domingo, 25 de novembro de 2018

Padrão ao Fundo da Rua ao Senhor de Ansião Dom Luís de Meneses

A crónica tem o mérito de registar para Memória Futura o monumento de Ansião descrito por Gustavo Matos Sequeira no Inventário Artístico de Portugal em 1955.  Debalde não registou foto... e devia!
Excerto (...) " Esta vila que teve o título de Mordomado pelo Foral de Coimbra de 1465, teve também Foral novo dado por D Manuel I em 1514. D Afonso VI deu-lhe o título de Vila em 1663. Foi do Senhorio dos Condes da Ericeira, como está documentado num Padrão com longa legenda latina que ainda se encontra conservado na ponte, na entrada da vila . é um monumento lapidar de reconhecimento , ereto em 1686, ao conde da Ericeira vencedor da batalha do Ameixial.

Padrão no postal  do início do séc. XX, a preto e branco
O Padrão  ao Senhor de Ansião Luís de Menezes encontra-se na esquerda, embora se distinga mal, é percetível. Sendo de interesse referenciar o   Padrão foi ali colocado isolado, a nascente da rua na frente do muro descarrilado de pedras da quinta cujo nome ainda se desconhece, e lhe corre pelo tardoz.
A foto pese a folhagem da mimosa, mostra-o. Ansião na primavera devia ser bonita com esta espécie de mimosas, que não se proliferam. No meu tempo havia uma extraordinária na frente da casa do Sr. Albertino, em Aquém da Ponte e no Bairro de Santo António duas, uma no adro da capela e outra no gaveto poente da Cerca da Misericórdia. Todas se perderam. O seu tronco era avermelhado.
A razão do Senado de Ansião em 1686  aqui o mandar edificar?
A nova entrada da vila a norte, a mais importante desde a construção da Ponte da Cal, em 1648, na reativação do troço da via romana/medieval, e depois da ponte para a vila se passou a chamar Rua Direita. 
A quinta no tardoz do Padrão era da Casa da Mesericórdia de Ansião, então aforada a um Dr. Veiga de Góis, durante 3 anos, com casa de 1670 e capela . Nos finais do séc. XIX, altura conturbada vivida em Ansião com o alegado assalto aos bens da Mesericórdia pelos foreiros e dirigenets da Casa, todos vieram a escriturar os bens aforados em seu nome, e assim esta quinta ficou na posse de três deles;  José da Silva, Jaime Paredes e do Dr. Veiga. 

Para se perceber a dificuldade de erros crassos na investigação, no cemitério o canteiro ao fazer a lápide de um jazigo escreveu Paulo... A  grande a dificuldade de enquadrar na genealogia Veiga a familia.
Vista do Pelourinho ao Fundo da Rua da foto acima em relação à foto abaixo ?
O muro da quinta a nascente em desmoronamento da 1º foto, encontra-se mais recuado em relação ao que vem de sul, ao cruzamento, sendo que se mostra evidente na foto abaixo no gaveto já com prédios dos irmãos Júlio e José Silva, na parte da quinta que era do avô. Supostamente deu mote a "entalar o Padrão" e ninguém se condoeu...
O Padrão em 2018 com uma vida de 332 anos 
O Padrão nunca teve vida pacifica, sendo alvo de atrocidades, e as pedras disso nos falam. 
Durante anos passou despercebido do seu valor patrimonial, vivendo "entalado" por alto muro na década dos anos 30 do séc. XX, como o conheci,  conforme a foto acima explicita ao lado direito, onde se encontra uma carrinha estacionada, era então o local da paragem da camioneta, correndo-lhe debaixo um ribeiro encanado coberto por lajeado largo.  Sendo visivel atualmente o suporte ao Padrão com pedras laterais resultantes do antigo entablamento mural...
Nos finais do século XX, o rasgo de uma nova variante a Rua de Erbach e a construção de um prédio mais recuado, sem estética, na linha do passado histórico espectável para este local , ainda assim  a benesse  ao destaque do Padrão, como bem o  merece e,  finalmente voltou ao brilho que lhe foi retirado durante anos.
O Padrão depois de liberto do muro
Desconhece-se o seu escultor.  Se alvitre o Mestre de Obras José da Fonseca, natural de Ansião que construiu a Ponte na Fonte Coberta, no Rabaçal em 1637, ou seu descendente, por hoje ainda denotar veia artista em Ansião os seus descendentes. 
Atrocidades ao Padrão
Diz o Padre Coutinho "O Padrão sofreu umas valentes sacudidelas com uma camioneta, a intenção era muda-lo para a Mata...Mas alguém lúcido falou alto para ser deixado ficar no seu local."
Ainda há poucos anos por altura da festa do S. Pedro  foi derrubado um pináculo que demorou muito tempo a ser reposto depois de ter denunciado essa grave falta à preservação do património publico. 
O Padrão como se encontra atualmente 
Teria o pedestal no passado sido em baixo enriquecido com painel de azulejos?
O Padre Coutinho afirma que sim, pese não haver qualquer indício azulejar. 
Ficaria bem o nome Ancião a azul e branco.

O texto em latim
«IN PERPETVAM REI MEMORIAM/D LUDOVICO MENESIO COMITI ERICEIRÆ RE-/GIS PETRI II A CONSILIO SATVS ET FISCO/PRÆPOSITO IN TRASTAGANA PROVINCIA/MAXIMO TORMENTORVM PRÆFECTO IN/TRANSMONTANA PRÆTORI PRO VICTO CA-/NALENSI PRÆLIO IOANNE AVSTRIACO EBO/RAQ RECCVPERATA HOC ILLI OPPIDVM CVM IV-/RISDITIONE CONCESSV AVCTVSQ FVIT ALIIS/PRÆMIJS ET HONORIBVS QVOD XVIII ANNOS/BELLO IMPENDIT QVINQ PRÆLIJS ET PLVRI-/MIS VRBIVM OBSEDIONIBVS INTERFVIT AD-/EPTVSQ EST GLORIAM MILITAREM ET/POSTQVAM FVIT PACE MVTATVM MAXI/MA EJVS MVNIA CVM LAVDE EXERCVIT/IDEO ANSIANENSIS SENATVS HOC ERI-/GI MVNVMENTVM CVRAVIT/ANNO DOMINI MDCLXXXVI»
A tradução do memorial em latim, do Padre José Eduardo Coutinho, perito nestas coisas da história de Ansião: « Para Perpétua Memória/A D Luís de Meneses Conde da Ericeira d'El-/Rei PedroII Conselheiro de Estado e do Fisco/Intendente Na Província do Alentejo/Supremo General de Artilharia/Governador da Província de Trás-os-Montes/em vez de João de Áustria/vencido na batalha do Canal/E após a recuperação da cidade de Évora/esta pela jurisdição/que lhe foi concedida o cumulou de tais/prémios e honras por durante 18 anos/se haver dedicado à guerra por ter travado/cinco batalhas e ter participado em tantos/cercos à cidade obtendo glória militar e/alcançada a paz exerceu os maiores/cargos com louvor Por isso o Senado/de Ansião tratou de lhe mandar erigir/este monumento/No ano do Senhor de 1686»

Marco turístico referente ao Padrão
O Padrão pela arquitetura Civil foi classificado como Imóvel de Interesse Publico em 1980
Excerto http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt Nota Histórico-Artística (Rosário Carvalho)
«A contribuição decisiva do Conde da Ericeira para a vitória portuguesa na Batalha do Ameixial, uma das etapas mais importantes das Guerras da Restauração, foi muito celebrada em Ansião, pois D. Luís de Menezes recebeu o senhorio desta vila como recompensa pelos serviços prestados ao reino e, em particular, pelo seu papel de destaque na referida batalha, que teve lugar em Junho de 1663. 
Em frente da sua casa, ergue-se um pelourinho com uma lápide comemorativa deste acontecimento. Na ponte à entrada da vila, o senado da vila mandou erigir, em 1686, o padrão que perpetua a memória do Conde da Ericeira e dos seus feitos. Aí se refere, em latim, que D. Luís de Menezes foi conselheiro de Estado do Rei D. Pedro II, Intendente do fisco, supremo General de artilharia da província do Alentejo, governador da província de Trás-os-Montes, que durante dezoito anos se dedicou à guerra. 
O padrão seiscentista, de secção retangular, é formado por uma base que se divide em três registos. O primeiro separa-se do seguinte por um friso, e em ambos os cunhais exibem pilastras, sendo que as superiores são rematadas por capitel e entablamento, sobre o qual se erguem pináculos. Remata o conjunto uma pirâmide sobre base de secção quadrangular. A inscrição latina já referida, encontra-se numa das faces. »

Aguarela espetacular de José Carlos retirada da net
                   
O monumento não se encontra classificado!

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