sábado, 11 de março de 2023

Ateanha de 1939, no livro Ladeia, Ladera do Dr. Salvador Dias Arnault e aos meus olhos em 2023

Crónica  com resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em março de 2023

Prefaciar Séneca 

“O mundo seria muito pequeno se não houvesse nele matéria de investigação para todos”

Vista de Aljazede sobre o morro da Ateanha 

Despertei, para o topónimo Ateanha, no anos 60, do séc. XX, pela alcunha  do"Mário Costa o Ateanha" então motorista da Transportadora Serras de Ansião. Paravam ao largo do Ribeiro da Vide, para mudança de óleos e  pneus. Seguida da Dissertação de Mestrado de 2010, do Dr.  Manuel Bernardo Pereira Vieira Nunes Cravo - Estudo arqueológico do território compreendido entre Aljazede/Ateanha, Chão de Ourique/Póvoa e Vale do Rio Dueça. A leitura por duas vezes, temática descrita muito difícil, do livro, Ladeia, Ladera do Dr. Salvador Dias Arnault. Em documentários televisivos, a visão que todo aquele que gosta de entender de onde veio é fulcral conhecer a Grécia, Síria,  Pérsia,  Geórgia, Argélia. E, o conhecimento local  a passeio e caminhadas, fulcral para melhor entender o período  romano. Defendo que em historia nada é certo, ou totalmente certo. Depende do carisma do investigador à interpretação e ao conhecimento do local, com as fontes documentais disponíveis , debalde, com lacunas. Falar da Ateanha que integrou a Ladeia, um território abrangente, jamais estudado no seu todo, apenas  parcialmente. Como jamais  saem da base de conforto, sem  audácia de presumir. 

Partilho uma curiosidade, debalde, não sei em que altura aconteceu 

Conta-se que há anos o Dr. Prates Miguel e um amigo foram à Ateanha, questionando o primeiro homem que viram onde podiam encontrar testemunhos deixados pelos romanos? Responde o homem; sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura... 

A falta de cultura foi inimiga aos achados que se foram perdendo! Como na atualidade o alcatroamento de caminhos, sem ter estudo prévio, mata os indícios e assim em pleno séc. XXI . Ansião sem ter classificado o corredor principal e secundários, ao estar sita tão perto de Conímbriga, é no mínimo avassalador. Com filhos a estudar em Coimbra há 500 anos, nenhum foi audaz!

A várzea de Aljazede

A partir do IC 8, depois dos Olhos d'Água, corta-se para o Maxial, Cabeça Redonda, a desfrute do extenso vale chamado  várzea e a aldeia de Aljazede, com sinalética para Ateanha. Ou pela Lagarteira, depois da Coelhosa, no entroncamento à esquerda, na várzea uma linda lagoa cársica, com subida pela bela aldeia de Aljazede. Depois da aldeia de  Aljazede apresenta-se uma encruzilhada de caminhos com Alminhas. Caminho em terra batida à direita para o Poço do Carril e Cumeeira . Em frente, em subida Ateanha. Para norte, Casas Novas (Soure), e para a esquerda Vendas do Brasil. 

Quem ali chega e não se sente fascinado  com aquela alta escarpa, de 422 metros, aprumada, que irradia na planura centralidade e defesa natural? Também chamado Cabeço da Atenha, com um castro que foi romanizado. Numa ladeira, adjacente  algumas pedras de calçada num pequeno troço, em crer fez a ligação ao quelho a nascente, a primeira  via de acesso à via romana até abrirem a ladeira que vem embocar na entrada da aldeia com outras Alminhas.

Decorreram  limpezas de matos altos, aventa nova escavação arqueológica na Cova da Moura. A aldeia foi implantada a uma cota de 384 metros.

Há anos, um conterrâneo pintor de apelido Castro, trouxe amigos que desafiou a deixar na tela este ambiente místico. Montaram cavaletes à pintura naturalista. Imagino o deleite a contemplar o vasto panorama desértico, amargo e doce, vestido a calhau, beijado a erva de Santa Maria, espreitando os cónicos Germanelo, o mano Juromelo  em riso, ao morro da Ateanha!

Ateanha

Ateanha, foi uma herdade que pertenceu à herdade mãe do Alvorge. Integrou no passado a Ladeia, região de grande abrangência até Formigais.  Quando os Romanos chegaram à região teriam encontrado alguns núcleos populacionais sobretudo junto aos vales aluvionares localizados entre as serras e os ambientes dunares do litoral, porque o mar penetrava para o interior de terras baixas formando extensas lagunas, como as de Alfeizerão ou da Pederneira, e temos em Pombal o topónimo Ilha . Por aquelas vias de penetração naturais, através da serra ou pelas abras e reentrâncias marinhas do litoral, chegavam múltiplas influências exógenas à  região aberta ao exterior onde se conjugavam povos e culturas de origem semita e mediterrânica, como os Túrdulos  e fenícios, com presença  visível por volta do séc. VIII a.C.  que se fixaram  em colónias de Tavarede,  e na pequena colina calcária de Santa Olaia (Figueira da Foz), em pleno antigo estuário do Mondego, onde instalaram um porto. As ligações, antes privilegiadas com o mundo atlântico, tornam-se, então, muito mais estreitas com o Mediterrâneo, também a partir de Ílhavo, e do morro do Castelo de Ourém. Os fenícios eram navegadores  e mercadores, vindos  do atual Líbano e da zona costeira da moderna Síria. Foi a abundância de peixe, salga e, a cobiça da prata,  cobre e estanho. Traziam para as suas trocas comerciais; tecidos, vidros, porcelanas, armas e objetos de adorno. Com outros povos de características indo-europeias ou continentais, como os Celtas ou Lusitanos. Em 1978, quando trabalhei em Coimbra, fiquei impressionada com uma peixeira de Buarcos, cuja fisionomia, estatura  e rosto, em tudo igual à minha avó Piedade da Cruz de Ansião, não eram parecidas - eram iguais! Já em Lisboa, tive um colega  que um dia se abeirou de mim dizendo que eu tinha genes fenícios. Explicou em detalhe; cabelos asa de corvo, tez branca, olhos grandes de ligeiro amendoado, nariz afilado, lábios finos como as mãos e os pés. E, sim, genes do meu lado paterno. O meu pai e, a sua mãe mediam quase 1,90.

Seguiram-se aos itálicos romanos que se instalaram na região, num paralelo entre Alcobaça, Porto de Mós, Colipo (Leiria), Pombal e Conímbriga os  Cartagineses e  Gregos, seus concorrentes comerciais . Os gregos fundaram uma colónia  em Alcácer do Sal, com herança da mancha de pinheiro manso. 

Ainda saltam genes destes povos na região da Ladeira . Mas, sobretudo do povo grego em  indivíduos de alta estatura e outros mediana, dada pelos cruzamentos de gerações. Uns de andar desajeitado,  rostos vincados a cariz pesado, olhar negro outros azul, e sobrancelhas carregadas. Recordo as vendedeiras de barros dos Ramalhais, em Abiul .Exaltavam o seu traje negro com saias pelas costas a brilho do ouro das arcadas nas orelhas  e, ao peito cordão com medalhão.E a avó paterna do meu marido Rosa Marques, da Mouta Redonda; olhos azuis, em cara austera e bigode.

Gigantes

Os romanos antes da erupção do Vesúvio, já falavam de gigantes, vindos do mar Mediterrâneo. 

Todos estes povos, e outros, conheceram a Ladeia e deles somos parentes!

Ateanha em 1939, no livro Ladeia, Ladera do Dr. Salvador Dias Arnaut

Excerto "Atheania, doação por D. Afonso Henriques a 09.04.1160, com a sua turre, defendida natural e artificialmente (…) A talha velha do altar da capela a S. Martinho de Tours (...) de nascente para o monte da Ateanha, uma cinta de rochas a bordar-lhe o cume – o povo chama-lhe Muretes da Ateanha. A edificação alta, será o resto da torre da Ateanha, já pensei que sim; hoje, depois de visita demorada, a habitação, não tem nada que ver com a pequena defesa do tempo de D. Afonso Henriques, de que não parece haver no monte quaisquer vestígios. Aos limites da Granja marcos com siglas D E V, do Séc. XVI. A Várzea de Aljazede, muito agricultada tem aparecido vestígios romanos e onde há a interessante Fonte dos Mouros da Ateanha, de configuração originalíssima, bastante abaixo do nível do solo- desce-se por uma escada estreita – e o poço do carril. Bem empedrado com uma escada de pedra até ao fundo.

Bela região a Ateanha!

Nos seus campos secos, nas suas nascentes preciosas, nas suas aldeias negras, pacatas – quanto não há, que pode prender o artista ou o arqueólogo!

Andar por aquela terra semeada de trigo, topando aqui um marco com letras esculpidas, além uma pedra com uma cruz gravada, ainda mais além um abrigo talhado na rocha; ouvir à beira da fonte dos mouros ou duma lagoa, alguma lenda contada por um aldeão de tez tisnada, vestido de saragoça; subir ao surpreendente miradouro que é a Ateanha, aldeia dormente (que só por si merecia um livro) de ar antigo – ruas estreitas, casas negras (…) à sombra de velhas oliveiras – fazer tudo isto é passar momentos inesquecíveis…e depois o silencio daqueles campos, daquelas aldeias que parecem arredadas do mundo, é verdadeiramente perturbador. "
 
Ateanha aos meus olhos,  em 2023

Indubitável rasgo lírico do autor à aldeia âmago Ateanha, de pedra vestida a sépia, à luz da traça judaica, fiel guardadora de balcões, piais, bancos, muros de pedra seca, degraus flutuantes, a jus de escada, altivos eirados, em leiras delgadas de terra! 

Herança árabe: Leiras como se fossem canteiros

Leiras delgadas de terra fechadas por lajes, uma tradição que foi uso em terras minhas; no Salgueiro em Ansião e Mouta Redonda

Debalde, imerecido à abrangência histórica da Ladeia, ao contestar a origem da lenda dos ferreiros na Monografia de Penela, de 1919 (…) não há qualquer elemento que dê razão ao Sr. Jarnault sobre a origem grega da lenda dos montes germanelo; do latim gemanellus, os irmãozinhos.  

Na idade média, a lenda retratou gigantes, que atiravam um martelo de um monte para o outro, o mito, que sustenta o topónimo do monte a norte, Germanelo, que  o povo chama Castelo, com 359 metros de altitude. E, a  sul outro, de 401 metros, que lhe dista 2 Km, o Gerumelo. No séc. XII, estes dois montes  cónicos, chamados germanelos, foram eternizados ironicamente  irmãozinhos

Sustento outra teoria com origem na  Galiza, trazida por povoadores, a raça bovina do boi amarelo. Recordo os belos exemplares pachorrentos, que o Chico Serra e o Luís Lucas, tiveram nos Escampados. Hoje perdidas em Ansião, com a chegada dos pequenos tratores. Porém, continua riqueza na aposta da boa carne em Jarmelo, na Guarda. Inspira este topónimo - Jarmelo, estar ligado à origem do topónimo Germanelo, trazido pelos povoadores vindos da raia da Beira Baixa para a região.

Na Ladeia, temos outra lenda do gigante D. Gaião ou Languilhão, que vivia na Torre da Murta, em Ferreira do Zêzere, num  pulo da alta janela caia sobre os viajantes para os  roubar.Quem conhece sabe que a torre fica bem acima do corredor da via romana que foi medieval para Lisboa.

Na Sardenha , há  torres redondas  - chamadas "Nurages "

Na Tunísia e na ilha de Malta, há Enormes sulcos de carroças onde passaram grandes blocos de pedra . 

Curiosamente, em Ferreira do Zêzere, temos o topónimo Gontijas; quiçá,  ligado a Gigantija, um lugar de gigantes na ilha de Malta, com  sepulturas e monumentos megalíticos, com  pedras de grande tonelagem, que era impossível mover se não fossem gigantes, segundo os investigadores. 

Dizem que os gigantes eram descendentes de titãs.  O Adão era um gigante.

Admitem  investigadores que o Deus Saturno, foi  um titã gigante  que fundou cidades iniciadas por A, com técnicas de construção de várias civilizações  . A temática é aflorada no Génesis pelos Sumérios - os deuses fizeram sexo com os humanos  e nasceram gigantes...nos textos judaicos parece Adão  no capitulo  6,  na menção que foi um gigante . A verdadeira história da raça humana  do  geoma humano  com anões e gigantes. 

O gigantismo é uma doença hormonal, a lembrar o saudoso “João anão” que foi grande, chamado pequeno, em Ansião. A sua tia Jezulinda,  viveu no Carvalhal do Bairro, mulher grande e entroncada, sabia como ninguém o poder das plantas e suas mezinhas. Quem me curou o cobrão com uma massa de palhas de alho, azeite e enxofre. 

Há vivos apelidos que conheci ao tempo na minha profissão; Gigante, Pernas Altas, Grande e Grego, num jazigo em Almoster.

Na foto O Sr. Vinagre da Sarzedela, que trabalhou no Grémio ao lado do "João anão"

Casario de traça judaica na Ateanha 

O tradicional balcão ; escadaria  

Revela que a casa antiga era baixa e mais tarde foi alteada para sobrado com o balcão. Resta do tempo primitivo  o V  invertido acima do lintel da porta inicial que era uso para suportar a parede.

Perguntei a razão do topónimo, não me souberam dizer... 
Resíduo da caminhada de Santiago da Guarda com o plástico preso ...que devia ter sido logo retirado!      

 Requalificações no passado mal feitas na junção de prédios

                        

 Piais que outrora levaram vasos com sardinheiras de folha rendilhada

                        

Piais de suporte de parreiral alto


 A origem do topónimo  Ateanha

Seguro, que assenta o topónimo  Atenas, na deusa grega da sabedoria Athena . 

Onde creio também assenta o topónimo Ateanha , pela grafia antiga no Foral que evoluiu .

Extrato do mapa topográfico do Bispado de Coimbra de 1797 , retirado da pág. Facebook Genealogia das Cinco Vilas.

Lê-se Tianha

Erro ditado pela oralidade num tempo que se falava muito mal 

Contudo ( José Pedro Machado, 1993, 182)  Afirma que terá origem germânica relacionada com um antropónimo Atilanes, plural de Átila. já Antaniyya pode relacionar-se com o antropónimo hispano-romano Attianus (que, aliás, se regista em Tomar e Ferreira do Zêzere ou com o antropónimo germânico Attila. 

O Dr. David Lopes eminente arabista, sobre o vocábulo - Alvorge, diz que é de origem grega, trazido  pelos árabes, com o significado de pequeno forte, fortim.

O que faz sentido dizer  é que os gregos já cá estavam na Ladeia,  antes dos árabes...

Lisboa, foi edificada por Ulysses Grego de nação,

Reconheço na região da que foi a Ladeia,  heranças gregas:

O pinhão com  solicitação de alvará régio para a Feira dos Pinhões na Constantina, Ansião há mais de 300 anos. Existe salpico de pinheiro manso por toda a região da Ladeia.

O famoso queijo, denominado  Rabaçal, que devia ser rotulado Sicó, com mistura de leite de ovelha e cabra. 

Perdida  cultura do linho, no Vale de Sancada na Lagarteira, ainda há velhas casas com arcas de linho.

Cortiços, foram  as colmeias tradicionais para o  mel.

          A sopa de feijão que eles usavam lentilha e cevada, com repolho e nabos

          Os gregos usavam uma pedra ou telho para limpar o rabo coo nós antes do papel higiénico ~

          A sabedoria do poder curativo das plantas. 

         Rosas de Alexandria e Estrelas do Egipto, espreitam velhas ruínas!

Prospeção à cata da atalaia, a torre da Ateanha

Declinei os seguintes polos:

 I -Morro acima da casa de família Cerca

Um quelho que encima com parede em redondo com 3 sítios de degraus flutuantes, para sul a jus de escada.

                       

 O interior em prado, sem vestígios de nada. Mas, aventa ter sido alguma coisa...um castro romanizado.

O muro em redondo é circundado em 3 sítios por degraus flutuantes

                    

                     

 A poente corre-lhe este caminho de ladeira com resto de pedras de calçada

                     

A calçada levava ao castro que foi romanizado, o que faz sentido afirmar.

               

II - Local de prospeção à cata da atalaia

O mote do que resta do muro a norte da capela ao qual foi adoçado um alpendre para a festa

Na entrada  da Ateanha

Acima do banco de cimento, à direita, encontra-se um muro, cujo gaveto para um beco, apresenta a caraterística curiosa - uma ombreira ao alto a indiciar ter sido de uma passagem suportada por um lintel em redondo, alvitra reutilização, ou não e, fez parte da cintura de defesa da torre, e foi sentinela , pela menção no Foral, a torre  teve defesa natural e artificial

Ao murete da Ateanha

O meu bem-haja ao Sr. Silvestre, pela frutuosa partilha do sítio do celeiro medieval e da Fonte dos Mouros. 

Aponto o local a norte do sitio do celeiro, onde resta parte de uma parede de pedra que foi reutilizada com acabamento a tijolo. Ponto estratégico, onde entesta um quelho sinuoso e alcantilado que foi o primeiro de ligação ao castro no morro, e reutilizado pelos romanos à torre. 

Ponto estratégico, de ampla visão do corredor romano, vindo de nascente de Casas Novas, Poço dos Mouros, Dolina, seguindo para sul para o Poço do Carril.

O padre Coutinho, aponta também o celeiro, pelos vestígios antigos; janela chanfrada etc, mas, estilo manuelino! 

A meu ver, não sei se ele entendeu que o celeiro estava ligado ao casario da herdade da Ateanha, onde referiu os tais vestígios de antiguidade. Entendeu concerteza, agora a torre ou foi localizada a norte onde embocava o quelho, na minha perspetiva, ou não a escassos metros a sul. 

Segundo Ilídio Valente da Constantina, a quem agradeço a partilha depois desta publicação, quando trabalhou na Argilex, teve um colega da Ateanha, ali morador , e conheceu  o que restava da torre. Segundo ele teve 3 pisos onde era guardado feno. Tendo sido derrubado  um para fazerem julga uma garagem. Tinha janelas góticas e uma sapata de grandes pedras, que ainda devem lá estar.

Intriga as janelas góticas. O padre Coutinho não se referir a elas, muito menos o Dr. Salvador Arnaul em 1936, quando conheceu a Ateanha pelo menos duas vezes e da última foi demorada.

O sítio da atalaia, a torre da Ateanha, aos meus olhos

Posto todas as considerações, mantenho a minha teoria, a torre foi sediada no términus do aglomerado conforme mostra a foto a embocar no quelho de ligação, então o único ao morro. 

Com aproveitamento da rocha natural e parede de pedra.  Em baixo, apresenta uma pequena abertura encimada por lintel,  quase assoreada. Como revela que a parede foi alta, ainda guarda os buracos em quadrado, onde os andaimes foram metidos . A torre, a ter sido ali foi onde a identifico. Mas, claro deve haver estudo aprofundado ao que resta de indícios.

Falta apurar as derivações do corredor principal romano para a villae de Santiago da Guarda e da villae de S. Simão, julgo seriam  mais atrás, falta estudar os caminhos. Por exemplo na foto abaixo há um entroncamento com um caminho para a esquerda, indicia seguir para S. Simão em Penela. Quiçá já absorvido pela britadeira...
 A memória já fraqueja. Há anos encontrei informação  no Portal do Arqueólogo, mas esqueci-me...
Passados dias noutra investigação encontrei e aqui partilho.
Mas, sinceramente gostei bastante de ter ido sem quase nada saber, foi mais autentico. Por isso 3 pistas e só uma venceu.

https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=projetos&subsid=156318
Monte da Ateanha Sítio (19151)
Tipo
Povoado Fortificado
Distrito/Concelho/Freguesia
Leiria/Ansião/Alvorge
Período
Romano e Medieval Cristão
2000/2010

Descrição

Num cabeço cujo topo apresenta uma plataforma aplanada com boas condições naturais de defesa e um amplo domínio visual sobre o território envolvente, J. E. R. Coutinho refere a detecção de machados neolíticos e pedaços de utensílios cerâmicos, sem ornamentação. Salienta ainda que, à beira das casas da povoação é frequente encontrar um ou outro fragmento de tegulae. No entanto, é a Norte do cume do monte, em terrenos de cultivo e junto a uma construção do tipo torre, conhecida pelo "celeiro", que se situa mais a Leste, onde se encontra uma grande quantidade de cerâmica fragmentada, da qual, alguma se poderá incluir na cerâmica romana. A prospeção que se realizou ao local permitiu que se detetasse entre a zona de cumeeira e as casas da povoação, numa área com cerca de 30.700 m², em terrenos destinados à prática agrícola, alguma dispersão de material ceramológico, do qual se identificaram alguns fragmentos de cerâmica de cobertura romana. Para além disso, no topo do monte, onde a vegetação arbustiva é bastante densa (Quercus cocifera-carrasco), identificaram-se vestígios de uma possível estrutura, em torno da qual surgiram alguns fragmentos de cerâmica de uso doméstico e um fragmento de arenito. Para Norte deste ponto, a uma distância de 600 m e a uma altitude de 404 m, existe uma outra plataforma aplanada com 27.675 m², que se encontra delimitada a Norte, Este e Oeste por vertentes alcantiladas, cujo coberto vegetal é dominado por uma vegetação rupícola que está nas fissuras do afloramento rochoso. Ali foram detectados vários fragmentos de cerâmica de pastas micácias, cinzenta-escura e acastanhada de tradição marcadamente indígena. Recolheu-se ainda um fragmento de escória e um fragmento de mó. Uma análise mais cuidada às linhas de rocha natural que se encontram visíveis e, que podem ter sido complementadas por blocos de pedra, pois ainda é possível ver amontoados no local, poderão revelar vestígios de estruturas. Em carta de doação de 9 de Abril de 1160, feita ao "colimbriensi monasterio sancte crucis ac vobis quoque domno Iohanni eiusdem ecclesi priori", Dom Afonso Henriques refere que a Ateanha é dada "cum suis terminis et cum sua turre". Apesar de esta ser a primeira referência documental à ocupação deste lugar, os vestígios que foram encontrados e associados à toponímia, autêntica voz da paisagem que retém a memória daqueles que por ali estiveram, levam a supor uma ocupação anterior ao Período da Romanização.

Meio
Terrestre
Acesso
Estrada municipal 348 até ao Alvorge, entroncamento à direita, estrada municipal 1080 passando pela povoação Trás de Figueiró, para nordeste a cerca de 2 kms desta povoação.
Espólio
Machados de pedra polida; Fragmentos de cerâmica de construção; Fragmentos de cerâmica de uso doméstico; Fragmento de escória; Fragmento de mó.
 
Tese de mestado Manuel Cravo
(...) A bibliografia predominante sobre este local está maioritariamente relacionada com a passagem de antigas vias de comunicação por este vale. Também Vasco Mantas, na sua tese de doutoramento sobre “A rede viária romana da faixa atlântica entre Lisboa e Braga” refere detalhadamente o eixo viário que passava nesta região, neste caso específico na Várzea de Aljazede (MANTAS, 1996, 682, 788, 797-798). Mais recentemente também Catarina Mendes(estudou o castro de Rominha em Alvaiázere) indica a passagem de uma via por este local (MENDES, 2008,103 
  O corredor passava pela Fonte dos Mouros, que antes da intervenção era uma fonte de mergulho

 Fundamental  embrenhar afincado na Ladeia cársica 

Tantos sítios, tantos Lugares, desde o Agroal, Chãos, Casais do Vento, Ceras, Pias, Areias, Rego da Murta, Alvaiázere, Vale da Pia, Santiago da Guarda, Alvorge, Serra de Janeanes, Buracas de Casmilo, Redinha, Soure, Condeixa, Alcabideque, Rabaçal, Penela, Ansião,  veio aclarar novas realidades jamais antes despontadas sobre o que foi a Ladeia e as vias romanas que a atravessaram; a principal e secundárias.

Troço de calçada romana da via principal que deslindei na caminhada do trail do Alvorge em 2022

Referencia de habitats romanos ao longo da via principal de Bracara Augusta para Olissipo

A villae  do Rabaçal, teve a primeira referencia  com o Dr. António dos Santos Rocha, em 1905, sobre um baixo relevo , que está no Museu da Figueira da Foz. 

S.Simão em Penela,  foi referida no Jornal o Século de 17.05.1901. O Dr. Jorge Alarcão,  em 1974, fez uma investigação,  só em 2023, o mês passado,  teve apresentação o livro dos achados da villa.

Classificação em Ansião em 2010, na Lagarteira,  nos Verdes, na vila de Ansião

Carta arqueológica de Ferreira do Zêzere do meu amigo Paulo Arsénio e Carlos Batata

 Areias,  Chãos, em Ferreira do Zêzere
          Vila de Cardílio em Torres Novas

Em crer, a torre da Ateanha, à laia de outras foi romana. Foram erigidas para defender a água, que naquele tempo era escassa e, por isso foi riqueza.  

Conímbriga, foi abastecida a 5 km com a nascente em Alcabideque que tema sua torre. 

A sul, a Fonte do Alvorge, também teve torre, foi em parte absorvida na centúria de 600 pelo solar dos Carneiro Figueiredo, que lhe retiraram um andar dos 3 que tinha. 

Admito que atorre da Ateanha defendeu a água do Poço dos Mouros e o Poço do Carril. Na reconquista cristã a torre da Ateanha fez parte da cintura de defesa a Coimbra das algaras mouras!

A Torre da Murta, até hoje sem ninguém entender a sua função, dizem ter sido defensiva templária  e sim foi. Mas, quem a fez se admita, foram os romanos pelos blocos arredondados com argamassa de barro e cal que apresenta semelhança com a de Alcabideque. A Torre da Murta defendia a sul da Ladeia a água da Fonte da Lage, perto do Rego da Murta. Cheguei a esta conclusão depois de estar em Alcabideque e na Torre da Murta. Percebi a linha condutora da água - a riqueza na Ladeia, inserida nos corredores romanos de grande importância - Braga/Lisboa - Chãos/Leiria - Zêzere/Espanha.

Ateanha tem 3 encruzilhadas de caminhos - todas com culto de Alminhas

A mais antiga foi a nascente , em abandono

O corredor romano passou-lhe pela frente com uma encruzilhada de caminhos .A norte corre-lhe um quelho para o morro da Ateanha. Indicia que todos estes caminhos são muito antigos. A nascente, um que contorna a dolina e, seguia para Chã de Ourique. Já a ladeira para poente ligava  à Ateanha.               

Na altura não reparei, agora pela  foto  denota um tambor romano abaixo do altar, reutilizado na parede. Teria sido um culto romano?  As Alminhas são do tempo da chegada dos cristãos novos, há 500 anos. 
Nítida requalificação . A  foto explicita, no local não enxerguei,  um tambor romano em redondo, abaixo do altar.

                             

Apresenta  o V invertido  e a pedra da ara tem um buraco, onde encaixava uma Cruz.

O quelho que nasce a norte das Alminhas para o morro

                       
Ateanha guarda belos eirados com grandes suportes de muros a pedra
Eirados em altura lembram as Nurages na Sardenha...quiçá heranças adaptadas a eiras

Aberração em terra de pedra muro em cimento...O muro tem de ser revestido a lajes de pedra.

Partilhei esta eira há anos, que foi influencia a projetos, pois antes não era conhecida... 

Belo palco para tradições e apelo á cultura


Muitos sítios com degraus flutuantes

Julgo não há regras para manter a aldeia castiça, para chamar o turismo...

Afetos em risco a argamassa e cal 1934               

 Capela de S. Martinho de Tours



Em 2019 publiquei a cronica Projeto para classificar a Senhora d´Ó, Santo Cristo e S. Martinho de Tours em Ansião 

A escultura em pedra, é magnifica. Não está classificada nem estudada. À  partida,  aventa ter sido obra escultórica do Mestre Pêro, aragonês, que fez o túmulo da Rainha Santa Isabel. Foi retratada no Inventário Artístico de 1955 de Gustavo Sequeira. Sorte de não ter sido levado para o Museu de Machado de Castro de Coimbra.

                                 

                           

 Vistas da mescla do antigo com o moderno...

Agonia da ruína ainda bela...

A fechadura  e o balcão, com a escada que dá para a varanda corrida de madeira. 
Tive de afastar a vegetação para poder fotografar.
                            
Séculos de utilização da ombreira pelos buracos de fechaduras...

               
                      
               
                 
Entre silêncios, em dor sofria a orquídea anil, com o sol a crestar-lhes as pétalas, na courela a manso pastoreio...
              

Pasma, ao barulho e pó da britadeira, em mitigado paraíso beijado a calhau e regateiras de fósseis, o tesouro resgatado, em brio, a pelejo de rainha!

 Em perspetiva, a arquitetura hídrica da Ateanha e da várzea, de inédita bibliografia

Guarda três Dolinas cársicas, vulgo lagoas, duas semi muradas. 

O Dr. Salvador Dias Arnault fez o reconhecimento da Fonte dos Mouros, sem a classificar Fonte de mergulho, herança desde a Gardunha. 

E, o poço de escadaria do Carril, não o reconheceu poço de chafurdo. Permitem de verão entrar há medida que o caudal desce. 

Apogeu à perda de exemplares, pela adaptação a fontes. A minha luta na sua divulgação cultural, com apelo à preservação e classificação protegida de Sicó!

Várzea de Aljazede

Depois da Coelhosa, na Lagarteira na direção para Ateanha, apeei-me em 2012, junto da bela geoforma cársica, uma dolina, que o povo chama  lagoa. 

Foto tirada há anos 

  

Ateanha

Dolina, vulgo Lagoa, na entrada da aldeia  semi murada, foto tirada há anos 

Dolina na encruzilhada de caminhos, onde foi o corredor romano

Poço do Mouros


Perdi a foto do Poço do Carril

Infelizmente nada tem de especial, pela adulteração para fonte com roda de ferro, para puxar a água. 

Um poço normal junto da fonte dos Mouros

Marcos senhoriais

Aflorados pelo Dr. Salvador Arnault do  tempo que a Ateanha fez parte da Herdade mãe do Alvorge.


                                          
Calcário margoso que se desfaz em cinza...Filão desde a Cumeeira ao Outeiro e  Santiago da Guarda

Eira na encosta

Ateanha merece ser olhada com olhos de gente!

A toponímia da Rua da Subida deve perpetuar a memória à sua Torre, referida no Foral de Penela!

Ao eixo do caminho ancestral, destoa o banco a cimento, em prol à afirmação da pedra! 

Uma coisa é a promoção de uma empresa da Marinha Grande que patrocinou o banco e outra coisa é enxergar que ali não fica bem! O mesmo para o grande poste da EDP, tem de ser mudado, melhor era  a rede ser abastecida por via subterrânea .

O muro de suporte está bem feito, falta contudo a berma e a valeta  e logo há frente houve desmoronamento, tem de ser reposto.

Logo a seguir muro desmoronado...
No adro da capela este banco com pés, de antiga coluna quinada. Urge colagem a merecido destaque!

Salpico de pinheiro manso
Ateanha é chamariz a cartaz turístico histórico desde o neolítico na rede de aldeias de calcário 
O banco de cimento deve mudar de poiso para a vila, para este  pequeno jardim à saída do parque de estacionamento .
Mais:

O pelouro da cultura deve criar novas regras à construção, manter preservação cuidada, piais floridos com sardinheiras, remediar erros e criar com estética estacionamento! 

Uma aldeia de pedra só perdura se colmatar  erros urbanísticos e educar o povo nesse progresso que é bom para todos, a chamar turismo e riqueza. Mas, tem de haver mudanças de hábitos e aprendizado ao conceito do que é cultura com estética e não aberrações. O meu olhar triste  perante tanta incultura!

Pesquisa de pedidos de passaporte localizei  o de José Mendes Guerreiro

Registo nº 296 

Idade: 23 anos 

Filiação: António Mendes Guerreiro / Maria da Piedade 

Naturalidade: Atianha / Alvorge / Ansião Residência: Atianha / Alvorge / Ansião 

Destino: Santos / Brasil

Datas 1900-11-28 - 1900-11-28

FONTES

Livro Ladeia Ladera

file:///C:/Users/User/Downloads/Disserta%C3%A  %C3%A3o%20mestrado_%20Manuel%20Cravo.pdf
I Congresso de Historia e Património da Alta Estremadura 
 https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=projetos&subsid=156318

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