sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Pinhal Novo fundada por caramelos beirões do litoral centro

Migrantes sazonais vindos da região da Gândara, Mira, Tocha , Pombal, quiçá também de Ansião à procura de trabalho em terras que  hoje compreendem o Pinhal Novo, Rio Frio, Barroca d'Alba, Quinta do Pereiro, Monte da Caparica Marinha, Sesmaria de Ussa, Lagoa da Palha e terras limites; herdade com 18.000 hetares entre sapal, terra adentro nas margens de aluvião do Tejo com  pântanos, paúles e Charneca, de vegetação mediterrânica crespa e de folhas perenes, montado de carrasco, tojos, esteva, sobreiro, outrora coutada de Reis e nobres. Em 1562, era chão da Coroa  com produção de  lenha para abastecer Lisboa, então o único combustível e carvão, produzido em vários fornos. Os solos eram pobres, em corredor romano e depois da estrada real de Coina a Évora, para Espanha e para norte, Santarém e Coimbra. 

Já conhecia a região, mas foi com o filme  A Herdade que me apaixonei
A despertar  mais querer saber do que foi  a sua história,  levada pelos apelidos de proprietários no passado - Coutinho e Veiga, comuns ao passado de Ansião, de parco estudo. A que se junta o Santuário de NSAtalaia  ao análogo milagre da Fonte Santa, com o da Constantina,  talvez por influência (?).

Um pouco de historia desta região
Barroca d'Alba foi cabeça de Morgado da Casa de Bragança 

(...) O terramoto de 1755 deixou arruinado Rodrigo Caetano Ximenes Pereira Coutinho Barriga e Veiga e para tentar salvar as terras, as aluga a José Gomes de Abreu da Rua Augusta , Lisboa. Tinha de abrir valas, secar paúles, fertilizar e pagar anualmente  14.000 cruzados a livrar, dentro  do prazo determinado, os bens das penhoras que sobre eles pesavam(...) Não devia ter dinheiro para rotear a Barroca D'Alba, a terra era de sesmaria, sujeita a condições de cultura. Para em 14 de julho de 1767 é lavrada a escritura com Jácome Ratton  do emprazamento  das terras (...)Jacome Ratton  nas suas recordações em 1767,  refere os indícios arqueológicos na Barroca d'Alva  (...) só havia  huma pequena  ermida,  que  ainda existe (Sto António), a qual por ser abobeda se conservou, e nella se recolhia Rodrigues Ximeno quando passava para o Alemtejo, ou Hespanha; por quanto huma antiga  casa,  pegada  com  a  ermida,  se  achava  tão  arruinada,  que  era inhabitavel. Quanto a moradores somente achei hum pobre cabreiro, que se acoitava nas ruínas da dita casa. Hum poço entulhado, e restos dum tanque junto a este davão indícios de ter havido ali huma pequena horta. Na  abertura  dos  alicerces  dos  edifícios,  que  depois  construí,  apareceraõ fragmentos de potes, que tinhaõ servido à fundição de vidro, e fragmentos de  vasos  do  próprio  vidro;  o  que  me persuadio,  que  em  muito  remota antiguidade,  houvera  alia  alguma  fabrica  deste  género,  assim como também  outra  olaria,  junto  ao  sitio  da  Fonte  da  Rapoza,  pelos  muitos fragmentos de louca não vidrada, quando por minha ordem se plantou de vinha.

(...) Entre 1984 e 1990 com apoio das Câmaras de Almada; Alcochete e do Seixal o Centro de Arqueologia de Almada, desenvolveu campanhas arqueológicas (...)O  “Porto  de  Cacos”  foi descoberto  em  1984  por  um trabalhador  rural,  que  permitiu  a  identificação  do  Conjunto  de  fornos romanos da Herdade de Rio Frio (...)No inicio dos trabalhos agrícolas com acomodagem para os criados, palheiros, abegoaria, e cómodos para gados, a comprar segundo a quantidade as espécies  que seriam necessárias e como a todos os utensílios para a lavoura como carros e charruas. O Mestre de abrir as valla é Manoel Gomes, o ruivo(…)  como mui  eminente  na factura de vallas, vallados, guardamatos, e sarjetas dos paues, tanto para preservar  as  ágoas  de  fora,  como  para  dar  sahida às  de  dentro;  no  que empregeui  cousa  de  duzentos  valladores,  que  me  vieraõ  dos  campos de Coimbra,  e  de  Leiria (…)E  com  efeito  romperaõ  os  ditos  paules,  e  se semeou logo, naquelle Outono de 1767, e primavera seguinte, a parte deste que  foi  possível.  Com  tudo  o  dito  mestre  de vallas,  naõ  sendo  melhor prático  do  que  eu,  fez  erros  que  depois  a  minha  própria experiência  mensinou a emendar (...) Ao mesmo tempo que se trabalhava nas obras da vallas com a actividade expressada, se hiaõ construindo as acomadaçoens, e alojamentos para 24 famílias  de criados;  no  que  se  ocupava  um  nume  proporcionado  de pedreiros,  carpinteiros,  de  modo  que desde  Maio  até  o  São  Miguel,  se aprontaraõ os alojamentos dos criados, abegoaria, celleiros, palheiros e até se repararaõ as casas para minha habitaçaõ, e de minha família, quando ali íamos passar algum tempo(...)Porém huma grande alluviaõ, que houve no memorável dia 17 de Abril de 1770, bem conhecida pelo nome da cheia das cobras, em rasaõ das muitas,que arrojou ao mar, assim como também palheiros e gados que existiaõ na margem do Tejo, inundou aquelles meus situios, de modo que rompeo os fortes  vallados,  e  inutilizou  todas  as  minhas  despezas,  tanto  na abertura dos paues como o dito moinho. Em 1781 muda o moinho.Abandonou a cultura de trigo no Paul do Torrão pelo prejuízo da cheia. A marina produzia sal de fraca qualidade. Em dois anos salda a divida de mais de 200 mil réis

Concluir destas deslocações sazonais?

(...) Deram lugar à fixação e colonização na região de destino, impulsionada pelo sistema de foros vigente. A atual freguesia de Pinhal Novo foi uma das zonas onde esta fixação se revelou mais profícua, dado que o Palácio da Herdade de Rio Frio e todo o núcleo habitacional construído para alojar os trabalhadores contratados, que  se situa nesta região, a poucos quilómetros do centro da vila.

Mais, sabe-se a origem do seu topónimo- Pinhal Novo

(...)Os terrenos de charneca de matos José Maria dos Santos mandou vir durante mais de 20 anos do Pinhal do Rei penisco para semear que resultou no maior pinhal na região de Lisboa. Com muitas despezas em guardas para o preservar de fogos acidentais, ou postos de propósito, dos quais já tem padecido.

O Pinhal Novo desenvolveu-se pelo eixo do caminho de ferro a partir de 1856. Sendo favorável à fixação das populações. 

(...) Em 1769 manda plantar, nos terrenos de Barroca d’Alva, amoreiras brancas de Piemonte (Itália) para fornecimento da Real Fabrica da Seda e cria ainda uma horta e um pomar junto à herdade (...) Em 1808, por ser francês foge para Paris por causa das invasões francesas deixando o filho Diogo à frente dos negócios (...)Após a Republica a colonização feita  pelo proprietário com “400 casais  ocupando  2.000  hectares  divididos  em courelas de 4 a 6 hectares. Os colonos foram implantados por contratos de arrendamento que procedem da Beira. Pagam a renda de 1$000 réis  por  hectare, era  a  medida  indicada  para manter a sustentabilidade do projecto porque ―se  os  campos  fossem  maiores,  com  9  ou  10 hectares,  teria  sempre  que  fazer nele trabalho,  deixando  de  ter  possibilidade  de fazer  trabalho  de  jornaleiro  para  proprietário.  E  é  esta  combinação  entre  a grande  propriedade,  com  necessidades  de mão-de-obra  em  certas épocas,  e  a  pequena propriedade  onde  se  assegura  a  subsistência básica,  que,  segundo  Oliveira Martins,  se encontra  o  segredo  desta  colonização,  que para  além  do  exemplo  de  Rio  Frio, defende para todo o Alentejo. Eram  Caramelos  beirões  semi-nómadas:  vivem  hoje  numa  casa telhada, têm  a  arca  fornecida  de  grão,  no  chiqueiro  um  porco,  junto  à  casa  uma horta  e contíguo  um  campo  de  semeadura  com   pés  de vinha”.

(...) Gente do Concelho de Leiria aos subúrbios de Aveiro, atingindo particularmente Mira, Quiaios, Cantanhede, Montemor-o-Velho, Figueira da Foz, Soure, Pombal e norte de Leiria. Fortuna, um historiador local, conclui que as freguesias de maior número de migrantes foram Tocha e Cadima, do município de Cantanhede, depois Arazede de Montemor-o-Velho; e várias freguesias do concelho de Mira .

(...) As populações de Rio Frio e de Poceirão identificam-se com a denominada cultura caramela.

Descodificar a origem do termo "caramelo"?

Excerto de http://ebzecaafonso.blogspot.pt/2011/02/historia-do-pinhal-novo-biografia-de.html
(...) O termo "caramelo" está relacionado com "caramuleiro" oriundo do Caramulo. Mas, ao certo ainda não sabemos realmente quem foram os primeiros habitantes destes sítios, nem de onde vieram ou quando. Muitas histórias se contam. Diz-se que a Sesmaria da Lagoa da Palha seria pertença de um Administrador Espanhol do tempo da ocupação Espanhola. Esta Sesmaria e a da Venda do Alcaide seriam habitadas por uns raros protegidos dos seus titulares. Trabalhavam na agricultura e seriam filhos de famílias desconhecidas, oriundos de terras longínquas.
Sabemos que por aqui também passavam os Espanhóis, dirigidos à Moita do Ribatejo com as suas mercadorias destinadas a Lisboa, utilizando para o efeito uma estrada desde Badajoz, a qual ainda hoje é conhecida por "a estrada dos Espanhóis", que passava por Águas de Moura, Pinheiro de Sete Cabeças, Areias Gordas, Palhota, Venda do Alcaide e Pinhal Novo (actualmente Rua Infante D. Henrique onde se situa a sede do Agrupamento de Escolas), onde se encontram as casas mais antigas da Vila.
O caramelo, gente de princípios religiosos, foi-se fixando e crescendo, arroteando e cultivando os terrenos. Os seus contactos com os povos já existentes nos arredores, mais propriamente nos lugares da Carregueira e Lagoa da Palha levam-nos à necessidade de criar um Centro Sócio-Religioso.
As primeiras manifestações organizadas por estas gentes acontecem por volta do ano de 1833, com o aparecimento do Círio da Carregueira, mas a grande força de imigração deu-se a partir de 1850.
Os Caramelos, originários de uma zona profundamente religiosa, trouxeram vários hábitos e costumes, mas quando chegados a esta região rapidamente os abandonaram.
Viviam num mundo à parte. Os rituais do casamento chegavam a prolongar-se por três dias. Ao princípio casavam entre si, mas depois os cruzamentos foram inevitáveis.
A matança do porco é também motivo de festança, com jantarada, música e baile, em que confraternizavam os vizinhos.
Os funerais também tinham o seu ritual próprio e até foram criadas Irmandades com corpos gerentes, associações que faziam os funerais. São conhecidas duas Irmandades: a Irmandade de S. José na Venda do Alcaide com capas brancas e a do Senhor dos Passos com capas rochas. Ambas foram extintas em 1970. A linguagem do Caramelo é bastante característica. O homem Caramelo é seco, rude, trabalhador. A mulher é anafada, de rosto corado, pele tisnada pelo sol e trabalhadora. É desconfiado, mas correcto nas suas obrigações para com credores e benfeitores. Tem uma natural propensão para o negócio e, por natureza também é divertido, gostando de festas e Romarias. Diz-se acerca dos Caramelos: "... gente religiosa e respeitadora, cumpridora dos seus deveres ".

No meu opinar constata-se que o relato retrata gente chegada por volta de 1833. Quando o termo "caramelo" é menção por  Fortuna, um historiador local, num documento  de 1613,  relativo ao batismo de S. Lourenço, filho de Gonçalo Fernandes, caramelo do Duque de Aveiro. 
(...) Fortuna (1997) começa por afirmar que o substantivo designa a deslocação dos ranchos do norte que anualmente transpunham o Tejo a fim de mourejarem em campanhas sazonais de trabalhos agrícolas: com esse êxodo rural de de dúzias – mesmo centos – de famílias, os caramelos personificam capítulo tão capital da história da agricultura e ruralidade de Palmela (1997: 59). Todavia, considera que a marca mais profunda desta gente não foi o ir trabalhar para fora, mas a fixação nas terras de acolhimento. Desenhou o cenário das suas principais ocupações agrícolas, dividindo-os segundo as seguintes categorias: Caramelo da Uva – habitava entre estação ferroviária de Palmela ao Poceirão, de Agualva a Pegões, Asseiceira e Forninho, Cajados, Carregueira, Rio Frio; e Caramelo da Hortaliça – a mancha hortícola fixava-se em zonas onde a água era abundante e a pouca profundidade, o que no concelho de Palmela corresponde a uma linha que vai de Pinhal Novo à Barracheia, com o epicentro nos Olhos de Água.
Quanto ao significado, considerou que poderia ser sinónimo de rijo e duro, de acordo com a capacidade que estes trabalhadores tinham em se adaptar às difíceis condições de trabalho.

 De outra perspectiva, Maltez considera que o ”caramelo”, açúcar em ponto e solidificado, também significa “doçura” e, consoante as fases de confecção, “brandura”, maleabilidade”, facilidade de se adaptar às situações
(...) As gentes gandaresas de rosto e corpo tisnado pelo sol, “cavando a leiva”, ritmadamente com os pesados alviõs, por certo “derretiam” as fracas reservas que as migas com o toicinho frito lá iam fornecendo. Cabrita assinalou também uma primeira referência ao termo, em 1609, com as “charamelas” – tocadores de instrumento. É-nos possível sugerir que esta denominação coletiva se formou através da conjugação dos fatores origem, destino e ocupação. Os migrantes originários das zonas delimitadas por Fortuna que se deslocaram para as terras que atualmente compõem a freguesia de Pinhal Novo (...)Fortuna, no seguimento da pesquisa de fontes históricas encontrou vários registos de róis de confessados e outros documentos que indicam a presença desta designação (caramelo) em grande número. Com recurso ao registo de batismos, que denomina por registos dos caramelitos, por um período de quase cem anos: 1850 a 1945, verificou que as primeiras e maiores zonas de destino foram Azeitão, Moita e Palmela.

O apelativo surgiu com uma forte conotação pejorativa
(...) Com o objetivo de identificar o outro, o que veio de fora para aqui se sujeitar a precárias condições de vidaEram gente habituada ao trabalho do campo,  que provinha da Beira Litoral, entre Mira e Pombal e procurava melhores e maiores proventos. Chamados para desempenhar tarefas sazonais, na sua maioria, eram apelidados de caramelos de ir e vir. Os que se fixavam por ali eram conhecidos pelos caramelos de estar. Aos poucos, foram transformando as terras incultas obtendo culturas de sequeiro e de regadio, abrindo poços, regando, cavando. Dentre os utensílios de designação característica desta comunidade, salientem-se: a copa (alcofa de comer), a torta (enxada), a tampana (cesto de vime para carregar o arroz) .Particularmente interessante é o apontamento de traje regional, à época, que segue os modelos pesquisados para os ranchos folclóricos e que se baseia no vestuário quotidiano e de festa do caramelo (...)o retrato do mundo agrícola.

Mais dissecar
A depreender que o apodo ou alcunha "caramelo" ao fácil associar dos típicos caramelos espanhóis que passámos a conhecer depois do 25 de abril, nas idas a Badajoz, e dos caramelos que se agarravam aos dentes, em analogia ao nome a gente rija e doce, quando sempre o foi rija, mas rude... Porém,  se julgue a alcunha advenha da cor, por serem mulatos, que ninguém se lembrou. A região de onde provinham - o centro do País, foi depois da Reconquista cristã fortemente habitada por mouros, após a reconquista cristã e na região se foram cruzando, a perpetuar o topónimo - Serra do Mouro . Por aqui viveram escondidos até se cruzarem e ganharem a vida a trabalhar para os Senhores, donatários das terras, com escravos negros trazidos de África e do Brasil, em cruzamento sucessivo com brancos, deram boa natalidade ao se aclarar a tez em pele sedosa, caramela, bonita e macia, na minha opinião .  Obreiros a desbravar moiteiras e costados em leirões, arroteio como  secagem  para cultivo das terras, sendo claro, sendo senhores, faziam das mulheres o que queriam, na contribuição da natalidade mestiça a progredir em  sucessivas gerações que se iam aclarando. Ainda prevalecem características; cabelos carapinha como seus resquícios, em fotos quando eram novos, de cabelos com as linhas de ondas bem definidas, pele seda, sem rugas, olhos escuros, tez morena, lábios grossos e outros nariz achatado. Há registos na região de Ansião onde entravam terras do Duque de Aveiro e, de escravos forros a morar em casa de capitães mor e de um topónimo algures ao Pontão - Vale Escravo. 
Cerca de 1500. D. Jorge de Lencastre, mandou edificar a ermida a NSAtalaia, o seu filho foi o Duque de Aveiro. Se possa concluir que as terras naquela altura estavam na posse da família, tendo entre outras, a Casa de Pereira, em Montemor o Velho e, na região de Ansião o Morgadio da Sarzedela, seguindo para nascente, Lagarteira, Caneve, Penela, e daqui para sul, Avelar, Aguda, Chão de Couce até o  sul da Mouta Redonda, onde teve moinhos de água, seguinte para poente, Pereiro, Pousafoles o Velho( hoje Pousaflores) para se distinguir de Pousafoles o Novo, que ainda existe  no Espinhal),  Martim Vaqueiro e quinta de Sarzedas, à  extrema com a herdade de Ansião no Suímo( Cavadas).Em Ansião houve um paúl de terras alagadiças , chamado Paul de Ansião. Se avente  foi ao limite a sul no vale do Buyo, aos Olhos d' Agua, onde ganhou o topónimo Porto Largo e, se estendia para o Fundo da Rua, onde hoje existe um prédio com bombas sempre a bombear água.  E claro, terras onde já se praticavam trabalhos árduos a enxugar e secar para a criação de  gado bovino. Portanto, pelo menos já na centúria de 600 quem trouxe serviçais alcunhados caramelos - mestiços de tez caramela, vindos das suas propriedades do centro, a trabalhos a que já estavam habituados. Admita-se, alguns vieram a se fixar e constituíram família, se deixando ficar remediados a viver em casebres nos séculos seguintes,sendo  rejuvenescidos por outros conterrâneos na aventura de melhores condições de vida . As terras precisavam de muita mão de obra no arroteio para amanho e, na atividade moageira , nos moinhos de água, ou de maré, arte em Ansião documentada numa contenda na Torre do Tombo em 1359. A seguimento, o chamariz a outros, para virem fazer safras sazonais ou temporadas maiores, cuja decisão pendia de voltar à terra ou ficar, se encontrava encosto para se juntar, formando família, sem casamento, não batizavam os filhos, tão pouco a prática da religião , dizem , arreigados pelos maus caminhos e as igrejas serem longe. Embora pareça plausível, se admita era gente revoltada e rude com a religião, pelos seus antepassados terem sido obrigados a professar a fé cristã em prol da judaica, ainda viva na sua recordação, apenas iam a romarias pela festa, pelo encontro; homens e mulheres, pela folia, pela pinga, pelas broinhas, cavacas  e, da bulha com os paus, mas, também pelas oportunidades que se podiam estabelecer, como mostrar filhas para arranjar bom partido, vender ou comprar bens e ouro ou prata a ourives. Agora dizer que era gente de fé, me pareça difícil acreditar, antes gente de profanar a religião em prol a ganho de alguma coisa, o sofisma do povo judeus expulso de Espanha depois de 1492 e se fixou na região centro, dando azo a milagres e a retirar proveito, jamais explorado. Uma coisa é certa o povo era letrado quando chega a Portugal perdendo essa faculdade,nos séculos, ma,s não o instinto judeu.
(...) Boa parte das tradições e festividades que trouxeram dos seus locais de origem já desapareceram. Subsiste o gosto pelo jogo do pau e a participação nos círios da Atalaia,  no final de Agosto. Segundo Cachado (1988, 221), existem  ainda três Círios na zona caramela: o círio da Carregueira (1833), o círio dos Olhos de Água (1856), o círio Novo (1943).  O  círio da Carregueira refere-se a uma promessa no período da cólera-morbus. Consta de uma caminhada (atualmente em carros e camionetas) em direção ao santuário, com estandarte e bandeiras. Uma delas é a bandeira do círio, com a imagem da Senhora pintada, e que está à guarda de um juiz, o cabeça da comissão festeira, responsável pelo património do círio (Marques,1996, 70). Além das bandeiras e das fogaças (bolos tradicionais com função de voto), que são arrematadas, há ainda as medalhas, de fatura artesanal, em  papelão, papel metalizado, missangas e tecido, que funcionam como insígnias, distintivos, com uma carga simbólica muito particular. A constatação da importância de preservar os traços de uma primitiva colonização da zona tem vindo a incentivar a realização de recolhas e de mostras que divulgam e cuidam da gestão desta memória coletiva. Outros decidiam regressar à terra, dando azo ao dito popular - caramelos de ficar e caramelos de ir.
(...) em 1776, a informação relativa ao lançamento das sisas de um vinha de António Jorge Caramelo, na Moita. Em 1779, a única referência em documentos oficiais de Palmela ao nome Caramelo: Miranda, Caramelo de Rio Frio. Também em 1791, o desembargador Joaquim Pedro Gomes de Oliveira, natural de Azeitão, numa análise apresentada à Academia das Ciências, observou: “...o que mostra ser muito antigo o uso que ainda atualmente existe, de vir todos os anos estabelecer-se ali muitos homens da província da Beira que, acabados os trabalhos das vinhas, voltam os mais deles para a sua pátria.”. As informações apresentadas pelo autor revelam uma migração do povo da beira litoral para o sul com origens antigas, sendo que, depois de Azeitão, foi o concelho da Moita o segundo local de destino, e posteriormente o concelho de Palmela, mais propriamente a atual freguesia de Rio Frio. Os migrantes só passavam a ser caramelos no momento em que chegavam a esta região. Nos seus relatos dizem desconhecer completamente o que terá originado tal nome, e o mesmo sucede com os habitantes locais.
Todavia, considera que a marca mais profunda desta gente não foi o ir trabalhar para fora, mas a fixação nas terras de acolhimento. 

A  herança na gastronomia da sopa caramela
(...) Ainda hoje muito conhecida e difundida, à base de feijão, batata e couve, continha os ingredientes-base da alimentação destes rurais, a que se juntava o pão de milho e, em dias de festa, a carne de porco. A vivência em quartéis (nome dos barracões das herdades junto das áreas de cultivo, alimentação, constituída por sopas com massas e feijão, arroz, farinha de milho e de trigo e chicharro (sopas caramela), aos modos de trabalho agrícola essencialmente nos arrozais e vinhas.

A Herdade de Rio Frio, em 1892
(...) Tinha 17 mil hectares, entre arrozais, sobro e o veterinário José Maria dos Santos, filho de ferrador, em 1890 plantou vinha, com 6 milhões de cepas,  num total de dez milhões, exploração vinícola sem rival no mundo. Nas gerações seguintes, a herdade continuava a ser uma das maiores do pais e foi deixada em herança ao sobrinho  Alfredo Santos Jorge.

(...)O  nome  Lupi  está  intimamente  ligado  ao  mundo tauromáquico  da  Península  Ibérica.  Isso  se  deve  em maior parte ao nome José Samuel Lupi, clássico cavaleirtauromáquico português, a quem, a a par de outros como os Doméc, se deve  uma grande divulgação do  "rejoneo"em Espanha.

1982 Falecimento de Maria Amélia Pereira Lupi. Partilhada Herdade de
Rio Frio. José Lupi fica com a Barroca D’alva e transfere a sua coudelaria
para Espanha
1988 Alienação da Herdade Agrícola de Rio Frio ao industrial Francisco
Garcia

(...) Terão os novos senhores de Rio Frio o génio e a sabedoria dum José Maria dos Santos, ou a habilidade e equilíbrio de gestão de Santos Jorge e José Lupi  para  utilizar  essa  memória  como  ferramenta  de  futuro?  Este  é  desafio do presente! 

Em verdade, mal aqui cheguei fiquei até hoje com a sensação que já aqui tinha estado...telepatia!

                                  

Na abertura dos alicerces dos edifícios, que depois construí, apareceraõ
fragmentos de potes, que tinhaõ servido à fundição de vidro, e fragmentos
de vasos do próprio vidro; o que me persuadio, que em muito remota
antiguidade, houvera alia alguma fabrica deste género, assim como





A  entrada para a Herdade de Rio Rio, apresenta-se cingida em cotovelo, quando por ali se apresenta chão plano, pese a ribeira ou será o Rio Frio que lhe atesta a toponímia, acresce a sinalética desatualizada, já não existe adega e esqueletos de outdoors...e por todo o lado canavial em despautério.
Pese o letreiro - Propriedade Privada
Continuámos...A estrada divide duas facções, da divisão da herdade com o falecimento de Maria Amélia Pereira Lupi. Partilhada a herdade de rio frio José Lupi fica com a Barroca d'Alva e transfere a sua coudelaria para Espanha.
Em 1988 alienação da herdade agrícola de Rio Frio ao industrial Francisco Garcia, supostamente hoje na posse da Banca, afilada na  esquerda.
Na direita mantém-se  privada,  de Maria de Lourdes Pereira Lupi d'Orey, atual proprietária do Palácio de Rio Frio. 
A cegonha não se deixou fotografar na boca da chaminé...

            

Esqueletos do engenho do arroz e das adegas 

  
O sino que ao toque dava o sinal do pessoal entrar ao trabalho
Palácio em Turismo de Habitação
Alfredo Santos Silva quem mandou construir o Palácio de Rio Frio em 1918. Não se sabe quem foi o arquitecto, mas há muito traço de Raul Lino. A documentação desapareceu num incêndio, os azulejos que decoram o exterior e o interior  foram encomendados a Jorge Colaço. Quem pintou em 1930 os painéis azulejares da Estação da CP de Vila Franca de Xira.
Vista para sul
A piscina
Vista do terreiro da capela de NSConceição

A graça da moldura em barro dos frades a segurara a Cruz  

O orago da herdade é a NSConceição que tem um grande obelisco na Barroca d'Alva e se revê no filme A Herdade
Distingui o interior através da grade das janelas
Os painéis azulejares reportam para a Fábrica Viúva Lamego, pela semelhança na capela do Bairro do Pombal em Almada dos anos 50 do séc. XX
O altar mor com uma pintura, não sei se tela de NSenhora rodeada por anjinhos
Não fotografei os Bairros dos colonos residentes, junto à capela, o Bairro Novo e no alto para norte distingui as casas adoçadas e suas chaminés,com infra estruturas sociais de apoio à população residente. Tem sido palco de rodagem de telenovelas como Terra Brava.

Fontes
Wikipédia 
https://vdocuments.site/rmemoria-da-herdade-de-rio-frio.html
António Matos Fortuna (1930 – 2008) foi um historiador local que publicou diversas obras sobre a história da região. O tema dos Caramelos foi largamente abordado em algumas das suas publicações e comunicações, em encontros locais. Com recurso às suas próprias memórias, difundiu uma imagem poética das gentes que o acompanharam na infância. No âmbito deste trabalho, apresenta-se como um dos protagonistas centrais no processo de fabricação desta identidade colectiva. Macacos me mordam se sou capaz de perceber a indiferença, o desprezo ou a ignorância, talvez tudo junto, que envolve, por parte dos estudiosos (mestres, alunos ou curiosos) da antropologia cultural portuguesa, esse filão riquíssimo da sua especialidade no ramo das ciências humanísticas, que é o dos caramelos. [Fortuna11:1997:43] 
Pois, caro Fortuna, façamos-lhe a vontade.

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