sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Marcos Senhoriais em Terras de Sicó

À laia de fim de semana nunca é demais relembrar o célebre episódio com o advogado Dr Prates Miguel, também um grande amante do passado  radicado há décadas em Ansião, um belo dia aportou à Ateanha com um amigo, questionando o primeiro transeunte que lhe apareceu onde poderia encontrar testemunhos deixados pelos romanos - ao que o bom homem lhe responde-, bem, sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura...Porque a ignorância cultural no concelho ainda se revela desmesuradamente grande não só em gente com poucos estudos como igualmente em muito graduado, urge tempo de se começar a fomentar interesse no cariz desta Página, só não faz aprendizado quem estiver mesmo desinteressado.

Acordar mentalidades para a Cultura em vésperas de eleições reforçando o apelo do meu bom amigo Henrique Dias
De facto não existe (pelo menos que eu conheça) nenhum estudo sobre marcos, mas é uma pena, pois são um testemunho importante do passado e ajudaria a perceber os limites dos vários senhorios das terras fossem eles nobres, conventos, ou ordens religiosas.
É imperativo (como disse) fotografar esses testemunhos, que mais não seja para ficarem como memória futura, mas o que seria mesmo importante era proceder à sua georeferenciação.
No caso de Ansião não sei, mas há Concelhos que têm todo o seu património assim referenciado na respectiva Carta Arqueológica...

Marcos Senhoriais
O Padre José Coutinho na sua Monografia de Ansião de 1986, o pioneiro a referenciar a existência de marcos em pedras no concelho, em Alvorge e Santiago da Guarda do tempo que estas terras foram herdades de Mosteiros e da Universidade de Coimbra. Seguiu-se o  meu tio Alberto Lucas, autodidacta na Crónica Histórica de Pousaflores de 1993 fazendo referencia aos Marcos de divisão da Freguesia de Pousaflores.
Agradeço a transcrição do excerto do Livro do Padre Coutinho enviado por Henrique Dias

Falar de Marcos em pedra e da palavra MOUTA
Ambas fazem parte do passado do concelho e antigas Cinco Vilas. E assim deviam prevalecer para as gerações vindouras!

Moita Santa, em Santiago da Guarda
O certo seria vir a enquadrar o Marco de pedra da Feira da Mouta Santa, defronte do local onde se encontra, com  mais espaço inserido em redondel ajardinado e iluminado com placar  com inscrição em português atual, o dignificando e ainda alterar a toponímia para a ancestral que testemunha um  passado com mais de 600 anos .
O Marco conserva a inscrição medieval da Feira da Mouta , debalde hoje sem o palco merecido por estar abafado do seu brilho ancestral pela construção da casa... 
O Marco senhorial mandado colocar por Pêro de Sousa Ribeiro, filho de João Rodrigues de Vasconcelos e de D. Branca da Silva, em 8 de Dezembro de 1476, quando receberam carta de privilégio de couto e honra para a Quintã da Guarda com a Feira da Mouta Santa
No palco da freguesia de Santiago da Guarda por hora a sala de visitas de excelência do mais rico património cultural de Ansião, porém em desmazelo, sem brilho,nem dignidade, nem placar, nada que afinque o seu testemunho histórico e cultural, quase perdido...
Jaime Tomás aborda no seu Livro vários tipos de Marcos de Senhorios diferentes
No seu Livro Terra Alta Alvorge de 2012 « as terras da Ladeia, a que chamavam "o franquido do Alvorge", na posse do Mosteiro de Santa Cruz, 396 anos até 1537, em que D. João III as mandou transferir para a posse da Universidade de Coimbra,só em 1546 foi a data da posse pela universidade, contudo só passou a ser efectiva em 1611, no reinado de D. Filipe II gerou-se uma contenda com o mosteiro que o rei apaziguou propondo uma renda de 200 mil réis, e apesar da oferta só terminou 5 anos depois.Os Marcos foram colocados com a gravação V e DE. A norte outros marcos com as letras CD relativas ao 1º Duque do Cadaval D. Nuno Álvares Pereira de Melo , em finais do século XVII Senhor do Rabaçal, e a noroeste da freguesia do Alvorge vários gravados ALMADA na delimitação das terras de D. Antão de Almada, 5º Senhor do Rabaçal. No limite Pombal / Ansião, na zona de Ereiras há pelo menos 1 marco dos "Almadas" (ALM), faz a divisão dos concelhos. A sudoeste os Marcos do Morgado da Moita Santa, por último Senhorio dos Condes de Castelo Melhor na vantagem além da amostragem em foto a preto e branco  as respectivas coordenadas. »

Marcos da Universidade retirados da Página facebook  Ansião, que originou o debate
 Ateanha? 
Marco da Herdade de Santa Cruz de Coimbra foto retirada do google
Camporês
O Dr Manuel Dias na Monografia de Chão de Couce aborda Marcos no Camporês "Ainda se encontram vários marcos como este nos limites da freguesia (de Chão de Couce) com as freguesias vizinhas" a que esta foto seja alusiva(?).
Raul Botas de Ansião partilhou em setembro de 2019 na Pagina Facebook de Ansião 
«Existem no Camporês dois marcos em pedra com a inscrição - REAL . 
Como é do conhecimento público a coroa portuguesa possuía uma leira de terreno nessa zona, não será esse o local ? Entretanto, um desses marcos , ao alargarem o caminho, foi danificado partiram um pouco e falta o L . Além disso, embora esteja no mesmo local foi colocado ao contrário(...) o outro marco ainda está no local mas, só por sorte não foi danificado porque fizeram uma vala , com mais de dois metros de profundidade, a cerca de um metro do mesmo (...) sobre a pergunta se era igual ao mostrado abaixo respondeu «Sim, um é assim grande com mais de 1,5m o outro menos de metade »
Parece claro na minha investigação, estes Marcos são ao limite da que foi 
A Herdade de Ansião a nascente delimitada com o lombo da Fonte Galega e Pedrulhal com outra que a 7 de abril de 1364, D Pedro I doou a D. João Afonso Telo de Menezes, 4º conde de Barcelos, seu mordomo-mor «todo o direito real e djreito e e foro» que tinha «na qujntaa da mouta de bella com suas herdades e aldea de Canaue e em seu termo» e vinhas e perteenças», nos casais da Ameixieira com todas as suas herdades.Situavam-se os ditos lugares no "Chão do Couce e termo em Penela».
Na centúria de 600, foram postos com a sigla REAL do donatário António Abreu Corte Real e sua esposa D. Teresa de Mendonça em maio de 1695 requereram à Diocese de Coimbra a fundação de uma Capela na sua Quinta da Mouta de Bela, hoje no concelho de Ansião.Os marcos aflorados devem estar ao longo do vale do Camporês a poente entre o Maxial e Alqueidão, o que faz sentido dizer.

Sarzeda
Na procura do palco da Quinta das Sarzedas dei conta de uma pedra do mesmo formato a fazer de vedação, aparentemente não lhe distingui nenhuma inscrição, mas ali a ter sido reposto pode estar virado ao contrário(?). é que a herdade de Ansião terminava por ali em Somio, hoje Suímbo. o terreno onde se encontra foi  recentemente intervencionado, o antigo poço, sem saber e antes o foi de chafurdo, por estar na beira da antiga estrada romana e medieval é muito provável que o fosse para ser agora feito com manilhas de cimento.
Disseram-me que uma casa julgo vendida a estrangeiros, antes foi a casa de um barbeiro parece existe outro marco da demarcação da Freguesia de Pousaflores.
Escampado de Santa Marta
O Chico Serra e a sua esposa Ti Júlia levaram-me a conhecer numa sua propriedade uma pedra grande, que registei foto na altura, como andava na procura de miliários romanos, não valorizei como devia, afinal os Marcos de delimitação de propriedades antigos são de facto em pedra, mas de vários tamanhos com ou sem inscrição.E a ele aquela pedra sempre estranhou a razão de ali estar. Se a encontrar aqui postarei. Era muito perto da capela de Santa Marta para nascente.

Lagoa da Ameixieira
Será um marco de uma propriedade, talvez da quinta da Ameixieira com a herdade de Ansião (?) apresenta uma inscrição parece uma circunferência, os líquenes tem de ser limpos, está a fazer de ombreira a uma courela junto da Lagoa da Ameixieira.
Villa de Pedra Natural Houses em Cotas 
Pese pertença do concelho de Soure a dois passos de Ansião, nas trocas e beldrocas do passado que estas terras fizeram parte do Alvorge, quando este pertenceu ao concelho do Rabaçal.
Falar do empreendimento de turismo rural onde reparei numa pedra dentro da casa junto da escada... sem saber se foi ali recolocada ou não.
Foto retirada da net
Marco templário
Partilha de Henrique Dias
Existem vários em Alvaiázere
 Encontrei este em Dornes
Marcos da Casa do Infantado do Alandroal retirado da net
Estes deviam haver pelo menos em Chão de Couce, Aguda quando os bens dos nobres passaram que conspiraram contra o rei os perderam para a casa do Infantado
Alvaiázere no Rego da Murta
Partilha do Henrique Dias  retirado do livro do Padre Jacinto do Rego da Murta, outra variante do marco de Santa Cruz de Coimbra. Certamente mais antigo.
Marco na divisão de Abiul com Vila Cã
Descoberto pelo Rui Rua de Abiul, tem um A gravado. É o único que conheço. Devem ou deviam haver similares a este junto no limite com Ansião.
Agora o Marco será de Ansião ou Abiul, sendo que o passado de Abiul foi grande e importante Senhorio dos Gomes/Silva, Silva/Coutinhos e Telo/Menezes e claro entrou em ruína com os Duques de Aveiro, e o Marco será deles, eram condes de Torres Novas e depois duques de Aveiro quando receberam o senhorio de Abiul , nesse tempo Ansião os Marcos eram do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o que me parece, falta investigação.
Marco do limite norte da freguesia de Pousaflores a poente do Barranco, em Ansião
                  
A reutilização de Marcos centenários

Usar Marcos noutro contexto só se compreende depois de fotografados, tomadas as coordenadas onde foram encontrados e devidamente documentados para depois a serem retirados para espólio de um Museu e jamais reutilizados no que seja, porque se gosta. O chão, todos podem vender, mas os testemunhos do passado neles inseridos é de Todos, por isso a Câmara há muito se devia agilizar com os Notários para o referenciar nas escrituras quer a portugueses quer a estrangeiros.
Todo aquele que não sabe respeitar os testemunhos deixados do nosso passado quebra repentinamente o Futuro e o Progresso do Concelho de Ansião. 
Não gosto nada que se apoderem em mau uso de testemunhos da nossa identidade, afinal o património cultural de todos nós que gostamos de Ansião e antigas Cinco Vilas!

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