segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O ansianense Mestre jesuíta Dr António dos Santos Coutinho!

Certo dia, liga-me a minha filha, do Santuário de Nossa Senhora da Lapa – “mãe adivinha onde estou?” Resposta escorreita - Sernancelhe, onde faleceu o obreiro da Igreja da Misericórdia de Ansião, pela leitura do livro de 1986 do Padre Coutinho e  graças a um documentário televisivo, há pouco mais de um ano, que conheci a requalificação da Residência Jesuíta do Santuário da Lapa, iniciativa há 25 por um padre que  meteu mãos à obra. Desconhece-se a a Imagem mais antiga da Senhora da Lapa  encontrada na gruta é  a que se encontra no  Museu.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa no concelho de Sernancelhe na Diocese de Lamego 

Foi implantado em planalto inóspito de penedos graníticos quase estéril a rejuvenescer com uma  lenda ocorrida em 1498.

Versões «https://autocaravanista.blogs.sapo.pt/senhora-da-lapa-sernancelhe-viseu de Abílio Louro de Carvalho (...) general mouro, Al-Mançor, pelo ano de 982, atravessou o Douro para a margem esquerda. Havendo destruído Lamego, progrediu para Trancoso. No trânsito arrasou o Convento de Arcas, onde martirizou muitas das religiosas. Atravessada a serra de Pêra, chegaram ao convento de Sisimiro, sito na actual Quinta das Lameiras, freguesia de Pinheiro, concelho de Aguiar da Beira. Parte das religiosas sofreram o martírio, outras escaparam levando consigo uma imagem de Nossa Senhora, procurando abrigo nos matos por onde se embrenharam. Acharam a gruta ou lapa, onde guardaram a dita imagem que ali resistiu à agrura dos séculos, durante uns 515 anos.»

» (...) Em 1498, uma pastorinha chamada Joana, muda de nascença, da freguesia e lugar de Quintela, andando a guardar o gado de seus pais, lembrou-se um dia de entrar ali na gruta e encontrou a santa imagem que meteu na cesta onde guardava as maçarocas e a merenda. A imagem era de pequena dimensão, mas muito formosa. E a pastorinha guardou-a e enfeitava-a como podia e sabia, com as mais lindas flores que topava nos campos ou no monte. Ao voltar a casa, no fim do dia, cuidava da roupa da imagem. As ovelhas, apesar de fartas e nédias, eram apresentadas quase sempre nos mesmos lugares, o que motivou acusações por parte de outrem à mãe de Joana. Tudo isto e as teimosias da filha a fizeram enervar e, sem mais, tirou-lhe a imagem, que teve por uma vulgar nena ou boneca, e atirou-a ao lume. A menina, transida de pavor, gritou; “Tá! Minha Mãe! É Nossa Senhora! Ai! Que fez?”. A fala começou a prender irreversivelmente a mocinha pastora e a mãe ficou com o braço paralisado, transe de que se curou com a oração de ambas.»

« (...) foi permitido aos Jesuítas, a título transitório, que dirigissem o culto da Lapa, auxiliando os fieis e atendendo-os de confissão. Porém, no ano de 1575, o padroado da Abadia de Vila da Rua passa a jurisdição e posse da Coroa Portuguesa, com o curato de Quintela que lhe estava adstrito e em cujo limite se encontrava a Ermida da Senhora da Lapa. Em 1576, sob autorização do Papa Gregório XIII, D. Sebastião, deu a Igreja da Rua, com metade dos seus réditos, ao Colégio de Jesus, que os Jesuítas fundaram em 1542 e possuíam em Coimbra, ficando-lhes a pertencer também o Oratório da Lapa. Efectivamente, D. João III tinha-lhes entregue o Colégio das Artes, com a promessa de um dote, para côngrua sustentação, promessa que não satisfez na totalidade, cabendo o ónus do cumprimento ao seu sucessor. Vindo estabelecer-se na Lapa, os Jesuítas dão corpo, com o auxílio de particulares, à edificação do Santuário e do Colégio, obras iniciadas no século XVI. O Colégio, junto ao Santuário, começou nos finais do século XVII, mais exactamente em 1685 e ficou sempre obra não acabada. O complexo religioso e escolar afirma-se progressivamente como um prestigiado e prestigiante santuário de peregrinação nacional e um notável pólo de de aquisição e consolidação de cultura. O colégio locupleta-se de escolares. E a Senhora da Lapa impõe-se como um centro de irradiação do culto à Virgem e como fermento de mais povoações, cidades, dioceses e santuários um pouco por todo o mundo, sobretudo pelas inúmeras estâncias por que andarilharam os padres jesuítas. »

 « em 1576, a Lapa foi confiada aos Padres da Companhia de Jesus, sediados no Colégio de Coimbra onde vieram a construir no planalto inóspito de penedos e fraguedos um Santuário com a gruta de Nossa Senhora da Lapa a ficar dentro de portas e ainda um ColégioA Senhora da Lapa, em Portugal e Santiago de Compostela em Espanha chegaram a ser os dois Santuários mais importantes da Península Ibérica até à expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal em que ficou ao abandono». 

Até ao inicio do século XX foi frutifico ouvir falar de Milagres onde o profano e a religião cristã se confundem em brutal simbiose para estranhar a família jesuíta tão crente abençoada de sapiência intelectual e filosófica os cimentar com facilidade. Curiosamente a Imagem da Senhora da Lapa parece imitar a imagem do Menino Jesus de Praga, ao se mostrar  ingénua, com as vestes rematadas por lacinhos. Se a lenda reporta a 1498 aventa ter sido trazida por judeus em fuga do êxodo de 1492 de Espanha, como outras achadas escondidas entre pedras...Como o sítio da Senhora da Luz de Pedrogão Grande. 

De imediato pedi à minha filha para estabelecer abordagem com a Irmã Lídia Lemos, o que fez em boa hora. Mais tarde esta veio a solicitar ajuda a outro jesuíta - Abel Estefânio. Então doente, de realçar o seu exaltado contributo, por o conhecido ser escasso. Empenho dedicado, que muito se agradece e, se descrimina: 

No Livro Loreto Lusitano, Virgem Senhora da Lapa, do Padre António Cordeiro, de 1719 reeditado em 2019, páginas 59, 85, 1111 (…) o Padre António dos Santos era doente antes de chegar à Lapa onde melhorou, vivendo muitos anos, tendo sido Superior da Residência da Lapa.

Era desconhecido o fato de ser doente, por isso deixou Lamego.

Na obra Synopsis annalium Societatis Jesu in Lusitânia, de António Franco de 1726, página 418, refere o ansianense, falecido a 25 de dezembro de 1704, era coadjutor espiritual, possuidor de uma rara gentileza, de uma grande tendência para o desenvolvimento espiritual, incansável para ouvir em confissão o grande número de peregrinos que acorriam à Nossa Senhora da Lapa e auxílio dos doentes e pobres.

Segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho nos eu livro de 1986  «movido pelo zelo caritativo e com um forte espírito de serviço para com os pobres e necessitados, foi assistir soldados vitimas de doenças infecto- contagiosas, que acabou por contrair, vindo a morrer em 25 de dezembro de 1704, na residência de Nossa Senhora da Lapa em Quintela da Lapa em Sernancelhe junto ao Santuário do mesmo nome, e no qual assiduamente ouvia os peregrinos em confissão, pois, na Companhia, tinha o grau de coadjutor espiritual.» 

No Arquivo da Universidade de 21 de novembro de 1701 (…) Processo na Câmara da diocese de Coimbra, à autorização pedida pela Misericórdia de Ansião ao bispo para se poder celebrar missa na Igreja que tinham acabado de construir. Dizem o provedor e mais irmãos da Mesa da Misericórdia da villa de Ancião que por the o prezente se não ter acabado a igreja da dita Santa Caza se não celebrou nella o santo sacrifício da missa. E porque os supplicantes a têm acabado e preparado com todo o ornato necessário e está capaz para nella se celebrar o dito santo sacrifício da missa, o que não pode ser sem licença de Vossa Ilustríssima Senhoria (…) Reverendo arcipreste do Alvorje fui a villa de Ancião fazer vestoria na igreja da Mizericordia e achei acabada com muito aceo e perfeição no tocante ao material de paredes, altares, púlpito e portas, em que não ha indecencia alg˜ua, e por ditto de muitas pessoas das principaes da ditta villa me constou que o doutor António dos Santos Coutinho, conigo em Sée de Lamego se tem obriguado a dar para ornato do altar-mor dois frontaes, duas vestimentas com tudo o neceçario para se dizer missa e hum calix de prata sobre dourado e galhetas de prata e que a isso se obriguara o ditto conigo por h˜ua escriptura que esta nas notas da ditta villa e que se obrigua também a dar sem mil reis para renderem sinco perpetuamente para a fabrica da ditta igreja, por cuja cauza me parece que se lhes deve conceder aos irmãos da Mizericordia a licença que pedem. Alvorge, em 3 de Março de 1702. Passe licença para o reverendo parocho benzer a igreja de que se tracta por evitar o damno que lhe pode rezultar de pella falta de se não dizer missa perder h˜ua grande esmolla de hum devoto de que consta na informação atras, querem os supplicantes aprezentar ao capitão Manoel Godinho da ditta villa e este obrigar-se por termo a restituir o ditto dinheiro quando delles sua Illustrissima lhe não fassa esmolla quando se recolher (…) Fazendo depozito na Câmara do marco de prata que pertence a sua Illustrissima, que se lhe restituirá sendo-lhes pello mesmo Senhor remetido. 

Obscuro, ter sido o vigário do Alvorge, o Dr. Francisco Freire da Silveira a inspecionar a Igreja. Mais adiante temos um registo de batismo aos 10 dias do mês de Março de 1711 de minha licença, o Doutor Francisco Freire da Silveira vigário do Alvorge. Diz-nos que o vigário sendo afeto ao Alvorge,  esteve de empréstimo na paroquia de Ansião, em 1702 quando fez a vistoria a igreja da Misericórdia e ainda vigorava em 1711.

Curiosamente encontrei  esta última informação na mesma altura que recebi a informação de Abel Estefâneo 

Obra Portugaliae Monumenta Misericordiaum de Maria Marta Lobo de Araújo e José Pedro Paiva  excerto https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8636/1/PMM_Vol6.pdf 1701, anterior a 21 de Novembro, [Ansião] a 1702, Abril 3, Coimbra 

Processo elaborado na Câmara Eclesiástica da diocese de Coimbra, relativo à autorização pedida pela Misericórdia de Ansião ao bispo daquela cidade, para se poder celebrar missa na Igreja que tinham acabado de construir. Arquivo da Universidade de Coimbra – III/D,1,6,1,13, doc. 20. Dizem o provedor e mais irmãos da Mesa da Misericordia da villa de Ancião que por the o prezente se não ter acabado a igreja da dita Santa Caza se não celebrou nella o santo sacrifício da missa. E porque os supplicantes a tem acabado e preparado com todo o ornato necessario e está capaz para nella se celebrar o dito santo sacrifício da missa, o que não pode ser sem licença de Vossa Illustrissima Senhoria. Pedem a Vossa Illustrissima Senhoria lhe faça merce conceder licença para que na dita igreja se celebre o dito santo sacrifício da missa. (Rubrica). O reverendo arcipreste do Alvorje fazendo vistoria informe. Coimbra, em mesa, 21 de novembro de 1701. (Assinaturas) Teixeira. Carvalho. Antam.

Illustrissimo Senhor. Fui a villa de Ancião fazer vestoria na igreja da Mizericordia e achei acabada com muito aceo e perfeição no tocante ao material de paredes, altares, pulpito e portas, em que não ha indecencia alg˜ua, e por ditto de muitas pessoas das principaes da ditta villa me constou que o doutor António dos Santos Coutinho, conigo em a Sée [fl.1v.] a Sée de Lamego se tem obriguado a dar para ornato do altar mor dois frontaes, duas vestimentas com tudo o neceçario para se dizer missa e hum calix de prata sobre dourado e galhetas de prata e que a isso se obriguara o ditto conigo por h˜ua escriptura que esta nas notas da ditta villa e que na ditta escriptura se obrigua tambem a dar sem mil reis para renderem sinco perpetuamente para a fabrica da ditta igreja, por cuja cauza me parece que se lhes deve conceder aos irmãos da Mizericordia a licença que pedem. Alvorge, em 3 de Março de 1702. 

Passe licença para o reverendo parocho benzer a igreja de que se tracta e nella se poder diser missa. Coimbra, mensa, 17 de Março de 702. (Assinaturas) Teixeira. Carvalho. Simões. Francisco Theive da Silveira. 

Querendo os supplicantes tirar a licença na forma do despacho retro, lhes pede o escrivão da camara sete mil reis dezasseis tostois para elle e hum marco de prata para o Illustrissimo Senhor Bispo, sendo que o Illustrissimo Senhor Bispo para ajuda da dita igreja deu a sua esmolla e de prezumir he que tambem dê por esmolla o ditto ma[r]co de prata, porque conhece a muita pobreza da dita Santa Caza da Mizericordia, e para isso determinão os supplicantes recorrer ao Illustrissimo Senhor Bispo. E no entanto, por se não dilatar o dizer missa na ditta igreja, por evitar o damno que lhe pode rezultar de pella falta de se não dizer missa perder h˜ua grande esmolla de hum devoto de que consta na informação atras, querem os supplicantes aprezentar ao capitão Manoel Godinho da ditta villa e este obrigar-se por termo a restituir o ditto dinheiro quando delles sua Illustrissima lhe não fassa esmolla quando se recolher. Pede a Vossa Merce lhe faça merce mandar que obrigando-se o ditto capitão por termo na Camara, o escrivão della lhe passe mandado de licensa na forma do estillo. (Rubrica).

Registada em mesa. (Assinatura) Teixeira. 

Fazendo depozito na Câmara do marco de prata que pertence a sua Illustrissima, que se lhe restituirá sendo-lhes pello mesmo Senhor remetido. Passe licença, Coimbra, mensa, 3 de Abril de 1702. (Assinaturas) Carvalho. Caldeira. Antam. 

Passada a licença aos seis de Abril de 1702

Igreja da Misericórdia de Ansião

                             

Nas Memórias Paroquiais de Ansião a informação do juiz Manuel Rodrigues em 1721  «o Doutor António dos Santos Coutinho cónego que foi da cidade de Lamego fez uma igreja de Misericórdia que não tinha rendas à qual se anexou uma albergaria de Nossa Senhora da Conceição (...) instituiu um Morgadio em que parte dele estava na vila, sendo seu administrador Manoel dos Santos da Guarda, termo da villa do Rabaçal, que auera 25 annos que foi instituído». Pela dedução é apurado o ano de 1696, quiçá o da sua chegada a Ansião (...)  " mandou erigir uma Capela  entre Santiago e Rabaçal" .

Retira-se da informação que o Morgadio foi  instituído em 1696, credível a poente de Além da Ponte, pelo chão na mão de descendentes; o meu quinhão e o da minha irmã. E a capela foi erigida na Junqueira, que teve frontaria inicial a poente. Então o limite do Rabaçal seria por ali e  anular a hipótese de ter sido a capela da Ribeira de Alcalamouque.

A estela de pedra na Igreja da Misericórdia refere-o 

                               

Doutor em Teologia, cónego magistral da Sé de Lamego e Provisor geral do seu bispado. Como encargo, Missas aos domingos e dias santos, pela sua alma e a dos fundadores e irmãos da Misericórdia de Ansião, assim como pelos seus pais e benfeitores da mesma Santa Casa.

Devoto, pela escritura da esmola de cem mil réis, a render cinco perpetuamente. Em 1706, um grande vendaval deixa a Igreja desativada e, a Imagem recolheu à matriz. A demora do seu reparo mais de 60 anos. Se havia farta esmola e outra a render, em que mãos andaram? Em março de 1769, o Padre Serra informa o bispado; já apresenta a Misericórdia com tudo o necessário para servir o culto do santo sacrifício da Missa.

Em vão a pesquisa do seu registo de batismo. Especula-se nascido por volta de 1650 e, aos 12 anos, ingressou no noviciado a 6 de maio de 1662, data avançada pelo seu descendente Padre Coutinho no seu Livro de 1986 « com o grau de coadjutor espiritual ouvia peregrinos em confissão e movido pelo zelo caritativo e com um forte espírito de serviço para com os pobres e necessitados, foi assistir soldados vítimas de doenças infeto-contagiosas, que acabou por contrair, vindo a falecer a 25 de dezembro de 1704».

Desconhece-se ainda se frequentou o Noviciado, na Residência da Granja dos Jesuítas de Évora, em Santiago da Guarda, ou em Coimbra. Contudo, ao ter instituído um morgadio com parte na vila  até à imediação do Rabaçal, se avente  tenha frequentado a Residência da Granja, a que se junta a escolha do administrador da capela da Junqueira, ser da Guarda. Sobre ele, não encontrei informação nos Jesuítas de Évora nem de Coimbra. Como não encontrei o seu registo de óbito. Na penumbra  se teve amparo na sua ascensão e tomada de cargo importante na Sé de Lamego, se atender a um  tempo com muitos indivíduos ordenados se mostrar ser superior aos lugares a ocupar. Foi Mestre, cónego magistral desse bispado,  com o papel de Provisor ( punia quem não cumprisse com a indumentária, barba e tonsura e passava cartas de cura. Os examinados ficavam descritos num livro, que daria ao escrivão da Câmara .A ele estava reservado passar licença para peditórios e cautelas com o selo do Bispo. Como o Provisor e ao Bispo estava permitido passarem licenças para a pregação entre outras funções). Vivência ao tempo do  bispo  que ali esteve até 1706 - D. António de Vasconcelos e Sousa, filho do 2.º conde de Castelo Melhor, com terras na Guarda, em Ansião . Em genealogia, abre-se perspetiva a costado da condessa de Vagos - D. Maria Coutinho do Senhorio de Abiul e terras na Comenda de Soure.  Também se conhece este apelido Coutinho  com um licenciado no Rabaçal.

O padre Coutinho no seu seu livro de 1986

« segundo uma tradição familiarmente conservada, viveu na casa senhorial defronte a igreja matriz e a ele também se deve a edificação da ermida da Rainha Santa Isabel, em Além da Ponte.» 

A casa senhorial, hoje palco da pastelaria Diogo, não existia na centúria de 600 do séc. XX. Foi mandada construir pelo novo-rico Manuel dos Santos Franco, com o ouro verde do Brasil. Uma forte possibilidade atendendo ao pedido de passaporte em janeiro de 1913 para o Brasil  de Augusto Maria Coutinho, levando a mulher Cecília e 5 filhos. No Brasil já estava o seu irmão Artur; em  supor  foi o Augusto quem lhe vendeu o lote e casa de família Coutinho, já que tinha necessidade de custear a viagem e se suprir no Brasil até arranjar emprego. E assim crer que a rica memoria familiar conservada do sítio da família Coutinho em 600, tenha sido ali onde o laureado Mestre nasceu e seus descendentes, mas, a casa que existe é que não.

Sobre a capela em Além da Ponte, a mim faz sentido dizer que foi erigida a marcar o inicio do Morgadio, para não se perderem as memorias da Rainha Santa Isabel, de quem era estremoso devoto como todos os jesuítas e, não apenas uma ao limite norte do fim do Morgadio. Ate porque ele tinha conhecimento da Feira Franca que lhe era dedicada na Constantina - debalde sem noticia que tenha lá ido tão pouco deixou esmola. Porque seria? Rivaliddae com a Confraria da Misericórdia onde os seus pais tinham papeis a desempenhar? O mais provável. 

 Em 1706 houve um grande vendaval que deixou desativada a Igreja da Misericórdia, ora estando na mesma direção da suposta existente em Além da Ponte, tenha também deixado esta capela, muito mais pequena, demolida. Porém por ser particular e o donatário já ter falecido em 1704, não foi mote de menção nas noticias do juiz em 1721, nem aposta de restauro pelos herdeiros. A capelinha que existe foi apenas erigida nos finais do séc. XIX e ao orago S. Pedro , só mais  tarde foi entregue, e não se sabe por quem,  um oratório com  Imagem da Rainha Santa Isabel. 

Lateral norte e tardoz da Albergaria que instituiu em Ansião adoçada à Casa da Misericórdia          Pelos telhados, percebe-se que a parte do portão foi acrescentada depois do aluguer em 1924, onde funcionou uma taberna.

Se analisar a estela - encargo, Missas aos domingos e dias santos, pela sua alma e a dos fundadores e irmãos da Misericórdia de Ansião, assim como pelos seus pais e benfeitores da mesma Santa Casa. Casa. Suscita os seus pais tiveram algum papel na Confraria da Misericórdia. A quem a tenha deixado a gerência da nova albergaria com apoio assistencial de enjeitados.       Na lateral existe a porta inicial, com a tranca da fechadura e uma montra que foi aberta nessa altura (1924) onde  se suponha foi  a janela da roda. 

No tardoz da albergaria 

No tardoz da Casa da Misericórdia e da sua Albergaria , houve as cavalariças e palheiros e naturalmente casario adjacente a pessoal que aqui trabalhava. Numa delas veio a nascer segundo  a São do Ti Estevão  Tojo, nos finais do séc. XIX -  João Gomes dos Santos. Foi emigrado ao Brasil uns anos e depois de regressado comprou um lote a seguir à casa onde nasceu onde  construiu uma vivenda de gaveto com a Travessa da Misericórdia  e a Avª Dr. Vitor  Duarte Faveiro. Casa de arquitetura graciosa ao estilo Português Suave que o dinheiro do ouro  verde do Brasil lhe proporcionou onde viveu os últimos anos de vida e faleceu, a sua filha Paulete. Era também pai do poeta mais célebre de Ansião - Políbio Gomes dos Santos, nascido em 1911 no r/c da casa onde funcionou o Posto da GNR. 

Conclusão 

Informação relevante, a depreender que o Mestre era doente, para ter deixado o cargo na Sé de Lamego e se transferir para desempenhar o lugar de Superior na Residência da Lapa, onde melhorou de saúde. De Sernancelhe, veio à sua terra - Ansião, pelo afeto ao comum topónimo Senhora da Lapa - o cerrado nascente do atual cemitério, antes em 1800, onde era foreiro da Quinta de S. Lourenço - António Caetano dos Santos Coutinho. Um seu ascendente.

Não foi incumbido por Dom Luís de Menezes, o Senhor de Ansião, por ter falecido em 1690. Não se vislumbra outra influencia , antes vontade própria no propósito de construir uma Igreja para a Misericórdia de Ansião. Sendo percetível que os seus pais eram confrades  com papéis na Casa da Misericórdia. Ao tomar conhecimento que a ermida de NSConceição que a servia, era pequena para atender enfermos, prestar sacramentos e receber enjeitados, tenha tomado a decisão da obra , como está exarado na estela na Igreja. Além de ter deixado uma Albergaria anexada, sem rendas, para cumprir essa função, de apoio assistencial ás crianças.Um digno benfeitor de Ansião.

Quando os ouvidos e olhos ignoram a Cultura resta a Palavra na informação!
Reivindica-se no direito à Cidadania justiça cívica de o vir a agraciar na toponímia. Exalta-se repto sugestivo à alteração da Rua Almirante Gago Coutinho, por ora sem significado na vila, graças ao estrangulamento ao Ensaio – para Sul: Rua Sociedade Filarmónica Santa Cecília de 1903 e para norte, pese menor, assim grande pelo palco do Hospital, Casa da Misericórdia e Albergaria a ser atestada - Rua Dr. António dos Santos Coutinho. Numa só emenda, a correção a duas grandes faltas, na voz do povo matar dois coelhos de uma só cajadada a dois grandes esquecidos!

Situação a merecer reparo e urgente, para isso haja gente de gabarito a se impor e a todos calar agora pelo sábio saber!

Em fica pé, em repor a legitimidade do passado. Ao se exaltar do esquecimento ilustres presentes no progresso de Ansião, em  honra  a reparar e a fazer bem feito a melhor herança a deixar aos vindouros o que foi o passado histórico e suas individualidades! 


Fontes
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8636/1/PMM_Vol6.pdf

Testemunho de Abel Estefâneo
Livro do Padre Coutinho
Memorias Paroquiais

domingo, 25 de novembro de 2018

Padrão ao Fundo da Rua ao Senhor de Ansião Dom Luís de Meneses

A crónica tem o mérito de registar para Memória Futura o monumento de Ansião descrito por Gustavo Matos Sequeira no Inventário Artístico de Portugal em 1955.  Debalde não registou foto... e devia!
Excerto (...) " Esta vila que teve o título de Mordomado pelo Foral de Coimbra de 1465, teve também Foral novo dado por D Manuel I em 1514. D Afonso VI deu-lhe o título de Vila em 1663. Foi do Senhorio dos Condes da Ericeira, como está documentado num Padrão com longa legenda latina que ainda se encontra conservado na ponte, na entrada da vila . é um monumento lapidar de reconhecimento , ereto em 1686, ao conde da Ericeira vencedor da batalha do Ameixial.

Padrão no postal  do início do séc. XX, a preto e branco
O Padrão  ao Senhor de Ansião Luís de Menezes encontra-se na esquerda, embora se distinga mal, é percetível. Sendo de interesse referenciar o   Padrão foi ali colocado isolado, a nascente da rua na frente do muro descarrilado de pedras da quinta cujo nome ainda se desconhece, e lhe corre pelo tardoz.
A foto pese a folhagem da mimosa, mostra-o. Ansião na primavera devia ser bonita com esta espécie de mimosas, que não se proliferam. No meu tempo havia uma extraordinária na frente da casa do Sr. Albertino, em Aquém da Ponte e no Bairro de Santo António duas, uma no adro da capela e outra no gaveto poente da Cerca da Misericórdia. Todas se perderam. O seu tronco era avermelhado.
A razão do Senado de Ansião em 1686  aqui o mandar edificar?
A nova entrada da vila a norte, a mais importante desde a construção da Ponte da Cal, em 1648, na reativação do troço da via romana/medieval, e depois da ponte para a vila se passou a chamar Rua Direita. 
A quinta no tardoz do Padrão era da Casa da Mesericórdia de Ansião, então aforada a um Dr. Veiga de Góis, durante 3 anos, com casa de 1670 e capela . Nos finais do séc. XIX, altura conturbada vivida em Ansião com o alegado assalto aos bens da Mesericórdia pelos foreiros e dirigenets da Casa, todos vieram a escriturar os bens aforados em seu nome, e assim esta quinta ficou na posse de três deles;  José da Silva, Jaime Paredes e do Dr. Veiga. 

Para se perceber a dificuldade de erros crassos na investigação, no cemitério o canteiro ao fazer a lápide de um jazigo escreveu Paulo... A  grande a dificuldade de enquadrar na genealogia Veiga a familia.
Vista do Pelourinho ao Fundo da Rua da foto acima em relação à foto abaixo ?
O muro da quinta a nascente em desmoronamento da 1º foto, encontra-se mais recuado em relação ao que vem de sul, ao cruzamento, sendo que se mostra evidente na foto abaixo no gaveto já com prédios dos irmãos Júlio e José Silva, na parte da quinta que era do avô. Supostamente deu mote a "entalar o Padrão" e ninguém se condoeu...
O Padrão em 2018 com uma vida de 332 anos 
O Padrão nunca teve vida pacifica, sendo alvo de atrocidades, e as pedras disso nos falam. 
Durante anos passou despercebido do seu valor patrimonial, vivendo "entalado" por alto muro na década dos anos 30 do séc. XX, como o conheci,  conforme a foto acima explicita ao lado direito, onde se encontra uma carrinha estacionada, era então o local da paragem da camioneta, correndo-lhe debaixo um ribeiro encanado coberto por lajeado largo.  Sendo visivel atualmente o suporte ao Padrão com pedras laterais resultantes do antigo entablamento mural...
Nos finais do século XX, o rasgo de uma nova variante a Rua de Erbach e a construção de um prédio mais recuado, sem estética, na linha do passado histórico espectável para este local , ainda assim  a benesse  ao destaque do Padrão, como bem o  merece e,  finalmente voltou ao brilho que lhe foi retirado durante anos.
O Padrão depois de liberto do muro
Desconhece-se o seu escultor.  Se alvitre o Mestre de Obras José da Fonseca, natural de Ansião que construiu a Ponte na Fonte Coberta, no Rabaçal em 1637, ou seu descendente, por hoje ainda denotar veia artista em Ansião os seus descendentes. 
Atrocidades ao Padrão
Diz o Padre Coutinho "O Padrão sofreu umas valentes sacudidelas com uma camioneta, a intenção era muda-lo para a Mata...Mas alguém lúcido falou alto para ser deixado ficar no seu local."
Ainda há poucos anos por altura da festa do S. Pedro  foi derrubado um pináculo que demorou muito tempo a ser reposto depois de ter denunciado essa grave falta à preservação do património publico. 
O Padrão como se encontra atualmente 
Teria o pedestal no passado sido em baixo enriquecido com painel de azulejos?
O Padre Coutinho afirma que sim, pese não haver qualquer indício azulejar. 
Ficaria bem o nome Ancião a azul e branco.

O texto em latim
«IN PERPETVAM REI MEMORIAM/D LUDOVICO MENESIO COMITI ERICEIRÆ RE-/GIS PETRI II A CONSILIO SATVS ET FISCO/PRÆPOSITO IN TRASTAGANA PROVINCIA/MAXIMO TORMENTORVM PRÆFECTO IN/TRANSMONTANA PRÆTORI PRO VICTO CA-/NALENSI PRÆLIO IOANNE AVSTRIACO EBO/RAQ RECCVPERATA HOC ILLI OPPIDVM CVM IV-/RISDITIONE CONCESSV AVCTVSQ FVIT ALIIS/PRÆMIJS ET HONORIBVS QVOD XVIII ANNOS/BELLO IMPENDIT QVINQ PRÆLIJS ET PLVRI-/MIS VRBIVM OBSEDIONIBVS INTERFVIT AD-/EPTVSQ EST GLORIAM MILITAREM ET/POSTQVAM FVIT PACE MVTATVM MAXI/MA EJVS MVNIA CVM LAVDE EXERCVIT/IDEO ANSIANENSIS SENATVS HOC ERI-/GI MVNVMENTVM CVRAVIT/ANNO DOMINI MDCLXXXVI»
A tradução do memorial em latim, do Padre José Eduardo Coutinho, perito nestas coisas da história de Ansião: « Para Perpétua Memória/A D Luís de Meneses Conde da Ericeira d'El-/Rei PedroII Conselheiro de Estado e do Fisco/Intendente Na Província do Alentejo/Supremo General de Artilharia/Governador da Província de Trás-os-Montes/em vez de João de Áustria/vencido na batalha do Canal/E após a recuperação da cidade de Évora/esta pela jurisdição/que lhe foi concedida o cumulou de tais/prémios e honras por durante 18 anos/se haver dedicado à guerra por ter travado/cinco batalhas e ter participado em tantos/cercos à cidade obtendo glória militar e/alcançada a paz exerceu os maiores/cargos com louvor Por isso o Senado/de Ansião tratou de lhe mandar erigir/este monumento/No ano do Senhor de 1686»

Marco turístico referente ao Padrão
O Padrão pela arquitetura Civil foi classificado como Imóvel de Interesse Publico em 1980
Excerto http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt Nota Histórico-Artística (Rosário Carvalho)
«A contribuição decisiva do Conde da Ericeira para a vitória portuguesa na Batalha do Ameixial, uma das etapas mais importantes das Guerras da Restauração, foi muito celebrada em Ansião, pois D. Luís de Menezes recebeu o senhorio desta vila como recompensa pelos serviços prestados ao reino e, em particular, pelo seu papel de destaque na referida batalha, que teve lugar em Junho de 1663. 
Em frente da sua casa, ergue-se um pelourinho com uma lápide comemorativa deste acontecimento. Na ponte à entrada da vila, o senado da vila mandou erigir, em 1686, o padrão que perpetua a memória do Conde da Ericeira e dos seus feitos. Aí se refere, em latim, que D. Luís de Menezes foi conselheiro de Estado do Rei D. Pedro II, Intendente do fisco, supremo General de artilharia da província do Alentejo, governador da província de Trás-os-Montes, que durante dezoito anos se dedicou à guerra. 
O padrão seiscentista, de secção retangular, é formado por uma base que se divide em três registos. O primeiro separa-se do seguinte por um friso, e em ambos os cunhais exibem pilastras, sendo que as superiores são rematadas por capitel e entablamento, sobre o qual se erguem pináculos. Remata o conjunto uma pirâmide sobre base de secção quadrangular. A inscrição latina já referida, encontra-se numa das faces. »

Aguarela espetacular de José Carlos retirada da net
                   
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