quarta-feira, 13 de novembro de 2019

José Lucas Afonso Lopes , ilustre de Ansião, sem menção na toponímia!

Falta atribuir o seu nome na toponímia de Ansião 
O insigne Professor José Lucas Afonso Lopes de Ansião

O meu artigo de opinião publicado no Jornal Serras de Ansião, em Novembro

Na Assembleia Municipal de outubro o Sr. Presidente da Câmara Dr. António José Vicente Domingues abordou a temática de se batizar a Rua da Rotunda que nasce ao prédio "Tarouca" para o Mercado, artéria inserida na Quinta de S Lourenço, uma das cinco adquiridas pelo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra entre 1175/6 para formar a Herdade de Ansião. A deturpação em séculos em atentados à toponímia até meados do século XX na sua distinção pela  divisão da antiga estrada real em duas, a Quinta do Vale Mosteiro de Cima e  Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, quando ambas foram palco da mesma quinta de S Lourenço.

Mais que justo a Rua citada vir a ser agraciada com o nome do Prof José Lucas Afonso Lopes
Nasceu no Vale na Mouta Redonda, a 24 de março de 1914, na freguesia de Pousaflores. Criança adorável, a sua prima Maria da Luz Ferreira, nascida em 1911, brincou com ele no mesmo terreiro alpendrado do quintal  e na quelha do Vale, a ouvir as águas do ribeiro da Nexebra na frente da casa dos pais dela e dos avós de ambos, onde o primo viveu até o seu pai ter construído casa ao cimo do Lugar. Nesses anos de convívio familiar foi fácil despertar com a sua forte personalidade acalentando nela fascínio e adoração a tamanha e brilhante capacidade de retórica, números e humanista . Mais tarde, ela apesar de primogénita e mulher, o seu pai José Lucas Afonso a pôs a estudar para professora em Coimbra, tenha o primo sentido constrangimento por não ter a mesma oportunidade, em virtude dos seus pais não terem naquela altura a mesma capacidade financeira. Não se deixou derrotar, homem dinâmico, interessado em mais saber e lutador, foi em Coimbra, no cumprimento do serviço militar que tirou o 2º ano para Regente Escolar, vindo depois a concluir o Curso Geral dos Liceus e mais tarde o Complementar. Eloquente autodidata, de grande craveira, sentia as enormes dificuldades que existiam nas vilas do interior para o ensino. Como Regente Escolar fazia-se transportar de bicicleta, andou pela Serra de El Rei e Maças de D. Maria. A minha mãe, sua prima com menos 20 anos e a Maria do Carregal, foram suas alunas entre outras, todos andaram de cama de ferro e malas às costas, por Santiago da Guarda, Lagoas e Ribeiro da Vide, em Ansião. Valeu a pena tanto empenho, as preparou eloquentemente para o exame do 5º ano sendo aprovadas com distinção. Em 1966 foi convidado para inaugurar a Escola Primária dos Casais da Granja, em Santiago da Guarda. Sobre a sua conduta, a minha querida mãe sempre me falou do primo como um homem acima da média de elevado cariz inteligente, excepcional carácter, nascido com a missão de passar a palavra, um verdadeiro professor pelo gosto que nutria pelo ensino, não gostava de mexericos nem conflitos, sobretudo muito respeitador, a mais-valia num tempo de menina e moça. No papel de marido a minha mãe via no primo um homem educado, encantador, verdadeiramente apaixonado pela sua esposa, e esta atenta às lições dadas às alunas, aprendeu de ouvido, falar francês. José Lucas decidiu residir em Ansião tendo adquirido um lote de gaveto ao quelho da Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, na ligação à Misericórdia na vila, onde foi construída uma bela vivenda, o Mestre-de-obras, o seu irmão, conhecido por  António do Vale.
A glicínia na frente da vivenda de belos cachos lilazados será concerteza descendente da que existia no antigo hospital, hoje CGD. Num  tempo que esta qualidade  dos cachos da índia em Ansião, além desta, só havia a do jardim da D Maria Amélia Rego, na que foi a última estalagem da Ti Maria da Torre no Bairro e outra ao entroncamento junto da fonte para a Sarzeda. 
Conheci-as todas, mas a do antigo hospital, a casa do Sr Alfredo Simões, recordo  os grossos ramos que se enlaçavam no varandim da escadaria , com centenas de anos e os cahcos de flores e o aroma, o cheiro, o cheiro que irradiava, era divino...
Árvore genealógica de Jose Lucas Afonso Lopes
Cortesia de Henrique Dias
José Lucas imortalizado como Ilustre Ansianense no II Livro do Dr Manuel Dias (…) em 1941 sabendo das carências para o ensino foi sócio fundador do Externato António Soares Barbosa, onde foi Professor. Casa-se com a Srª D. Lídia Ferreira Afonso a 22 de setembro de 1945.O casal teve dois filhos - O Rui e o Luis. Na década de 50 entra como funcionário público na Câmara de Ansião. Em 1957 é o segundo sócio honorário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, seno o primeiro o Dr Vitor Faveiro. Igualmente também fez parte da Direção da Filarmónica de Santa Cecília. Por último foi Provedor do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ansião. O maior responsável pela reabertura do segundo Hospital da Misericórdia, ao Ribeiro da Vide, na década de 60 do séc. XX,  desativado desde o início da década de 50 do mesmo século, pouco depois da chegada do Dr Fernando Travassos. Foi a faceta social que melhor conheci no primo José Lucas, na área da saúde, e se veio a constactar  tremenda eficácia. Reaberto o Hospital com enfermeira permanente e uma criada, além de médicos, a chegada de táxis e da ambulância dos Bombeiros com gente doente e parturientes era corropio- a menina dos seus olhos , tantas vezes o distingui na estrada, a pé, de pasta na mão para acompanhar o seu bom andamento e o bem-estar dos seus doentes. Um cuidador!
Anos mais tarde, já não estando entre os vivos aconteceu a infeliz medida da extinção do Hospital da Misericórdia de Ansião, não me oferece qualquer dúvida que se teria debatido contra tudo e todos pela sua continuidade, por ser um homem de valores, acreditava no progresso e no desenvolvimento do seu pequeno concelho inserido no interior, cujo crescimento se faz com apostas válidas, e o Hospital era valia necessária para com talento, engenho e arte argumentar em sua defesa, louvando o seu historial de 300 anos, de todos o mais antigo no concelho, debalde sem a sua voz a clamar merecida e justa defesa, se perdeu e não devia, por fatal desconhecimento cultural! 
José Lucas, como gostava de ser conhecido, faleceu a 5 de março em 1967 e com ele se finou repentinamente o Futuro e o Progresso do Concelho de Ansião, sem outro(a) desde então ao seu perfil se assemelhe; dinâmico, humanista e estratega!
 Partilha do Henrique Dias, falta saber o Jornal de 8 de Março de 1967
José Lucas e a esposa jazem em sepultura na entrada do cemitério com o passeio público, a metros do palco da primeira igreja de Ansião, mérito do destino em os presentear para a eternidade. Já lamentável passadas décadas e ainda sem ter sido distinguido na toponímia, como bem o merece, pese o alto contributo e riqueza testemunhal deixada ao concelho, a herança a deixar aos vindouros, de um homem único que não olhou a esforços para melhorar a vida das gentes do concelho de Ansião, quer no ensino quer na saúde, além de participativo noutras atividades de cariz social e cultural. Em repto final, a sua família sinta o calor de todos nós ansianenses na meritória distinção, mais que justa, urgente!

Excertos do livro Ansianenses Ilustres do Dr. Manuel Dias






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