segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Calcorrear a Costa em Ansião à laia de homenagem ao " Promenade e Arrebela"

Estada por Ansião antes do Natal com dias soalheiros a lembrar a primavera, sem frio, ainda assim houve uns dias de forte ventania, mas nem acendi a lareira. 
Notícia triste a do falecimento do Sr Manuel, homem que vivia no gaveto da Quelha do Vale Mosteiro com a Avª Sá Carneiro.Ex emigrante em França, natural das Cavadas da Macieira, aqui mandou construir a sua vivenda onde passou os seus últimos anos. 
 
Local onde a Quelha entronca na Avª fizeram um parque de estacionamento...revela falta de visão topográfica(?), porque faz falta para distribuir o transito.
Amiúde uso esta passagem pela Quelha a caminho da casa da minha irmã , Escampados e Ferranha. 
Tive o privilégio de partilhar conversa com o Sr Manuel várias vezes, sendo a primeira de grande cumplicidade pelo gosto pelas pedras, flores, velharias, e até me confidenciou sobre o seu passado...seria fevereiro, depois do almoço que ambos nos mostrávamos de grande empatia, onde desabafar sobre as agruras da vida  saltava à vista, debalde tive de abreviar para lhe dizer que ainda pretendia dar um passeio  até ao Marquinho para ver as águas no Nabão, por isso ia buscar a bicicleta à minha irmã, já lá vão uns 5 anos...recordo que naquele olhar azul, da cor do céu, em sorriso tímido rematar " boa promenade" ( ao jus do vocábulo francês, passeio) e assim o batizei com a alcunha "Promenade". Mais tarde deu-me cravos brancos raiados de cor de vinho que tinha comprado para a campa dos pais, por serem de caules compridos os cortou e avassalou...debalde no meu jardim não aguentaram a agrura da seca...
 
Muita vez o via a caminho da missa e às compras, a última em finais de agosto quando descia o escadatório da capela do Santo António para o cumprimentar ao Ribeiro da Vide, mal de mim que nem sonhava que seria a última vez ...ficará para sempre na minha memoria aquela imagem do último Adeus, no seu andar lento sob a folhagem do plátano naquele olhar azul a clamar calmaria!
Pelas três da tarde decidi caminhar à laia de homenagem ao Sr Manuel "Promenade"  e subir o costado da Serra da Costa, que todos os dias avistava da sua casa e onde ao entardecer dizia adeus ao pôr do sol , dela sei gostar tanto como eu...e na volta teimar passar à sua porta.  
Vistas da estrada de terra batida
Em  baixo avista-se a serra da Portela e a casa do "Promenade"
Tomei a estrada de terra batida que circunda o sopé da serra para atalhar ao carreiro por trás da CUF que desde sempre dele ouvi falar e no tempo entupido de silvedo, se mostra agora limpo, o subi em vereda abrupta, sem medo de javali, para parar ao poço e depósito da CUF, que bem me lembro quando foi feito em 63... o sol baixo deixou as fotos claras...o terreiro do carreiro mostrava-se coberto de folhas secas do carvalho cerquinho em tons pálidos de castanhos como que a imitar tapete de Arraiolos ou colcha a bordado Castelo Branco, e que bonito se mostrava o mato florido de amarelo, os arbustos de folhas com picos floridos de bolinhas vermelhas  usadas para enfeitar o presépio, os muros de pedra solta revestidos de musgo imensamente verde com fetos, e ao longo do carreiro aqui e ali muito carvalheiro enfeitado de bugalhos, e por todo o lado chão semeado de pedras brancas, alvas como a cal  espalhadas por todo o lado à toa com salpicos de erva de Santa Maria, para num instante já estar na minha propriedade e da minha irmã, onde no caminho abundam cogumelos, debalde vi uns da cor do linho e um pedaço de um vermelho, venenoso...
 Flor do mato, bolinhas vermelhas e cogumelos cor do linho
 
 Vista de Ansião ao poço da CUF

Fetos, bugalhos, lajes grandes e um esqueleto de oliveira de tronco queimada, do fogo que por aqui grassou há mais de 20 anos, no meu sítio e da minha irmã-, a Comprida, ao limite do Escampado.
 
Tomei o caminho que a partir daqui se torna mais largo onde parei para descansar e respirar fundo, o meu marido ia na frente. Decidida voltada para nascente enderecei abraço ao " Promenade" para ainda mal deslaçada outro apertei ao passar pela casa do Sr António "Arrebela" falecido há escassos meses, outro bom homem que me confidenciou saberes sobre o sitio do Mosteiro, ao Vale Mosteiro, onde nasceu, e ainda me ajudou na descoberta de um muro de extrema de uma fazenda que os carrascos não deixavam distinguir  por culpa perpetrada de outro vizinho por não ser da mesma fibra que me tinha indrominado ...
  
Aliviei tristeza quando dei de caras com um rebanho parado a olhar para mim...no Escampado o queijo dito Rabaçal sempre foi de grande nomeada.
Olhei para o outro lado onde há carvalhos imponentes com séculos revestidos de fetos e musgo
 O sol brilhava tanto mas dificil é captar boas imagens...
Adoro os muros de pedra seca a dominar a paisagem do carvalho cerquinho
Uma ramanzeira
A beleza de parreiral ainda vestido de parras em escarlate e amarelo ocre
 Morouços- grandes montes de cascalho nas courelas para terem mais terra arável
Parei à ruína da casa que foi dos pais de umas amigas da escola-, a Gracinda e a Idalina, onde me fiz à fotografia...
Um pouco mais à frente o redondel do que foi uma eira em pedra, entre as lajes já nasceu um pinheiro...
Voltei à estrada para parar às Almitas do Escampado onde rezei pela alma dos homenageados.
Não consegui decifrar o retábulo falante
Vós que ides passando
Lembrar-nos de nós .....
Atalhei ao Bairro de Santo António pela Quelha do Vale que este ano não foi limpa e ainda por cima um pinheiro seco ao cair lhe ficou atravessado...
 Uma bela couve galega
Deixei o meu sorriso ao passar de novo na casa do "Promenade" ...
Paz às suas almas!
"Promenade e Arrebela"!
Gostei muito do passeio à laia de homenagem a pensar em homens que sinto morrerem cedo pois ainda tinham tanto para partilhar, nem que fosse apenas o cumprimento!

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