terça-feira, 27 de março de 2012

Estreia na feira de velharias em Torres Novas

Em rota de fim de semana prolongado, tinha na agenda o prazer de fazer uma feira na região centro. O dia escolhido foi domingo em Torre Novas.Com a mudança da hora, cheguei em cima das 9 . Perguntei a um colega se havia alguém organizador da feira, resposta prática e platónica -, "não". Com a pressa da escolha do local não acertei pela  falta de prática e de jeito.Tenho os caixotes com a mercadoria divididos em melhores e piores...
  • Decididamente os que levei eram francamente os restos, os piores.
Na andança com os caixotes pelas mãos a caminho do terrado o  meu marido ouviu "entre dentes" um dos colegas (Joaquim cigano) a dizer para outro..."de onde vieram estes"...Até parece que não estou licenciada para vender velharias.Estou sim senhor!
Em pressas, vi uma colega (Ermelinda) que não conhecia ir com o marido que se começou a sentir mal, por causa dos diabetes, o pequeno almoço já devia estar no bucho, andava ela com uma amiga a "encornar" à volta da organização da banca...
Cedo me estreei na venda de DVD's que a minha irmã me ofertou a preços "da uva mijona"...2€ só depois pensei que podia ter ganho mais dinheiro.
  • Reconheci um comprador enfezado de olhar escuro, forte e verruga grande no nariz, melhor ficaria no queixo tal qual a da Catarina Furtado, deu umas 4 voltas à feira, na penúltima comprou-me um naperon redondo e disse-me " na feira de Tomar comprei um parecido à tempos, cheguei a casa e a minha mulher disse-me, podias ter trazido o outro"... respondi eu, comprou-mo a mim!
Vi chegar uma colega magricela de cabelos aloirados encaracolados que conheci na feira de Pombal, a Luísa. Vinha sozinha na sua carrinha. Sem pressas tirou as bancadas e a mercadoria. Depois foi estacionar, de volta lá vinha ela com o seu ar muito naif de bicicleta e calça de perna arregaçada, feliz! 
Nas minhas voltas pelo certame a vi almoçar em mesa junto da sua banca, sempre com ar alegre de boa onda. De tarde veio até mim, comprou-me dois pratinhos um da Viúva Lamego e outro em faiança, à pergunta se era antigo respondi " sim, veja os arrepiados, a argila com impurezas, o esmalte não agarrou aqui, ali é de Lagoa, Açores" responde-me ela, não percebo nada disto!
Uma senhora de cabelos alvos, baixota ,trazia no saco peças de loiça, parou para apressar uma travessa inicio século XX de Coimbra, quando ouviu o preço, disse" tão cara nem marca tem" -, respondi sem hesitação " em faiança rara é a peça marcada"...Nem me deu ouvidos...Só conhece Sacavém e pelos vistos mal!
O meu colega de frente, o Sr Joaquim vendia em conta: boas peças da VA, um bule de caldo de Massarelos, umas floreiras de Alcobaça, alguidares, saíram uns 6, ainda cantaras, Cristos, molduras debruadas a arame retorcido tal e qual como a minha mãe tinha no nosso corredor.Fez boa feira, ainda vendeu guardanapos...Não eram senão naperons em pano debruados com lindas rendas,  lençóis, fronhas, travesseiros, cobertores e mantas de tear.


Relaxei o espírito atormentado. Na sexta, percebemos que fomos novamente sorteados em matéria de assaltos.Na casa rural, desta vez sorteada foi a garagem. Imagimem o inusitado fiquei com o meu marido a olhar para o telhado, pensando que tinham entrado através dele...Pura ilusão, entraram com chave falsa, abriram e fecharam.Uma coisa é certa, nunca até hoje estragaram portas. Roubaram a roçadeira, combustível e acessórios, coisa a rondar os 500€. Mais do que o valor, a falta que faz o equipamento, ainda pelo natal nos fartámos de roçar silvas, giestas e erva alta. Incansável o trabalho para manter limpos os quintais em roda da casa.Ainda por ser comprida deram com o disco no telheiro do patim, partiram 3 telhas que tivemos de substituir. Pior, era da minha mãe.
  • As pinheiras plantadas pelo natal estavam amarelitas pela secura, o meu marido regou-as com água do pocito recuperado por nós de rebordo em xisto feito por mim, esqueci-me de levar a máquina para tirar uma foto. Muitas flores secaram. Pior me senti ao arrancar podres de secas: glicinia; cameleira banca; a magnólia de folhas perenes; laranjeira e uma oliveira de azeitona grossa que me tinha custado 5€. Todos os pés do arbusto "lágrimas"que transplantei, nenhum vingou...Teimosa, insisto... 
Terra ressequida, constatei que se perdeu a anilha de borracha da mangueira, conclusão não pude abrir totalmente a torneira, ficou tudo mal regado. A magicar problemas de consciência porque ando com anilhas no porta moedas e com a mania da troca e baldroca das carteiras de uma casa para a outra, não levei a que as tem no bolso guardadas.

As fotos são de estaminés de colegas. Peças que gosto.Ainda vi um grande pratão em faiança de Coimbra finais do século XIX, com flores circundadas por arabescos a vinoso, marcado 200€, fazia-me 100...Nunca vi nada igual, não me lembrei de pedir à colega para me deixar fotografar, foi do sol de verão que se fazia sentir. Quem o podia comprar, se só fiz 20...
Enfeirei um par de cães de Fó  de pintura policroma, espetacular; um travessa de faiança de Coimbra com flores em tons  rosa e verdes; um copo casca de cebola raro igual a outras peças que tenho; um travesseiro em algodão novo, bordado a ponto  ajour e um lençol em linho ainda cozido ao meio à mão com um monograma ao centro, mesmo a propósito um "C" numa de graça a fazer jus ao apelido de família -, os dois por 2€, belíssima compra nem na feira da ladra o trazia por menos de 10 a 15€ .

Na minha passeata pelo lindo jardim de Torres Novas, intrigada andava porque não via uma escultura em mármore que há anos me tinha ficado na retina, por falta de objetiva no momento deixei de a captar. Capitulou-me a ideia para o erotismo. Coisa de sexo oral...Gesto  gigantesco para quem como eu só gosta de homens. Claro que  me fez lembrar os lábios grandes de uma vulva, revirados...Uma "joaninha"esculpida com arte ...De todos os nomes, este o meu eleito!
Fica para fotografar da próxima vez...
Para meu espanto estava mesmo à minha frente entaipada com caixotes de um estaminé, semi coberta com um pano...
  • Quando a descobri disse para o meu colega do lado "estou farta de a procurar julgava que a tinham retirado" responde ele...O quê, o mexilhão?...

2 comentários:

  1. Delicioso este texto. De facto a maioria das pessoas apenas conheçem duas ou tr^^es fábricas de louça mais antiga. Sacavém, VA e A das Caldas, de resto são poucos os que reconhecem outras peças...

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  2. Olá Polittikus. Muito obrigado pelo seu comentário.De facto assim o vou constatando nas feiras. Escrever estórias que vivo liberta-me o espírito.
    Um abraço
    Isabel

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