quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Exposição de Fotografia Contemporânea ao Chiado

Exposição Shadow of a Doubt -  "A sombra de uma dúvida" decorre até dia 30 do corrente mês ao Chiado ,no edifício da Fidelidade.
Entrada gratuita.


Seguindo o guião da exposição da autoria de Jose M. Rodrigues em 31.12.2014
Esta exposição não tem nada haver com Alfred Hitchcok, apesar de na vida estar tudo ligado. Tanto quanto sabemos, só no caso da Virgem Maria houve concepção sem semente;de resto tudo na natureza nasce de um suco dela. A maturação requer o seu tempo.Precisa de ser acarinhada para que apareça a floresta. O homem foi abrindo clareiras ali,construindo cidades acolá e eis que nasceu este espaço onde vivemos.

A cidade é lugar onde se manifesta a presença da ausência, e o lugar onde nasce e se cultiva a vida interior. Encontramos elementos de todo o mundo num pequeno espaço. Sonhamos. Afinal a terra existe e nós fazemos parte dela, para sonhar e comparar as nossas origens. O Adão e a Eva afinal somos nós: lidando com a existência do dia a dia.
Os fotógrafos interessam-se muito pela repetição e multiplicação da forma para atingir a perda do significado e encontrar a síntese da essência. Os telemóveis vieram materializar, ainda mais, este ato,com as suas máquinas fotográficas banalizado a consciência de fotografar e deixando para os fotógrafos o essencial. A composição é a repetição do momento original.Este processo deu origem à utilização da matéria, que era afinal o negativo ou ficheiro, que estava sempre escondida, passando a ter uma vida própria, ou seja a matéria viva que podemos ver. Nas suas formas encontramos novos processos de composição, quer pela sua textura, quer pela maneira como estão armazenadas ou apresentadas, mudando permanentemente a forma da informação mostrada.
Procuramos a delicadeza das formas naturais, relacionadas com as do olhar, misturando elementos que respondem a tensões presentes na natureza ou nos humanos. Pelas formas aí encontradas, aprendemos o valor e o rigor de "puxar" para os limites da perfeição de cada um, como quer ou sente.
Qual a relação entre a presença da luz e a sua ausência? A imagem navega entre elas. O sentir está nas diferentes tonalidades que estão ligadas entre o mais escuro e o mais claro. Não sabemos qual delas é o mais positivo ou negativo. Os olhos são assimétricos. Cada um mostra uma parte diferente da pessoa, parada no tempo e com a sua alma exposta ao banal da nossa vida quotidiana. O divino e o diabólico. A harmonia do mal ou do bem, se nos interessa, está no encontro dos extremos. A luz dá-lhe a forma. Não queremos aceitar a sua existência, dentro dum quadrado ou de um rectângulo. A alma cola-se. O ato de fotografar é rápido. O pensamento prolonga-o, é um momento irresistível, completamente parado, interno.
Estará um fotografo a perder-se a si próprio cada vez que fotografa? Ou encontra-se reconstruindo a nossa existência através de outros momentos  invisíveis para nós, com a qual vamos mantendo um diálogo contínuo, que conhecemos sem nos dar conta? Sentado debaixo de uma árvore vejo a luz a passar. Como a corrente de um rio. A certo momento, levanto-me e pára o tempo. Ai, todos os momentos estão presentes. Auto-retrato.
As distâncias do olhar aproximam-se. Espaços iguais? Simetria? Não há regras. Está tudo ligado para nos mostrar o milagre. Cada momento é outro e mais outro, mas todos ligados entre si são, em conjunto, o espaço da materialização da imagem.
E o nosso corpo? Onde fica? Onde fica a dor, o medo, o prazer e a felicidade? Conseguimos penetrar as paredes deste espaço? Como o nosso ser? É um auto retrato? Ou estamos a ser retratados? Não somos nós tudo isto? Somos o veiculo através do qual essa imagem única se materializa. Está tudo na fotografia. Ela irá connosco, sabe-se lá para onde...
Não sei quanto tempo a nossa existência estará condicionada por ela. Acabará por ter uma vida própria. Foge. Uma fotografia passa para outra.O tempo passa para outro tempo. A imagem fica enquadrada. O mundo dentro dos buracos negros ou das estrelas. Voltamos novamente à luz...uf...tinha medo de não regressarmos. O trabalho dum fotografo reduz-se a uns segundos numa vida inteira. A fotografia, à eternidade.
Talvez seja tudo mentira que acabo de escrever - com o nome " Shadow of a Doubt " (A sombra de uma dúvida) - sobre esta exposição. 
Para cada olhar há uma fotografia. 
Assim podemos recomeçar tudo de novo fazendo a nossa própria exposição, outra vez, com os trabalhos de certos fotógrafos que põem em causa o nosso olhar e nos mostram outros horizontes sobre a existência.


Como dizia Kevin Power: "Qualquer criador que deseja criar de novo,tem medo.E neste ponto da nossa história coletiva necessitamos de criadores capazes de cartografar os novos territórios nos quais vivemos as nossas vidas.As possibilidades criativas dentro da economia de mercado são cada vez mais difíceis". 

Ao invés de uma maioria de visitantes a impressão da primeira sala é que as fotografias lhe pareceram pinturas-, que o fiel curador da exposição, sentado na sua mesinha matava tempo a fazer desenhos no seu moleskine, bem-haja por nos ter presenteado com dois dedos de conversa. 

Pois a mim não me chocou nada. Entrei na sala encaminhando-me para a direita pelo impacto de um copo com um sorvete que me transportou para o Porto -, para um vaso de vidro com o coração de D.João V oferecido à cidade, a propósito mostrado na televisão há dias, aquando da filmagem de um filme. E logo perdida no fixar a fotografia com um par de corações, que me lembraram os das galinhas, quando era obrigada a matar para sustento -, e claro a faísca, que não mais desregrei da ideia simpática inicial, e deste maquiavélico despertado, no culminar da simbiose deste feliz recordar que a fotografia da autoria de José M. Rodrigues-, curiosamente, Sem título, me despertou pela semelhança do sorvete na forma de coração.

                         A verdade real do sangue entranhado nas unhas, e da dor dos dois...

 
Pétalas vermelhas de rosa esvoaçantes...
Do mesmo autor, Sem Título
Poderia ser o Beijo
Este quadro não me pareceu pintura, porque há anos que a minha irmã tem um de grandes dimensões com este efeito de papel de arroz ?  Julgo, sendo para mim pelas semelhanças fácil identificar.
Do mesmo autor também sem título
Fixei-me no tampo da cadeira, nela distingui uma pedra enegrecida pelo tempo e pela erosão, que a talhou neste formato em gomos, como se fosse um caroço, a rivalizar a placa de ferro na horizontal que me lembrou as fechaduras de arcas antigas...
Outra fotografia do mesmo autor também sem título.
A contração dos músculos abaixo do peito fez-me lembrar quando tiramos RX  e o slogan do radiologista 

" encha o peito de ar, não se mexa, não respire"...

Do mesmo autor sem título.
A carcaça de um caracol sobre lagartas, bichos da seda, ou pedrinhas roliças do mar em preto e branco.Umas e outras que me são tão familiares desde miúda , carcaças mortas, e de casa às costas, andantes pelos  muros de pedra solta de corninhos ao sol...

Autor Pedro Lobo- O quarto de dormir
Mote dado pela cama de ferro e a colcha tecida no tear

Mesmo autor - Armário
Irresistível, a fotografia fez-me lembrar um amigo que há tempos foi a um solar perguntar se tinham livros antigos para vender. O bom homem mandou-o entrar, depois de "resíduos fecais de cães espalhados por todo o lado e pelo lajeado do que um dia foi uma capela, para logo se abrir o sótão a custo de fechadura emperrada,a pedir licença aos cortinados de rendas sobrepostos em teias de aranha, qual vislumbre surreal dada pelas arcas cobertas a coiro com tachas, e dentro delas resmas de livros religiosos que um dia fizeram a delicia das freiras, de um qualquer convento nortenho, e outros espalhados pelo chão, roídos pelos ratos...
Do mesmo autor - Anarquia
Estas imagens, da falta de azulejos vê-se por toda a Lisboa, passei ontem na Rua do Bemformoso, onde existem algumas fachadas com azulejos empolados, em derrocada iminente, o mesmo na Almirante Reis numa casa de fachada Art Decó, catalogada, e em tantas outras ruas de Lisboa.
Urge que a autarquia se empenhe na urgência de solver esta questão, do mesmo modo que tem o cuidado de lavagem de ruas como em Alfama, deveria ter também pessoal que diariamente tomasse conta destas ocorrências, procedendo à sua reparação. Doutra forma muitos se perdem para sempre, e no pior  saqueados  e vendidos alguns a 100€, cada exemplar, nas casas da especialidade, que nem de propósito ontem entrei numa onde estão à vista e com preços marcados. 
Caso para perguntar o que andam a fazer que não protegem o que dignifica Portugal, as nossas raízes e a azulejaria em particular.
Esta imagem da retirada dos azulejos faz parte do meu manancial de más memórias há quase 40 anos, no que foi uma estância de férias que o Sr Oliveira Salazar mandou construir na Foz da Sertã , com exploração de águas com o mesmo nome, onde ainda haviam garrafas rotuladas, sendo vandalizada após o 25 de abril , e nos anos 70 no Espinhal na obra megalómana do Dr Bacalhau , depois que faleceu, sem deixar descendentes.
Do mesmo autor- Nacionalidade
Imaginei os tempos áureos do povo português destemido por mares nunca antes navegados partiram em cascas de noz, aventureiros, na descoberta de novos mundos,que cronistas narraram histórias de feitos de   patriotismo e sofrimento, mas hoje quase ninguém mais lê e despreza, sendo que um livro jamais é para desprezar, antes preservar!


Autor Nigel Shafran.
 Sem título.Apontamentos de cozinhas 
Autor Trevor Appleson

 Rostos de gente feliz
E o que ficou por registar!

As minhas fotos inspiradas pela exposição
     
                         Tanque-, será que aqui pertencia antes do terramoto ou depois?
                    Fio de prumo, ferramenta de pedreiro no uso da sua profissão
                    Tenho um exemplar que foi do meu avó.

Arquitetura interior do espaço, na janela com grades, por dentro uma sineta.

Não sei o que antes aqui funcionou, se convento ou  outra instituição?
Até porque na fachada ostenta um relógio que dá horas certas.

                                       No tanque um solitário peixe vermelho



Auto retrato em selfie
Vim maravilhada por absorver mais cultura!
Remate as aldrabas e logo três no que foi o Palácio Quintela

Não deixem de visitar.

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