quinta-feira, 1 de junho de 2017

Ansião no Ribeirinho dando aula a céu aberto a falar de cultura !

Ribeirinho - o gracioso nome dado ao ribeiro de caudal pequenino  
 O célebre poço de chafurdo do Ribeirinho dito da Ameixeira
Ribeirinho Lugar  abrigado, soalheiro, e altaneiro nascido às Lapas, no costado abrigado norte do Casal Soeiro e da Ameixieira 
 Rua das Lapas , o nome lapas, seja relativo ?

Testemunho de Leonel Ocsisnarf
Na Rua das Lapas na ultima casa ao cimo, viveu lá o Santito das Lapas, será por isso o nome ? Será que em tempos antigos se explorava a pedra (lages,lapas) para eiras naquela zona ? 
O início do lugar do Casal Soeiro é conhecido por Lombo das eiras inscrito na entrada de um portão da casa dos pais ( já falecidos ) do Manuel Francisco da Ameixieira.
 A calçada portuguesa na  Rua das Lapas encontra-se assim...entupida de ervas!
 
Quando percorria a calçada na minha primeira vez, senti que ainda persiste a mística do seu casario em pedra, com uma bela casa e o seu balcão, carateristica da região do Maciço de Sicó,  com o tradicional "V" invertido acima do lintel da porta , herança deixada pelos romanos e árabes. E portas abertas  com ombreiras em calcário cujo lintel há muito caiu, ainda assim se mostra a ruína bela com marcas dum tempo de antanho a dar espaço aos  líquenes que ali alapados se mostram em brilho, branco e amarelo e sobressai o buraco onde a língua da chave da fechadura trancava a casa.

Testemunho de Leonel Ocsisnarf
Adorei recordar as casas em pedra que conheci algumas ainda com telhado !
O João Mendes Fajó ( Tojo) é o pai da D Alive Tojo que trabalhou no Centro de Saúde de Ansião uma das poucas moradoras do Ribeirinho.
O Manuel Simões deve ser avô do Fernando estucador ( vive no Maxial) e avô da Cristina Ferreira que vive no Cimo da Rua ( trabalhou na Cuf em Ansião )
Quer o João Mendes quer o Manuel Slmões estiveram no Brasil diz a minha mãe que  tem 92 anos e nasceu também no Ribeirinho.

Numa pesquisa encontrei os seus passaportes  na procura de melhor vida, não sei se voltaram

Passaporte de João Mendes Fajó - Apelido que me é desconhecido
1912-11-28 Idade: Não mencionada
Filiação: José Mendes Fajó / Emilia de Jesus
Naturalidade: Ribeirinho / Chão do Couce / Ansião
Residência: Ribeirinho / Chão do Couce / Ansião
Destino: Santos ( Brasil )

Passaporte de Manuel Simões 1908-09-21 Idade: 19 anos
Filiação: Bernardo Simões / Barbosa de Jesus
Naturalidade: Ribeirinho / Chão de Couce / Ansião
Residência: Ribeirinho / Chão de Couce / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve
Outra porta ainda resistente mostra-se florida onde a única papoila  é  rainha, por ser vermelha no meio do amarelo. Esta porta apresenta uma particularidade  acima do lintel a nesga e outro lintel mais curto, para que serviria? Além de suporte á parede para entrada de ar, e claridade? Sem medo de cobras vindas do exterior, ou para guardar a chave por dentro, sem medo de ladrões...
 Encontrei este mesmo uso noutra casa  em Albarrol e há outra no Bairro de Santo António
Mais portas abertas...
Onde as ervas  nascem sem pedir licença, nem hesitei  à minha selfie...
 Bela casa tradicional com balcão e o "V" invertido acima do lintel da porta.
 
 Na lateral norte ainda visíveis os suportes em pedra que sustentavam os barrotes de um alpendre?

Testemunho de Leonel Ocsisnarf
Muito próximo desta casa existe uma eira comunitária muito antiga que só se lá vai por uma Quelha mas agora com ervas e silvas torna-se difícil . 
Vista para sul ao longe uma eira comunitária  em pedra
A  eira  comunitária do Ribeirinho
 O costado a sul na maioria com vegetação mediterrânica com salpico de eucaliptal...
Salpicos de eucliptal 
Outra bela casa 
A riqueza da simplicidade da pedra com a janela na beira do telhado, a reportar a minha lembrança para a escola primária, as primeiras casas que desenhei eram assim...
 Uma janela na lateral com as tradicionais pedras, os piais para os vasos de sardinheiras
 O que resta de um alpendre já adulterado com o pilar em tijolo resiste a telha mourisca
Encontrei este arbusto que não sei o nome, florido em cachos em lilás que me reportou para a sua antiguidade, noutros tempos havia poucas espécies de flores, não é como hoje que se compram. Havia assim um igual na antiga estalagem da Ti Maria da Torre no Bairro de Santo António.
Maravilhosa a sensação que a caminhada constantemente oferece em recordações da minha infância, que me fez sentir ainda mais jovem e feliz por as ter guardado na minha memória coletiva.
Esqueleto de uma árvore hirta de seca o poiso a balanço para tirar água dum poço?
Lamentavelmente hoje o Lugar encontra-se quase em total abandono, sendo objeto de cobiça de estrangeiros com uma visão e cultura diferente; se mostram mais amantes da natureza, dos seus silêncios, da paz que aqui irradia  ao nascer ou pôr do sol, precisamente aqui onde se mostra de raios multifacetado, em cores quentes, estonteantes imensamente abrasador em  rasto deixa no horizonte uma profunda imagem a fugir dos vales e dos costados crespos salpicados  de pedra branca até se finar para os lados do Vale da Vide...Tanta história,sem aparente atenção ao seu pasasdo e o que deve ser a preservação  do património cultural , porque será? Não acredito que não lhe conferirem o seu valor, seja outra a  razão,tenham emigrado...Os novos inquilinos deste Lugar mítico não respeitam a ancestralidade e deviam, obviamente com a sua presença, algo muda nesta paisagem, e disso francamente não aprecio. Não me choca a vinda de novas pessoas, o que me choca é aposta em mudanças que não fazem parte do que foi o contexto  exterior, claro que por dentro podem alterar a contento, já o exterior deviam amnter as traças e as adulterando a gosto, se perde a carga e magia que teve em seculos e devia continuar, porque faz parte da Cultura, da nossa de Ansião. 
A Câmara e a JFCC deveria ter um papel predominante neste património em especial, em não o deixar alterar na sua traça original, muito menos ser caiado, o que não invalida como já acima referi o seu interior, cada um possa fazer o que quiser, mas por fora a arquitetura devia permanecer em  memória futura , no meu opinar. 

Segundo o Leonel Ocicnarf
A ponte pedonal que existia  ao fundo da agora Rua das Lapas, há mais há 50 anos  o ribeiro corria de Novembro a Abril, e nos passávamos pela ponte muito artesanal. Nos finais dos anos 70 alcatroaram e alargaram a estrada do Casal Soeiro e a ponte desapareceu. Que saudades!
Eram 4 esteios em pedra na vertical que suportavam outras 4 ou 5 na horizontal , com cerca de não mais de 80 cm de largo .Era uma obra que a autarquia poderia reconstruir ( para memória futura.) 
 
Casa com parede desmoronada
  Vista sobre o vale e o costado onde aqui o pôr do sol  acontece de matar a respiração!
 Bom gosto nas suas gentes, num recanto um banco feito num tronco de oliveira
Amei ter percorrido o Lugar do Ribeirinho dando aula a céu aberto a falar de cultura,  aos que me acompanharam; a minha comadre Odete, a sua irmã Arminda e ao meu marido. Não sei se gostaram, porque gostos não se discutem, senti  motivação do olhar destacado ao passado importante aqui vivido e da riqueza patrimonial e cultural que se devia proteger e preservar .
Bem hajam pelo privilégio de me terem acompanhado.

Fontes
Testemunhos de Leonel Ocsicnarf
Arquivo distrital de Leiria

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