sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Passeio de comboio a vapor da Régua ao Tua

Um dos meus sonhos de infância era viajar num comboio a vapor. Decidi presentear a família. Se melhor o pensei melhor o fiz. Na Net descobri o endereço turístico e foi fácil fazer a reserva e transferência electrónica ao que de retoma me foi enviado o Voucher para 4 pessoas.Partimos de Ansião no sábado dia 30 de Setembro 2006, pelas 7,30 tomámos a direcção da IP3 só parámos em Mortágua para beber um café e verter águas, comemos uns folhados que tinha feito de véspera para o farnel.De seguida fomos revisitar Tondela, está em franco crescimento, muita habitação nova e infra-estruturas de grandes superfícies. Mal consegui localizar o Solar (restaurante onde há coisa de 25 anos tinha saboreado o melhor caldo verde nesta vida, apesar do que a minha mãe faz também ser muito bom, ali junto à igreja com a sua torre alta do inicio do séc XX.
Convenci o meu marido a rumar até às termas de S. Pedro do Sul. Quase que não reconhecia o local, tantas foram as obras. Deixei de ver o balneário romano. Banhei as mãos nas águas sulfurosas e quentes. 
De regresso à estrada e com receio de nos podermos atrasar só voltámos a parar na Régua. Reconheci a velha estação ferroviária e os vastos armazéns vinháticos em madeira a cair de velhos, na linha fazia-se ouvir o comboio, estava com a fornalha a arder, via-se o fumo saído da chaminé a ondular o horizonte, muito escuro.....do outro lado o rio imenso a espraiar-se num sorriso aberto e mesmo junto a nós o frenesim do vaivém das vindimas com as carrinhas a abarrotar de uvas a luzir no inox dos tanques a caminho dos lagares. Já em Godim por causa dum casamento entrámos numa estrada tão estreita como nunca vi, sempre a subir e não havia jeito de o piso melhorar nem sentido de saída, decidimos inverter a marcha em boa hora o fizemos, já quase à entrada vinha um táxi se tivesse sido um pouco mais à frente não sei como sairíamos daquela enrascada, agora a situação criada quase dá para sorrir, mas não para repetir.Naquela região, o nosso olhar só alcança beleza, vinhedos e mais vinhedos, casas solarengas com os lagares em laboração e o cheiro, o cheiro a mosto a vinho novo...nada de encontrar um parque de merendas para degustar o piquenique que levava e já se fazia horas de almoçar foi mesmo à beira da estrada numa urbanização de vivendas no muro largo de cimento armado que suporta o declive, serviu de mesa e como pano de fundo o rio como paisagem, atrás de nós o corropio da azáfama das vindimas, todos nos endereçavam cumprimentos, estávamos no norte, as pessoas são mais hospitaleiras.Depois de reconfortarmos o estômago fomos estacionar o carro e tomar um címbalo no café da estação.Visitámos o comboio estava a máquina a ser oleada com grandes regadores com bico fino e muito comprido, o operador de manutenção disse-nos que a fornalha demorava 4 horas a aquecer, vi pela 1ª vez o carvão verdadeiro utilizado nos comboios e navios de outrora, trouxe uma pequena amostra para a minha colecção de pedras. 
O comboio ia cheio, sentámo-nos nos lugares virados para o rio, muito fumo e muito apito, trim....pim... pim...quase demasiado, mas faz parte do cenário, foi-nos servido a bordo bôla de presunto de Lamego e um cálice de vinho do Porto e água fresquinha esta grátis, apenas tínhamos de comprar o púcaro de alumínio de 1 € para bebermos as vezes que os aguadeiros passavam de garrafão de palha em braços de rótulo branco a dizer ÁGUA.A nossa carruagem era das mais antigas, uma maravilha, para se abrir as janelas tinham correias de couro largas e para se porem os casacos tinham por cima dos bancos suportes em ferro forjado com rede.Todo o passeio foi deslumbrante. Todo o trajecto desfrutado é magnífico, avistam-se nas colinas muitas quintas no meio dos socalcos de vinhedos, exibem garbosamente grandes cartazes publicitários das suas produçoes ao viajante que fica viciado e espontaneamente repete em voz alta, olha ali em cima é a quinta da Ferreirinha, e a do Calém e a do K... da janela nas curvas via-se o deslizar sinuoso do comboio ao longo do rio, a estrada de fumo e barcos de recreio , trocávamos acenos de adeus, do outro lado as infindáveis paredes e barreiras de xisto como companhia e muito respeito.
 
Chegámos ao Pinhão, sítio pitoresco, no rio viam-se muitos barcos. Alguns turistas terminaram ali o seu passeio . Outros tomaram um dos barcos rumo à Régua, antes tomavam aperitivos na House Vintage do Porto. Quanto a nós preferimos apenas fazer o circuito de comboio, seguimos até ao nosso destino o Tua. Desembarcámos para o comboio mudar de linha e reabastecer de água, foram manobras muito bonitas a fazer lembrar os filmes de westerns, nunca antes tínhamos presenciado tal façanha, a fornalha a ser atestada de carvão pelos homens com pás enormes para não se queimarem. As manobras são um momento lúdico a não perder.Os turistas estavam radiantes meteram-se dentro da máquina queriam ver todos os pormenores, logicamente estavam todos farruscas, até nós, as narinas ficaram cheias de fuligem e a nossa roupa também. Durante o percurso da viagem fomos abrilhantados por um grupo de 4 pessoas de um rancho folclórico, fenomenal a miúda da pandeireta era muito bonita e sabia-o.......fogosa e atrevida o raças da moçoila!
Neste compasso de tempo trouxe umas placas de xisto para a minha colecção assim como um bloco redondo de granito típico desta zona.De regresso oferecemos os nossos lugares aos senhores que tinham vindo sentados do lado do xisto, para poderem apreciar o rio, foi um bonito gesto, sei. Pelo meio estabelecemos alegres conversas, lembro o Sr de Arco do Baúlhe que dizia ser o maior produtor de tremoços da região, o homem não se calava estava sempre a meter conversa com as hospedeiras de bordo, deviam ter trazido uns pastelinhos de bacalhau e tremoços , a bôla que nos deram só deu para o furo de um dente, caramba afinal o bilhete custa 8 contitos...

Acabou a viagem de novo chegada à Régua. Despedimos-nos dos companheiros anónimos desta linda viagem. Aproveitámos ainda a luz do dia e demos uma voltinha pela parte histórica de carro e decidimos ir até Viseu onde já chegámos de noite, jantámos no Hilário, tasca mesmo na zona histórica , barato e muito boa confecção, quando saímos estava a chuviscar, decidimos ir para casa e não dormir fora, a chuva no restante percurso foi intempestiva, furiosa, quase não deixava ver o piso mas com a graça de Deus chegámos bem, dormimos toda a noite o cansaço tomou conta de todos...
Valeu o passeio foi inesquecível!
Aconselho a todos vivenciarem tão belos cenários.

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