sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Azulejaria em Lisboa...Perdida, sempre a perder-me !

Lisboa jamais foi a cidade onde quis viver e onde me quis perder…Pelo amor a Coimbra, a terra minha amada, e em fase tardia o almejado e sonhado Porto, a escolha certa!
Mas Lisboa acaba por ser a cidade que me acolheu na década de 80, onde comecei a trabalhar na Avª da Liberdade, no Banco Pinto Sotto Mayor, para em poucos meses me fazer chegar ao coração da Rua do Ouro, foram 12 anos, curiosamente o meu número aziago... Um tempo de vida apressada a cumprir horários, sempre em passo corrido do rio para o barco  e vice versa, numa  idade de vaidades, sem olhar para quase nada...
A temperança quis acentuar com o passar dos anos a minha especial atenção a dar à cidade, interesse que cresce  a cada dia nos últimos dez anos ...Porque gosto de ser generosa com quem me faz feliz, não me canso de mostrar Lisboa.Seja nestes últimos tempos por estar mais livre, em idade madura, mas também por sentir da parte da autarquia o movimento acelerado giratório em torno da revitalização do seu património, mas também quero acreditar que o seja pelas mensagens denunciantes por parte de gente atenta com criticas construtivas que neste agora aqui se mostra veiculo fácil , solvidas em tempo quase recorde-, resulto de não ser apenas coincidência, mas antes haver alguém empenhado, dotado de bom senso e atento a Lisboa, com cargo de poder e vontade em distinguir a urgência de fazer bem feito -, a poda da "oliveira do Saramago" (esteve quase a secar) buraco  a norte do cais das Colunas(deixado depois das obras), buraco de acesso a um cais, sem sinalização a caminho do Cais do Sodré que se mostrava  perigoso e,...Não pode ser como disse só coincidência, da minha parte só lamento não auferir-, e disso sinto merecia, pelo olhar atento a Lisboa e aos seus buracos! 
Ainda são muitos os imóveis em abandono pela cidade, mas outros tantos a ser intervencionados, quarteirões pombalinos inteiros, na certeza em prevalecer a riqueza destes edifícios de valor arquitetónico herdado, tão a meu gosto, pelas imponentes fachadas de varandas debruadas a ferro forjado, ornadas de portas grandes e pequenas, janelas, janelões e óculos, tamanhas obras de cantaria, em infinitas paredes repletas de bela azulejaria em monocromia ou policromia!
O mesmo ritual que se assiste no quotidiano nos bairros típicos, plantados pelas colinas, de casinhas minúsculas, de beleza ingénua de quarto esconso, encravadas por entre escadinhas, ruelas e travessas com Alminhas, ou oratório em azulejo, para nos largos  se abrirem igrejas e nelas nunca faltam onde nunca faltam belos silhares -, aqui vive gente modesta e simples, que se mistura em harmonia com novos inquilinos estrangeiros,lhes acham graça no cultivo da horta biológica em caixotes e embalagens, ao sol  a crescer nas parcas varandas estreitas, de duplo beirado, tendo o Tejo como companhia, na certeza de manter a silhueta, por tanto subir e descer escadas "tiro" para se chegarem à mansarda, cave, ou pátio, onde se respira e canta o fado em cada esquina, e vive intensamente os festejos do Santo António, sem faltarem altares, obras de velhas e crianças, sentadas no chão na calçada ao sol, esperam ansiosas pela esmolinha " Senhora dê um tostãozinho para o Santo António" por entre desfile de  bancas  corridas improvisadas de madeira, cobertas a plástico, que as instalam em cada canto, e por todo o lado avio de sardinhas e taças de arroz doce...Num vaivém de gentes, para cima e para baixo, de copos nas mãos, e altifalantes de  música aos berros, gente perdida em nevoeiros de fumo a peixe e manjerico, de rostos esbatidos em sorrisos e gracejos, abarrotam de tamanha alegria!
Aqui nesta Lisboa ouvi de um colega de seu nome -, Imauz, como sendo mulher abençoada de genes fenícios, confesso jamais esqueci o elogio, fato que me deixa hilariante de vaidade (?), porque sinto que, tal como os fenícios definiam Lisboa -, segundo uma teoria de Bochart não comprovada, Lisboa é neste agora o meu Porto Seguro ("Allis Ubbo").
Rara a semana que não parta a caminho de Lisboa, onde sempre  revejo novos olhares, cheiros, descobertas, e gentes, nesta cidade que me deixa completamente rendida, mais apaixonada e perdida, na vontade de aqui em definitivo morar, valores e paixões, teimosamente exalto no testemunho, nas minhas cronicas. Mas nunca, jamais, me perdi na cidade, sempre tive a noção das coordenadas. Sustos, só apenas um em 80, ao querer atravessar a Avª 24 de julho então de quatro vias com o eléctrico, de onde desci para na minha frente ficar engasgada com a beleza de um edifício de boas cantarias finas, julgo estilo manuelino, (neste agora em fase de conclusão um grande edifício, julgo EDP, onde espero sejam repostas na fachada, ou então noutro local) na altura era um barracão, onde acabei por ir trabalhar nos CTT...Absolutamente cega  nas vistas, percalço por segundos, senti medo " de ser passada a ferro"... 
Tanta vez a passar a Rua do Alecrim, só terça-feira a descer, os painéis de azulejo à porta chamaram a minha atenção no convite direto para entrar. Um Museu! 
A loja abre-se em dois brutais salões num dos mais fantásticos antiquários de azulejos do séc. XVI e XVII, com hispano-árabes, pombalinos, até aos mais contemporâneos.Fundada em 2010, espaço fabuloso seja a certeza absoluta de amantes aqui encontrem abundância de objetos do passado, para se perderem na panóplia de azulejos, em azul e branco, amarelo e verde, e em policromia...
A preços fora de questão para País em recessão...100 a 150 € ! 
O que levanta supostamente um grave problema-, o justo equilíbrio do certo e do errado, no inevitável ser possível desaparecer mais património, na mira de se ganhar dinheiro fácil, em momentos de recessão, pessoas de laços desenraizados dos valores do nacionalismo!
Dispersas peças em pedra, almofarizes de vários tamanhos, painéis de azulejos de estilos e épocas diversas em todos os tamanhos,  albarradas, e também uma novidade de painéis feitos com fragmentos de azulejos partidos, colocados a esmo-, uma nova arte contemporânea, muito em voga na decoração de casas minimalistas por 800€...Afinal tantas preços!
Pinhas de todos os tamanhos (as primeiras na mesa em branco com as folhas em azul e da mesma cor debruadas pelo dorso da casca, assinadas "Santos Mártires Aveiro"  sempre que se fala nestas peças, o hábito de se atribuir fabrico ao norte; Devezas, a Santo António do Vale da Piedade, e afinal Aveiro também as produziu. Estátuas de porte imponente em bom esmalte branco que constam no catálogo da Fábrica das Devezas; Jarrões de tampa  em jeito de vasos, ornados a grinaldas de vários tamanhos-, peças em faiança que foram de platibandas de casas e prédios, aqui se mostram em exposição deliciosa tão perto do nosso olhar, sendo que desde sempre apreciadas nas alturas...
Não falta a cerâmica de Bordalo Pinheiro, das Caldas, muito presente com os famosos "pratos à la palisse" na simbiose à mistura com outra cerâmica contemporânea, que conheci nos anos 70, em cores fortes  a sangue  vermelho intenso e escorridos.
Uma terrina de faiança de produção Coimbrã, pintada com flores, serve para guardar pertences, que assim na montra ilude que seja para venda...
Um belo exemplar da Fábrica do Rato-, um cão-, obra-prima que se pode adquirir pela módica quantia de 5.000€, cujo pedestal em esmalte branco de laivos a azul, em marmoreado, o animal de pêlo relevado, bestialmente bem conseguido, e ainda mais bem pintado, ao meio da testa uma mancha em branco, mais parecia o animal estar vivo! 
Claro a fábrica onde se formavam os pintores!
Muito azulejo relevado fabrico do norte-, Massarelos e outras fábricas, ainda revestem muito casario , património a preservar, na Ribeira do Porto, Anadia, Ovar,Torre de Moncorvo e,...

 















Azulejos de padrão hispano árabes ou mudéjar. Corda seca.Séc. XV- XVI. Havia um painel de quatro azulejos desta época,reconheci do último leilão, julgo do Correio Velho, em verde, aliás nunca vi nada igual, pela sobriedade, magníficos.
As pinhas da direita Santos Mártires de Aveiro
Amarelos e azuis e brancos...
Um mundo de escolhas de muita qualidade
Quadros, mobiliário,ferro,bibelôs, descubra por si...
Como se constata não só nos azulejos se esgota o mundo da d'Orey Tiles, sendo também uma referência nas faianças, e no restauro de azulejos, dos seus painéis.
Um mundo de singulares azulejos mudéjares (ou hispano-mouriscos) e painéis indianos, que tantas vezes  o visitante confunde com azulejos portugueses...

Os azulejos sempre foram utilizados de uma forma muito original em Portugal. Mesmo que tenham uso noutros países, como Itália, Espanha, Turquia ou Marrocos, os azulejos não têm, em nenhum outro país, o mesmo simbolismo nem a mesma relevância da expressão artística nacional. Em Portugal os azulejos são usados para decorar interiores ou fachadas de casas ou igrejas. Tiveram uma intervenção poética na forma arquitectónica de Lisboa (e outras cidades Portuguesas). 
Foram submetidos a várias influências, desde a tradição islâmica às influências holandesas, o que moldou e mudou a arte de criar azulejos, as suas características e a sua utilidade.  

Há poucos lugares no mundo que se podem orgulhar de manter a tradição e uso artístico dos azulejos. Cada grupo de azulejos (de "azzelij" a palavra árabe que significa pedra polida), contam uma história ou retratam uma tradição.
A melhor maneira de conhecer esta bela e singular forma de arte tradicional Portuguesa, é caminhar pela cidade, visitar igrejas, ou visitar o Museu do azulejo, no Convento da Madre Deus.
Na continuidade desta arte, para não a deixar morrer, existem ainda fábricas que reproduzem réplicas de azulejos antigos com muita qualidade: Fábrica Sant'Anna , e Fábrica da Viúva Lamego, entre muitas outras olarias, Azeitão e em Lisboa. No meu pensar a aquisição certa para se adquirirem exemplares-, porque os azulejos verdadeiros deveriam permanecer nos seus locais, onde um dia foram encastrados, à laia da requalificação dos imóveis antigos que tem a obrigatoriedade de permanecerem com as fachadas originais, e na falta de azulejos são obrigados a mandar reproduzir iguais-, embora se note pelas cores atuais, substanciais diferenças, ainda assim mantêm-se na requalificação a traça azulejar.O certo!
Na terça feira tantas vezes a caminho da feira da ladra, desde que nasceu o meu neto, fico-me perdida pelas bóreas do norte da cidade...Para depois de volta a casa em caminhada, desta vez a subida ao Chiado descendo a Rua do Alecrim o meu olhar se perder, outra vez, tanta vez por Lisboa!
Azulejos com a espiga numa padaria do Martim Moniz.
Azulejaria da antiga fábrica Viúva Lamego e platibanda do prédio em remate da antiga fábrica forrada a azulejos
No largo do Intendente quase de cara lavada, este prédio aguarda a sua vez.
Painel na Portugália na Almirante Reis
Caminhando pela Graça...
Contraste do azulejo antigo com o moderno,minúsculo como se fossem peças de dominó.
Bairro das Colónias, platibanda em balaústre e fachada em azulejo
Loja Benetton ao Rossio, no seu interior revela um belo painel de azulejos a esmo na parede frontal que ladeia a escadaria interior. Muitos da Fábrica Sacavém.
Não faltam azulejos padrão, séc XVIII, XIX e XX em livre harmonia e policromia
Cara do anjinho , na recordação do miradouro do Convento de Almada, hoje Seminário

Constrange-me a falta de ética, a perda de valores que são realmente nossos, que todos devíamos ter a obrigação de honrar e orgulho em manter, e não o contrario com a crescente saída, todos os dias do País, a caminho do estrangeiro, a estes preços só gente estrangeira,de bom gosto leva estas preciosidades.

O certo passa pelas réplicas certificadas, como uso na Grécia e outros paraísos turísticos, salvo melhor opinar?
Se os Museus se agilizassem na harmonia do mesmo objetivo comum-, parceria com gente que gosta de percorrer feiras, sendo abençoada de feelling a varejar com faro peças especificas, e as adquirir a preço convidativo, porque já é possível, pela obrigatoriedade de haver fatura, assim a deseje o cliente final, no combate à fuga de raridades, que enriquecem novos colecionadores de particulares e turistas. 
A placa de ardósia "HORIGINAL" não sei se de propósito o erro na ortografia...

Esconde os azulejos padrão por baixo... 
Angariação de riqueza que só engrandecia ainda mais o País, no local onde deveriam permanecer-, nos locais ORIGINAIS e nos MUSEUS!
Mas claro os proprietários por motivos vários se livram dos azulejos em remodelações. Muitos tem ido acabar aos vazadores de lixo, encontrei em Belas muitos fragmentos de azulejos pombalinos...Mas também há trabalhadores que os tentam retirar com cuidado para depois venderem, há tempos de uma igreja, contou-me um operário...
Entre o ótimo e o bom, a venda é preservação, melhor que chegar o caterpillar, derrubar o imóvel e perder-se para sempre o espólio azulejar...
Por isso a temática neste ponto se revela um mal menor, no dito do povo um "pau de dois bicos!!"

Porque o que se constata no mercado ambulante e circula na internet é bem diferente, "a usurpação de património" vendido na maior parte das vezes sem registo de aquisição (?) por isso a preços simpáticos. Ainda há pouco tempo me oferecem um grande lote de azulejos pombalinos e arte nova por 50€, que foram património do Barreiro, simplesmente não os comprei...
Só de pensar o que aconteceu a outro colega que um dia fez uma boa compra de um grande lote de azulejos, e melhor venda-, que o novo dono reproduziu painéis, que circularam para venda na internet a preços exorbitantes. A denúncia do roubo pôs a judiciária em campo, quem sofreu foi o primeiro comprador que tinha o papel da compra, mas os dados do vendedor eram falsos de paradeiro desconhecido... No negócio o primeiro interveniente, quem ganhou menos na transação, ainda teve se suportar o tribunal, custas e honorários, na sorte dos donos nada exigirem, apenas a volta dos azulejos, mas só receberam os que sobraram...

Fontes
Algumas fotos retiradas do google
Azulejaria portuguesa

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