quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Capelinha de Nossa Senhora do Penedo em Ansião

Foto tirada em andamento no último agosto no IC8
Praticamente anulada a sua visão...
Quem como eu desde pequena passou pela estrada de ligação de Ansião a caminho do Camporês, e eu passei amiúde logo a seguir aos Olhos d' Água de ambos os lados se abrem costados de cumeadas  à toa salpicadas por carvalho cerquinho, carvalheiros com bogalhos e mancha de pinheiro manso de bela copa para mais à frente do lado esquerdo se encontrarem implantadas duas capelinhas; a primeira de arquitetura um pouco maior a indiciar requalificação mais recente e a que se pretende abordar que lhe fica mais adiante, sem saber qual das duas foi construída primeiro, o tenha sido a outra por entroncar no caminho antigo da Fonte Galega antes do novo aberto ao Porto Largo.
Julgo no início de 2000 (?) quando arrancou a intervenção do traçado do IC8 viria a desativar uma parte do troço da estrada antiga onde se encontram as ditas duas Capelinhas, deixando a de tamanho maior no tempo até hoje à mercê de vandalismo de gente sem abrigo quando passa por aqui e a de orago a Nossa Senhora do Penedo praticamente foi deixada abafada  na paisagem pela subida do piso do IC8 e da  colocação do rallis  a um escasso metro da porta...O arquitecto que traçou a via seria ateu, vesgo ou sem qualquer noção do espaço e do enquadramento do que já existia construído?
A Capelinha de Nossa Senhora do Penedo sofreu neste verão um incêndio desconhecendo-se as causas. O mais provável tenha sido um ato nefasto de vandalismo pela mão de alguém de mal com a vida e o diabo no corpo, porque não muito distante foi encontrado vandalizado um sinal de trânsito.O alerta chegou aos Bombeiros Voluntários de Ansião no dia 29 de julho por volta das 23.30H, segundo foi noticiado. Rapidamente o fogo foi dominado com sucesso pelo grande receio de se estender à  encosta florestal da Fonte Galega e Maxial .Os estragos cifram-se no resulto de madeira queimada; porta, teto e barrotes que sustentavam o telhado. As imagens de Santos ( desconheço quais) que haviam no interior ficaram danificadas, salvando-se apenas a placa  de homenagem ao seu Fundador- Virgílio Valente  datada de 1945.
Citar comentário na Página do Facebook da Igreja de Ansião do bisneto do fundador da Capelinha - Dr Leonel Morgado "O meu bisavô, Virgílio Valente, prometeu à Nossa Senhora que vira em cima do Penedo (onde está) construí-la e dar uma festa "grande" (= com vinho e pão) todos os anos, se o seu filho, meu tio-avô Virgílio Valente (júnior) conseguisse vir a andar, pois nasceu ou ficou aos 7 anos, não me lembro bem, muito mal das pernas. Curou-se, e assim se cumpriu a promessa e fez a Capelina, e depois anualmente a festa. Ainda há poucos anos, só por tradição, já não se fazia a festa por os envolvidos terem falecido, mas ainda lá  iam os Bombeiros no dia 8 de dezembro, o dia da Imaculada Conceição, no tempo do Comandante Artur Paz, genro do fundador da capelinha ." Porém houve durante muito tempo um mal entendido relativo ao painel azulejar na fachada invocando Nossa Senhora da Conceição, que o mesmo  explica : " a confusão do nome é porque há uns anos, quando se lembraram de pôr um painel azulejar na frontaria, foram à procura em Fátima, e não havia nenhum com a menção Senhora do Penedo, foi comprado outro invocando Nossa Senhora da Conceição, tomando a lógica que a Nossa Senhora ter vários nomes, mas ser sempre a mesma pessoa. Contudo há algum tempo, encomendei um painel azulejar alusivo a Nossa Senhora do Penedo ao Victor Resende, ainda bem que não os meti antes disto, ficariam todos sujos de fumo."
Citar o Padre Manuel Ventura Pinho 
" Parabéns aos seus proprietários pela sua recuperação, após um incêndio. Esta capela tem história. Foi mandada fazer pelo Sr. Virgílio Valente, para agradecer a Nossa Senhora a cura de um filho. E ainda está na posse dos seus descendentes, que fazem tudo para a recuperar."
Sobre a triste notícia do incêndio não deixa de ser caricato pensar nos incidentes brutais que esta Capelinha tem sido votada além do recente incêndio já antes fora alvo de grande atropelo aquando da renovação do traçado do IC8 com tanto terreno pela frente ninguém de direito e com visão lhe acudiu, e com isso a empreitada da obra não teve pejo em colocar rallis  de segurança a um escasso metro da porta em a abafar,  na pretensão de a anular (?)...
Falar da sua origem e da  história que encerra, pois acredito muita gente a desconhecia.Sou uma delas, só as pessoas mais antigas julgo saberiam porque aqui vinham em caminhada na quinta feira da Ascenção para colher a espiga e matar uma bucha oferta de pão e vinho e acredito alguém queijo e chouriça, porque desde sempre a ideia de piquenique era usual nesse dia festejar em Ansião. A minha mãe foi fiel deste ritual alguns anos na década de 50 e nunca me falou deste episódio, só agora quando aconteceu o incêndio me confidenciou pelo que acredito outros da minha geração também nunca ouviram desta Capelinha falar, tão pouco da outra que existe no traçado de estrada desativado. Claro que só fica bem aos proprietários tratar do que é seu, valores que nos foram transmitidos que uma maioria na região ainda respeita e vem cumprindo na manutenção do seu património, sendo certo que não tendo sido os causadores do estrago a recuperação sai-lhes do bolso.Apreciei francamente o cuidado em colocar telhas de canudo de origem mourisca em prol das que tinha tipo Marselha, não sei se alguma foi guardada para saber a sua origem no concelho  ou nas Cinco Vilas onde foram frutificas algumas fábricas de cerâmica deste tipo de telha no Pessegueiro, Pontão, Almofala e Maças de D. Maria. O telhado renovado em telha de canudo foi para mim gesto ao apelo da sua traça antiga no propósito do equilíbrio estético, só falta mesmo alterar o painel azulejar com o nome de Nossa Senhora do Penedo a fazer fé no comentário do bisneto já encomendado. Em verdade fiquei bastante curiosa por saber quem a tinha mandado edificar e pelo motivo invocado "a débil saúde de um filho que se curou"...Tento imaginar Ansião naquele tempo e o carisma que se vivia mal acabada a I Guerra Mundial e ainda tão presente o Milagre de Fátima ocorrido a escassos 40 Km, a que se acrescenta a forte beatização num povo ainda não globalizado que só começou a despertar na década de 60 quando apareceu a televisão em Ansião, e só haviam 3; uma no Café Valente, outra em minha casa e outra...

O que falta saber do fundador da capelinha?
Virgílio Rodrigues Valente nascido em Ansião, a razão  de ter sido escolha deste local para erigir a Capelinha a caminho do Camporês, indiciar que os actuais  - Rodrigues Valente , de várias famílias em Ansião, e a do meu pai se inclui, todos provem da Constantina (?), é o que as mais recentes investigações nos permitem dizer, debalde ainda sem apurar a relação do parentesco. 
O bisneto do fundador da Capelinha dizer " prometeu à Nossa Senhora que vira em cima do Penedo (onde está) construí-la". Em atestar a razão de ali ter sido erigida que é bem pensado e justo, mas ali não há nenhum penedo, embora no tardoz siga  uma ténue linha do costado antes da outra capelinha seguindo até ao Camporês de pedra tipo brecha da Arrábida. Não acredito em milagres . O que o passado retrata o legitimo o gosto e ostentação de possuir uma Capela, em sinal de fé mas também de status de vida, exemplo disso um Comendador, agora não me recordo o seu nome do concelho, mandou construir a Capela do Anjo da Guarda em Pousaflores , confesso se tivesse oportunidade também gostava de ter uma capelinha, porque gosto de Imagens de Santos , na herança dos nossos avoengos,  mesclada em gerações; com celtas, eslavos, povo franco, moçarabes, berberes, árabes e judeus sefarditas e asquenazes,  hebreus e fenícios, a descendência d'hoje viva em  Ansião!
Virgílio Rodrigues Valente em alusão à bênção do restabelecimento de saúde de um filho  erigiu a capelinha de Nossa Senhora do Penedo antes do cruzamento ao Maxial, na beira da estrada roteada para o Pontão,  ao cruzamento ao Fundo da Rua, comprou ou era do sogro o lote de gaveto onde fundou o Café Valente, com o famoso café de saco como o era no Porto ainda hoje - o cimbalino, mais tarde herdado do nome da primeira maquina de café italiana. A sua esposa "Maria das Caldas" o fazia com água fervente juntava o pó e depois acrescentava água fria para a borra assentar, segundo me confidenciou uma neta.E os nossos avós usavam uma cafeteira de barro ao lume e para o assentar punham -lhe uma brasa, tinha o mesmo efeito.Supostamente o Virgílio Rodrigues Valente era homem de perfil poético com  alma de artista quiçá não muito bem visto naquele tempo, porque aventureiro o foi indo ao Brasil (?)!
Lembrar este poema Citar http://talves02.blogspot.pt/2011/03/minha-alma-de-artista.html
Ter alma de artista é ter sensibilidade exacerbada,
Um raciocínio que difere e até desagrada
É ter bastante solidão.
É chorar e rir com intensidade
e quase com simultaneidade.
Eu tenho alma de artista...
Sou capaz de perder um dia lindo por apenas um absurdo dito.
Sou capaz de mergulhar tão fundo na história de um livro,
Que aos prantos paro de ler para poder respirar.
Sou capaz de olhar alguém com fome e doer tão fundo em mim,
Que não posso ignorar.

Essa alma de artista.
Que nem sempre é drama...
Tenho uma alma que gosta de agradar.
Tenho sempre um sorriso, os olhos brilhando e
Muitas promessas sobre a beleza de viver e amar.
Compartilharei da sua dor,
Serei dura e também suave para te levantar.
Tenho a alma de um artista de circo
Para tudo ofereço piada, trapalhada, gargalhada,
E todo argumento para te libertar.

Mas também tenho esta alma de artista poeta
Que carrega nos ombros a nostalgia,
Que ainda que em sua vida seja dia,
É sempre capaz de sentir a noite e sua fria melancolia.
Esta alma de seresteiro que canta suas mágoas
E coloca pra fora todo sentimento mau.
Esta alma de marinheiro perdido
Navegando num bote à procura da Nau.

Eu tenho a alma de cantor fadista
E sofro pela natureza de buscar a perfeição.
Eu tenho a alma que transborda emoção.
A intensidade é a minha glória e a minha punição.
Viver intensamente jamais foi uma opção,
É uma imposição desta alma sedenta de vida
Que manda no meu coração.
Eu tenho uma alma que busca o topo de tudo
E também busca os abismos e prova a poeira do chão.
E que só assim aprende a lição.

Eu tenho a alma de artista autista
Que se desliga do mundo
Para buscar compreensão.
Eu tenho a alma do artista hiperativo
Que ainda grita e se agita
Querendo dar explicação.

Eu tenho a alma de artista
E estou no palco vivendo o único ato
Do qual não sei o final.
Mas tenho os olhos e ouvidos atentos
Para manter meu espaço
E não deixar passar nenhum sinal.

Essa alma intensa, inconstante,
A sutileza de um elefante
E a força de uma multidão.
Eu tenho a alma lutadora
Que reage imediatamente
A qualquer possibilidade de agressão.

Eu tenho essa alma de artista
Que não me deixa descanso e se alimenta de emoção.
Esta alma que busca tudo que quer
Com força e determinação.
Eu tenho essa alma incansável,
Esta vida impagável
De um querer insaciável.

Eu tenho essa alma de artista
Que brinca e se aventura
E que ignora o medo e até o pavor.
Essa alma meiga e arisca
Cuja única coisa que não arrisca
É a paz do seu amor.

O mundo é deveras complicado
Quando se tem uma alma que busca significado
Em tudo que envolve viver.
Então, se eu for uma antítese ambulante
É por causa deste espírito viajante...
Apenas procure entender.
Afinal é duma Capelinha que se fala, mas também de um benemérito de Ansião porque a partilhava abrindo para o povo em dia especial para o comparar hoje em dia com gente com muito dinheiro nesta terra de Ansião, mas até ao momento de fraca ou nenhuma alma benemérita para a presentear com obra GRANDE, e disso é triste constatar! 
Por morte do Virgílio Rodrigues Valente é suposto pensar que a Capelinha na herança coube à  sua filha Claudemira, mãe da esposa do Sr. Antero Morgado, sendo hoje sua propriedade e um dos filhos, o Dr Leonel Morgado parece sobre esta denotar grande carinho, pois  no tempo a vai mantendo limpa na envolvente do terreno adjacente.Bem haja ao Sr. Antero Morgado e à sua família por manter este património, homem que conheço desde criança e com quem sempre convivi  por a sua mãe  no meu tempo de criança ser a Chefe da Estação de Correios de Ansião onde a minha mãe trabalhava, e o pai um grande comerciante estabelecido na vila, o mesmo conhecimento dos pais da D. Claudemira que herdou o mesmo nome da mãe, casada com o Sr. Estrela, taxista que morava na Igreja Velha e  na madrugada  do meu nascimento transportou os meus pais a Coimbra para depois na infância voltar a andar no seu táxi para Coimbra e terras onde a minha mãe ia trabalhar, sempre se mostrou homem extremamente afável. Recordo quando mandou construir a sua bela moradia moderna ao Moinho das Moitas, das mais bonitas durante muito tempo em Ansião, a qual me enchia de tamanha alegria a sua arquitectura .
Dezembro 2016 em andamento com a capelinha telhada e o painel antigo azulejar limpo

 FONTES
Página do Facebook da Igreja de Ansião capelinha de Nossa Senhora do Penedo
http://talves02.blogspot.pt/2011/03/minha-alma-de-artista.html
Memórias Paroquiais Setecentistas
Livro Ilustres de Ansião - Dr Manuel Dias

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