quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Museu do Dinheiro mostra Muralha D.Dinis

A antiga igreja de S. Julião no século XVII localizava-se a norte da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, ao cruzamento da Rua de S. Julião com a Rua Augusta. 
O terramoto de 1755 não a poupou. Tendo em conta o novo traçado da baixa pombalina, viria a ser reconstruída no Largo de S. Julião, onde outrora se erguera a Patriarcal de D. João V, igualmente arrasada pela catástrofe. Concluída em 1810 , após seis anos,  um incêndio, destruiu o recheio do templo, que teve de sofrer novas obras até 1854.
Desde 1933 que se encontra na posse do Banco de Portugal, por se encontrar no seu tardoz, altura em que foi dessacralizada e convertida em Cofre Forte, com centro de distribuição de numerário, também garagem da administração, bem me lembro dos semáforos instalados no portal da igreja ,e a entrar e sair viaturas...
Choque olhar o que em antanho foi o altar mor, no sítio onde esteve o sacrário, a coragem crua de gente no passado em o ter mandado deceptar, sem dó nem piedade!
Agora no espaço uma colunata ladeada por cortinados em amarelo torrado, salvaguardam a ligação ao edifício do Banco de Portugal  e dos patamares aos elevadores.
O cofre pela marcação indicia, sido fabricado em Paris ,mas de patente americana 
Brutal emoção entrar na porta redonda, bestialmente armada em aço, onde foi o Cofre Forte...
Aqui se guardaram milhões, milhões em barras de ouro e,...
Todos que passavam no passeio lateral da igreja, nunca se aperceberam desta riqueza distante apenas a escassos dois metros? Se atendermos à espessura da parede e do cofre...
Adorei a visita ao espaço que foi a Casa Forte, embora sem dinheiro algum neste agora. 
Ainda de mente engalanada com a Casa Forte, do então Banco Pinto  Sotto Mayor, no edifício em frente ao Banco de Portugal, onde trabalhei 12 anos -, funcionava na cave onde ia amiúde acompanhar clientes na visita aos seus cofres particulares, cenas loucas de gente idosa em joelhos, deitada, ou de pé, sempre armados de tesoirinha, a cortar cupões de títulos de empresas, para depois no balcão os rebater em numerário, enquanto outros retiravam o faqueiro de prata, ou arrumavam objetos de valor, e....
Místico o espaço da Casa Forte do Museu do Dinheiro-, por segundos me deixou em estado perplexa, sem mitigar as tamanhas sensações transmitidas, seja a recordar filmes com marinheiros a saltar escotilhas nos submarinos, ou ladrões a fazer rombos em cofres fortes, ou ainda do tempo que vivi cenário  idêntico, em menor escala, ainda assim  semelhante, fosse a ligar ou desligar segredos, ou a abrir ou fechar o cofre.
Não resisto a contar um episódio periclitante que ao tempo me aconteceu.
Doida por velharias, as chaves sempre me encantaram, as antigas e outras. Haviam dois conjuntos de chaves para abertura do cofre.Mudança do "lay out" da sucursal deu-se conta de muita chave dispersa de cassetes desativadas e outras desarmadas, na vez de irem para o lixo, as guardo num envelope para mim, sem saber que nelas ia um conjunto das chaves do cofre, com a finalidade noutra casa  fazer uma exposição.
A foto com o espaldar de madeira com chaves antigas.
Mais tarde na altura da mudança dos códigos e dos segredos para as entidades competentes, deu-se conta da falta de um conjunto de chaves do cofre...Procurou-se por tudo o que é canto, dos cantos do Banco, ainda me lembrei do envelope, que as podia ter guardado por engano, cheguei a telefonar à minha mãe para ir auscultar, debalde não deslindou as chaves, por lhe parecerem todas iguais ... 
Anos mais tarde ao arrumar coisas naquela casa , reencontrei o envelope, e ao espalhar as chaves, logo reconheci as do cofre (  quando as guardei não as reconheci, nem podia, pois nessa altura ainda não era hierarquicamente indigitada - , de mãos gélida, pelas horas de aflição passadas aquando do seu desaparecimento, de tal modo arrasada, ao constatar que as tinha trazido por engano, jamais me atrevi a fazer o que fosse até hoje!
Ao tempo do desaparecimento o assunto tinha de ser resolvido e depressa, a solução encontrada foi abafar o tema, resolvendo-o "dentro de casa", desse modo a gerência com a equipa  da sucursal em reunião, concordou na solução em se mandar fazer outro conjunto de chaves em Lisboa, onde um colega se deslocou expressamente, levando para o pagamento, que foi caro, dinheiro referente a Ajudas de Custo, que foram forjadas -, no caso imputadas à sub gerência, que nunca tinha  sido apreciada em trabalho para as receber, e desta forma negra  e macabra se estreou...
Voltando ao tema, naquele tempo visualizei e manuseei muito dinheiro, que não sendo meu, e sim do Banco, apenas lhe dei  a importância que merecia -, o respeito e segurança do mesmo. 
Só hoje neste Museu senti outra realidade-, a imagem do dinheiro afinal se mostra tão fácil de meter a mão...
Só pessoas de tempera forte e carisma do dever profissional é que NÃO se perturba com resmas de dinheiro, e querer sentir vontade de o desviar para as suas mãos, como sendo seu.
O dinheiro do Banco é sagrado, pertence aos Clientes, os funcionários apenas são fiéis guardadores!
A riqueza não é meu apanágio, o dinheiro apenas me conforta na segurança mínima que cada pessoa merece ter -, ponto que ninguém me pode acusar, pois sempre me pautei por ser mulher de poupar , angariar poupanças, e jamais amante da ambição de vaidades , que o dinheiro pode comprar .
Mas aqui no Museu senti outra realidade do valor do dinheiro!
Talvez porque agora sou uma pessoa comum neste mundo dos mortais -, penso e faço, o que quero, o mesmo na escrita de forma aberta , sem olhar  ou testar limites!
Porque já ingénua sou adepta, trama que me atinge, e de que maneira!
Após a reabilitação de todo o quarteirão pombalino, finalizado em 2012, a igreja acolhe uma nova valência do Banco -, o Museu do Dinheiro desde 2014.
Durante as obras um dos maiores desafios foi a recuperação arquitetonica e estrutural da antiga igreja de S. Julião.As sucessivas intervenções realizadas até final do século passado, desvirtuaram a morfologia e danificaram os paramentos em cantaria da antiga igreja.A remoção das diversas construções evidenciou uma ruína ferida mas, ainda, com um potencial de recuperação e aproveitamento consideráveis.
Foram exumados cerca de 300 inumações primárias que constituem um valioso acervo arqueológico.
Foram identificadas e recolhidas, para tratamento e estudo, diversas estacas"pombalinas".
A exposição situa-se na cripta da antiga Igreja de S.Julião e convida a descobrir objetos, sons e imagens que caraterizavam os areais do Tejo nos períodos romano, medieval e moderno. Uma viagem de mais de 1000 anos pela história de Lisboa.
Em 1755, o terramoto de Lisboa danificou quase por completo a estrutura, que permaneceu soterrada mais de 250 anos. Em 2010, escavações arqueológicas realizadas durante a remodelação da sede do Banco de Portugal trouxeram o monumento de novo à luz do dia.
No Núcleo de Interpretação da Muralha de D. Dinis é possível compreender o modo como esta estrutura defensiva do séc.XIII influenciou o posterior urbanismo da capital.
ESTACA POMBALINA da 2ª metade do séc. XVIII.
Elementos pertencentes à estrutura do edifício do Banco de Portugal.
Estas estacas de pinho estavam cravadas verticalmente sob os alicerces do edifício e serviam para estabilizar o solo e as paredes. Todo o quarteirão assenta sobre estacas como estas, típicas das soluções arquitétonicas do período pombalino.
O uso da gaiola pombalina

















AZULEJO do séc. XVI 
Com decoração geométrica policroma realizado com recurso à técnica de corda seca, tipica, neste medéjar, muito em voga nos inícios do séc. XVI.Supõe-se que tenha integrado uma das divisões do antigo Paço Real da Ribeira, que se estendia até á Muralha de D. Dinis.
TORRE do séc.X-XIII
Fragmento de objeto em forma de torre, decorada com motivos geométricos. O desaparecimento da base impede a identificação clara da sua natureza, que poderá ter sido uma peça de xadrez ou a extremidade de uma roca de fiar.
ALMOFARIZ da 1ª metade do séc. II d.C, fragmento de bordo de almofariz, que apresenta uma estampilha com a legenda "DIONYS(I) DOM LUCILI".Indica uma produção do oleiro Dionysius das oficinas de Domitia Lucilla, a Menor, mãe do imperador Marco Aurélio.
FIGA Séc. XVIII-XIX
Este tipo de objeto, já conhecido na Antiguidade Clássica, era originalmente um símbolo de caráter sexual. Ao longo do tempo, a sua simbologia evoluiu, passando a ser usado como amuleto contra o mau olhado.
FRATURA NO REBOCO
Linha de fratura no reboco, que se estende diagonalmente entre o topo da sapata e a parte superior da muralha. Terá resultado de um sismo, provavelmente do terramoto de 1755.
POÇO POMBALINO
Foi construído depois de 1755, quando a muralha já estava soterrada e a circulação se fazia a um nível do solo próximo do atual.Os poços permitiam o fornecimento de água (por vezes potável) para as tarefas domésticas e, sobretudo, garantiam as reservas necessárias para combater os incêndios na cidade.
REVESTIMENTO CERÂMICO
Numa parede provavelmente de uma divisão do Paço Real da Ribeira que absorveu a Muralha de D. Dinis nos séc. XVI a XVIII.
Com o propósito de proteger e dar sentido aio património existente, criaram-se novos espaços e recuperaram-se os anteriores,sem enaltecer nem esconder a história, mas interpretando-a segundo uma abordagem contemporânea.
O longo reinado de D. Dinis- 1261-1325, consagrou-o como um dos monarcas de maior relevância na sua época.Fixou as fronteiras de Portugal e impulsionou estrategicamente o comércio nacional e internacional.A D.Dinis se deveu a grande importância dada ao ensino, à língua portuguesa e à cultura.
A sonoplastia da exposição destaca o legado trovadoresco do monarca. Vídeos apresentam a genealogia de D.Dinis, o Tratado de Alcanizes, entre outras imagens e documentos da época.
Moedas portuguesas e francesas-tornês, dinheiro e um gros tournois- ilustram as transações internacionais em franco progresso no reinado.
  • Tornês em prata 1279-1325       Gros Tournois 1226-1270 em prata     Dinheiros 1279-1325 em Bolhão
    Legenda do dinheiro ao longo dos tempos
LISBÔA - CENTRO DE CULTURA
A reconquista de Lisboa, em 1147, trouxe um considerável desenvolvimento económico. A cidade cresceu para fora da Cerca Moura e estendeu-se pelo vale da Baixa.Lisboa tornou-se um pólo comercial e cultural importante na Europa e a sua corte um dos maiores centros literários da Península Ibérica. A cidade medieval é apresentada por imagens e documentos que ilustram a malha urbana tardo-medieval, os ofícios e o comércio.
O TEMPO NARRADO PELA ARQUEOLOGIA
A intervenção arqueológica permitiu caraterizar a evolução da Baixa lisboeta entre a época romana imperial e a atualidade.
Registos visuais documentam passo-a-passo o processo de trabalho. Os sons evocam o período medieval, recriando o quotidiano dos mercados e dos ofícios de uma cidade em movimento.
DE FRAGMENTOS E ARTEFACTOS
Os vestígios da presença humana remontam a cerca de 2000 anos. Dos mais de 100.000 fragmentos cerâmicos recolhidos nas escavações arqueológicas, a maior parte pertence às épocas romana e islâmica. Os objetos expostos atestam a vocação comercial e marítima de Lisboa.Encontrados esqueletos e ossos.
Animações em 3D reconstroem virtualmente cada objeto, completando assim a informação sobre a sua forma, textura e função.
ARQUEÓLOGO ARTUR ROCHA
Responsável pela identificação da muralha de D. Dinis, partilha a sua visão sobre a importância do achado na história de Lisboa
"A muralha acompanhou a evolução da frente ribeirinha de Lisboa ao longo  de mais de quatro séculos e meio de história e hoje testemunha episódios tão distintos como as Tercenas de D. Dinis, a Judiaria Nova,o Paço Real da Ribeira, a Igreja Patriarcal de São Tomé, e inclusive, a reconstrução pombalina.

João Zorro foi um jogral da coroa de D.Dinis. Pensa-se que esta cantiga tenha sido composta por ordem do rei, por ocasião do lançamento ao mar de alguns barcos saídos dos estaleiros da Ribeira.
Estaleiro da Ribeira
MURALHA
Classificada como Monumento Nacional, a Muralha de D. Dinis é a única muralha medieval de Lisboa que pode ser apreciada e compreendida através de um Núcleo de Interpretação.
Ai flores, ai flores do verde pino... 
Assinatura do rei D. Dinis na pedra
Este inédito troço de muralha expões evidências materiais da história como o reboco original, tosco e degradado,da sapata, e-numa faixa superior bem definida-o revestimento do Paço Real da Ribeira, construído já no século XVI.
A Muralha de D. Dinis , com 700 anos é um monumento indispensável para compreender a história de Lisboa.Em finais do séc. XIII, Lisboa era um importante centro económico e de comércio sujeito a ataques vindos do mar. Para defender pessoas e bens, D.Dinis mandou construir uma muralha na zona ribeirinha da cidade.



Anterior a Cerca Fernandina, que ditou o seu progressivo abandono, a Muralha de D. Dinis esteve em uso durante cerca de 75 anos. Junto a ela desenrolava-se o doa-a dia das gentes e sentia-se o bulício próprio da capital do reino.Ao longo dos séculos, muitos edifícios aproveitaram a solidez desta construção para aí apoiarem as suas paredes, entre os quais o Paço Real da Ribeira construído por D. Manuel no período dos Descobrimentos.
Os sons encerram o espaço e remetem para os areais do Tejo, a força das marés, embarcações e o voo das gaivotas sobre o Tejo.

Sai já ao fechar das portas a cantarolar...

Me lembro quando o mar me avistou 
E mandou avisar 
Que a maré mais alta chegou 

Disse pra eu me cuidar 

Com as ondas que batem nas pedras de lá 

E eu fiquei a admirar 

Mais bela que a maior estrela do mar 

De longe eu vi você chegar 

REFRÃO 

Quando a brisa senti 

Meu rosto tocar 

E vi gaivotas sobre o mar 

Me lembro de você dizer 

Que só irão voltar 

Quando avistassem por ali 

A gente de novo a se encontrar 

Tudo então será 

O sonho ainda virá 

Verão eu e você  

Me lembro mais o dia passou 

E eu não te vi por lá 

Uma gaivota avisou 

Que a bela ia voltar 

Mesmo sem saber a hora e o lugar 

De novo eu fico a esperar 

Provido da força que move este mar 

Eu fico só pra te encontrar 

 Fotos retiradas de um livro sobre História do Dr Hermano Saraiva


Fontes:
Folhetos da visita gratuita
http://www.bportugal.pt/
Fotos http://delisboaparaportugal.blogspot.pt/
http://pt.slideshare.net/JooSoares3/urbanismo-pombalino-15451554

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