sábado, 22 de março de 2014

Feira de velharias de Pombal

Por ter estado por terras de Sicó convidei a minha mãe para ir comigo faz hoje oito dias fazer a feira de velharias de Pombal. Vislumbrei o castelo altaneiro recuperado por fora e a encosta revitalizada, agora por dentro não sei o que fizeram , ainda me recordo a primeira vez que nele entrei teria 16 anos a fazer "pau de cabeleira" no namoro da minha prima Isabelinha  com o seu namorado que veio a ser marido- homem mais formoso de beleza imensurável julgo nunca conheci, a arrevesar modelo, ator, sei lá mais o quê, poderia ter tido o mundo,  homem garboso, belo, vaidoso e ambicioso de Leiria...Juntos a caminhar por montes de terra e de pedras, lembro-me dos poços - duas cisternas e os namorados a fugir de mim por entre ameias onde se beijavam na boca como eu via nos filmes a binóculos (de mãos enroscadas nos olhos, por achar tal  estar obsceno...)...isto  antes do 25 de abril em 73...
Antes ao chegar aos Ramalhais na mira da serra de Sicó , entrei num banco de nevoeiro cerrado e molhado "de não se ver um palmo à frente do nariz"...Odisseia turbulenta, nem sei se alguma vez assim conduzi nestas condições, agachada a olhar para o risco branco da berma, a única coisa que se distinguia naquela densa miragem...
Cheguei ao jardim  Marquês de Pombal repleto de feirantes, abanquei junto do estaminé do Sr Manel e da Ti Helena, gentis no acolhimento. O Sr Rafael de Alcanena chegou a seguir com a banca de livros, trazia um ajudante - o vi  mandar nele como se fosse um casal, na retórica de mandar e ralhar por tudo e por nada, até me admirei a calmaria dele de cigarro na mão, coitado aguentou tanto desaforro e no fim não se livrou  de mais ouvir quando arrumava os livros em caixas de bananas, frágeis ao ver parte da banca  se desmorona. sorte serem livros, ele na respinga a respingar "primeiro arruma-se a loiça, não vês que a 1ª banca é de cobre e loiça, onde tens a cabeça?..."
O recinto cheio de vendedores sem carteira diplomada que ocupam os melhores lugares e não deviam, a vender roupas e sapatos em 2ª mão, na feira de abril já não vai ser permitido assim ditava o edital que um homem fazia entrega, quanto a mim esqueceram-se da venda de malas...
Constatei que o público anda na maioria a direito, abanquei num passeio lateral com pouca visibilidade, pois a clientela  de "mira e anda" só caminha, mira bancas a direito e pouco olham para estaminés de chão...
 
As árvores floridas em antecipação da Primavera davam encanto ao jardim do Marquês de Pombal a rivalizar com a igreja de Nossa Senhora do Candal, e o seu antigo mosteiro de frades visto na lateral.
Apareceu-me um cliente de idade que conheço de vista e na feira se cansou a andar toda a manhã e de tarde por duas vezes...Compras de  coisas e loisas a um euro ou pouco mais.Comprou-me um par de candeeiros...Uma mulher que vendia roupa em 2ª mão chegou-se a mim e escolheu uma mala da Yves Saint Laurent em pele, vaidosa com a escolha dizia que havia de a levar a França...Mais tarde apareceu se eu não podia ficar com ela por ter um pesponto da alça descosido- uviu o pregão -, as coisas em 2ª mão são vendidas no estado em que estão, usadas, com sinais de uso ou não, antes de comprar é que se deve ter atenção. Na loja é que se  compra novo e tem 30 dias para trocar.
O dinheiro não lhe dou, o que posso fazer é deixar trocar por outra e assim foi.
O perfil da minha banca em "L".
O Sr Rafael que me apareceu de pandeireta rota nas mãos, alegre, mais parecia ser uma criança a sorrir com o som do batuque...
Apresentou-me o Sr Lopes, que estudou com rapazes de Ansião, os filhos do Forte do Porto Largo -homem de cabelos brancos, gosta de coisas boas - porcelanas, Companhia das Índias, faiança, relógios  e na banca do Sr Rafael sendo habitué, procurava catálogos de leilões. Contou-me como em tempos também foi feirante, correu o País, gosta das peças da Fábrica do Rato do tempo do Tomás Bruneto, da Maria dos Cacos que iniciou a olaria nas Caldas da Rainha - aqui o Sr Rafael desatou a falar da garrafa  em formato de viola com asas aladas em forma de serpente que uma mulher tinha numa alta prateleira, sendo oferta que tinham dado ao marido, cada vez que lá ia a casa para lhe comprar alguma coisa ela nunca se mostrou interessada em se desfazer dela, até ao dia que ele apareceu e não tendo ela nada para lhe vender, para espanto dele a tirou e vendeu...Ainda me disse a quem a vendeu, um antiquário que  lhe fez um pequeno restauro e disse ter vendido por  1000 €...
Quase fracasso as vendas, já as compras foram ótimas.

O Joaquim de Fátima, encontrou-me, está na mesma. Na minha volta à feira acabei por lhe comprar dois covilhetes de Sacavém que em tempos namorei na feira de Leiria, agora comprei por metade do preço para oferecer à minha filha, por já ter as duas travessas.
Ao lado, na  banca da Luísa, encontrei esta bela taça em estado impecável muito decorativa onde a palete de cores explode em harmonia exuberante e forte, seja do azul com o laranja e o verde claro.
Algo me prendeu a atenção que no momento não deslindei. Só no dia seguinte me lembrei que antes já vi esta decoração numa exposição na FIL julgo atribuída a Alcobaça OAL.

Ainda comprei um penico de olaria vidrado a verde que nunca vira em muito bom estado.Escondi, nem registei a foto para não ouvir a minha mãe...Abriu o sol em caloraço de verão. Valeu-me a camisola fresca que a minha irmã me ofereceu, o chapéu e os óculos versage da minha filha, os meus tinha-me esquecido deles na casa rural, e os das feiras, a gaveta não abria, o costume de inverno, por ser madeira incha com a humidade ...
 
Reencontrei a mina amiga Bela Pimpão , boazona uma bela figura de mulher esbelta, alta de ar misterioso, apesar do Joaquim dizer à boca cheia que não trata da pele "parece que andou na sacha do milho sem chapéu..."ainda nos rimos com o inusitado do desagravo do elogio, claro dei-lhe a receita da pomada que deve aplicar no rosto à base de estrogênios...Na companhia da filha da idade da minha Dina, linda e doce, não faltava a cadelinha no caixote...De tarde via-a dormir  a sesta na relva sem pudor!
Casa  com torre acastelada em rosa, recuperada, tantos anos a conheci abandonada e o coreto parecia uma casa de bonecas...Na doçura do rosa e do branco.
Pedra em mármore com a Cruz Templária NUNCA deveria ter sido tirada do local primitivo. Tal como os brasões acho um CRIME serem tirados das paredes.
Prato da Fábrica Viúva A. Oliveira de Coimbra e outro a preto de Alcântara rodeado de pratos Sacavém
                      
De tarde depois de tragado o parco farnel trazido de casa na espera de clientela, os homens, debaixo da sombra na minha frente davam "corda aos sapatos " na conversa fiada- o Sr Rafael, o Sr Manel e outro mais novo, que conheço de vista e a quem emprestei uma caneta, falavam do preço do quilo do cobre e do latão à mistura com problemas de saúde, dizia o Manel "andei dias sem por os pés na casa de banho com as tripas às voltas" respondeu-lhe o Rafael " há tempos li um livro que tinha na banca que explicava , pessoa que tivesse regulada a hora de ir a casa de banho era sinal  de boa saúde..."
Apareceram mais uns mirones  em final de tarde. Sem vendas comecei a arrumar.

De volta no IC 8 virei a  caminho do Marquinho para acalmar, só o consigo com as águas do Nabão que o vi lindo de manto florido de branco.
Gostei imenso de aqui parar para retemperar forças e vitalidade, razoavelmente  feliz!

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