quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Segunda feira o dia do mercado nos Cabaços em Alvaiázere

Cabaços, no concelho de Alvaiázere. Desde pequena que me fascina pelo movimento abismal que aqui se assistia na estrada a caminho de Tomar ou de Coimbra, um corropio de tráfego  automóvel e gente para apanhar a camioneta, outros fazer avio nas lojas ou na farmácia, assim o era nos dias que a minha mãe aqui vinha aos Correios trabalhar e me trazia e vagueava sozinha pelas ruas e de quando em vez quando me dava moedas para ir ao café comprar guloseimas ou fazer recados à farmácia, ao supermercado do Sr Miranda, à padaria e,...
Há anos fizeram uma nova variante a poente que tranquilizou este buliço em Cabaços, mas que no dia do mercado ainda se sente e o voltei a reviver, talvez por ser agosto e haver emigrantes.Numa loja onde compramos um regador nos disseram que agora o mercado é bem mais pequeno do que foi antes e isso também senti, já não enxerguei o latoeiro que trazia utensílios de lata onde me deixava a mirar as novidades até ao dia que tinha um que desconhecia e lhe perguntei a função, disse-me "oh menina é para matar os frangos"... ainda vi o ourives itinerante, o único feirante desses tempos que ainda perdura no ofício, o homem deve ser outro, digo eu.
A saber a Companhia Colonial de Navegação foi fundada em 1922 pelo Alvaiazerense, Bernardino Alves Correa conhecido pela alcunha o "Marzugueiro" aventa tenha nascido na Marzugueira aldeia sediada no costado norte da serra de Alvaiázere na beira da estrada medieval que vinha de Ansião, Venda do Negro para Alvaiázere, cujo apelido aventa origem na Galiza em Salceda, em Tui.Denota a sua ascendência judaica como outros que aqui aportaram a Ansião Almoster, Vale da Couda, Marzugueira e Paio Mendes em Ferreira do Zêzere vindos da Galiza.
 
Bernardino  Alves Correa 
Nasceu nos Cabaços em 1879. Grande empreendedor nos transportes marítimos. 
Não sei se foi quem mandou construir o solar  no início do século XX.
No Arquivo Distrital de Leiria existem diversos livros de notas do Tabelião Alves Correa, deve ser familiar(?) que exerceu no Concelho de Alvaiázere na referência de um ramo descendente desta família que teve a alcunha de "Marzugueiros" onde nasceram e que por volta de 1908/9 alguns terão emigrado para Lisboa, e daqui parte foi para o Brasil, mas sem confirmação (?).
Belo exemplar  de solar que sempre o conheci fechado e sempre me fascinou pelo revestimento a azulejos da Fábrica Viúva Lamego de Lisboa e claro pela simbiótica arquitetura do gaveto em redondo e platibanda encrostada em pilares com pináculo de pedra a segurar grade em ferro forjado.Data na meia lua em ferro forjado da porta   189.
A minha mãe cansada encostada ao pilar do portão...
 Uma bela chaminé , glicinia e o remate de bicos em cerâmica no telhado
Julgo que este edifício de 1906 (?) funcionou uma serralharia que depois do 25 de abril um antigo aprendiz(?) ao regressar voltou nela a trabalhar já o dono julgo tinha falecido.

Voltou ao abandono agora com as aldrabas presas por uma corrente e cadeado
 Por não fazer mais serviço a chaminé encontra-se enleada de hera...a imitar uma escultura!

Escola de fachada a condizer com o solar no revestimento azulejar. Mandada construir por Bernardinho Correaou  Bernardino José de Carvalho, não há informação clara disponível, entre as décadas de 40 e 50 do séc. XX, com o objetivo de uma sobrinha ser professora .
Naquele tempo era dividida por um muro ao meio da escola em que meninas estudavam dum lado e rapazes noutro, umas décadas mais tarde foi deitado abaixo tendo sido feitas duas salas de aula.

Na fachada a escola exibe o nome que supostamente será do seu pai (?)

 
No telhado estatuária em cerâmica- a Sabedoria e a outra da Mãe com os filhos, eram uso ao tempo em casas ricas a assinalar o oficio do dono
 Rua José Ribeiro de Carvalho
Mesmo com um brutal abcesso na boca que me deixou a cara inchada e debaixo de intenso calor teimei vir ao mercado do dia 22 de agosto em segunda feira ao Cabaço, na teimosia arremedar o linguarejar dos meus avós da Mouta Redonda, da freguesia de Pousaflores do concelho de Ansião ...
Em geral levo sempre a minha mãe a passear a recordar estes sítios que nos são comuns.
A casinha pequena mas de bela chaminé e portão em ferro forjado aqui morava a senhora dos Correios que ela veio substituir a primeira vez na década de 50.
Referência com a grande Feira Anual que acontece no Dia de Ano Novo-, no 1º de Janeiro
 
Apreciei o painel azulejar com uma vista parcial de Cabaços, supostamente da década de 40/50. Fatalmente recordo o meu avô José Lucas da Mouta Redonda que era paneiro e aqui vinha fazer a feira e na volta levava a carroça cheia de novidades da época que a vizinha a "Ti Jaquina tecedeira", perguntava à minha avó Maria da Luz - oh Luz, o teu home tem uma quinta no Cabaço? Atão porquê?  Respondia o meu avô tem, tem, e nespereiras…
Quero acreditar que a carroça do meu avô que não conheci, seja uma das muitas retratadas no painel. Sim, porque era homem de não falar na feira do Cabaço(s)!
O acesso às casas de banho públicas é dado pela frescura da trepadeira , uma glícinia de flores lilazes.
Nos dias de mercado deveria haver um funcionário de prevenção nas imediações, porque há gente que não sabe ser cívica, nem sabe o básico nas regras de higiene, apesar de terem televisão desde o 25 de abril, nem tão pouco usar instalações que devem ser de todos e por isso estimadas , depois de usadas deixadas limpas para quem vier.
 A praça de táxis e o largo da feira abençoado de grandiosos plátanos
 O meu marido sentado à sombra
O Correio no mesmo sítio onde o conheci no início de 70, mas não era aqui inicialmente, a minha mãe contou-me, mas escapou-me...
Ao lado do café, na esquerda, o toldo do depósito de pão da padaria. Bom pão e variedade. Os pastéis de chícharo, só ao fim de semana os fazem em quantidade, fora disso só por encomenda. Fiquei com água na boca ao ver uma senhora levar duas caixas que tinha encomendado...Simpática telefonou para a fábrica por onde passei a caminho de casa, valeu a pena, eram deliciosos.
Rua principal, à estorreira do calor um rapaz tocava viola...Nesta casa, precisamente as três últimas janelas a contar da esquerda, que a minha mãe alugou em 76, porque outra parte da casa estava alugada precisamente ao serralheiro que dele falei acima. Na frontaria esculpida a data de 1887(?) Eram 3 quartos, a primeira janela fazia de cozinha e, nela me recordo de cozinhar e de apreciar da janela tudo o que se passava na rua. Nesse tempo vinha na carreira, de Ansião. Recordo a paisagem  depois de Almoster,  Alvaiázere, Rominha, a lembrar os romanos que por aqui andaram e na quinta da Rosa onde me deixava a pasmar com tanto dióspiro que me deixava encantada por estarem pendurados na árvore despida de folhas em cor laranja, cor imensamente quente a lembrar o fogo, que me deixava fascinada já que antes nunca assim os vira, e só acordava do sonho ao passar na quinta de Moçambique onde me interrogava o porquê do nome  e, num pulinho chegar Pussos, e Cabaços para descer na paragem junto da bela montra com vestidos de noiva...e sonhar com o meu!
 
 Outra bela casa ainda em abandono
 Data de 1864
O gradeamento de ligação da casa ao estabelecimento(?) exibe três letras que não consigo distinguir, seria do seu dono(ABC(?)

Praça a norte onde vendem os produtores particulares...

Por não sermos freguesas habituais, na nossa cara subiram o preço do feijão verde que no mesmo dia em Ansião era melhor e mais barato...

Subindo a rua para estacionar à sombra, que não a havia dei de caras com uma enorme parreira numa parede cuja casa de bela chaminé, passava um senhor que me disse que era a casa do caseiro da quinta do Cortiço, que lhe fica defronte que ganhou o nome deste local - Cortiço.
Fiquei a cismar esta casa supostamente pertencia ao antigo dono cujo herdeiro mandou fazer a casa defronte na década 40/50 e nesta primitiva vivia o seu caseiro. Não conheço as casas, mas preferia de longe a antiga à nova...
Nova casa da Quinta do Cortiço ostenta azulejos anos 40/50(?)
O gradeamento em tijolo usou-se na década de 50, na casa dos meus pais também havia
A quinta em local altaneiro apresenta um belo mirante a poente
 

Curiosamente nesta região de Alvaiázere, até Areias, no concelho de Ferreira do Zêzere, existem ainda muitas chaminés de traça carateristica que merecia ter estudo aprofundado. Pode atestar a influência árabe que de fato se manteve na região, mas, no caso se estenderia aos concelhos limítrofes como Ansião e Figueiró dos Vinhos e, ai não se encontram , apenas aqui por isso me inclino para alguém com arte de pedreiro que trouxe o modelo elegante da ceifa do baixo Alentejo  a jus da algarvia. Numa ida para o Algarve descobi uma em Ourique mas, perdi a foto. Ou não, e a ideia , foi de imitar as chaminés elegantes do palacete do Tojal. Já que por todo o lado são retangularares.

Chaminé redonda  em Ferreira do Zêzere
Que nos Cabaços e ao longo da estrada nacional até Ceras se encontram.

Neste prédio existe uma. No r/c funcionava a farmácia que conheci e era muito bonita, com um balcão a lembrar um altar de capela. Quem a quiser ver tem de ir ao Museu da Farmácia ao Chiado-
 Entroncamento para Pussos e Alvaiázere com nome sonante. Ainda bem que a Junta de Freguesia soube respeitar a tradição ancestral e a dar a conhecer aos vindouros.
Os Templários foram donatários da Freguesia de Pussos. Faz parte do brasão da Freguesia.

Pensão Residencial Dinis 

Ao fundo onde chegou a hospedar-se a minha mãe quando aqui vinha trabalhar e eu também lá dormi.

Menção na toponímia Conselheiro José Eduardo Simões Baião

1851 - 1920 Personalidade merecedora de uma justa homenagem não só pelo seu percurso político e pelos cargos públicos como secretário geral do Governador Civil de Leiria, Governador Civil de Leiria, Presidente da Comissão Administrativa de Alvaiázere que desempenhou mas também pela sua generosidade em Servir a comunidade

Outra casa em agonia...com belas pedras de alvenaria
  A casa não resistiu ao desenvolvimento do alargamento da rua e do parque de estacionamento...
 Restam as pedras para futura construção, como o deve ser prestigiada!
Nesta casa aprendeu costura a irmã da minha mãe a Clotilde
Do outro lado da rua conseguem distinguir uma chaminé em redondo?
O dia estava agendado para a feira do Cabaço(s) neste gosto assim pronunciar a imitar e recordar os avós, sendo que fazia um imenso calor, aviadas as compras com as couves para plantar e alfaces, ainda fomos ao mercado que tinha muito bom peixe, mais bancas que na praça de Ansião, e a batata aqui era mais barata, que na praça dos agricultores. Comprámos a uma mulher na entrada queijo fresco, apesar do reparo do meu marido para ter cautela, arrisquei , mas, o queijo já não era totalmente fresco, só o era bem prensado no cincho, pior foi o sabor a plástico e a 6 € o quilo -, e aqui tenho de criticar-, é tempo de haver mais fiscalização. As mulheres que gostem de fazer queijo para vender para ajudar no seu sustento, o devem continuar a fazer, mas certificadas, para seu bem e de todos os que os consomem, porque  a arte de fazer o queijo é preciso fazê-lo com sapiência, usando cardo à antiga na mistura de leites de ovelha e cabra e, não aldrabado com mistura de leite em pó tão  pouco de usar bacias de plástico em detrimento do barro vidrado, e mãos frias é que fazem bom queijo...Em Ansião já me aconteceu  o mesmo, para não pagarem terrado, andam pelo mercado de cesta no braço a convencer gente que cai no engodo delas.
Para não me deslocar às fábricas de Santiago da Guarda ou no Rabaçal, onde o compro grande, a 3 € a unidade, fresquíssimo e pasteurizado, como deve ser, mas, claro, sem a aparecia para venda.
Porque ainda era cedo para almoçar convenci o séquito para irmos ir até Pussos, para de novo voltar e almoçar no Lagoa, ao cimo da praça 1º de Janeiro, onde chegámos em cima do meio dia e rápido logo encheu. Almoço muito bem servido, saboreei uma carne à alentejana, onde não faltaram as boas ameijoas e os coentros, para não falar da batata frita como deve ser cortada e frita, tudo um esmero e muita qualidade, ah e apesar do abcesso bebi um jarrinho de branco, fresquinho e que bem me soube. Gente simpática e acolhedora. Para repetir.
Cabaços  na boca da minha mãe sempre foi mais importante do que a freguesia  de Pussos a que pertence.
Cabaços deve orgulhar-se de ter constituído a 1% a Associação Sport Club ainda existente nos dias de hoje.
O topónimo  "Cabaços" provém de "Calabaços", vocábulo de origem pré-romana pela raíz "Cala", muito representado na toponímia da região pelo traçado da via romana rasgada nesta paisagem agreste dos costados e faldas da serra de Alvaiázere, porém os sinto de tamanha infinita beleza, profundamente cavada  de vales abruptos semeada a pedra escalabrada de infindável beleza com cheiros a alecrim!
Na reconquista cristã a região transmontana tomou topónimos que aqui na região centro foram repetidos além de Cabaços no concelho de Alvaiázere e Cabaços no concelho de Moimenta da Beira, Almofala em Trás os Montes e em Figueiró dos Vinhos, Mogadouro no norte e em Ansião, Rabaçal no norte e em Penela, Penela da beira no norte e Penela no distrito de Coimbra e com a mesma raiz Ansiães em trás os montes e Ansião no distrito de Leiria e,...

Estrada do Vale Cipote
Existem neste Lugar pelo menos cinco POTES enterrados, serviam para guardar cereais e outros haveres. A meu ver merecia estudo, esta cultura de enterrar os potes  para preservar os alimentos do calor, que vem da antiguidade, sendo o que se encontra de mais recente é de origem mourisca feitos em terreno a argiloso onde os escavavam com a forma de potes.E aqui também foi terra de mouros!
Incrível as pesquisas neste meio virtual quase nada e mal escrito encontrei sobre esta bela terra, e isso acreditem deixou-me completamente triste...Cabaços uma terra com tanto para contar!

Pussos, em breve visita a fazer tempo para o almoço, rever a sua linda igreja, o cemitério, capela mortuária, algum casario,  a poente a igreja uma casa com arquitetura setecentista, com varanda de pedra em grade,  mas, a grande superfície fechou...No horizonte o moinho de lata que foi da quinta de Moçambique, com traço de Raul Lino ,em corredor da via romana, que infelizmente o progresso não soube preservar! Mas, isso fica para ora cronica!

FONTES
Wikipédia de Pussos
http://geneall.net/pt/forum/85862/familia-correa-de-alvaiazere/
http://www.terralusa.net/?
http://www.cm-alvaiazere.pt/FileControl/Anexos/ToponimiaPussos.pdf

5 comentários:

  1. Excelente "memória futura", que sendo do Concelho vizinho F. Zêzere, Cabaços sempre fez parte da minha infância, bem como das gentes da parte norte do meu Concelho. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Adorei saber a história bela de todo um passado da bela vila de cabaços , o mercado onde fui tantas vezes ,onde aprendi costura com a zezita Miranda , belas recordações ...
    Obrigada parabens pela pesquisa.

    ResponderExcluir
  3. Muito obrigada pela cortesia da visita e pelo elogio ~`a cronica. Na verdade, há quase nada de historia local publicada...pelos vistos induzi a erro ao falar da freguesia, que julgo seja Pussos, fiquei confusa, gerou-se uma polémica, no recente grupo do face, sobre a alteração administrativa das freguesias, que copiei da net... Na vez de partilharem informação correta para se alterar, perderam -se em considerações desnecessárias, que só atrofiam o maior conhecimento que se pretende partilhar, na minha visão de horas que ainda assim teimei testemunhar .

    ResponderExcluir