segunda-feira, 29 de maio de 2023

Vila de Abiul de passado histórico !

Sugestiva arte urbana em crochet 

O passado de Abiul em excertos retirado das Memorias Paroquiais de 1758

Um trecho extenso referente à fixação das características da serra de Sicó e Ansião (por terras de Pombal e Ansião): «Montes que a cercam (Abiul, concelho de Pombal) e uma serra bem conhecida de Sicó (...). Segundo os Geógrafos é acessório ou braço da serra de Ansião, que principia junto de Alvaiázere e se estende entre as vilas de Pombal e Rabaçal»

(...). «A serra é fria em sumo grau, porque por muito alta. É combatida e açoutada em todos os ventos que a inquietam a atmosfera, de maneira que só estando esta muito sossegada na estação do Verão, só então se podem dilatar-se nestes cumes as criaturas por tempo considerável. O seu terreno só é seco e ainda que cria ervas ... é porque as pedras por altas se conservam com as sombras e humor que as alenta» (...). 

Este termo e freguesia (Abiul), em todo ele é montuoso com alguns vales que os muitos montes não permitem alargar, mas sim os agasalham muito dos ventos. 

Tem nestes mesmos vales e covões dos ditos montes grande quantidade de olivais».

A resenha histórica do topónimo  Abiud

A carta de Foral de 1167, atribuído por D. Afonso Henriques, ao seu aio Diogo Peariz e sua esposa D. Examena, em homenagem ao patriarca bíblico da Casa de David. Morreram sem descendência, revertendo a vila para a coroa. 

Em 1175, D. Afonso Henriques fez carta testamentária, de doação ao Mosteiro de Lorvão, ao abade D. João.
A toponímia atestada com painéis azulejares

                               
                           

Monumento erigido ao Foral Manuelino de 1515, no sítio do palácio de André da Silva Coutinho 

                  
Reutilização de coluna quinada a metros do pedestal do Foral, quiçá foi do Pelourinho...

Excerto da historia de 1873 de Pinho Leal Dicionário de Portugal Antigo e Moderno 
«(...) Querem alguns que Abiul derive da palavra árabe Abizoude,  outros dizem do nome hebraico Abiud , da geração de David , foi primeiramente priorado  e depois vigaria do Lorvão, tendo então três beneficiados que cantavam à Missa aos domingos e dias santos sem obrigação de coro, mas o Mosteiro do Lorvão só tinha o  padroado da igreja e suas rendas, ou, pelo menos só ficou com isto, passando o senhorio da vila aos Silva/Coutinhos, de quem o herdaram os Duques de Aveiro, que o possuíram até 1759 , passando então para a coroa, por elles terem perdido tudo (até a vida no suplício!)por crime de alta traição e tentativa de regicídio. 

O  topónimo Abiud ainda aparece num documento de 1206. Não se sabe quando mudou a grafia para Abiul. Falta apostar na escavação arqueológica para enxergar mais do passado romano e visigótico da que  foi a “Villa” Abizoude,  que se comprova pelas escrituras godas que se veem nas vergas das portas exteriores, existentes na Igreja de Nossa Senhora das Neves.
Como credenciar os caminhos proto-históricos associados a castros que foram usados pelos romanos na ligação de vicus a castellas (vulgo habitat) referente ao 3º nível de aglomerado populacional romano, segundo o Dr. Jorge Alarcão. A exemplo Campodónio, no Vale das Velhas, a castella ruinal que chegou aos nossos dias " Abizoude ". Onde nasceu , em época medieval se desviou para o sitio atual. 
                       
Nos Ramalhais, há o topónimo Antas, como no Foral de Soure, fecha nas antas de Fárrio, na Freixianda.
O fogo de 2022, deixou os costados abertos para se procurar as pias no Vale da Pia, , possivelmente escavadas pela erosão, ou pelo homem? Referenciadas  Matas das pias, no início da nacionalidade, e que o Dr. Salvador Dias Arnault, não conseguiu identificar, julgando ser a Pia Furada... Remete o conhecimento proto-histórico  desta freguesia, desde o homem coletor que viveu em grutas, romanos, visigodos até á atualidade.  

Excerto da genealogia do Senhorio de Vagos  que teve Abiul 

Gonçalo Gomes da Silva, 1º Senhor de Vagos casou com Leonor Gonçalves Coutinho.
Pais de Diogo Gomes da Silva, 1º Senhor da Chamusca.
João Gomes da Silva 2º Senhor de Vagos
D. Joana Gomes da Silva
Gomes da Silva alcaide -mor de Noudar
Fernão da Silva

João Gomes da Silva2º senhor de Vagos casou com D. Margarida Coelho.
Pais 
D. Teresa da Silva
Aires Gomes da Silva, 3º Senhor de Vagos
D. Isabel Gomes da Silva
Diogo da Silva
Pedro da Silva
Lopo da Silva
D. Filipa da Silva
Fernão da Silva

Aires Gomes da Silva, 3º Senhor de Vagos casou com D. Leonor de Miranda e Beatriz Telles de Menezes
Pais 
D. Leonor da Silva
João da Silva, 4º Senhor de Vagos
D Isabel Menezes , condessa de Olivença
Fernão Telles de Menezes, 4º Senhor de Unhão
D. Margarida da Silva

João da Silva  4º Senhor de Vagos casou com Branca Coutinho
Pais
Aires Gomes da Silva, 5º Senhor de Vagos casado com D. Guiomar de Castro
D. Fernando Coutinho, Bispo de Lamego e do Algarve, teve uma filha a quem deixou a Vila do Bispo entre outras terras no Algarve.
D. Beatriz da Silva casada com Manuel de Melo, alcaide-mor de Olivença
Gonçalo da Silva, alcaide-mor de Abiul
D. Maria da Silva casada com Diogo Lopes de Sousa
D. Isabel da Silva casada Fernão Mascarenhas, comendador de Aljustrel
D. Leonor da Silva casada com Cristóvão de Melo, alcaide-mor de Évora e com D. Henrique Henriques, 3º senhor das Alcáçovas.

Gonçalo da Silva 
Alcaide - mor de Abiul casado com D. Joana da Silva, depois deste falecer a viúva continuou a residir em Abiul. 
Pais 
Francisca da Silva  e Maria da Silva .
D. Francisca da Silva nascida cerca de 1490 casou com Bernardim Freire de Andrade nascido em 1480 e Henrique Moniz, alcaide-mor de Silves .
Filhos 
D. Catarina da Silva; Madalena Freire; Manuel Freire de Andrade; João da Silva Andrade; Diogo Moniz; Joana de Menezes.
D. Maria da Silva nascida entre 1460 e 1520,  esposa de Fernão Pires de Andrade

A família Freire de Andrade, veio da Galiza e fixou-se em Pedrogão Grande ,de onde partiram vários ramos para a região, com freiras em Portalegre.

Abiul recebe  novo Foral em  14 de Julho de 1515, por D. Manuel I.

                                                         
O que resta da capela do paço de André da Silva Coutinho

Vista sobre o Arco Manuelino
O arco Manuelino ostenta ao centro no interior letras esculpidas  que não foram abordadas na DGPC nem na tese de mestrado de Rui Rua. 
Sequência da letra  "A" "G" "A" evidenciar  os antecedentes do Senhorio de Abiul . 
Dois Senhores de Abiul com o mesmo nome;  Ayres Gomes da Silva centrado com o primeiro Senhor de Abiul e Gonçalo Gomes Coutinho, o que depreendo...
E ainda os remates das letras traçadas e acima destas , uma impercetível e acima um triângulo a lembrar ligação à Maçonaria? Ou  serão marcas de canteiro ?
Portal do Paço

Resumo das Memorias Paroquiais de 1758, dos distritos de Leiria e Santarém 

José Viriato 

Capela Henrique Matos

Sandra Castro

O CONCELHO DA VILA DE ABIUL

Ouvidoria/correição de Montemor-o-Velho. Comarca de Tomar

1 – CONCELHO:
1.1 – Foral/Senhorio: Duque de Aveiro, seu atual donatário (Abiul, c. Pombal).
2 – A CÂMARA MUNICIPAL:
2.1 – Oficialato: Tem 2 juízes ordinários e câmara regular que, in solidum, se governam e administram sem subordinação às justiças de outras terras. Somente corrige os seus excessos o doutor-ouvidor de Montemor-o-Velho ou por via de apelação e agravo nos despachos em que tem lugar e excede a alçada dos ditos juízes.
E também há nesta terra juiz dos órfãos (Abiul, c. Pombal).
2.4 – Equipamentos: Nesta vila só existem os vestígios de um sumptuoso paço que foi habitação de um ascendente da Casa de Aveiro. Em o presente está no domínio de um particular que o adquiriu (Abiul, c. Pombal).
3 – OUTRAS INSTITUIÇÕES CONCELHIAS:
3.1 – Misericórdia, Hospitais, Albergarias:
Abiul. Nesta vila há uma igreja que no presente tempo serve na Casa da Misericórdia, porquanto há tradição deduzida do oráculo de viva fé e mais de livros antigos, que se acham no arquivo da mesma Santa Casa, que esta fora antigamente uma capela dedicada ao Espírito Santo, com sua irmandade. E como quer fossem aumentando-se em número os irmãos e com as entradas destes e também com os anuais se comprassem alguns bens, com outros, que em legados pios deixaram alguns defuntos, foram crescendo os rendimentos, por sorte que se concordaram a nobreza e povo em fazer súplica a Sua Majestade que lhe convertesse em Casa da Misericórdia a referida capela. E lhes desse para seu
governo e estabelecimento um estatuto e Compromisso. Anuiu D. João III (...). E de então até ao presente ficou conservando, sem interrupção, a natureza de Misericórdia, regulado pelos ditames do Compromisso, modificando o que com atenção à tenuidade da terra e de seus rendimentos que não excedem a quantia de 100.000 réis, em cada ano. Hospital. Dentro desta vila de Abiul há um pequeno Hospital com acomodação para 4 camas, que mui raras vezes tem exercício, assim por ser esta serra da Sertã (Sicó) de pouco frequentada passagem de peregrinos e aos domiciliários se lhe administram algumas esmolas nas suas mesmas casas.
Administra o hospital o provedor e mais irmãos da Santa Casa da Misericórdia, com as rendas privativas dela, e não com as do hospital que não tem algumas (Abiul, c. Pombal).
3.2 – Correios da sede do concelho:
Abiul. Não há correio, mas serve-se do da vila de Pombal que dista uma grande légua, tendo partido na Terça antecedente para a vila de Alvaiázere, aonde se ajuntam os dois correios do Porto e Lisboa (Abiul, c. Pombal).

Desse tempo áureo resta o arco Manuelino que foi do portal do Paço de André da Silva Coutinho e o nicho seiscentista de pedra lavrada, que foi da capela. 
Em meados do século XIII, uma parte do Senhorio da vila de Abiul, foi alienado aos ascendentes de André Sousa Coutinho e, após o falecimento deste, herança dos Condes de Torres Novas e  depois Duques de Aveiro. Abiul cresceu com infraestruturas sociais ; Misericórdia, Hospital, Câmara, Cadeia, quase cinco séculos.

Abiul (vila e termo)

Refere o número de vizinhos e pessoas da vila: 47 vizinhos e 152 pessoas maiores de 7 anos e menores 13. Refere o número de vizinhos dos lugares e casais que são 52: Castelo, 2; Chão de Urmeiro, 2; Brinsos, 11; Maçãs, 2; Casal dos Marques, 3; Ramalhais de Baixo, 9; Ramalhais de Cima, 28; Fetais, 3; Covões, 1; Cheiras, 11; Lagoa, 3; Vermelha, 1; Serôdio, 9; Portela, 2; Carrascal, 5; Vale do Milho, 6; Vale das Velhas, 31; Zambujais, 4; Vale do Perneco, 9; Ribeira de Ansião, 20; Carreira Velha, 1; Marnotos, 2; Antões, 2; Entrudos, 3; Aroeiras, 10; Vale do Rodrigo, 2; Araioa, 2; Crujeiras, 6; Lameirinha, 6; Cadavais, 2; Outeirinho, 9; Fontainha, 8; Pragueira, 3; Abelheira, 2; Milhariças, 5; Gaiteiro, 4; Rebolo, 6; Gesteira de Cima, 5; Gesteira de Baixo, 6; Fonte da Gata, 8; Vale da Figueira, 8; Amieira, 6; Azenha, 10; Vale d’Eira, 5; Vale de Mourão, 3; Barreiro, 2; Ramalheira, 6; Ventoso, 20; Cardais, 2; Seirrão, 2; Tiçoaria, 8; Quinta da Graça.



No Inventário Artístico de Portugal de Gustavo Sequeira de 1955
Aborda o que resta do património rico de Abiul , acrescentando ainda, um pórtico que pertenceu ao edifício da Misericórdia, e a descrição da igreja paroquial: “Templo com a frontaria sobre um escadório, portal de cantaria almofadada, coroado de uma cruz e com pirâmides ornamentais, um óculo, uma janela lateral e torre com sineiras duplas. Tem uma nave grande, coberta de um tecto de madeira de três planos, capela-mor, dois altares colaterais e dois laterais.
É ainda dado realce ao retábulo de talha setecentista, da capela-mor e à escultura de pedra representando o orago

Lenda de Nossa Senhora das Neves
Com origem nos anos de 1561/2 em que a população foi contaminada pela peste. Sem esperança, povo e fidalgos foram em procissão à igreja implorar a Nossa Senhora o fim da epidemia. Ao pedido juntaram a obrigação de festejar no primeiro domingo de Agosto de cada ano, com missa solene, sermão e corrida de toiros. A peste cessou e o povo agradecido tem realizado solenemente as Festas.  
                    
                        
Lintel a norte de uma porta lateral visigótico  
                   
O Museu estava fechado, tenho de voltar
                
                  Interior da igreja 
Andores com os bolos tipo ferradura



Dois belos altares
Retábulo
Belas cantarias com esculturas
Os azulejos parecem ser dos anos 40 do séc. XX?, jamais tinha visto este padrão, muito interessante
Com simbologia da Crucificação de Jesus 



Existem 3  guritas com esta de pedra esculpida em toda a igreja
Não aprecio o dourado brilhante, devia ser dourado velho
Cruz de Cristo em rodapé
Santo António
Chão primitivo em lajes na entrada da igreja
O corpo da mesma recebeu um chão em granito, bonito, embora este fosse o que devia permanecer. 
O chão da igreja foi cemitério da população mais rica de Abiul, antes de haver cemitério
Já o povo foi sepultado fora da igreja,  no adro.
Pia batismal
A entrada com duas pias de água benta em volta das colunas
O declínio de Abiul
Em 1758, na noite de 3 para 4 de Setembro, o rei D. José foi vítima de um atentado, sofreu um tiro que o atingiu de raspão num ombro. Vinha no coche, de de estar com a sua amante,  uma Távora, cujo marido tinha regressado da India. Ao lhe darem a noticia  do adultério com o rei  proferiu recado em desagrado  que chegou aos ouvidos do rei que se achava  senhor absoluto e tudo podia fazer.  
O mote ao Marquês de Pombal  para  afirmar  a queda dos nobres mais influentes no Reino e os implicar no crime. O  nobre Távora  D. José de Mascarenhas, duque de Aveiro que era o mordomo-mor da casa real. O Marquês de Pombal conseguiu debelar o rei como o juiz de Ansião, Pascoal José de Mello Freire dos Reis, então jovem com 19 anos. Foi  condenado à morte, a 12 de Janeiro de 1759 e todos os bens da Casa de Aveiro são confiscados, entre eles os de Abiul que são vendidos em hasta pública. O espolio do paço foi saqueado. No séc. XX, apareceu em antiquários mobiliário em pau santo.  Em 1810,  a passagem das Invasões Francesas e nos finais do séc. XIX a pestilenta cólera-morbus.

A perda do poderio senhorial, ditou brilho a Pombal
O atual concelho, que continuou a ganhar com o traçado da ferrovia e o traçado da estrada nº 1. Destronou em definitivo o passado histórico e cultural de Abiul como de Ansião, para segundo plano, quando foram contemplados desde a pré historia com corredores proto históricos, continuados pelos romanos e visigodos .Pombal nem existia «Vila acastelada  fundada pelos Templários, celebre pelas pazes entre D. Dinis e o filho Príncipe D. Afonso, por intervenção da mãe, Santa Isabel. Marquesado do primeiro Conde Oeiras ».

Solares da nobreza rural

A maior parte dos bens dos Duques de Aveiro veio a ser comprada pelos fidalgos Alvins.
Desconheço onde foi habitaram os nobres Alvim.

Pinho Leal Dicionário de Portugal Antigo e Moderno 1873  (...) "Existiam em Abiul muitas famílias de fidalgos que commettiam toda a casta de despotismo e arbitrariedades; e tantas queixas fez o povo, e tantas alçadas aqui vieram, que por fim ficou a aldeia  limpa de gente tão daninha.»O povo das Lagoas, com legitimidade para se queixar, o seria de ânimo mais resignado pelas muitas esmolas que o padre dava tanto particulares como públicas, para lhes silenciar a voz...

I Congrego de Historia e Património da Alta Estremadura em Alvaiázere
Excerto: A solicitação para familiar do Santo Ofício  da Inquisição 

(...) a 26 de Novembro de 1722, foi solicitada informação de Bernardo Fernandes, natural do lugar dos Ramalhais, morador no lugar do Serôdio, freguesia de Abiul nota 76 ( Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (Lisboa), Inquisição de Coimbra, livro 679, fl. não numerado (correio de 26 de Novembro de 1722). 
Nos anos imediatos não parecem ter sido realizadas diligências, pelo que poderá tratar-se de outro candidato recusado. No entanto, em 1735, Bernardo Fernandes da Costa, natural e morador em Abiul, filho de pais nascidos e moradores nos Ramalhais, foi habilitado. Tratar-se-ia da mesma pessoa? Teria sido recusado uma primeira vez e admitido posteriormente? Se assim foi, no seu processo não existe qualquer referência a essa primeira tentativa de obter a familiatura, uma vez que a primeira data que encontramos é 5 de Maio de 1735. Nota 77 Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (Lisboa), Habilitações do Santo Ofício, Bernardo, mç. 6, doc. 101 ). 
 
Uma vez habilitado o indivíduo não ficava imune a que fossem levantadas suspeitas sobre a sua ascendência. Quando tal sucedia não era apenas o indivíduo que era questionado senão toda uma instituição. 
A carta de familiar funcionava como atestado de limpeza de sangue, aumentava o capital simbólico do habilitado, concedendo privilégios e honra, permitindo, no caso de não ser nobre, ascender ao «estado do meio» e iniciar ou consolidar a cobiçada ascendência social. Por norma a familiatura cessava qualquer mancha de honra associada a determinada família. Não obstante, em determinados casos, mesmo após a concessão da carta, alguns rumores teimavam em perdurar. Em tais situações era o próprio Tribunal que era colocado em causa, pelo que a instituição procurou intervir discretamente, fazendo cessar quaisquer boatos.

Cortesia  de RUI RUA no Facebook 
Fragmento de pedra que foi brasonada  encastrado num umbral de um portão


O que nos revela a pedra? Um chapéu, serão duas chaves ou uma chave e uma Cruz ?
Quando colocou em discussão, não teve resposta no pedido de ajuda para identificar as armas, ou a família do brasão.
Mais tarde despertei com um post do Dr. Paulo Alcobia , na pagina de Ferreira do Zêzere, que me pareceu haver semelhança , com uma grande  Cruz,  de afirmação de alguém que foi Familiar do Santo Ofício na Inquisição.
Não sei onde está localizado o fragmento brasonado. 
Da ultima vez que fui a Abiul olhei bem todos os muros e nada deslindei. A estar localizado nos Ramalhais, ou em Serôdio, pode ter haver com o excerto acima referenciado, ou não!

O edifício referenciado com lona, ao Celeiro, com janelas de avental mais parece ter sido a Câmara...

Outros solares da nobreza rural de Abiul
Outro palacete da nobreza rural de Abiul
Lintel numa ruina no espaço que foi o palácio dos Senhores de Abiul
Aventa reutilização de 1277 alterado para 1677...
Datas emolduradas; chaminé e lintel 
Meias cortinas rendadas
Ruina  com janelo com grades, teria sido a cadeia?
Forno  de cozer o bolo do bodo de Abiul

O forno medieval de Abiul , com o destruído de Pombal o de Santiago de Litem e  de Penela, sendo ainda vivo o de Avelar, na tradição de cozer o bolo para distribuir pelos peregrinos e romeiros na festa do Divino Espírito Santo, o bodo aos pobres, que alguns dizem foi aduzido pela Rainha Santa Isabel. 

O forno de Abiul, explica a etnografia desse passado

O forno era aceso de véspera com  6 a 7 carradas de lenha. 

Questiono como era possível fazerem um bolo de farinha de trigo feito com alqueires de trigo, ao que parece dois, entre 110 a 120 Kg. Era chamado bolo, por ser pão alvo, o povo só comia broa escura.  Mas, como o tenderiam e metiam no forno quente sem se queimarem?  Sabemos que era usado uma padiola, para o transportar, até ai tudo bem, o problema é como o metiam dentro do forno quente, a escaldar, apenas há relatos da entrada para tirar o bolo...

A boca do forno era tapada a barroA abertura da porta de forma eclíptica para melhor e mais rápido tirar o bolo  cozido, outro segredo!

No dia da festa  um homem entrava no forno, depois de confessado e de ter comungado, retirada do andor um cravo e punha-o na boca. Há anos, em conversa com uma senhora de Abiul, na feira de velharias em Ansiãoconfidenciou-me que o seu avô em Abiul, foi o penúltimo a entrar no forno para tirar o bolo, de cravo na boca vestido de chapéu de aba larga, que era uso à altura, botas, tudo encharcado  para aguentar o calor, o ritual era dar três voltas ao forno e trazer o bolo cozido... no ano seguinte coube a função a outro que foi infeliz, não teve sorte de escapar ileso, vindo a morrer queimado, acabando o povo beatizado a dizer se morreu estava impuro com Deus... Cenário na presença do andor da Virgem, colocada em frente ao forno. A tradição foi mantida até 1913.


             
                      
Escultura do Forno de cozer o bolo do Bodo
Estive na sua inauguração e falei com o escultor, do norte

                   

O formato  da fogaça ou bolo chamado ferradura
Se bem que é mais parecido com um burnil, peça almofadada, sobre a qual assenta a canga da carroça, usada para proteger o pescoço de mulas e de burros. Em algumas terras como no Algarve era vistosa com flores de várias cores... 
Formato do bolo com tradição de Vouzela, de onde possivelmente veio com povoadores.
Abiul é o primeiro sitio em Portugal com festa brava 
Abiul, em 1561, apresenta ao povo a festa brava , a novidade do toureio em Portugal, trazido pelos nobres espanhóis de Leão, os Ponce Leão, familiares dos Duques de Aveiro. Um ramo fixou-se na Quinta de Sarzedas, em Ansião.  Abiul é considerado o sitio onde se toureou pela primeira vez em Portugal. Um redondel murado a pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. O largo do terreiro era fechado
 com carros de bois .Manteve-se até 1951 ano em foi substituída por uma outra praça, e em 1969 a atual em cimento, adaptada às exigências da lida tauromáquica. Onde estive na sua festa inaugural. Na festa estava presente a Radio Renascença, com o jornalista nascido em Pombal, que não referenciou, Fernando Pessa, junto do forno... ditava para o grande microfone da emissora nacional, nos arcos do varandim, naquela sua voz altiva e firme :   seria aqui , aqui onde estou que os Duques de Aveiro avistavam o boi!
Com uma multidão de gente, maioritariamente vestida de negro, aqui aportados de todas as redondezas, com as mulheres, entusiasmadas com o boi, recordo de as ver a correr de pernas tortas para espreitar os curros. Como hoje acontece com a corrida aos fãs... Para mim é sempre um prazer voltar a Abiul.
                          
Palanque ou varandim do palácio onde os Duques assistiam à tourada
Nos meados do  séc. XX, obras de saneamento e de abastecimento de água obrigou à retirada do fontanário com dois sois , do tempo dos Távora. 
Alegadamente a fonte foi onde está agora um fontanário sem interesse, entre casas, esta em baixo e outra para nascente.
Contou-me um antiquário de Lisboa, que o comprou a um velhote que vivia junto do mesmo que influenciou os homens para o guardarem no seu pátio. E assim fizeram. Mal sentiu que o antiquário estava em Pombal hospedado, vinha sazonalmente à região , mandou-lhe recado para ir a a sua casa e assim lhe o vendeu ... 

Em 1766 o bispo de Coimbra, D. Frei Miguel da Anunciação, excomungou as touradas de Abiul no dia de Nossa Senhora das Neves

Grande o diferendo e só viria a ser sanado por despacho de D. José I, em 27 de Agosto de 1769: “...para não faltar ao costume e devido culto, que nesta posse se conservam desde tempos que excede a memória dos homens, presidindo a Câmara a todos os atos desta festividade, porém que neste presente ano sucederá que julgando Vós não ser decente outro festejo que não fosse o da Igreja, pretendestes estabelecer que não houvesse touros, nem os costumados divertimentos que vêm em consequência deles... sou servido declarar-vos, que tão dissonante é impedirdes a festa que costuma fazer naquela igreja a Câmara e o povo de Abiul, com excesso e abuso da vossa jurisdição e ministério é proibir directa ou indirectamente os touros e que a uma ou outra coisa vos deveis abster...” e a partir daí continuariam os touros a ser lidados nos dias de festa da padroeira.
                                
         A Misericórdia de Abiul 

Em crer a pia batismal e o púlpito da sua capela do Espirito Santo
Excerto das Memorias Paroquiais de 1758 
Em Abiul, «pequeno hospital de 4 camas» que serve os que atravessem a Serra da Sertã,( julgo que seja equivoco e seria SICÓ) mas com «pouco exercício» porque é a serra pouco frequentada de peregrinos e administra aos «domiciliários» alguma esmola (Abiul).

Em 1821 é extinto o julgado e concelho de Abiul e em 1870 a Misericórdia é anexada à de Pombal.

Desconheço a razão do topónimo Circo.
Não existe identificação onde foi a câmara, a cadeia, o hospital e a Casa da Roda

Mandato do Presidente da Junta de Freguesia de Abiul de 1901 a 1969...

Julgo que a única coisa de valia que prevaleceu foi a tauromaquia, só enxergo francas melhorias há poucos anos...

Em dia de festa a fonte de leque de água, devia estar a funcionar...

Decoração da vila com candeeiros de braço e de pé alto com  pedestal de pedra com a rosácea a imitar a escultura visigótica

                                       

                 

                                      

Apontamentos de embelezamento a pedra

Homenagem aos cidadãos de Abiul que participaram como militares e os que padeceram a servir a Pátria nas ex. colónias

Belo Cruzeiro de pedra quinado

O términus aponta para aqui ter sido reutilizado vinda quiçá do primitivo Pelourinho...

Quase toda a toponímia bem atestada

               

Painéis azulejares 

                                         

  

Nova toponímia na via principal de Abiul, desconheço como era chamada 
                                             
Praça Marques de Pombal
Abiul recorda e bem na toponímia indivíduos que tomaram parte do seu passado glorioso sendo incompreensível este tipo de atribuição  que surpreende. Foi o principal mentor na derrota dos nobres mais importantes de Portugal; os Távora. Não esquecendo que o Senhorio de Abiul, foi de um Távora, o Duque de Aveiro.
Ora, o Marquês de Pombal escolheu nada mais nada menos, que um recém juiz (veio a ser um grande jurisconsulto em Leis no reinado de D. Maria) natural de Ansião, chamado Pascoal José de Mello Freire dos Reis, seu parente, pelo costado da mãe Freire de Vila Cã. Com 19 anos, bateu o martelo numa sentença tão medonha e sagaz que denegriu Portugal. Sem jamais alguém especular a contrapartida paga pelo Marquês... Já os bens dos Duques de Aveiro passaram para a Coroa, que acabaram quase todos nas mãos dos fidalgos Alvim, e o Marquês com os que lhe interessou, em Pombal. Quando caiu em desgraça vendeu aos manos Azeredo Coutinho, de Condeixa; o Desembargador que conheceu no Paço em Lisboa e ao mano deste, o bispo conde de Arganil, em Coimbra.

Outra alteração na toponímia, será o fundador do Benfica???
Inestética esta sinalética tão alta... 
                    
Pormenores da vila de Abiul

Porta com aldraba , a mãozinha de Fátima, a filha de Maomé
Chaminé fausta, a casa tinha de ser de gente abastada
Pedra renascentista que foi do palácio, ou não e é romana?
Com animais esculpidos  e na moldura a imitar os faustos cortinados 
Reutilização de azulejos oitocentistas 
Cortina a jus dos lenços dos namorados a cor monocromática que foi tradição em Ansião
Cravetas que que me lembraram a minha infância
A garagem na direita tira visibilidade à vila
Ali devia nascer uma nova radial para alargar a vila com parque de estacionamento e novos prédios 

Um forno de Cal
Rua do Forno da Cal , Perto ad Rua de Ansião

Abiul ainda guarda Marcos Senhorias que deviam ser catalogados e preservados.

Abiul tem apostado nos últimos anos em valorizar o seu património. 
Gosto das placas da toponímia em azulejo.
Gosto dos candeeiros de braço e pé alto em ferro forjado.
O casario de cara lavada, pintado.
Flores, muitas flores , em Abiul.
Uma boa aposta passa por fomentar um parque verde junto do rio Seiçal.
Mais estacionamento, que tendo algum, há pontos deficitários.
Melhoria de acessibilidades em toda a freguesia, sobretudo para as Corujeiras. 
Abertura de avenida radial para alargar a vila, com prédios urbanísticos atraindo nova população.

As acessibilidades a Abiul, merecem ser melhoradas, com mais sinalética. Sendo exagerada a que indica o Paço dos Duques, afinal apenas restam arcos e pouco mais ... Defraudar o forasteiro Nunca!

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