quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Fornos de Cal no concelho de Ansião e outros

Abordar a temática dos Fornos de Cal na região e outros para mais se perceber

O Dr Mário Rodrigues sobre os Fornos de Cal Al-Baiäz 
Notas de História e Património publicada no jornal de Alvaiázere 
Alvaiázere 
A propósito do forno de cal dos Penedos Altos
«Durante muitos séculos, nas terras de Alvaiázere, centenares de homens aqui residentes, arduamente, conseguiram arrancar ao seu subsolo incontáveis toneladas de pedra calcária que, com hercúlea força braçal e aguçada inteligência, transformaram em milhares de carradas de cal, que ora satisfaziam as necessidades de consumo das suas próprias gentes, ora permitiam abastecer diversos mercados forâneos.
Um dos vários fornos de cal que ainda existe em Alvaiázere jaz a montante do Sobralchão, junto aos Penedos Altos. Quando o vislumbrei pela primeira vez, ao longe, da estrada, já há mais de trinta anos, no final da juventude, pela sua extraordinária arquitectura afigurou-se-me ser um “tholos”: um monumento proto-histórico de falsa cúpula. Era afinal uma singela construção roqueira, possivelmente da Época Contemporânea, do século XIX ou XX: um forno de cal. Serve de pretexto a estas brevíssimas notas.
Talvez tenham sido introduzidos no território português pelos Romanos. E, com poucas modificações estruturais e técnicas, perduraram até final da centúria de Novecentos, quando o cimento e as tintas sintéticas, por um lado, e o desenvolvimento dos fornos industriais, de laboração contínua, por outro lado, puseram fim a uma tecnologia antiga, que o novo modo de vida, mais cómodo, tornou humanamente insuportável e economicamente obsoleta.
Com uma compleição tronco-cónica, a estrutura em forma de torre, aberta no topo, que constituía a parte fundamental do forno, edificava-se em terreno inclinado que aumentava a solidez das suas paredes e favorecia a conservação das altas temperaturas, de mais de mil graus, que transformavam a pedra calcária em óxido de cálcio: a cal. De altura, mediam entre 4,5 e 6 metros. Na base, entre 3,7 e 4,6 metros. Os fornos mais recentes tinham a parede interior do seu corpo revestida de tijolo burro. Não era o caso do forno dos Penedos Altos. Os fornos mais antigos e rudimentares eram apenas construídos de pedras, ligadas com argamassada, e, portanto, mais vulneráveis ao ígneo processo de cozedura.
Dois possantes contrafortes, um de cada lado do paredão circular do forno, ampliavam a sua resistência. Entre eles, rasgava-se uma porta, a “ventana”, através da qual entrava parte da matéria-prima, e por onde saía a cal, após o processo de cozedura.
Em alguns locais, como em Pataias, associadas aos fornos, existiam outras estruturas, como “telheiros”, para abrigar os materiais combustíveis, e “tulhas”, para armazenagem e comercialização da cal.
Todo o processo produtivo era assaz difícil, para não dizer penoso, incluindo: o arranque manual da pedra nas “caboucas” (pedreiras); o seu transporte em carroças, puxadas por animais, até ao forno; a deposição da pedra, a “enforna”, em abóbada, no interior do forno, desde a base até um pouco acima da sua abertura superior; a cozedura, através da qual a rocha era calcinada; e, finalmente, a remoção da cal para fora do forno – a “desenforna”.
Como combustível, usava-se: o mato roçado nos baldios, bosques e florestas; as agulhas dos pinheiros; os vimes e as cepas mortas; ou, mais recentemente, os resíduos das serrações.
Possuía a cal variadíssimas aplicações: na construção, servia para produzir argamassas, rebocos e estuques, para fortalecer adobes e para caiar paredes; na agricultura, para corrigir os solos ácidos e compor a calda bordalesa com a qual se curavam as vinhas; na pecuária, como desinfectante de superfícies imundas; na actividade industrial, como adjuvante de diversas operações transformadoras, designadamente no fabrico do vidro, do aço, do papel, das fibras têxteis ou dos materiais cerâmicos; e, até nas práticas funerárias, para ser colocada nas sepulturas, minorando os efeitos perniciosos da decomposição dos corpos.
Vítimas da sua inexorável obsolescência, em Alvaiázere, como em todo o País, jazem estas estruturas pré-industriais esquecidas, abandonadas ou mesmo em ruínas. Mas é tanta a relevância histórica e patrimonial dos fornos de cal que a Direcção-Geral do Património Cultural aprovou o projecto FORCAL, protagonizado por Fernando Ricardo Silva, que tem como escopo a identificação, o registo, a inventariação e o estudo dos fornos de cal artesanais em Portugal, das épocas Moderna e Contemporânea.
Várias autarquias aderiram ao projecto FORCAL, como a União das Freguesias de Pataias e Martingança. O investigador contratado por esta autarquia, Tiago Inácio, expôs recentemente, em Alvaiázere, no Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó, o fruto das investigações que ali vem desenvolvendo.
Num projecto global, integrado, de promoção turística de Alvaiázere seria muito útil – melhor se diga, é um imperativo – a preservação e musealização, “in situ”, de um forno de cal, mas também de outras estruturas, como, por exemplo, um moinho, uma azenha, um lagar de azeite ou uma casa rural. Há quantas décadas já o propusemos?!...»
Alvaiázere Forno da Cal foto retirada da Internet de Luís Ribeiro 
Maças de D Maria
Toponímia atestada com Forno da Cal
Foto de Henrique Dias
Em Ansião 
No concelho de Ansião que eu conheça o forno de cal em melhor estado será o que se encontra a norte da Sarzedela, quase defronte do tanque para abastecimento dos helicópteros.O distingui depois da limpeza da faixa de combustível em 2018.Na altura fotografei em movimento.
Parei em  agosto de 2019. Debalde sem óculos e com o cartão cheio, apenas duas fotos.
Pousaflores
Existe outro forno envolto de silvas altas  a escassos metros do novo cemitério de Pousaflores, graças ao meu olhar durante anos me interroguei a razão de um tanque de pedra se encontrar em cima da ribanceira do pinhal, sem aparente função, até ao dia que parei e arredando algumas silvas o distingui mas já muito estragado.
A JFP anda a proceder à limpeza das faixas de combustão ao longo das estradas, na Mouta Redonda, Pereiro, o que reparei. Não sei se aqui já foi limpo, porque atalhei por Lisboinha, mais à frente. 
O que resta da chaminé no meio de silvas
 Entrada
 Abertura do forno
 O que me despertou há anos ?
A  razão de haver este tanque de pedra em cima da ribanceira
Quando alguém me disse que era para a água para fazer cal.
Pessegueiro
Outeiro do Forno
Já perguntei a várias pessoas a razão da toponímia atestar um forno, debalde nenhuma ainda me soube dar cabal resposta ao tipo de forno que aqui existiu.Possível forno de cal romano?
Neste outeiro viveram os pais do Dr Ilídio já falecido, agora uma irmã.

Cerâmica Garriaz no Pessegueiro
Exemplar do fabrico de telha e também de tijolo burro

Bairrada
Forno da Choupana
Hoje desaparecido.

Entre Constantina e Netos
Dois fornos dados a conhecer pelo João Forte
Vale Perneto
Onde por fim ia a gente do Pessegueiro buscar cal cujo dono se chamava José Pessegueiro- outra pista se não foi um casal com este apelido a ditar a toponímia ao Pessegueiro que daqui tenha saído um ramo familiar com esta arte para o Vale Perneto onde fez outro forno.

Abiul
O Rui Rua influenciado pelas descobertas Há uma semana descobri um que tinha encontrado referências num levantamento cultural feito em 1983.a escassos 2 km do centro histórico.
A lista de fornos que consegui apurar com uma senhora com mais de 70 anos em conversa de mais de uma hora, pretende ficar anónima, a merecer mais investigação, limpeza e os que ainda restam devidamente fotografados.
A crónica será acrescentada à medida que for mais sabendo.

Montemor o Novo
Forno feito em  tijolo de burro
Desde sempre houve migração interna de gente da região centro, de Sicó para o alto Alentejo
Outros Fornos de Cal nos Coutos de Alcobaça 
Pataias - António Valério Maduro
A tecnologia de produção da cal não terá conhecido grandes modificações do período romano aos nossos dias. Estes fornos de estrutura barriloíde arvoravam as suas paredes com tijolos ligados por um barro areento. O seu topo aberto apre-senta-se ligeiramente estrangulado em relação à base afundada no terreno. A altura destes fornos situa-se entre os 4,5 m e os 6m, a largura da base entre os 3,70 m e os 4,60 m e o topo entre 3,15m e 4,10 m. Para resistir à pressão da cozedura os fornos apresentam-se parcialmente aterrados. Com esta mesma finalidade a parede é travada por cima do portal com três troncos de pinheiro.A laboração destes fornos é de tipo descontínuo ou intermitente, necessitando de um abastecimento regular de mato à caldeira até finalizar a cozedura, ao contrário do que sucede nos fornos de laboração contínua ou permanente em que as camadas de lenha ou carvão alternam com as camadas de pedra. Como combustível utilizava-se preferencialmente o mato roçado nos pinhais, daí denominarem estes fornos de fornos “de cal a mato”. Para uma fornada eram necessários entre 80 a 100 carradas de mato.A partir da década de 40 do século XX, recorre-se, igualmente, ao “motano”(molhos de braça de pinho). Graças ao “motano” os fornos começaram a laborar durante o Inverno. Cada fornada consumia entre 150 a 200 talhas de “motano”,equivalendo 1 talha a 60 molhos. A temperatura em que se processava a coze-dura da pedra é denominada de rubro cerejo, situando-se entre 800º e 1000º. O “empedre” do forno consumia aproximadamente 150 carradas de pedra, ex-traída pelos cabouqueiros. Os fornos, por uma questão de economia, localizam--se nas imediações das áreas de extracção. Cada fornada levava em média três semanas. Uma para enfornar (levantar o “empedre”), outra para cozer a pedra e outra para a retirar.Principiava-se pelo “empedre”, assentando as “armadeiras” sobre o peal que rodeava a caldeira. Quando o “empedre” atingia a altura do portal as pedras começavam a ser descarregadas pela abertura superior. Sobre as “armadeiras” (pe-dras que chegavam a atingir 1 metro de comprimento) destinadas a estruturar aabóbada, depositavam-se as “carregadouras” (pedra miúda). O “capelo”, final do“empedre”, excedia em cerca de 1,50 m o topo do forno No final da cozedura, o “capelo” do “empedre” baixava cerca de meio metro emrelação ao topo do forno. Era então chegada a altura de desenfornar a pedra, tare-fa árdua dada a temperatura que o forno mantinha. Em média cada fornada rendia entre 50 a 55 toneladas de cal. Sabemos que antes da utilização do “motano”como combustível e do recurso ao transporte mecanizado das paveias de mato e da pedra das caboucas, os fornos não coziam mais do que três a quatro fornadas por ano, passando, posteriormente, a poder realizar mais de dez fornadas.Segundo os registos de contribuição industrial de 1881, Pataias era o único centro de produção de cal do Concelho, com treze fornos em funcionamento. A passagem do caminho-de-ferro (linha do Oeste) em Pataias, no ano de 1888, e a posterior construção do apeadeiro contribuíram para a expansão desta actividade. Era este transporte que assegurava o abastecimento de cal à Siderurgia Nacional, indispensável na produção do aço.A cal era, normalmente, comercializada à boca do forno. Caso os compradores tardassem a pedra consumia-se, pois não existia nenhum espaço destinado ao armazenamento. Só a partir da década de 50 é que se edificam armazéns para guardar a cal, acondicionando-se esta em tulhas de tijolo, com uma capacidade de cerca três toneladas. Inicialmente em galeras, nos seirões e cangalhas dos burros e, mais tarde, nas camionetas escoava-se a cal em pedra e em pó.Nas feiras e nos mercados a vendedeira da cal marcava sempre presença. No tempo da Páscoa, o costume de caiar a habitação e alguns cómodos (adega, casadas tulhas e pias, cisterna...) antes da visita do pároco levava a um aumento da procura e logo à subida do preço deste produto. Este uso não tinha apenas um objectivo estético, cabendo à cal assegurar a impermeabilização dos imóveis(para o efeito acrescentava-se à cal um fio de azeite, nas próprias argamassas era costume juntar borras de azeite), assim como os resguardar dos calores estivais.Em 1933 estão arrolados 33 fornos em actividade. O número de fornos em laboração veio gradualmente diminuir. Em 1942 encontramos 25 fornos. No início da década de oitenta só restam 5 fornos, chegando o seu ocaso no ano de 1995.Muitas são as explicações para o abandono desta arte milenar. Em primeiro lugar, o carácter artesanal deste ofício que pouco ou nada se modernizou. Por outro lado, a falta de mão-de-obra (este ofício beneficiava da força de trabalho das proles numerosas, assim como de alguns tempos mortos do calendário agrícola) motivada pela instalação das indústrias cimenteiras, vidreiras e cerâmicas na região, que permitiram um pleno emprego e estimularam a deslocação de activos da agricultura para a indústria. A dureza das condições de trabalho (18 horas seguidas a alimentar o forno com 6 magras horas de descanso num canto do barracão) não constituía aliciante para os mais novos. As exigências de jornas mais elevadas vieram a tornar-se verdadeiramente incompatíveis com a capacidade produtiva e a rentabilidade das fornadas. Por outro lado, as empresas que adqui-riam grandes proporções de cal passaram a instalar fornos eléctricos destinados à sua produção.A cal gorda de Pataias era procurada para o fabrico de argamassas, estuques, calde caiar e para uma ampla utilização nas terras de cultura.Actualmente sobrevivem 29 fornos de cal desactivados, conjunto que, pelo bomestado geral de conservação, necessita de uma pronta intervenção e qualificação que reabilite este espaço de memória e produção.

Conheci o que resta dos fornos de Cal em Paço d'Arcos.
Mas, o mais impressionante, é este  no Montijo
                     


Fontes
Excerto do jornal nº 16 de Alvaiázere
Testemunho de uma senhora do Pessegueiro que pretende ficar anónima
Testemunho João Forte
Testemunho Rui Rua
Fotos google

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