quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Aragão, apelido nobre em conversa solta na feira de velharias em Azeitão


Há muito que deixei de fazer a feira de velharias de Azeitão, voltei o mês passado em rota de passeio para me estimular para acontecer o regresso este mês. As novas obras de embelezamento na frente do jardim onde decorre o certame de velharias causa contratempo aos autocarros de excursões para estacionarem (?). Local turístico, que trás negócio à vila, deixou-me perplexa ao dar conta da chegada de um autocarro que ao entrar ao entroncamento virou à direita , para depois se ver obrigado a fazer marcha atrás para a estrada de onde tinha entrado, e assim virar à esquerda...no meu opinar havia espaço para terem feito um estacionamento para um autocarro que em nada colidia com o embelezamento efetuado, também mais à frente na antiga saída para a estrada nº 10, agora desativada, se transplantassem os plátanos para outro local depois de bem podados, que se mostram a caminho do céu, seria sítio ideal para se fazer novo estacionamento, aposta mais certeira (?). Renovada imagem de Azeitão, olhando à estética e aos seus valores (vinha, morango, faltarão as tortas(?) a vincar os marcos da vila, em destaque no mapa turístico que francamente gostei, sem deixar de olhar à impressão negativa que se retém dum tempo em que o povo foi adoçando casario a tudo o que era património, sem lhe dar a dignidade e valor que merecem no espaço-, flagrante a igreja a nascente adoçada a duas casas bem antigas, o cemitério enjaulado com o Museu e um Clube, na sua frente com a estrada distingui um muro sobre outro que não lhe achei serventia (?) bem poderia o espaço ser reaproveitado para usufruto da população com um banco de jardim (?), e o próprio lavadouro, embora renascido, não deixa de se mostrar incorporado em casario, o mesmo da Misericórdia em que apenas e só se distingue a fachada e,...erro crasso dum passado recente não deveriam continuar a ser perpetuados no presente, para em remate afirmar que as mudanças devem ser além do objeto de estudo fulcral contemplando sempre a opinião pública, no equilíbrio o bom senso, seja a discussão de prós e contras, para almejar o melhor para todos no presente, não descuidando a visão futurista.

Não sei se foi por ter havido o feriado na quinta feira que ditou um fim de semana prolongado, o Algarve diziam estar cheio, e o mesmo dos Fórum na azáfama das prendas de Natal, pelo que a afluência se mostrou escassa, a comandita de uma excursão de bolsos sem dinheiro, e outros à procura de coisa boa mas a baixo preço...reencontrei o Sr António "cigano de Portalegre", homem que no tempo sempre me defere cumprimento de respeito, a quem retribui ao elogiar o seu arado a pontas de sílex entaladas em tábuas de madeira, utensílio que veio do Alentejo, bem lhe disse que era peça para Museu, e ainda que em Setúbal ao meio da escadaria existe um igual... quando voltei para registar uma foto já não o vi, diz-me ele - a senhora quando elogia alguma coisa vende-se logo...
Ao meio da tarde mostrava-se a vendedora de estaminé na minha frente inquieta por pouco faturar, apesar de se ter estriado comigo, chega-se a mim  de porta moedas aberto a fazer balanço com a despesa do pequeno almoço, do lugar e do almoço com o filho, que nos interrompe a sussurrar ao ouvido "tenho as costelas pegadas às costas"... a mãe olha para ele e diz-lhe  " tens é uma grande barriga" - deixei-me muda a olhar sendo esbelto e seco de barriga...senti que demorou para lhe dar  5 € , mal os sente na mão num ápice desarvora, rematando ela  à laia de caiar que aquele dinheiro era referente a um disco que lhe vendera, sem lhe ter dado o dinheiro...na verdade viria a entender na continuada conversa solta que me dirigiu, apesar do meu estar impaciente, sem vontade de a ouvir (?), o que não é em mim nada normal, teria sido pelo seu falar apressado de muita palavra inteligível, e do sol àquela hora baixo, tinha de lhe bater pala continuada, para lhe poder dar atenção...notória necessidade em relatar desgraças da sua vida...dos negócios do marido que dão sempre para o torto, da carrinha vendida que o dono não averbou a pensar em a vender a terceiro pelo triplo,  que o soube pelo acaso de um dia a ter encontrado e ao afrontar o condutor a quem indigitou no dia seguinte a obrigação de irem mudar a documentação, sem antes a retórica a título de aviso - se não fosse, mandava aprender a carrinha...falou da pouca sorte do filho azarento nos empregos-, aquele rosto não me era alheio, seria de um tempo que o vi pelas feiras ... afinal foi um ano ao estrangeiro trabalhar nas obras, debalde as condições praticadas em muito País da Europa hoje em dia são de elevada  precariedade, além de pagar mal, não tem as melhores condições para acolhimento, o responsável juntou a família e o cão com outros trabalhadores, sem seguro de acidentes pessoais. Impôs novas condições ao patrão, que não aceitou, pelo que voltou a casa, atualmente na faixa dos 40 anos, a tirar equivalência no Centro de Emprego ao 12º ano com formação na Restauração e Bares. Veste-se de negro, de semblante místico, já leu o Livro de S. Cipriano... fatalmente o senti de bolsos rotos de notas e mal sentia o buliço das parcas moedas nas mãos, resulto da venda de algo seu, pela mão da mãe, apressado o via a caminho do café, sempre de cigarro na mão... 
A simples mulher desabafou dos azares com empréstimos no Banco estrangeiro, do engodo nas vendas e nas percas, afirmando aliviada que dorme descansada, sem dívidas. Falou da  sogra, entretanto falecida, afirmando que era de sangue nobre, assim o pronunciou-, uma Aragão dos lados de Vilar Formoso, cujos anéis brasonados deu à sobrinha... julgo pela doença da sogra (?) surgiu a razão da mudança de casa da margem norte para a sul, sem favor viram mais de 75 vivendas, até se decidirem,debalde a sogra achava  o nome da terra escolhida - Quinta do Conde, desprestigiante, no mesmo outros assim o pensam, reforçava-, ora só pode ser gente de mente curta, a pensar no tempo dos grandes senhores donos de quintas cujos trabalhadores viviam em pátios em redor dos seus solares ...afinal como tantos nesta região, depois de terem gasto a fortuna dos pais no estrangeiro e em Lisboa, e sem vontade de continuar a investir na agricultura, viram na venda das suas quintas a saída para realizar capital fácil. O que me transpareceu pela conversa é que a dita senhora Aragão, foi uma brasonada e seria quase falida (?), que em vida supostamente nunca se dignou vistoriar o património herdado, para agora os descendentes, pela mesma razia de dinheiro(?), se quiserem terão de se disponibilizar para o procurar, mas não sei se o acharão... seria a dita Aragão uma descendente da família da Rainha Santa Isabel de Aragão(?), que em pleno século XXI se mostrou de pêlo na venta a desprestigiar a toponímia da Quinta do Conde, seja tal determinado pela falta de cultura e conhecimento, porque a tê-la saberia a história da Quinta do Conde da Atouguia, e ainda, que na margem sul e também norte, há muita quinta que foi urbanizada em que algumas o seu nome permanece na toponímia, o certo, e outras não, perdendo-se assim a história do seu passado para os presentes e gente vindoura, porque os valores do passado deveriam ser respeitados.
Remato em poucas palavras, ao longo da vida fui tendo conhecimento de muito brasonado falido, sem eira nem beira, nesta feira já bis, embora aqui não tenha falado com a primeira pessoa, antes por afinidade, mulher simples de cariz pacato, na verdade em todos os nobres sem condado que fui conhecendo por Lisboa, o primeiro no BPSM, só lhe restava o anel no dedo a que se seguiram outros, na maioria sinto um semblante altivo, vaidoso e cheio de presunção, uns frudicas, mas este abençoado de olho azul, cabelo negro, pacato, pobre rapaz!

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