interesse histórico localizada no sopé do Monte São Miguel, de onde brotam duas correntes, uma fria e outra tépida: a tépida constitui a Fonte Quente, também denominado por "Olho de Pedro"; a fria foi transformada num chafariz em 1824 (hoje é chamada de Fonte dos Namorados), onde já não corre água. As águas eram sulfurosas e provou-se as suas propriedades curativas, pelo que na Fonte Quente a água foi aproveitada para a realização de banhos, sendo durante muito tempo usada frequentemente pela população, especialmente aos sábados, até à instalação da rede de saneamento de água na cidade na década de 1930 do século XX. Hoje ainda podemos ver a casa com os 2 tanques onde antes se efectuavam os banhos, mas a água foi desviada para passar por baixo da casa e brotar metros à frente.
Estas águas foram muito usadas pelo Convento de São Francisco, pelo que a água tépida alimentava os tanques do conto onde os religiosos tomavam banho (estas águas provinham da fonte de Sta. Catarina, a metros da Fonte Quente, que hoje já não existe).
A água era ainda conduzida para o convento (na outra margem do rio, perto do Maringá), da qual os religiosos bebiam depois de esfriado.



O que estas fotos dizem,  fazem parte das minhas recordações de criança
O jardim -, dentro dele e dos lados desenvolve-se a feira cumulativamente com algum artesanato.

O colega desta banca tinha "ares de azedo"...estava a ver que não me dava autorização para fotografar estas peças belíssimas da Marinha Grande 
Reencontrei a Fátima de S. Martinho do Porto  falava ao telemóvel com a cunhada Isabel a quem endereçei um beijinho...a sua  banca sempre com peças a preços convidativos, fiquei com pena de não ter trazido um prato vazado pintado com um pássaro em azul. Ao  lado a banca do Luís que pela tarde ainda não se tinha estriado... Encontrei um colega novo acompanhado com o filho, faziam sucesso com a venda de canivetes, a quem comprei uma bacia de faiança e umas tampas de terrina. Partiu uns quatro pratos mal acondicionados na caixa de bananas...vi muita gente conhecida, mais de metade!

 
Banca do Joaquim , fiquei contente por saber que já arranjou trabalho
Banca do Félix,  rapaz simpático que conheci na feira.Homem interessado em saber e partilhar.Dirigiu-me convite um dia que passe por Alqueidão da Serra para levar o meu marido para uma almoçarada. Ao lado o Sr Manuel e a esposa Ti Helena  , ao lado um colega novo, na frente um casal com muita idade mas muito careiros, contudo ofereceu-me um crucifixo de terço.
Parte do meu estaminé de chão...logo de manhã apareceu-me um freguês meu conhecido que vi pela 1ª vez em Tomar, voltaria a vê-lo em Torres Novas e agora aqui. Um fanático por velharias a um euro, desta vez trouxe a mulher e o filho...diz-me logo " já sou seu cliente de Tomar..." pois sei que sim-, então hoje o que vai? nem me lembro mais o que comprou, ainda rondou os naperons minorcas para as peleias de madeira  e os azulejos, mas eram caros para ele...disse-me que está a forrar uma parede só em azul.

Banca do Jorge de Coimbra ,sempre com muitos atoalhados e bordados Castelo Branco
Banco de Portugal
Na banca das "Paulas" fotografei os pratos . O do brasão assinado Carvalhinho, os outros em Cantão Popular evidenciam fabrico do norte( vieram todos do espólio da mesma casa)
Deixei a minha mãe na banca e fui vadiar à descoberta da cidade, deparei-me com este grande painel e um excerto do Crime do Padre Amaro na parte histórica.

Adorei o glamour do carro dos noivos uma Citroen Dyane, a contrastar com a frota dos convidados de alta gama que passaram por mim numa ruela estreita, enquanto os empregados ( mãe e filho) com vassouras nas mãos varriam o adro coberto de pétalas de rosas e quilos de arroz...
Amei o slogan na faixa pintada a branco!

Degradação do património no centro histórico, uma pintura que nos chama a atenção...


Telhas vidradas em verde tal como nas torres do castelo de Porto de Mós

Rodrigues Lobo enquanto homem e escritor frequentador do Rossio de Leiria e do bucolismo do rio Lis -, a praça que a cidade  haveria de eternizar com o seu nome-, hoje renovada onde as pessoas interagem com espetáculos e outras atividades.

O Lis a deslizar suavemente, em regato.
A senhora carismática que vive na Nazaré, confidenciou-me, juljo foi advogada ...
Adorei voltar a revê-la em Leiria, afinal corre todas as feiras da redondeza ...
No dia seguinte confidenciou-me que iria a Alcobaça. 
Modernaça  e dona de sorriso encantador . A cremalheira desconcertante dá-lhe um ar que no imediato me pareceu ser figura animada, na 1ª vez que a conheci na feira de S. Martinho do Porto, de beiços enfeitada a carmesim  no contraste da brancura dental... 









Voltaria a ir à banca do Félix  para fazer uma compra  em faiança ratinha, algures na foto debaixo.
Prato da Viúva Alfredo Oliveira de Coimbra. Réplica da pintura reporta aos aranhões e reservas do século XVI/II. Gostei dos versos.

Foi com este olhar que me pus ao caminho para ir buscar o carro sob um sol escaldante...
Dei comigo a balbuciar -, Que só os beijos te tapem a boca!

Fontes:
Wikipédia 

2 comentários:

  1. Belo passeio por Leiria.Lá trabalhei entre 2002 e 2008. Lá conheci e me apaixonei pela minha mulher. Lá nasceu a minha filhota, agora quase a fazer sete anos. Como vês belissimas recordações. Obrigado mais uma vez.

    Carlos Gomes

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  2. Caro amigo, fico satisfeita por esta crónica te recordar de belíssimas recordações.
    Não precisas agradecer, será sempre um enorme prazer saber que sem teres tempo ainda me espreitas. A isto chama-se amizade.
    Bjo
    Isabel

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