segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Feira de S.Lourenço ou dos Posseiros, em Ansião

Lástima a perda até agora das Memorias Paroquiais de 1758 de Ansião, pelo que nada se sabe sobre a Feira de S. Lourenço. Aventa vir dos finais da centuria de 600, se atender às feiras francas da Constantina dessa altura, em franca concorrencia à vila, pelo ganho da aposta do milagre da Fonte Santa, que chamou  romeiros, cujas receitas permitiram a concessão de  emprestimos aos confrades. 

Pois temos de nos valer nos concelhos limitrofes, para mais entender. 

Encontrei referencia à vila de Cernache, em 1758, da feira de S. Lourenço com vendedores dos termos vizinhos, auspicia alguns de Ansião, que lhe fica a sul; “hũa quasi feyra realizada no dia de S. Lourenço, que somente consta de sal, posseyros de vimes, e verguas de salgueyro para as vendimas, e pas de pao de amieyro e encinhos, para alimpar, e ajuntar os trigos, e milhos nas eyras, e alguns poucos belforinheyros com suas tendinhas, e muytos tremoços; de sorte que o principal he o sal, que ha em muyta abundância, he somente pagam de medidas hum vintém cada carro”194 . ANTT – Memórias Paroquiais: Dicionário Geográfico… do P.e Luís Cardoso, vol. 34, n.º 133, pp. 964- 965.

Hoje a feira de Cernache, julgo perdida, apenas resiste a de Celorico da Beira, em Trancoso e a de Ansião, a 10 de agosto, em dia de S.Lourenço, Santo espanhol. 
A feira é testemunho da tradição de trabalhar o vime e canastras (muito viva em Castanheira de Pera, Figueiro dos Vinhos, e também em Ansião, trazida de Espanha, pelos judeus, ainda viva no sul - Mijas e outras terras, a cestaria de cana, como a que se faz na Bairrada, e a de vime a duas cores mantida  na tradição da  Torre de Vale de Todos, como penduram os vasos nas paredes, já entre nós perdida,  nos piais que foram poiso de penicos, agora ornados a vasos de sardinheiras de folha rendilhada. 
Julgo que a arte de fazer canastras, era com aparas de pinho. 
Em Ansião, as vendedeiras no tempo da minha avó Piedade,  até anos 50 do sec. XX, andavam de cestas de verga branca à cabeça , como a Ti Angelina de Albarrol, recentemente falecida, até o meu pai e tio Chico, fazerem a venda de pão de bicicleta pasteleira, em cestões, antes de irem para o colegio.

                        
Também chamada S. Lourenço, aos dez de agosto, por altura das Festas  do Povo, o certame decorria na rua de S.Lourenço, do cemiterio e depois na Avª Vitor Faveiro, com estaminés de cesteiros prostrados no chão, com panoplia de estilo e tamanho; cestos para as vindimas de vários feitios,  cestas de mão, cabazes, cestas de costura, fruteiras, garrafões empalhados, onde não faltavam também os carateristicos da região feitos em cana, que ainda existe uma artesã da Bairrada -, a Flor, que os faz muito bem, e dela tenho alguns exemplares. O meu bisavô Elias do Alto, a recordação que tenho dele num sábado em cima do almoço de o ver no seu passo lento vindo da Praça do Peixe a descer a rua a caminho de casa , e cesta de cana  na mão com a sardinha. 
Num passado mais antigo havia obras de vime em branco, herdei na Mouta Redonda uma cesta oval em vime branco que seria para levar piqueniques para a Nexebra.
O meu cabaz de verga branco feito na região de Ansião, que foi tanta vez na camioneta do Pereira Marques para Lisboa...
O meu pai gostava de os encomendar em Aquém da Ponte da Cal, no cesteiro artesanal ,o "Ti Zé Mau" , que trabalhava sobre um parco alpendre, levantado por troncos frágeis e secos, sem paredes, onde o dia se via por todos os lados, castiço em telha vã antes da Ponte da Cal...Onde o vi muitas vezes sentado a trabalhar.
O meu pai encomendou-lhe num ano, duas pequenas cestinhas, como a que mostro acima, uma para mim e outra para a minha irmã, e com elas pelas mãos fomos numas ferias de Natal, airosas caminho fora à "vinha", toponimo perdido no Vale Mosteiro, a  fazenda com oliveiras, fazer de conta que apanhávamos azeitona para retalhar...Julgo nunca os enchemos!

Lembro os poceiros grandes usados nas vindimas, que depois de encher algumas vezes se tornavam pesados por ficarem molhados com o mosto, havia quem os usasse para carregar o estrume à cabeça e outras tarefas.

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